quinta-feira, julho 21, 2005

Conversa com Fernando Meireles
(dia 12 de Julho de 2005, na oficina da TAUC)

Quando se lembrou de começar a construir instrumentos?
Lembrei-me de fazer instrumentos sem outro propósito que não fosse fazer um instrumento meu, que foi o cavaquinho, que na altura andava a tocar. Tinha saído o disco do Júlio Pereira, havia toda a febre do cavaquinho. Comecei a tirar as músicas do Júlio. Foi em 1984, tinha vinte e seis anos, praticamente, quando comecei. Foi assim tardio. Em miúdo fazia os meus brinquedos porque não tínhamos dinheiro para as prendas de Natal. Eu tinha que fazer tudo. Desmontei o cavaquinho para fazer um igual e saíu bem. Andava na altura a estudar violino no Conservatório. Comecei a ler tudo sobre a construção de violinos, aquela problemática toda do Stradivarius; eu fui ver o que é que se passava: os materiais que ele usava, as colas, e apliquei isso na construção do cavaquinho. Aquilo resultou logo bem. E a partir daí fui fazendo, porque eu tocava bem o cavaquinho, os amigos viam e ouviam, também queriam um cavaquinho como o meu e então comecei a fazê-los. Na altura, aqui na Associação Académica, havia um projecto, não sei bem de quem, de fazer aqui uma escola-oficina e como eu já fazia instrumentos, foi um acaso que juntou outro e pediram-me para vir para aqui, porque não havia ninguém. Eu assim fiz e aqui fui ficando.
Aqui apanhou o gosto pelas guitarras!
Sim, como já fazia instrumentos com alguma regularidade, bandolins e cavaquinhos, o pessoal das guitarras começou a vir aqui pedir ajuda, é normal e eu comecei a olhar para aquilo e a ver que podia fazer alguma coisa, porque a minha ideia depois a fazer instrumentos, foi sempre melhorar um aspecto que achava que eles não tinham: um som vivo em harmónicos, que tem a ver com a qualidade dos materiais que se usam.
Os instrumentos tradicionais – foi com esses que comecei – eram todos muito fortes, feitos com propósitos de folclore que é pouco exigente. Músicos como o Júlio Pereira já tinham algumas dificuldades. Para se encontrar um cavaquinho que afinasse bem era uma sorte. Foi, portanto, por aí.
Pelo que me apercebo, o Fernando já fez guitarras de grande nível!
É assim: eu acho que percebi muito bem como é que isto é feito. O problema dos materiais, das colas, é uma coisa muito básica mas fundamental. Depois o somatório desses pequenos pormenorzinhos que não deixo ao acaso, é que fazem com que os instrumentos fiquem assim. A minha preocupação fundamental não é fazer instrumentos rapidamente para ganhar dinheiro com eles, é fazer instrumentos bons, leve o tempo que levar, porque há um “timing” para estas coisas, nestas colas que têm que ser trabalhadas de modo diferente e eu sei isso e acho que tal investimento de tempo, um instrumento demorar dois ou três meses a ser construído, acho que vale a pena porque o resultado final fica muito para além daquilo que se poderia esperar.
Estou a olhar para esta guitarra e vejo uma obra de arte!
Esta é uma das últimas que fiz.
Esqueci-me de trazer unhas para a experimentar.
Não precisa, você mete-lhe os dedos e o som sai.
(Experimentei-a mesmo sem unhas e foi como o Fernando disse: o som saiu naturalmente. Estou agora a ouvir a gravação que fiz e soa magnificamente)
Tive que fazer algumas alteraçõezinhas de pormenor, pois comecei a perceber que os instrumentos estavam mal dimensionados, isto porque há três ou quatro anos restaurei a colecção de instrumentos de Michel Giacometti e a de Ernesto Veiga de Oliveira. Como esses instrumentos me passaram todos pelas mãos, comecei a perceber que os que funcionavam melhor, apesar de terem maus materiais, eram aqueles que tinham determinadas dimensões. E era lógico porque nos violinos também isso acontece. Estes soam bem porque a caixa de ressonância está uma quarta acima da nota mais grave e eu comecei também a aplicar isso nestes instrumentos.
Expique-se!
