sexta-feira, outubro 21, 2005

DISCOGRAFIA DE JOSÉ DIAS COM AS RESPECTIVAS LETRAS QUE CONHEÇO

Por José Anjos de Carvalho

José Dias, ou José(zito) Dias, gravou na década de 20, mais concretamente em Maio de 1927 e em Outubro de 1928, um total de 5 discos de 78 rpm. Foi acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá mas, à viola, não há garantia de quem foi e, além disso, subsistem algumas dúvidas sobre quem seja o cantor José Dias.
Na Internet, nas biografias dos Cantores de Fado de Coimbra, ele é identificado como sendo José do Patrocínio Dias Presunto (Covilhã, 23-07-1884; Fátima, 24-10-1965). A ser assim, trata-se de D. José do Patrocínio Dias, o Bispo-Soldado, que foi aluno do Colégio S. Fiel dos Padres Jesuítas, da Guarda, depois da Faculdade de Teologia entre 1902 e 1907, ano em que concluiu a formatura e se ordenou presbítero. Cónego em 1915, é nomeado capelão do CEP na guerra de 14-18 e daí o epíteto de Bispo-Soldado. Em 16-12-1920 é eleito Bispo de Beja pelo Papa Bento XV.
Que D. José do Patrocínio sabia cantar e tocar guitarra, é voz corrente, mas que seja ele a mesma pessoa que gravou discos sob o nome de José Dias… eu, pelo menos, não sei, tenho dúvidas e gostaria de sobre este assunto ter provas evidentes e irrefutáveis.
Tenho uma biografia de D. José do Patrocínio Dias da autoria de C. J. Gonçalves Serpa, com mais de 500 páginas, impressa na União Gráfica, Lisboa, 1959, que não contém qualquer referência ao assunto, mas este facto também não me dá garantias que não seja a mesma pessoa. Na dita biografia o apelido «Presunto» também não consta, nem mesmo quando refere os nomes de seus pais que, no caso da mãe, Claudina dos Prazeres, não indica qual seja o apelido.
A ser verdade tratar-se da mesma pessoa, então D. José do Patrocínio, das duas vezes que gravou, ter-se-ia servido de um artifício ao utilizar, para efeitos da sua não identificação, o nome artístico de José Dias, quando afinal já há sete anos que era Bispo de Beja e, quando da segunda gravação, há oito.
No n.º 44 da Série II de O Notícias Ilustrado, de 14 de Abril de 1929, vem um extenso inquérito sobre «Fado», com bastantes depoimentos e várias fotografias desenhos e caricaturas. Na parte respeitante a gravações para a His Master’s Voice, refere os nomes dos cantores José Dias, Elísio de Matos, Armando Goes e Paradela de Oliveira. Traz vários retratos mas, dos cantores aqui referenciados, só figuram os retratos de Armando Goes e de Paradela de Oliveira.

José Dias foi acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá mas, à viola, o nome do acompanhante não é revelado no disco, só consta o nome de Paulo de Sá. Teria sido o Professor Doutor José Carlos Moreira? É que este Mestre de Coimbra tocava viola, era muito amigo de Paulo de Sá e sabe-se seguramente que nas gravações de Elísio de Matos, de quem também era amigo, foi ele quem o acompanhou à viola, desejando contudo que o seu nome não figurasse nos discos, o que realmente aconteceu.
José Dias gravou inicialmente 4 discos de 78 rpm, em Maio de 1927, para a His Master’s Voice, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, à viola, admito que possa ter sido o Prof. Dr. José Carlos Moreira (v. epígrafe «Discografia de Elísio de Mattos e respectivas letras», neste blog).
A relação destes primeiros quatro discos e respectivos compositores figura no «Catálogo para Portugal de Discos His Master’s Voice», referente a 1928, edição do Grande Bazar do Porto, impresso nas oficinas de “O Comércio do Porto” (pág. 5/71) e por isso os posso aqui indicar com segurança pois, desses discos, só tenho um. Relativamente ao acompanhamento, o disco que tenho diz taxativamente o seguinte: “com acompanhamento de guitarra por Paulo de Sá e violão”, o que indicia ter havido intenção de omitir o nome do tocador de viola.
Tais discos foram inicialmente fabricados em Barcelona pela Compañia del Gramófono mas, como já pertencem à série «E.Q.», privativa do Grande Bazar do Porto, isso significa que foram produzidos depois da implementação do acordo de 1928 estabelecido entre a His Master’s Voice e o Grande Bazar do Porto.
José Dias voltou a gravar em Outubro de 1928 mas apenas foi editado mais um disco.

