terça-feira, março 08, 2005

A herança (possível) d’ “os Melos” na Guitarra
de Coimbra:
três temas de Álvaro Aroso (anos 70 / anos 80).
Nótulas sobre práticas de uma certa Arte de navegar

Armando Luís de Carvalho HOMEM

PARA A ZI


1. Contextualização

Foi pelo abrir de Janeiro de 1978 que a Comissão Municipal de Turismo de Coimbra organizou no complexo das piscinas um colóquio sobre o folclore da Região. Entre os participantes, uma (relativa) surpresa: António Pinho de Brojo (1927-1999), lente de Farmácia, nome cimeiro da Guitarra, apresentava uma comunicação sobre a influência do folclore da Região Centro na Canção de Coimbra. Extraordinariamente bem recebida e prolongada em longo e precioso diálogo [valho-me do que li ao tempo na Comunicação Social escrita], esta intervenção de António Brojo bem pode considerar-se como que o minuto zero do relançamento de todo um universo de práticas musicais. E autoridade para tanto não lhe faltava, a ele que, com António Portugal (1931-1994), Jorge Gomes, Aurélio Reis, Luís Filipe, Manuel Dourado, Alfredo Glória Correia, José Mesquita e António Bernardino (1942-1996), entre outros, passara os anos cinzentos de 1971/1973 mantendo alguma actividade. À sua intervenção no dito Colóquio várias coisas vão seguir-se:

a) Uma reportagem no Expresso / Revista sobre «o silêncio dos rouxinóis» e porquê.

b) Uma série de programas televisivos (RTP/1, vários serões dominicais, real. Rui Ramos), num pequeno écran onde desde Setembro de 1972 estavam ausentes os sons da galáxia coimbrã [Obs.: Nas décadas de 50 (1957 ss.) e de 60 a RTP transmitia normalmente uma Serenata de Coimbra por ano (no mínimo), gravada em estúdio. Após as crises de 1969 ss. a periodicidade espaçou-se, sendo as transmissões normalmente (e os antecedentes remontavam já à Primavera de 1968) objecto de contundentes críticas de Mário Castrim no Diário de Lisboa (excepção foi a participação de Luiz Goes – com João Bagão [g.] / João Gomes [v.] – no célebre ZIP-ZIP [1969]); tenho em arquivo a gravação audio de uma transmissão televisiva de Abr.68: cantam José Manuel Santos († 1989) e Fernando Gomes Alves – dois dos melhores intérpretes da Coimbra desse tempo – acompanhados por Manuel Borralho / José Ferraz de Oliveira (gg.), Rui Pato / Rui Borralho (vv.) –, uma esplêndida formação instrumental, note-se, e insusceptível, além do mais, de conotações com a ultra-direita, inclusivamente no plano musical: relembre-se, tão somente, que Rui Pato foi o primeiro acompanhante das baladas de José Afonso... Pois M. Castrim não arranjou melhor apreciação do que escrever que os dois cantores lhe faziam lembrar o tempo em que se achava que o melhor jogador de futebol era o capaz de atirar a bola mais alto... (o paralelismo aqui seria com os agudos dos dois tenores...). Infeliz Castrim, face a uma boa actuação ! Tanto talento de escritor e ensaísta submerso pelo fel de um facciosismo que a 30 e tal anos de distância só me suscita a pergunta: «Para quê ?». Curiosamente, o então crítico d’A Capital Correia da Fonseca (por sinal da mesma área ideológica) mostrava uma bem outra sensibilidade crítica face às sonoridades coimbrãs. A última Serenata de Coimbra antes de 1974 foi gravada em finais de 1971, transmitida nas férias do Natal desse ano e retransmitida em Setembro do ano seguinte. Participantes: Mário Veiga (voz e viola), José Adelino Leitão (voz), Hermínio Menino / António («Toni») Alves (gg.); quase todos estes intérpretes reapareceram a partir de 1978; a excepção é «Toni» Alves (que em 1997 me disseram estar a residir na Califórnia); de J. Adelino Leitão não tenho notícias nos últimos cerca de 15 anos]. Participam Fernando Machado Soares – com António Brojo / António Portugal (gg.), Aurélio Reis / Luís Filipe (vv.) – Vítor Nunes, Nuno de Carvalho e Joaquim Matos – com Álvaro Aroso / José Carlos Teixeira (gg.), Eduardo Aroso (v.). Para esta formação – cujos alvores remontam a 1973 [O grupo surgira no vazio criado pela saída de Coimbra de Hermínio Menino, Luís Plácido (gg.), António José Rocha (v.) ou o inenarrável Manuel Branquinho (1927-1995; g. e cantor, em simultâneo...), entre outros, ao mesmo tempo que as realidades do quotidiano faziam cessar a colaboração com os Organismos Académicos de executantes como Eduardo de Melo ou António Andias. Saliente-se no entanto que foi nesses anos de vazio que Jorge Gomes arrancou – no meio de inúmeras animosidades... – com a didáctica da Guitarra] – é a absoluta estreia televisiva. Os traços de uma certa imaturidade são por enquanto indisfarçáveis.