A caixa de ressonância tem uma nota fundamental. Se lhe dermos uma pequena pancada, ouve-se um som. Se este for uma quarta acima da nota mais grave, o instrumento fica por si todo equilibrado. Como o som real na corda mais grave da guitarra de Coimbra é um dó, a caixa da guitarra terá que ter o fá como nota fundamental. Essa afinação equilibra muito os instrumentos e dá-lhes muita projecção. (Verifiquei que aquela guitarra não estava exactamente correcta naquele aspecto) É apenas uma aproximação mas é muito importante. O tamanho ainda não é o ideal! Eu já reduzi bastante; não sei se reparou que a ilharga é mais estreita, mas aumentei-lhe o volume, aumentei-lhe a zona média, porque dá muita presença e engorda muito o som, aí é que é a questão. O pessoal quando fugiu disto, foi a maior asneira que fez.
Qual é a largura da ilharga?
À volta de sete centímetros!
E sobre o guitolão, que me diz?
Ouvi falar disso mas acho que os instrumentos devem ser feitos se houver necessidade deles.
E instrumentos sem fundo?
Eu vi disso há três anos, na Finlândia, onde estive a tocar. Umas harpas pequeninas, com a caixa de ressonância sem fundo. Aquilo soa solidamente, dá um som muito límpido e muito harmónico, próximo da nota fundamental. Um som sem harmónicos. Aquilo soa bem, soa a cristal, soa a água. Penso que isso não é uma novidade. Será uma novidade a aplicação em guitarras e violas. A harpa, por trás, é toda aberta, ou seja, a caixa de ressonância é aberta.
Gosta mais de construir ou dar espectáculos?
Aquilo que eu sei mesmo fazer é construir. Os espectáculos são uma extensão disso, para mostrar que aqueles instrumentos podem ser tocados daquela maneira e ter aquela sonoridade; é mais por isso.Acho que nós no “Realejo” fazemos um trabalho musicalmente muito conseguido.
E o que é que lhe dá maior prazer a construir?
É a guitarra portuguesa, só porque consigo encontrar mais facilmente quem a toque bem, é só por isso. A sanfona e o bandolim também vão sendo bem tocados. Para os outros é mais difícil que, como sabe, em Portugal não há cultura musical, não há educação musical e, portanto, as pessoas aferindo por si só, a coisa não resulta.
Falou na sanfona que é um instrumento lindíssimo. Em que se baseou para a sua construção?
Em figuras de presépio do século XVII, porque interessava fazer uma sanfona portuguesa e era a única informação que havia. Nada estava escrito, mas eu apercebi-me da sonoridade. Há apenas um pequeno texto de Ernesto Veiga de Oliveira que conta a história da sanfona em Portugal, mas muito reduzido.
Não fala da construção?
Não, mas para mim, era óbvia! Eu tocava violino, aquilo era corda friccionada! E que cordas usar? Vou meter aqui uma tessitura de violino e fico com o problema das cordas resolvido. Comecei, pois, por aí. A partir disto, desenhei toda a sanfona para aquele tipo de cordas. Foi a coisa que me deu mais trabalho de pesquisa, aí uns quatro ou cinco anos. Ia adquirindo conhecimentos sempre que podia. Agora faço uma em quatro meses.
E uma guitarra?
Nunca demora menos de dois meses.
Não usa pistola?
Não, os métodos que eu uso aqui são os que resultam mesmo, mesmo bem, e são esses que uso e nunca vou abdicar deles, porque me habituei a eles, apesar de outros serem mais rápidos. Não me interessava isto, porque o seu resultado não serve. Podia ser a melhor cola do mundo ou uma super rápida que nunca iria entar no meu esquema.
E os materiais, onde os arranja?
Como posso, por vezes arranjo um pau-santo nuns madeireiros já velhotes cá do país. Como Portugal teve muito boas relações com o Brasil, as madeiras vieram para aqui e, por vezes, ainda se encontram aí coisas muito interessantes. Se não, em Espanha encontra-se quase tudo.
Continue a falar da construção de instrumentos!
