Francisco Filipe Martins – Primavera 2
Texto de Rui Pato inserto no disco
Tive o privilégio de acompanhar em viola alguns dos grandes nomes da guitarra portuguesa tocada no seu estilo Coimbrão. Uma só vez esse génio criativo do Carlos Paredes, muitas outras a raiva incontida do António Portugal, quase tantas ainda a riqueza do estilo tão coimbrão do Pinho Brojo e nos últimos anos, o Francisco Martins. O Chico Martins, como é tratado em Coimbra, aqui nascido em 1946, desde os 12 anos é levado pela mão do seu tio Nunes Vicente a frequentar as tertúlias do fado e da guitarra, convivendo, assim, nos anos 60 com o que de melhor houve nesta cidade e no panorama guitarrístico. Dotado de uma invulgar inspiração, desde cedo se torna conhecido como intérprete exímio mas, principalmente, como um melodista. A sua opção é a utilização de esquemas técnicos elaborados dando suporte a temas melódicos simples e comoventemente inspirados. Outra das suas características, é fazer da guitarra uma amante clandestina, procurando-a com carácter de urgência apenas quando quer e não quando lhe pedem. Durante todos estes anos mantém-se quase clandestinamente activo na música, aparrecendo em estúdios discográficos apenas por três vezes. Intermeia longos períodos de pousio artístico com outros de uma fertilidade febril, compondo melodias riquíssimas, com uma obcessiva procura diária da perfeição, fazendo e refazendo temas quer à guitarra quer ao piano, que ficam perdidas no gravador do seu sótão ...
É então necessário retirá-lo dessa solidão artística e obrigá-lo a gravar. Foi isso que o António Portugal fez em 1969, pedindo a colaboração do Chico como guitarrista e como compositor nesse histórico disco “Flores para Coimbra”. Foi também isso que eu fiz encorajando-o, em 1985, a gravar uma obra prima da guitarra coimbrã intitulada “Canção da Primavera”. Com essa gravação, ainda em vinil, fica definitivamente demonstrada a riqueza do seu estilo interpretativo na execução de alguns temas de antologia e é, simultaneamente, a prova de que estamos em presença de um autor que, sem descaracterizar o estilo de Coimbra, o enriquece com melodias simples e inspiradas.
Surge, agora, este novo trabalho do Chico, em que apenas um dos temas não é da sua autoria. Foram felizmente recuperadas, para esta obra, todas as suas composições de 85 que estavam no vinil. Percorrendo todo este trabalho, ressalta nele uma lógica, uma coerência, em que acima de tudo sobressai a riqueza temática, aparentemente simples, em que afloram aromas desta cidade e deste país, tudo servido com um exigente rigor na interpretação. É o trabalho de vinte anos, fruto de muito estúdio, muita inspiração e também muita solidão, a reinventar rumos novos para a guitarra de Coimbra.
Texto de Rui Pato inserto no disco
Tive o privilégio de acompanhar em viola alguns dos grandes nomes da guitarra portuguesa tocada no seu estilo Coimbrão. Uma só vez esse génio criativo do Carlos Paredes, muitas outras a raiva incontida do António Portugal, quase tantas ainda a riqueza do estilo tão coimbrão do Pinho Brojo e nos últimos anos, o Francisco Martins. O Chico Martins, como é tratado em Coimbra, aqui nascido em 1946, desde os 12 anos é levado pela mão do seu tio Nunes Vicente a frequentar as tertúlias do fado e da guitarra, convivendo, assim, nos anos 60 com o que de melhor houve nesta cidade e no panorama guitarrístico. Dotado de uma invulgar inspiração, desde cedo se torna conhecido como intérprete exímio mas, principalmente, como um melodista. A sua opção é a utilização de esquemas técnicos elaborados dando suporte a temas melódicos simples e comoventemente inspirados. Outra das suas características, é fazer da guitarra uma amante clandestina, procurando-a com carácter de urgência apenas quando quer e não quando lhe pedem. Durante todos estes anos mantém-se quase clandestinamente activo na música, aparrecendo em estúdios discográficos apenas por três vezes. Intermeia longos períodos de pousio artístico com outros de uma fertilidade febril, compondo melodias riquíssimas, com uma obcessiva procura diária da perfeição, fazendo e refazendo temas quer à guitarra quer ao piano, que ficam perdidas no gravador do seu sótão ...
É então necessário retirá-lo dessa solidão artística e obrigá-lo a gravar. Foi isso que o António Portugal fez em 1969, pedindo a colaboração do Chico como guitarrista e como compositor nesse histórico disco “Flores para Coimbra”. Foi também isso que eu fiz encorajando-o, em 1985, a gravar uma obra prima da guitarra coimbrã intitulada “Canção da Primavera”. Com essa gravação, ainda em vinil, fica definitivamente demonstrada a riqueza do seu estilo interpretativo na execução de alguns temas de antologia e é, simultaneamente, a prova de que estamos em presença de um autor que, sem descaracterizar o estilo de Coimbra, o enriquece com melodias simples e inspiradas.
Surge, agora, este novo trabalho do Chico, em que apenas um dos temas não é da sua autoria. Foram felizmente recuperadas, para esta obra, todas as suas composições de 85 que estavam no vinil. Percorrendo todo este trabalho, ressalta nele uma lógica, uma coerência, em que acima de tudo sobressai a riqueza temática, aparentemente simples, em que afloram aromas desta cidade e deste país, tudo servido com um exigente rigor na interpretação. É o trabalho de vinte anos, fruto de muito estúdio, muita inspiração e também muita solidão, a reinventar rumos novos para a guitarra de Coimbra.
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