c) Em Maio seguinte virá o memorável I Seminário sobre o Fado de Coimbra, culminado numa extraordinária [mais pelo elenco dos participantes do que pelo nível qualitativo médio] Serenata na Sé Velha [a primeira, creio, desde finais de 1968], com transmissão radiofónica e – excepcionalmente – televisiva [em diferido, repartindo-se o longo conteúdo por dois programas]. A formação liderada por Álvaro Aroso lá está e, coisa curiosa, parece ter evoluído sensivelmente desde os programas televisivos referidos na alínea anterior. As «Variações em Ré Maior» e o arranjo para «Nasce na Estrela o Mondego» [tema popular com arranjo de Álvaro Aroso, então interpretado por Nuno de Carvalho e mais tarde (1981) gravado por José Miguel Baptista] situam-se claramente na linha do discurso musical coimbrão mais avançado nos anos 60.

Nos dois anos subsequentes (Maio) participo no II e no III Seminários – acompanhando os guitarristas Armando de Carvalho Homem (1923-1991) e Mário Freitas – e tenho oportunidade de ver e ouvir e de pessoalmente conhecer os instrumentistas mencionados [Com eles canta também agora o veterano José Miguel Baptista; na viola, o reforço de Mário José de Castro (Filho)]. Para além das actuações na Sé Velha e nos claustros de Santa Cruz [Em ambas as ocasiões executaram a peça infra-analisada no ponto 3., ao tempo ostentando ainda o título «Variações em Sol Maior». Mas a verdade é que o motivo inicial surgira como introdução para a «Balada da Distância» (de Luiz Goes), em interpretação de José Horácio Miranda (testemunho deste último). Para além destas actuações, de outras fica memória, mormente na «PROVÍNCIA» (v.g. Moimenta da Serra), registadas pela RDP/Centro], o grupo acaba de fazer a sua estreia discográfica: um EP 45 RPM editado pela Comissão Municipal de Turismo, incluindo o Ré Maior estreado no ano anterior [Coimbra tem mais encanto…, Coimbra, Comissão Municipal de Turismo, s.d. (1979); a peça instrumental está na face A, faixa 2]. No tocante a processos de execução, Álvaro Aroso/José Carlos Teixeira estão sem dúvida a constituir uma dupla de relevo, com o segundo a utilizar frequentemente, como modus faciendi de acompanhamento, acordes graves nos bordões de lá e de si. E, por outro lado, não lhes faltam novidades nos temas cantados: «Arte de navegar» (Eugénio de Andrade / Álvaro Aroso) [cf. E. ANDRADE, Obscuro domínio, Porto, Inova, 1971, p. 146; tema com desenvolvimento iniciado em lá m, seguindo-se passagens por Fá M, 2.ª de Lá sustenido, Lá sustenido M, ré m, Lá sustenido M, Fá M, ré m, sol m, Fá M, 2.ª de Lá, Lá M; a introdução começa em fá sustenido m, após o qual um desenvolvimento em Lá M, terminando na sequência lá m / Fá M / lá m; antes do re-ataque à introdução – levando à repetição do breve texto poético de Eugénio de Andrade –, depara-se-nos um entrecanto em Lá M, com utilização da dedilhação coordenada indicador/ polegar], «Madrugadas silentes» (João Anjo / José Miguel Baptista) [tema em Lá M, com acompanhamento em dedilhação coordenada], «Menina Feia» (Eduardo Aroso) [tema em lá m, com uma complexa introdução, desenvolvida em ré m e finalizada num acorde de lá m; no acompanhamento da melodia encontram-se, por mais do que uma vez, passagens por Lá sustenido M] ou «Adeus choupos do Choupal» (Carlos Figueiredo Nunes [antigo Presidente da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra] / Mário José de Castro [Filho]) [tema em sol m, com introdução utilizando, no acompanhamento, descidas de bordão de meio-tom em meio-tom; no acompanhamento da melodia temos várias passagens por Sol sustenido M (sobre as sequências tonais referidas nesta nota e na anterior, cf. Armando Luís de Carvalho HOMEM, «Jorge Tuna: para uma abordagem ternária de um Mestre da Guitarra de Coimbra», Revista Portuguesa de História, XXXVI/2 (2002-2003), pp. 397-416). Note-se que nenhuma das quatro peças sumariamente analisadas se encontra registada em disco; sirvo-me de precárias gravações audio de actuações em Cantos e Contos de Coimbra (RTP/2, Ag.º/Set.1982)], em interpretações, maxime, de José Miguel Baptista e de Joaquim Matos, acrescidos do (solidamente) outrossim veterano Vítor Nunes e do voluntarioso (mas não mais do que isso...) Nuno de Carvalho.
Por volta de 1981 o grupo passa a ostentar a designação Tertúlia do Fado de Coimbra [Epíteto colocado, segundo José Miguel Baptista, por um diplomata português que os ouviu além-fronteiras], e com ela grava um LP (1981) [Coimbra… terra de encanto, s.l., Edições Rossil ROSLP-12030, s.d.] e se apresenta, no Verão do ano seguinte, em várias edições dos televisivos Cantos e Contos de Coimbra (RTP/2, coord. Sansão Coelho, real. Marques Vicente).
Em 1985 José Carlos [Gouveia] Teixeira, engenheiro-electrotécnico e assistente da FCT/UC, parte para a RFA a preparar o doutoramento. Novos rumos esperarão a Tertúlia.