A mim interessa sobretudo fazer instrumentos que soem bem, com muita riqueza harmónica, para ser mais agradável ao ouvido. Como eu ouço música em boas condições, pois com o “Realejo” vou muito lá fora, vejo que a fasquia em Portugal não tem nada a ver com aquilo que se passa lá fora. Os músicos fora de Portugal são todos de uma formação muito elevada, mesmo na música tradicional e eu convivi muito com isso e convivo com o “Realejo” e a gente percebe a dimensão a que as coisas podem chegar. Aqui não vemos nada e isso também me leva a trabalhar desta forma. Depois também conheci o Pedro Caldeira Cabral e o Júlio Pereira que tinham algumas dificuldades com os instrumentos. Na inter-acção comigo e com o Pedro, que vem muitas vezes à minha oficina experimentar todas as minhas guitarras, vejo-o tocar e percebo, não só aquilo que ele me diz e pelo que ouço, vejo se há alguma coisa que deva ser mexida. Isto foi assim uma coisa que me caiu do céu e que de repente fiquei assim a perceber muito bem. Eu nem sei explicar isto, porque comecei a construir instrumentos sem ter uma tradição na família e, de repente, sabia fazer isto muito bem.
Para além de Paulo Soares, para que grandes guitarristas tem feito guitarras?
Para o Pedro Caldeira Cabral que é o melhor deles todos; há um moço no Porto que é o Mário Henriques que é muito bom guitarrista, estudou guitarra clássica.
Toca guitarra de Coimbra?
Ele é todo-terreno, é guitarrista, toca tudo desde Movimento Perpétuo até aos fados de Lisboa todos. É engenheiro civil. Tem uma mão direita como nunca vi. Grande velocidade, mas não tem a profundidade e o som tão forte como a malta de Coimbra; como é tão rápido... Já tem duas guitarras minhas. Ele adora as minhas guitarras que são fáceis de tocar e, na maneira como ele toca, encaixam muito bem. A malta do Porto tem comprado algumas guitarras mas, em Lisboa, ainda não há compradores.
E cá em Coimbra?
Vão aparecendo, mas eu faço muito poucas guitarras, no máximo cinco por ano. No meio disto vou fazendo um bandolim ou um cavaquinho. Mas eu dedico muito tempo a isto, ao pormenor. Veja que o interior dessa guitarra está perfeito.
No lançamento do guitolão, falou-se na “alma” das guitarras que Kim Grácio lhes punha. Já viu alguma?
Isso é uma ideia um pouco estranha, O fundamental é perceber como o instrumento funciona. Aquilo que lhe posso dizer que é mais próximo do funcionamento da guitarra é a comparação com o de um altifalante, do movimento de vai-vem. Se se perceber este conceito, consegue-se fazer um bom instrumento. Isto (aponta o centro do tampo) é o centro do cone, equivalente ao do altifalante.
E se a guitarra não tivesse boca?
O som ficava um pouco mais grave. Se o instrumento tiver falta de agudos, pode enriquecer nessa zona, pois sobressai a parte grave do agudo.
A questão da altura da ilharga, como chegou à conclusão de que devia ser mais estreita?
A ouvir esses instrumentos que eu disse que restaurei de Michel Giacometti e de Ernesto Veiga de Oliveira. Havia alguns que tinham maus materiais e soavam francamente bem, enquanto outros, com madeiras riquíssimas, nem por isso. Alguma coisa se passava! Foi essa análise que me levou a concluir que o tamanho era fundamental, muito mais importante que a qualidade do material, que deve ser boa, está claro. Mas eu já tinha percebido isso e só me levou a tirar uma conclusão mais definitiva que de facto era assim.
Que calibres usa nas cordas?
0,25 mm, 0,27 mm e 0,35 mm.
Concordo inteiramente com esses calibres. Sabe que já tenho visto encordoações em que a diferença maior entre os calibres é exactamente ao contrário, ou então aproximadamente igual nos dois intervalos; e isso em pessoas de alguma responsabilidade!
O pessoal não percebe estes conceitos muito básicos; como não há formação musical, isto escapa-lhes.
Mas isso parece intuitivo!
É um raciocínio básico, lógico. Quem faz instrumentos, não os toca; fica muito mais limitado na sua apreciação, na sua evolução, porque de facto está a fazer uma coisa em que não sabe mexer, não sabe pôr a funcionar, não sabe tocar.
O Fernando toca alguma coisa de guitarra?
