terça-feira, maio 10, 2005


Capa do LP "Saudades da Rua Larga", saído em 1982, com a etiqueta Rádio Triunfo.
Pedro Magalhães Ramalho empresta aqui a sua voz a dez temas de Carlos de Figueiredo. Voz muito melodiosa e de timbre apurado, dá um sabor muito especial a este trabalho. Carlos de Figueiredo, um compositor e letrista de Fado Clássico, foi cantado praticamente por todas as boas vozes que por Coimbra passaram. Há inúmeras gravações com as suas peças. Tive o privilégio de, com ele, acompanhar Artur Paredes à guitarra nos últimos dois anos da vida deste.
Vou transcrever os textos insertos na capa do disco:
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"Mais um disco lançado com Fados de Coimbra, denominado «Saudades da Rua Larga». Daquela Rua tão Larga, que durante muitas e longas gerações académicas albergou dentro de si, com a «Tomada da Bastilha» todo o labor académico dos mais diversificados!!!...
Respeita os ensinamentos dos Grandes do Velho Fado, que nos fizeram legado fda Tradição Coimbrã: Amores, Capa, Natureza e a História dos Monumentos.
É o Engº Pedro Magalhães Ramalho que nos conta tudo isso. Encanta ouvir o seu bom timbre, recheado de melodia e dotado de uma grande extensão e suavidade, em que tudo é natural e não esforçado.
Tudo se fica devendo à incansável paixão e até «carolice» do Dr. Carlos de Figueiredo, que foi seu artífice principal, acompanhado de preciosos colaboradores.
Bem Hajam Todos e Tudo"

LACERDA E MEGRE (pai)
(1927 a 1933)
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"Entre os vários géneros de música urbana, popular e ligeira, praticados em Portugal desde o século passado, é o «fado», tanto de Lisboa como de Coimbra, aquele que ao longo de mais tempo, se tem mantido vivo. Porquê? Parece-me que este disco, nos ajuda a obter uma resposta. O «fado» não pode separar-se, no gosto dos adeptos, da personalidade e do estilo pessoal dos seus executantes e autores. Personalidade, não, evidentemente, no sentido que é necessário dar à palavra quando se fala de música erudita ou de grande literatura. Mas personalidade como capacidade de entrega apaixonada a uma determinada tarefa, apenas pela simples razão de que se acredita nela com a mais profunda sinceridade. No caso específico do «fado», quando o talento existe, os resultados desta atitude ficam bem à vista: formas de cantar, tocar guitarra e compor nitidamente distintas de artista para artista. Por vezes, até, de equipa para equipa, em virtude da comunhão necessária, durante os ensaios.
Estamos perante um grupo que permitiu ao autor destes fados, figura conhecida das últimas gerações de estudantes de Coimbra, cantado, desde há anos, pelos melhores especialistas do género, sentir o seu trabalho, mais uma vez, revivificado através da personalidade do cantor e dos seus acompanhantes. Trata-se de um trabalho especializado em que é possível apreciar a inspiração, a voz, a sensibilidade e o engenho, segundo as melhores exigências do género".

CARLOS PAREDES
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"Dos acordes das suas guitarras e do seu canto a TERTÚLIA ACADÉMICA «RUA LARGA»

faz homenagem a quantos encheram a nossa Coimbra ora de Talento ora de Boémia. Homenagem aos seus Homens das Letras e das Ciências. Aqui, ao desportista, já ali ao que lhe amarrou em irreverência sadia.
Homenagem à Capa e Batina que lhe encheu os becos de Sonhos do que os que neles cabiam... e, bem ao mesmo tempo, ao Futrica que prestigiou a sua História.
Homenagem à Amizade e Fraternidade que se ergueram numa taça e que se projectaram no Sempre...; Homenagem ao padeiro que, no pão quente, nos estendeu as madrugadas...; Homenagem à lavadeira da brancura das nossas camisas...; ao dono do tasco das nossas horas prolongadas...; Homenagem aos rouxinóis do Choupal e às rãs dos seus charcos que partilharam connosco a intimidade e a poesia...; Homenagem ao quanto fez sê-la aquela Cidade que apenas deixa definir-se por quem haja sabido vivê-la por dentro...; Homenagem às Couraças, longas de subir nas noites estreladas...; Homenagem à Torre e à Cabra ponto cardeal de uma direcção assumida e hora certa a apontar retardatários...; Homenagem às horas vazias, lazer de mãos nos bolsos entendendo a Baixa...!
Homenagem que bebe a arquitectura dos seus Monumentos, que se extasia na sua paisagem... onde o Mondego sempre está a adoçar-lhe os contrastes; Homenagem que medita e tem saudades nos seus Penedos; Homenagem à Tradição que – com exigências de evolução não traz, em si mesma, o apego da morte – sempre foi elo no Abraço igual com que uniu Gerações diferentes!

E como retirar tudo isto de um álbum de fotografias dispersas?

... se já Camões a cantou, se já Régio lhe viveu águas-furtadas; se Teixeira de Pascoais lhe encheu os recantos; se já Elísio de Moura lhe doou a alma; se Armando Sampaio, Rui Cunha e Nana lhe encheram os estádios; Se Ângelo da Fonseca e Mário Silva lhe projectaram discípulos; se já Artur Paredes e Flávio lhe dedilharam guitarras!... se tantos a amaram e viveram; se nem sabemos quantos lhe calcorrearam as vielas e lhe ficaram pertencendo com o génio de quem deixa de caber no Tempo.
HOMENAGEM, pois, a TODOS os que de geração em geração a trouxeram de longe para perpetuá-la no FUTURO".

CARLOS COUCEIRO

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