Gravações de Maio de 1927
Disco Gramófono, E.Q. 26
Disco His Master’s Voice, E.Q. 26
2-62567 – Fado da Mentira (Ninguém conhece no rosto) Alexandre Rezende
2-62568– Fado do Luar ( ) Paulo de Sá

Disco Gramófono, E.Q. 27
Disco His Master’s Voice, E.Q. 27
2-62569– Fado Patriótico (Já se ouviu de serra em serra) António Menano
2-62570– Fado Triste ( ) Alexandre Rezende

Disco Gramófono, E.Q. 28
Disco His Master’s Voice, E.Q. 28
2-62571– Fado do Mondego ( ) Alexandre Rezende
2-62572– Fado de Coimbra ( ) Paulo de Sá

Disco Gramófono, E.Q. 29
Disco His Master’s Voice, E.Q. 29
2-62573 – A Maior Dor (Dizem que as mães querem mais) Paulo de Sá
2-62574 – Fado da Montanha (Quem por amor se perdeu) Alexandre Rezende

Gravações de Outubro de 1928
Disco His Master’s Voice, E.Q. 150
Fado da Minha Mãe (Minha mãe é pobrezinha)
Fado do Mar Largo (Ó mar largo, ó mar largo)


LETRAS

FADO DA MENTIRA (Ninguém conhece no rosto)
Música: Alexandre Rezende
Letra: (?)
Edição musical: Sassetti & C.ª, copyright de 1927

A letra que figura na edição musical e que, admito, poderá ser a cantada por José Dias, uma vez que não disponho do disco, é a seguinte:

Ninguém conhece no rosto
O que a nossa alma inspira…
A vida é gosto e desgosto,
Mentira, tudo mentira.

A minh’alma, coitadita,
Não tem vestes, anda nua…
Oh! Por Deus, dá-lhe um abrigo,
Dá-lhe um cantinho da tua.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por José Dias em Maio de 1927 (Discos Gramófono, E.Q. 26 e His Master’s Voice, E.Q. 26).

Como disse, a letra que se apresenta é a que consta na edição musical da casa Sassetti & Cª., copyright de 1927, que é também a gravada por António Menano. Esta edição musical é omissa quanto à autoria da letra mas, em contrapartida, traz bem patente a indicação «Célebre fado cantado por António Menano».

António Menano gravou este fado em Maio de 1927, em Paris (Discos ODEON, 136.811 e A136.811, master Og 583). Gravação disponível em vinil (Álbum de Fados de Coimbra – António Menano, Vol. I, 1º disco, editado em 1985). Disponível também em compact disc:
Heritage HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995;
Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995;
CD António Menano – Fados, Vol. II, editado em Dezembro de 1995, com etiqueta Odeon.
Anota-se que entre o 3º e o 4º verso de cada estrofe António Menano introduz-lhes o vocalizo “ai”, no seu jeito habitual.