Não, dou umas notitas muito mal. Eu faço outros instrumentos mais interessantes, como a sanfona, apliquei as minhas energias mais aí. Fui fazendo boas guitarras. Como tinha aqui quem as tocasse bem, o Paulo Soares, você às vezes, o Pedro Caldeira Cabral, o que é que eu ia fazer ao pé deles? Nada!
Para a Escola do Fado da AAC nunca vendeu nenhuma?
Já vendi algumas.
Vamos ver agora o bandolim. Este é uma preciosidade. É renascentista?
Não, é um instrumento muito clássico...
E violas? Tem aqui uma ainda por acabar!
Faço poucas. A viola é um instrumento que se encontra aí muito à venda e a relação preço qualidade não compensa.
(Estive a experimentar as duas guitarras e pareceram-me muito bem equilibradas e com muito boa sonoridade. Pena foi não ter trazido as unhas artificiais, para melhor aquilatar do seu valor!)
Nunca se arrependeu de ter seguido este caminho?
Não, nós temos que fazer alguma coisa da vida e eu faço uma coisa que gosto mesmo de fazer. Sei dar valor a esta descoberta e faço instrumentos assim porque tenho essa consciência de que isto foi uma descoberta fantástica, tive a sorte de encontrar uma coisa que faço bem e que é muito gratificante e então agarro-me a isso. O meu último instrumento é quase sempre o melhor! E tem que ser sempre assim, porque de facto faço uma entrega muito grande e faço isto com muita consciência, com muito cuidado.Por vezes acontece assim qualquer coisinha que nem é nada e fico... É uma grande entrega para fazer assim um instrumento. É uma coisa que eu faço tão naturalmente, para mim é tão óbvio, tão evidente, que às vezes até tenho dificuldade em perceber por que é que as pessoas não trabalham assim, porque eu faço os instrumentos da forma mais simples e mais básica que se possa imaginar e assim é que pode resultar. As pessoas andam sempre à procura fora do básico, do normal, daquilo que é mais simples e, por vezes, a verdade está na simplicidade. Eu percebi isso já há muito tempo e trabalho assim. É muito compensador quando se acaba um instrumento e ele soa desta maneira! (Dá uns acordes na guitarra). Não há nada que pague isto. (Começa a fazer uns glissandos, límpidos) Até se pode tocar como a viola, a dar notas só com a mão esquerda! É isso!
Aquilo que eu acho é que isto podia ser aproveitado noutros termos; há tanto desemprego em Portugal, gente sem fazer nada, e estas coisas são tão boas, são tão fáceis de fazer; acho que em Portugal se anda um pouco a dormir. Ninguém aproveita estas coisas. Eu faço o meu trabalho, faço o meu trabalho bem feito com esta consciência, mas alguém devia perceber que isto servia para mais gente!
Não vê viabilidade na montagem de uma fábrica de guitarras de qualidade?
Sim, se tivesse uma fábrica, fazia instrumentos com esta qualidade, nela.
Nunca pensou em arranjar subsídios para montar uma?
Nunca fui atrá de subsídios, nunca entrei nessa zona e nunca criei poder económico para o fazer, pois nunca consegui juntar dinheiro.. Também não quero pedir dinheiro aos bancos. Gosto muito da minha liberdade, fazer aquilo conforme posso, mas reconheço que é uma mais valia que podia ser aproveitada.
Há dois anos estive a dar um concerto na Finlândia e no dia seguinte um “workshop”. Aquilo estava cheio; pessoas interessadas, pessoas altamente bem formadas. Fazem muitas perguntas, como é que se toca, como é que é em Portugal, como é que se aprende, e nós temos que contar a história do desgraçadinho; não aprendemos com ninguém, temos que fazer tudo sozinhos e eles quase nem acreditam. Deixei a sanfona para o fim. Eles estavam todos em pulgas para a ouvir. Começam as perguntas e uma delas era qual o número de pessoas que havia em Portugal a construir sanfonas! O meu colega Amadeu disse que eu era o único. Levantou-se uma senhora e perguntou se nós tínhamos seguro para andarmos por aí a viajar porque, se fosse no país deles, o governo não permitia sequer que nós andássemos por aí, quer dizer, olhavam para aquilo como um pequeno tesouro nacional.