- Melhores ?
- Piores ?
- Diferentes ! – direi.

É definitivamente um virar de página... A análise que se segue centra-se portanto nessa fase de presumível apogeu de um grupo ao tempo indelevelmente marcado pelo savoir faire de Álvaro Aroso/José Carlos Teixeira.


2. «Variações em Ré Maior»

Não é tom muito frequentado pelos criadores de ‘variações’ stricto sensu (vejam-se Artur Paredes [1899-1980], Carlos Paredes [1925-2004] ou Octávio Sérgio, por exemplo). A peça tem aliás uma estrutura de repetição que, em rigor, não faz dela umas variações, mas talvez antes uma «Dança em Ré Maior», até pelas sugerências campestres que patenteia. Analisemos:

I. Abertura em acorde simples de Ré M;
II. 1.º desenvolvimento, em Ré M, compasso quaternário; passagens por 1.ª e 2.ª de Ré M, 1.ª e 2.ª de si m, mi m; o dizer-base assenta essencialmente em grupos de 6 notas;
III. 2.º desenvolvimento, em ré m, compasso quaternário; passagens por ré m, 2.ª de lá, Fá M, 2.ª de lá; finalização num acorde de Fá M; o dizer-base assenta numa alternância de grupos de 3 com grupos de 5 notas;
IV. 3.º desenvolvimento, em ré m, compasso ternário [reporto-me à gravação em EP (1979); depois, entre 1982 e 1984, o grupo modificou o compasso desta passagem, adoptando o ternário lento com acompanhamento em dedilhados de viola; a sucessão ré m / Fá M / sol m / 2.ª de ré (bis) [que designaremos por α] passa a ser complementada por outra, Dó M / 2.ª de Dó / lá m / 2.ª de lá (bis) [que designaremos por β], seguindo-se o retorno a α (bis)]; passagens por ré m, Fá M, sol m, 2.ª de lá (bis); o dizer-base consta de uma sucessão de 2 notas / 3 séries de 4 notas / 2 séries de 3 notas (bis)];
V. 4.º desenvolvimento, em ré m, compasso ternário; passagens por ré m, 2.ª de lá, Fá M. Fá sustenido M, Ré M (bis); o dizer-base é como segue: 2 notas / duas séries de 4 notas (alternadas por bordões soltos de lá) / 1 série de 10 notas (bis); passagens por ré m, 2.ª de ré, Fá M, Fá sustenido M, Ré M (bis);
VI. Encerramento de V., desenvolvimento em ré m, compasso ternário; utilização de ré m, Fá M, Lá sustenido M, Fá M, 2.ª de Ré, Ré M; o dizer-base, qual perfeita aportação dos anos 60 (Jorge Tuna, Eduardo de Melo...), consta de grupos de 3 notas;
VII. repetição de II.;
VIII. repetição de III.;
IX. repetição de IV.;
X. repetição de V.;
XI. fecho: repetição de VI., com uma variante: o acorde final de VI. está aqui ‘transformado’ em ré m, ao que se segue uma passagem por Fá M e a finalização num acorde largo de Ré M.


