Guitarra Toeira de Coimbra, de ilharga baixa, escala de 17 pontos, e voluta em lágrima, fabricada por Raul Simões em 1937. Pertenceu ao guitarrista António Carvalhal. Encontrava-se em excelente estado de conservação quando a fotografei em 1998. Pode escutar-se a sua sonoridade característica nas gravações de Edmundo Bettencourt, Artur Paredes e primitivas do grupo de António Brojo.
Em Novembro de 1989 ajudei a montar no Museu Académico uma exposição onde figurava a antiga guitarra do Dr. Afonso de Sousa, instrumento que justamente acabara de ir buscar em mão própria a Leiria. Lembro-me que o Paulo Soares apareceu e ficou ali sentado a ver e a dedilhar essa velha guitarra do Dr. Afonso de Sousa, tendo dito que estava bem conservada e tinha bom timbre.
Vem tudo isto a propósito de informações que vamos encontrando na internet onde a propósito da grande revolução operada na Guitarra de Coimbra por Artur Paredes/Quim Grácio há quem pretenda que as transformações se basearam na "guitarra do fado" ou guitarra do tipo lisboeta. Não se pode de modo algum corroborar tamanha falsidade histórica, uma vez que já existia perfeitamente definida desde os alvores do século XX um modelo de Guitarra de Coimbra e foi a partir desse modelo que se operaram as experiências e mutações. Por outro lado, creio que não ficará mal reconhecer que a partir dessas mudanças, a "guitarra do fado" passou a andar a reboque da Guitarra de Coimbra. O modelo aqui referido é dado hoje como extinto, pese embora o facto de o construtor Fernando Meireles a ele ter voltado recentemente para ensaios que passam pelo rebaixamento da ilharga da guitarra coimbrã.
Em Novembro de 2002, num intervalo do sarau de lançamento do livro "Canção de Coimbra. Testemunhos Vivos" , realizado no Teatro Académico de Gil Vicente, vi um executante da nova geração com um destes modelos Meireles, de enorme graciosidade e belíssimo timbre, ali mesmo elogiado pelo Dr. Jorge Gomes.
Se virmos bem o grosso do repertório para guitarra praticado entre 1900-1954 passou por este modelo e muitas peças de época não perderiam se fossem ocasionalmente nela executadas em concertos ou mesmo gravadas em disco.
<< Home