A nós arrepia-nos porque aqui estão-se perfeitamente marimbando que estas coisas existam, aconteçam, que apareçam, que no fundo estas coisas caem do céu e depois morrem assim. Lá, mesmo pessoas do povo vêem isto com estes olhos, viram logo que ali não deixavam que isso acontecesse assim. Se fôssemos finlandeses, éramos bem tratados, quase que nem tínhamos liberdade. Em Portugal, ao menos, vou para onde quero e quando quero. Lá, limitavam-me isso por causa da importância que isto tem para eles.
No nosso país não há gente a tocar sanfona?
Agora vão aparecendo, até por minha influência, mas quando comecei não havia ninguém. Lá fora conseguem ganhar para um instrumento e sabem se ele é bom, se é bem feito, se o artista é bom. Aqui é muito difícil. Há meia dúzia de iluminados que conseguem aferir um instrumento. É uma questão de mentalidade, as pessoas têm preconceitos prè-concebidos e acham que aquilo é assim porque sempre foi assim! Isso é muito difícil de gerir. Eu sempre fiz guitarras como achei que devia fazer e sempre fui altamente massacrado para fazer guitarras como os Grácios. O pessoal daqui vinha sempre com esta conversa. Mas eu sabia que era este som que queria, porque aquele som, é o som Grácio, mas a mim não me dizia nada, a minha zona já era outra e eu sempre insisti que o meu som era este. É uma coisa interior que eu sinto que deve ser assim.
Teve mais alguma viagem que lhe desse outras aberturas?
Geralmente, quando vamos a esses locais fora de Portugal, locais de grande dimensão artística, onde os acontecimentos musicais são muito grandes. Geralmente são três a quatro dias de festival em que há grupos a tocar dia e noite todos os tipos de música. Lá não estão com preconceitos. Têm grupos de Jazz, música clássica, grupos de música étnica, música punk. É música pela música. Eu acho isso muito saudável. Nós aqui compartimentamos, cada um não se pode mexer. Lá não, tocam uns com os outros, têm educação musical muito prática e muito cedo.
A que países foi?
A Noruega e Finlândia foram os que me fascinaram mais. Estive na Eslovénia, Macau, França, Espanha várias vezes, sempre nos locais onde acontecem os grandes festivais.
E vai com...
O “Realejo” e, como sabem que faço instrumentos, convidam-me para expor. Ao primeiro desses festivais que fui em França a S. Chartier, foi em 95, havia cem construtores, de gaitas de foles, sanfonas, guitarras, de tudo que se utiliza na música folclórica e étnica mundial. Era à volta do castelo de Geoge Sand. Tive um concerto com o “Realejo”. Numa igrejazinha que me foi atribuída mostrei os meus instrumentos e a sonoridade deles para quem quisesse. Havia concursos para criancinhas a tocarem, por exemplo, a sanfona, crianças com 4, 5 e 6 anos, em que ganham prémios. Passam o ano todo a trabalhar para o concurso. Alguns tocam sanfona como nunca vi na vida. As coisas passam-se a este nível.
Há então muita gente lá a tocar sanfona!
Em França há, mas, nos outros instrumentos, também é assim. Vêem-se lá crianças a tocarem melhor que os nossos adultos. É isso que depois faz as pessoas poderem aferir se a música é ou não boa. Ao fazer as minhas guitarras, ponho em prática os conhecimentos que vou colhendo pelo mundo fora.
No fundo os instrumentos estão todos relacionados; há sempre pontos comuns na construção!
Haverá sempre. No fundo todos nos regemos pelas mesmas leis universais. As leis da acústica
Há leis que são fundamentais, que existem para todo o mundo, para todo o universo. Pode é dar a voltinha mais por aqui ou por ali, mas a verdade é só uma. Dá o mesmo trabalho fazer mal ou fazer bem. Eu faço bem!
(terminámos esta conversa com Fernando Meireles agarrado ao cavaquinho a tocar todas as peças que Júlio Pereira gravou. Execução primorosa, com uma sonoridade espectacular – num cavaquinho por si construído. Se Júlio Pereira é um virtuoso deste instrumento, Fernando Meireles sê-lo-à também, pois não vi diferença nenhuma entre os dois. Fiquei com a gravação e delicio-me a ouvi-lo).

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