3. «Variações sobre o tema Balada da Distância»

Luiz Goes gravou este tema de sua autoria em 1967, no LP Coimbra de ontem e de hoje [reed. in Luiz GOES, Canções para quem vier. Integral: 1952-2002, Lisboa, Valentim de Carvalho, 2002, CD 2, faixa 8]. Com o simples apoio da viola de João [Figueiredo] Gomes, utilizou o tom de Ré Maior natural ( = Mi Maior na afinação coimbrã). Numa digressão aos EUA em princípios de 1974, José Horácio Miranda, já licenciado em Química pela FCT/UC mas ainda 1.º tenor e solista do Orfeon Académico e com actividade vocal junto de diversos grupos de Canto e Guitarra (incluindo os então quase estreantes Álvaro Aroso / José Carlos Teixeira / Eduardo Aroso), pegou na peça, que, para se adaptar a um registo de tenor com grande extensão nos agudos, houve que subir 3 tons, ou seja, para o Sol M da afinação de Coimbra. Assim nasce, das mãos de Álvaro Aroso, a introdução que depois se desenvolveria nesta peça, estreada, como se disse, na Serenata do II Seminário sobre o Fado de Coimbra (1979) – com o título de «Variações em Sol Maior» [tal como a anterior, esta peça não tem estrutura de «variações»; a adopção do título por que actualmente dá remonta ao Verão de 1982, no programa Cantos e Contos de Coimbra (RTP/2)] – e gravada em 1993 [no CD Amanhecer em Coimbra, Porto, EDISCO, s.d. [1993], faixa 2.]. Procedamos à análise:

I. Tema «a priori» introdução para a peça de Luiz Goes; desenvolvimento em Sol M, compasso ternário, dizer em 2 + 2 + 2 + 5 (bis) + 3 notas + sequência de bordões de viola: Sol / fá sustenido / Fá / mi; sequência tonal: Sol M, mi m, lá m, 2.ª sol (bis), Sol M;
II. sequência de acordes, alternados por grupos de 3 notas, compasso ternário, sequência tonal: mi m, 2.ª de mi, Sol M, Fá sustenido m, Dó M, 2.ª de mi (pausa, seguida de ligação de 3 notas, bis);
III. frase em mi m, compasso ternário, dizer-base em grupos de 3 notas, passagem por mi m, lá m, 2.ª de Sol, Sol M, 2.ª de mi, mi m (bis), sequência para 2.ª de Sol, Dó M, Dó M de 6.ª, 2.ª de Fá (pausa);
IV. frase em Fá M, compasso ternário, dizer-base de 2 + 5 + 4 + 5 + 2 +5 + 2 + 5 + 4 notas (pausa, bis, pausa); passagens por Fá M, ré m, Sol M, Lá M, 2.ª de mi;
V. repetição de I.;
VI. repetição de II.;
VII. repetição de III.;
VIII. repetição de IV.;
IX. nova repetição de I., para finalizar; passagens por Sol M, mi m, lá m, 2.ª sol (bis), Sol M, mi m, Sol M (final ex abrupto).


