Contracapa do CD "Pedro Caldeira Cabral - Variações", da etiqueta World Network, saído em 1992. Acompanha-o à viola, Francisco Perez Andion, Paquito.
Já publiquei neste Blog, no dia 27 de Maio, a biografia e um texto deste guitarrista. É sobre o seu último trabalho que trata o texto que se segue, retirado da internet, dum site do Instituto Camões:
«Que razão os levou (Pedro Caldeira Cabral e Fernando Alvim) a realizar "Memórias de uma guitarra" efectuando o percurso musical de quatro séculos?
Como todos associamos a guitarra portuguesa ao fado havia que mostrar que este instrumento é muito anterior ao fado.
A nossa tradição da guitarra portuguesa explica-se no contexto europeu exactamente quando há um período de decadência ou desqualificação social do instrumento nos finais do sec. XVIII, princípio do sec. XIX . Nestes tempos, a guitarra portuguesa foi associada a uma classe marginal que cantava uma canção - o fado. Enquanto no resto da Europa este instrumento desapareceu e ficou completamente desqualificado deixando de ter interesse musical e social (os instrumentos tal como os objectos têm também uma qualidade ou uma representatividade enquanto objectos de moda e enquanto representantes de uma determinada classe), no caso da guitarra portuguesa, esta sobrevive graças à associação com o fado. O meu contributo dentro da guitarra portuguesa tem a ver exactamente com a história do instrumento. A descoberta do repertório anterior ao fado afirma a guitarra portuguesa com todas as possibilidades como instrumento de concerto.
Este instrumento tem uma presença em Portugal com uma história de mais de cinco séculos e está ligado, principalmente nas origens, ao meio de música culta e que a pouco e pouco se vai popularizando. A tradição solística que sobrevive é realmente a tradição popular.
A que ano remontam as primeiras interpretações de música antiga?
A cítola medieval, por exemplo, aparece por volta do século VIII e desse período não temos música nenhuma. As músicas do período mais antigo que chegaram até nós são do séc. XIII.
Os séculos XIII e XIV são um período de grande abundância de material (período trovadoresco) numa produção gigantesca com a recolha de 420 melodias que se usavam em Portugal e em Espanha. Desta época temos um manancial fantástico. O nosso período áureo é do tempo dos Descobrimentos e daí que o concerto tenha começado precisamente com um exemplar destes.
Quais são as caractersticas específicas da guitarra portuguesa?
É um instrumento completamente diferente das outras guitarras em termos de afinação, em termos de técnica de execução, em termos de forma de funcionamento mecânico. São características muito próprias que as diferenciam completamente dos bandolins italianos, das violas espanholas, etc. É difícil explicar por palavras as qualidades tímbricas de um instrumento. O que me fascina na guitarra portuguesa é, como o conceito definido por um filósofo alemão, a expressão de um sentimento português, de uma linguagem portuguesa.
Que formação tem em termos de música?
No princípio há uma aprendizagem autodidacta, mas faço a minha formação musical a vários níveis. Nos anos 70 estudei musicologia na universidade e aprendi e especializei-me na disciplina que estuda os instrumentos (organologia). Nessa altura comecei a interessar-me por vários instrumentos. Chego à história da guitarra portuguesa através do meu interesse pela cítara europeia do século XVI e ao seu estudo através da própria investigação que fiz em instrumentos de corda.
Como todos associamos a guitarra portuguesa ao fado havia que mostrar que este instrumento é muito anterior ao fado.
A nossa tradição da guitarra portuguesa explica-se no contexto europeu exactamente quando há um período de decadência ou desqualificação social do instrumento nos finais do sec. XVIII, princípio do sec. XIX . Nestes tempos, a guitarra portuguesa foi associada a uma classe marginal que cantava uma canção - o fado. Enquanto no resto da Europa este instrumento desapareceu e ficou completamente desqualificado deixando de ter interesse musical e social (os instrumentos tal como os objectos têm também uma qualidade ou uma representatividade enquanto objectos de moda e enquanto representantes de uma determinada classe), no caso da guitarra portuguesa, esta sobrevive graças à associação com o fado. O meu contributo dentro da guitarra portuguesa tem a ver exactamente com a história do instrumento. A descoberta do repertório anterior ao fado afirma a guitarra portuguesa com todas as possibilidades como instrumento de concerto.
Este instrumento tem uma presença em Portugal com uma história de mais de cinco séculos e está ligado, principalmente nas origens, ao meio de música culta e que a pouco e pouco se vai popularizando. A tradição solística que sobrevive é realmente a tradição popular.
A que ano remontam as primeiras interpretações de música antiga?
A cítola medieval, por exemplo, aparece por volta do século VIII e desse período não temos música nenhuma. As músicas do período mais antigo que chegaram até nós são do séc. XIII.
Os séculos XIII e XIV são um período de grande abundância de material (período trovadoresco) numa produção gigantesca com a recolha de 420 melodias que se usavam em Portugal e em Espanha. Desta época temos um manancial fantástico. O nosso período áureo é do tempo dos Descobrimentos e daí que o concerto tenha começado precisamente com um exemplar destes.
Quais são as caractersticas específicas da guitarra portuguesa?
É um instrumento completamente diferente das outras guitarras em termos de afinação, em termos de técnica de execução, em termos de forma de funcionamento mecânico. São características muito próprias que as diferenciam completamente dos bandolins italianos, das violas espanholas, etc. É difícil explicar por palavras as qualidades tímbricas de um instrumento. O que me fascina na guitarra portuguesa é, como o conceito definido por um filósofo alemão, a expressão de um sentimento português, de uma linguagem portuguesa.
Que formação tem em termos de música?
No princípio há uma aprendizagem autodidacta, mas faço a minha formação musical a vários níveis. Nos anos 70 estudei musicologia na universidade e aprendi e especializei-me na disciplina que estuda os instrumentos (organologia). Nessa altura comecei a interessar-me por vários instrumentos. Chego à história da guitarra portuguesa através do meu interesse pela cítara europeia do século XVI e ao seu estudo através da própria investigação que fiz em instrumentos de corda.
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