Vários têm sido os cantores, uns de Coimbra, outros não, que têm cantado e gravado este fado. Alguns alteram-lhe o título e/ou a letra, indo buscar para 2ª estrofe a célebre quadra popular Fiz uma cova na areia, do FADO DA MÁGOA, gravado por António Menano, e até uma quadra do Fado dos Beijos: Se tu quisesses ser minha. Algumas gravações disponíveis em compact disc de outros cantores:
CD Orfeão Académico de Coimbra, Ovação, OV-CD-012, de 1991 (canta Sutil Roque);
CD António Vecchi – Guitarra chora baixinho, Movieplay, 30.279, editado em 1992;
CD Melro – Janita Salomé, Movieplay, MP 13.001, editado em 1993;
CD Fernando Machado Soares; Philips, 838 108-2, compilação de gravações de 1986 e 88;
CD Fados e Guitarradas de Coimbra, Movieplay, MOV. 30.425/A, editado em 2001 (canta Adriano Correia de Oliveira).


FADO DO LUAR ( ? )
Música: Paulo de Sá
Letra: (?)
Edição musical: (?)

Informação disponível:
Gravado por José Dias, “com acompanhamento de guitarra por Paulo de Sá e violão” (Discos Gramófono, E.Q. 26 e His Master’s Voice, E.Q. 26).
Não sei que fado seja, não tenho o disco nem outros elementos mais que possa fornecer.


FADO PATRIÓTICO (Já se ouviu de serra em serra)
Música: António Menano (c. 1918), dedicada «Ao muito amigo Vasco Macieira»
Letra: Alfredo Fernandes Martins (c. 1917-1918)
Edição musical: Salão Mozart, de P. Santos & Cª

A letra que figura na edição musical e que admitimos poder ser, no todo ou em parte, a cantada por José Dias, uma vez que não disponho do disco, é a seguinte:

Já se ouviu de serra em serra
A voz da Pátria, a gritar:
Tomai as armas, meus filhos,
Que temos de batalhar.

Erguei-vos novos e velhos,
A pé todos em geral!
Erguei-vos todos à uma
Para salvar Portugal.

Ninguém me diga que morre
A minha Pátria… ninguém!
Que primeiro que ela morra
Hemos nós morrer também!

Ó Pátria da minha mãe,
Ó minha mãe duas vezes:
São barreiras invencíveis
Os peitos dos portugueses!

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por José Dias em Maio de 1927 (Discos Gramófono, E.Q. 27 e His Master’s Voice, E.Q. 27). De notar que José Dias gravou este fado um ano antes de António Menano.

A edição musical deste fado faz parte da série “Canções de Coimbra – Portugal”, impressa pela Litografia do Salão Mozart, de P. Santos & Cª., Rua Ivens, 52-54, Lisboa, cerca de 1918. A edição que tenho é a 4ª, publicada seguramente depois de 1922. Existe uma outra edição musical com duas composições, ambas para Orfeon, publicada também pelo Salão Mozart, que contém o Fado Patriótico e a Balada Açoriana.

António Menano gravou este fado em Lisboa, na Primavera de 1928, um ano depois de José Dias (Discos Odeon 136.822 e A 136.822, master Og 656) e mais tarde em Berlim, em Dezembro de 1928 (Disco Odeon, LA 187.804, master Og 1024).
No canto, António Menano omitiu a 2ª estrofe, consequência das limitações de tempo impostas pelos discos de 78 rpm e admito que José Dias possa ter feito o mesmo. Na última quadra António Menano alterou o último verso, dizendo “feitos” em vez de “peitos”, julga-se que por lapso.
A gravação de Berlim encontra-se disponível em compact disc: CD António Menano – Fados, EMI 7243 8 34618 2 0, editado em Setembro de 1995.


FADO TRISTE (Tive um só amor na terra (?))
Música: Alexandre Rezende
Letra: (?)
Edição musical: (?)

