Texto de Jorge Cravo, incluso na integral de Luiz Goes, "Canções para quem vier"
No âmbito da cultura musical coimbrã, emerge a presença de Luiz Goes, considerado a grande referência da 2ª metade do século XX da Canção de Coimbra.
Ideologicamente a partir da escola modernista de Edmundo de Bettencourt, a Luiz Goes coube o importante papel de renovar o discurso semântico-musical desta Canção, criando um Novo Canto. Ou seja: o Neo-Modernismo chega à Canção Coimbrã pela sua voz!
Sem subserviências e sem ortodoxias, Goes sempre soube conciliar o culto desta velha Canção com a capacidade de criar novas composições, abordando uma temática mais universal, mais em relação com a Vida e com os valores dignificadores da Humanidade, o que projectou esta sua nova Canção para um domínio muito mais vasto do que o ser apenas um canto serenil. Daí que olvidá-lo em termos de intervenção humana, social, e até mesmo política, através do seu Canto, será sempre uma atitude reaccionária, de pura ignorância ou de má-fé!
Há, aliás, em Luiz Goes, duas atitudes que nos dizem bem da sua "filosofia de estar" na Canção de Coimbra. Por um lado, nunca se deixou hipotecar aos hábitos nocturnos de casas de fado ou de "pubs", com temporadas preestabelecidas de "artista encartado" e "cartaz à porta"; e por outro, nunca se autoproclamou de "grande artista", nunca se autopromoveu ou se colocou em bicos de pés para se fazer notado. Pelo contrário: foi-nos legando canções soberbamente interpretadas, deixando "correr o marfim", esperando que a sua obra "falasse" por si!
Numa altura em que a descaracterização da Canção de Coimbra começa a ser preocupante, negando-se-lhe as suas influências regionais e locais, numa intenção de a diluir num mar difuso de géneros musicais, a presença tutelar de Luiz Goes é prova e exemplo de que não se renova uma cultura-tradição musical com leviandades. Ao longo de cinco décadas, o seu Canto nunca se confundiu com estilos aligeirados e muito aplaudidos de cançonetismos bacocos.
A sua clareza interpretativa, expressividade dramática e sensibilidades musical, aliadas a uma inquietante criatividade, a um grande rigor crítico e a uma forte consciência estetizante face àquilo que até hoje gravou, são algumas das características de uma escola de canto e de interpretação, do melhor que alguma vez a Canção de Coimbra gerou – a Escola Goesiana!!
Por tudo isto, Luiz Goes é – e cremos que sempre será – o protótipo desta Canção.
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