4. «Renascer» («Variações em fá sustenido menor»)

Esta peça teve ‘primeira audição mundial’ em Abril de 1981, no IV Seminário sobre o Fado de Coimbra. Também apresentada numa das emissões de Cantos e Contos de Coimbra (no ano seguinte), teve aí a particularidade de a «2.ª guitarra» de José Carlos Teixeira ser substituída por uma bandola, instrumento que este último executara na Tuna Académica, a que pertencera: curiosíssimo – e inédito – feito (e efeito) !... Com o título «Renascer», será incluída no CD Amanhecer em Coimbra (faixa 11). Vejamos a sua estrutura:

I. Frase em fá sustenido m, compasso ternário (com acompanhamento em dedilhados de viola), melodia – alternada por bordões no 5.º ponto da corda de ré e na corda de lá solta [Ao jeito, paradigmático, de «Raiz-Dança», de Carlos Paredes (1925-2004)].
II. em grupos de 5 + 3 + 5 + 3 +3 +3 +3 notas (bis), passagens por fá sustenido m, Lá M, Ré M, lá sustenido m, si m;
III. sequência de acordes (conjuntos de 4), compasso ternário, passagens por fá sustenido m, 2.ª de fá sustenido, Ré M, Lá M, si m, 2.ª de Lá (bis, terminando em Lá M);
IV. frase em Lá M, compasso ternário (acompanhamento em dedilhados de viola), dizer-base em grupos de 5 notas (em jeito de variante a I.), passagens por Lá M, dó sustenido m, 2.ª de si, si m, fá sustenido m, 2.ª de Lá, Lá M (bis, com variante no final);
V. repetição de I., com variante melódica em bis: grupo inicial de 7 notas, passagens por fá sustenido m, Ré M, 2.ª de dó sustenido, finalização em dó sustenido m;
VI. repetição de II.;
VII. repetição de III.;
VIII. repetição de IV.; finalização em 3 acordes de dó sustenido m.


5. Conclusão

Já lá vão 20 anos. Na ausência temporária de José Carlos Teixeira, a já então chamada Tertúlia do Fado de Coimbra ‘recruta’ o muito jovem e polivalente (formação musical, professor [inclusive de Guitarra, por música], cantor, guitarrista, violista) José dos Santos Paulo. O estilo altera-se, bem como a distribuição de papéis pelo cast (já que o entretanto regressado José Carlos Teixeira – hoje professor associado da FCT/UC – é também executante de viola e até de viola-baixo [uma algo controversa novidade ultimamente espalhada no seio de alguns grupos], o que aliás tem feito preferentemente nos últimos tempos [Ainda que as fotos do grupo nos CD’s gravados na primeira metade da década de 90 (Amanhecer em Coimbra [no pátio da Universidade] e Relíquias, Porto, EDISCO, s.d. [nas escadas do pórtico principal da Sé Velha]), no que têm de uma REPRESENTAÇÃO, inclusive de hierarquização por antiguidade, ostentem distribuições de papéis que acabam por se revelar redutoras: Álvaro Aroso / José Carlos Teixeira (gg.), Eduardo Aroso / José Paulo (vv.)]. E por muito valor que a Tertúlia tenha demonstrado nas duas últimas décadas – se bem que insistindo mais em repertório convencional do que na apresentação e gravação de temas inéditos [veja-se o conteúdo decepcionante do CD Relíquias, conteúdo que levou na altura o autor destas linhas, em conversas telefónicas com Francisco Filipe Martins e com José Miguel Baptista, a produzir o seguinte comentário/interrogação: – Porque é que os presumidos herdeiros de Eduardo e Ernesto de Melo andam a caçar nos terrenos de Brojo e Portugal ?!] –, a verdade é que o estudioso conhecedor d’os Arosos desde as suas primícias não deixa de lamentar a não-perpetuação discográfica de trabalhos de há cerca de um quarto de século. Será que ainda ouviremos, gravadas ou regravadas – e a segunda e a terceira em moldes mais próximos dos originais –, as três peças para Guitarra aqui objecto de análise, acrescidas de temas como «Arte de navegar», «Madrugadas silentes», «Menina feia» ou «Adeus choupos do Choupal», por exemplo ?




Morelinho (Sintra), 14 de Fevereiro de 2005

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