Informação disponível:
Gravado por José Dias, “com acompanhamento de guitarra por Paulo de Sá e violão” (Discos Gramófono, E.Q. 27 e His Master’s Voice, E.Q. 27).
Não tenho o disco e, uma hipótese (admissível entre outras) é que a música e a letra possam ser a do FADO TRISTE (Tive um só amor na terra) da autoria de Alexandre Rezende e que foi por ele cantado e gravado por volta de 1926 ou 1927, acompanhado à guitarra por si próprio e por José Parente e, à viola, por Campos Costa (Disco Parlophone, B 33506). Mas isto é uma mera suposição, nada mais. A letra da gravação de Alexandre Rezende é a seguinte:

Tive um só amor na terra
Que de um engano nasceu;
De enganos foi sua vida
E de um engano morreu.

Eu queria e ela queria,
Eu pedi, ela negava,
Eu chegava, ela fugia,
Eu fugi e ela chorava.

Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
A 2ª quadra figura no Cancioneiro Popular dos Açores.


FADO DO MONDEGO ( ? )
Música: Alexandre Rezende
Letra: (?)
Edição musical: (?)

Informação disponível:
Gravado por José Dias, “com acompanhamento de guitarra por Paulo de Sá e violão” (Discos Gramófono, E.Q, 28 e His Master’s Voice, E.Q. 28).
Não tenho o disco e ignoro que fado seja.
Há um Fado do Mondego (Dobrou o sino a finados), música de João Carlos Bagão, letra de Edmundo Bettencourt, mas este não é, de certeza.
Há um outro Fado Mondego (Quisera que tu me amasses), gravado por Luiz Macieira antes de Maio de 1927 (disco Odeon, 136.270, master Og 533), cuja música é a do Fado dos Passarinhos (Passarinho da ribeira), de António Menano, pelo que também não é.
Há ainda um outro Fado Mondego (Minha mãe é pobrezinha) gravado pela mezzo soprano D. Luiza Baharem, com acompanhamento de guitarra e viola em finais de 1926, princípios de 1927 (Disco Columbia, 1032-X, master P.147, edição americana), cuja música é a mesma do Fado Triste (Minha mãe é pobrezinha), cantado e gravado por António Menano na Primavera de 1928 (discos Odeon, 136.822 e A 1136.822, master Og 689) e, depois em Berlim, em Dezembro de 1928 (Disco Odeon, LA 187.804, master Og 1018), mas também não deve ser dado que a sua música é a mesma do Fado da Minha Mãe (Minha mãe é pobrezinha) gravado pelo próprio José Dias em Outubro de 1928 (disco His Master’s Voice. E.Q. 150).


FADO DE COIMBRA (Nossa Senhora da Graça (?))
Música: Paulo de Sá
Letra: (?)
Edição musical: (?)

Informação disponível:
Gravado por José Dias, “com acompanhamento de guitarra por Paulo de Sá e violão” (Discos Gramófono, E.Q. 28 e His Master’s Voice, E.Q. 28).
Não sei que fado seja.
Uma hipótese com um grau de verosimilhança algo razoável é a de ser o FADO DE COIMBRA (Nossa Senhora da Graça), gravado por Armando Goes em 1929 (disco His Master’s Voice, E.Q. 245). A ser assim, a música seria a mesma de:
Fado da Mágoa (Fiz uma cova na areia), gravado por António Menano (discos Odeon, 136.819 e A 136.819, master Og 691) e do fado Olhos Verdes (Teus olhos verdes, gaiatos), gravado por Manuel Branquinho (EP Orfeu, ATEP 6409).
Quanto à letra cantada por José Dias não disponho de nenhum elemento seguro.


A MAIOR DOR (Dizem que as mães querem mais)
Música: Paulo de Sá (1916)
Letra: 1ª quadra: Horácio Menano (1912)
2ª quadra: Alfredo Fernandes Martins (1916)
Edição musical: Livraria Neves, de Coimbra (1916)

Dizem que as mães querem mais
Ao filho que mais mal faz…
Por isso eu te quero tanto
Que tantas mágoas me dás!

E pra ser mais desgraçado
No mundo do que ninguém,
Basta nunca ter andado
Ao colo da minha mãe!

