"Luiz Goes, António Portugal e o Quinteto de Coimbra". LP gravado no ano de 1958. O grupo é constituído por António Portugal e Jorge Godinho nas guitarras, Manuel Pepe e Levi Batista nas violas e Luiz Goes a cantar. Já muito foi dito sobre esta gravação. Foi um momento muito alto na galáxia da canção coimbrã. As interpretações são soberbas. O som das guitarras é cristalino. António Portugal é um guitarrista expressivo e arranca da guitarra sons com bom timbre e vibração. O seu "Lá menor" é uma peça do melhor que em Coimbra se fez; e está muito bem acompanhada. A "Aguarela Portuguesa" é uma peça de belo efeito, popular, aceite sem reservas por qualquer público.Nota-se, nela, alguma influência do "Mi menor" do Artur Paredes. Mas isso não retira valor ao seu conteúdo. Os arranjos para os acompanhamentos merecem nota alta - introduções de mui belo efeito e bem enquadradas com os fados. Jorge Godinho interpreta o Ré menor de Almeida Santos com uma mestria fora do vulgar. A peça é muito bem construída, nostálgica, mas com uma força criativa grande. Luiz Goes tem uma voz muito acima do comum dos mortais. É um digno sucessor de seu tio, Armando Goes, também um predestinado. Com uma voz de barítono, tem uma amplitude que lhe permite chegar a notas que só os bons tenores alcançam, e isto sem se notar esforço e com bom timbre. Os seus pianos são sublimes e comoventes. Voz de puro cristal! Manuel Pepe e Levi Batista são dois grandes acompanhadores de viola. Eles são os alicerces de todo este edifício. Curiosamente era Fernando Machado Soares que estava escalado para gravar este disco mas, à última da hora, um mal estar apoderou-se dele e resolveu passar a pasta a Luiz Goes. Vou transcrever o que Lousã Henriques escreveu para este disco: "Segundo alguns o Fado de Coimbra teve a sua origem na cultura Trovadoresca Medieval, ao tempo da instalação da Corte Portuguesa em Coimbra, ao passo que outros sustentam o ponto de vista de que o mesmo constitui uma relíquia do velho folclore lusitano. Mas todos concordam em que o mesmo se situa entre as mais autênticas e artísticas manifestações estudantis em qualquer parte. Em Coimbra, o cantar constitui parte essencial na vida do estudante. O tradicional boémio da antiga Coimbra, vivendo entre sua "Sebenta" (livro didáctico) e seus sonhos, só se poderia expressar neste particular estilo. De maneira que seu lirismo tornou-se uma forma de arte das mais belas e tipicamente portuguesa. Os dois temas centrais - Amor e Saudade - reflectem a sua própria vida. Em Coimbra sente-se na atmosfera um leve odor de roupa branca lavada e contempla-se uma paisagem de campanários, bem como uma luxuriante vegetação da qual emana deliciosa fragrância. Coimbra tem um lugar muito especial entre outras cidades - é uma cidade-aldeia. Aprendemos mais com a sua tradição do que com o seu progresso e é essa cidade que, juntamente com a adolescência, determina o subjectivismo das canções académicas. Enquanto o estudante cantar, enquanto ele falar de sua vida e de seus problemas em breves versos de estilo popular ou clássico, a Universidade que os gerou e a atmosfera liberal de sua cultura não poderão desaparecer".
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