sexta-feira, junho 10, 2005

Bloco de Notas (14)

1980 ... Esteve cá ontem Fernando Machado Soares. Ouviu a gravação de três músicas minhas acompanhadas por Armando Luís de Carvalho Homem. Ficou encantado com elas. Sobre as “Variações em Lá” disse que são lindíssimas e que explorei muitíssimo bem o tema. Que são variações bem construídas, sendo das três a melhor. Sobre o “Ré maior” ficou admirado como consegui fazer variações naquele tom, já tão explorado, com beleza e simplicidade. Acha-a muito fluida, com todas as partes bem encaixadas umas nas outras. Pôs uma objecção na passagem a segunda de si; acha que é banal de mais para aquelas variações. Finalmente o “Capricho em Lá” achou-o lindíssimo e também bem construído. Considerou a minha execução muito boa, pois via perfeitamente que as músicas tinham grandes dificuldades de execução.
António Bernardino está já em Lisboa a trabalhar nos Serviços Sociais da Universidade. Convidou-me para ir tocar à Casa Leão, perto do Castelo de S. Jorge. Vamos amanhã ensaiar com Durval Moreirinhas.
Lá fomos à Casa Leão. O Berna teve um enorme sucesso com a “Samaritana”. Na revista “Nova Gente” vêm duas fotografias nossas e um texto a dizer que ficaram encantados connosco. Foi uma festa de homenagem à esteticista Maria de Lurdes.
No último ensaio com Carvalho Homem, este mostrou-me um arranjo que fez duma peça de Haendel que ficou muito bem com guitarra e viola. Depois toquei a peça “Czardas” de Monti que foi muito bem acompanhada.
Saíu o disco que gravei com Rui Gomes Pereira. Tem muitas deficiências de ritmo e não só. Foi tudo gravado muito à pressa.
Estive em casa de Durval Moreirinhas para prepararmos os acompanhamentos de um futuro disco de José Afonso. Estamos em princípios de Novembro.
Fui a Azeitão a casa de José Afonso para ensaiar. A gravação ficou adiada para Janeiro.
Saíu o disco de Janita Salomé, “O Melro”. Está muito bem cantado e os instrumentos parecem-me bem adequados às canções. O jornal “Sete” traz uma boa crítica. Diz que “os fados estão cantados e tocados duma maneira irrepreensível”. (Já me referi neste Blog, num "Post" do dia 21 de Março, ao facto de os acompanhamentos de Pedro Caldeira Cabral terem sido praticamente suprimidos).
Fui convidado pelo Vitorino para gravar um LP de guitarradas. Aceitei e marquei a gravação para a segunda quinzena de Janeiro. Estamos em fins de Novembro.
Artur Paredes está muito doente. Tenho de ir vê-lo. Não sei se ainda estará no Hospital Particular.
Estava a tocar no Kopus-Bar quando nos veio a notícia do desastre de Camarate. O espectáculo já não correu bem, talvez devido a pairar no ar um nervosismo geral. Armindo Fernandes é o guitarrista de serviço nesta Casa de Fados.
A última vez que fui ver Artur Paredes ao hospital, encontrei a cama vazia. Era o dia 20 de Dezembro. Dizem-me que partiu para um eterno descanso, bem merecido. Não esperava este desfecho. Sempre pensei que conseguiria vencer mais esta adversidade, mas os desgostos com a morte da esposa e da filha, abalaram-no profundamente. Deixou de ter forças para lutar.
Ao perguntar a um enfermeiro onde se encontrava o corpo, aquele perguntou-me se era parente ou amigo de Artur Paredes. Digo que sou amigo. Perguntam-me então se não me importava de servir de testemunha para identificar o corpo. Lá fui, com lágrimas nos olhos; é ele, sim senhor. Assinei o testemunho. Penso que a família ainda não sabia de nada!
O corpo de Artur Paredes foi sepultado no cemitério do Alto de S. João, em Lisboa, no dia 22 às 15h e 30min.
João Bagão esteve na minha casa, em Almada; veio com Durval Moreirinhas e Rui Gomes Pereira. De seguida foi ouvir-nos ao Kopus-Bar. Toquei o seu Lá menor. No final afirmou que lhe vieram as lágrimas aos olhos.

1981 ... Estive no Porto esta semana de Fevereiro a ensaiar com A. L. de Carvalho Homem. O disco com as minhas peças vai ser gravado para a semana. Fomos a casa de Barros Leite, que canta o tango “Amor de Estudante”, com a Orquestra de Tangos da Universidade do Porto. Esteve presente Cunha Pereira, guitarrista de eleição que tocou o “Movimento Perpétuo” na perfeição. Estava também Mário Freitas que executou uma bonita valsa, de forma invejável. Ouvi também tocar Armando de Carvalho Homem, na sua casa, tirar um som lindíssimo, com os dedos ainda em grande forma. Tocou peças muito belas de sua autoria. São músicas cem por cento coimbrãs. Fez-me recordar os meus tempos de Liceu, em que fui seu aluno e o ouvia tocar em saraus acompanhado pelo “terrível” professor de Matemática, José Serrão, à guitarra e pelo filho deste à viola; ou então aquela cena em que o seguia para ver como eram as suas unhas. Nunca o consegui.
Soube ontem que Augusto Hilário nasceu em 1864, há portanto 117 anos. Criou o fado com o seu nome em 1890 e em 1895 foi actuar a Lisboa num sarau de homenagem a João de Deus.

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