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado pela primeira vez em Maio de 1927 por José Dias (discos Gramófono, E.Q. 29 e His Master’s Voice, E.Q. 29). José Dias alterou a 1ª quadra ao introduzir o pronome pessoal «eu» no 3º verso da versão original de Horácio Menano.

A letra original do fado A MAIOR DOR consta da respectiva edição musical, compreende quatro quadras, todas da autoria de Alfredo Fernandes Martins, e que são as seguintes:

Quando me vires passar
D’olhos pregados no chão,
Não me perguntes que trago
Dentro do meu coração.

Que a minha dor é tão grande,
Que, se eu a fosse contar,
Não haveria ninguém
Que não rompesse a chorar.

Pois, mal nasci – Ai de mim!
Leu-me a desgraça o meu fado.
Era negro, só dizia:
Hás-de ser um desgraçado.

E pra eu ser mais desgraçado
No mundo do que ninguém,
Basta nunca ter andado
Ao colo de minha mãe!

António Menano gravou este fado na Primavera de 1928, em Lisboa, com o mesmo título mas com uma outra letra (discos Odeon, 136.820 e A 136.820, master Og 672). Nestes dois discos vem o nome de Paulo de Sá e a indicação de ser uma canção, contrariando o classificativo de fado que consta na edição musical editada em 1916. Tal gravação encontra-se disponível em compact disc: CD António Menano – Fados, Vol. II, editado em Dezembro de 1995.
A letra cantada por António Menano é a seguinte:

Sou pobre, valha-me Deus,
Mais pobre que Pedro Cem!
Ele perdeu terras e céus
E eu perdi a minha mãe!

Vai-se a noite e vem o dia
E eu não deixo de cismar:
– Mas que mal é que eu faria
Prà minha mãe me deixar?!

Em má hora eu nasci,
Em má hora digo bem!
Porque nunca conheci
A santa da minha mãe!

Por sua vez, estas três quadras constituem também, mas por ordem inversa, a letra com que António Menano gravou o Fado Maria Vitória (Em má hora eu nasci), gravação disponível no CD António Menano – Fados, EMI-VC 7243 8 34618 2 0, editado em Setembro de 1995.


FADO DA MONTANHA (Quem por amor se perdeu)
Música: Alexandre Rezende
Letra: Augusto Gil (1909)
Edição musical: Desconheço a sua existência

Quem por amor se perdeu
Não chore, não tenha pena.
Que uma das santas do céu
– É Maria Madalena...

Se aquilo que a gente sente,
Cá dentro, tivesse voz,
Muita gente... toda a gente
Teria pena de nós!

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado em Maio de 1927 por José Dias (Disco Gramófono, E.Q. 29 e His Master’s Voice, E.Q. 29).
A letra é de Augusto Gil. As duas quadras pertencem a “A CANÇÃO DAS PERDIDAS”, dedicada a Viana da Mota (Cf. Luar de Janeiro, Portugália, Lisboa, 10ª edição, págs. 125 a 132).
No dito disco vem a indicação de a música ser de Alexandre de Rezende. Divaldo de Freitas refere também ser de Alexandre de Rezende a autoria da dita música (Emudecem Rouxinóis do Mondego, 1ª série, pág. 28).


FADO DA MINHA MÃE (Minha mãe é pobrezinha)
Música: Alexandre de Rezende
Letra: 1ª quadra: Popular
2ª quadra: Horácio Menano (1912)
Edição musical: Desconheço a sua existência

Minha mãe é pobrezinha,
Não tem nada que me dar;
Dá-me beijos, coitadinha,
E depois fica a chorar.

Dizem que as mães querem mais
Ao filho que mais mal faz...
Por isso eu te quero tanto
Que tantas mágoas as me dás!

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se
Gravado em Outubro de 1928 por José (Disco His Master’s Voice, EQ 150). Não tenho o disco, mas tenho-o reproduzido num CD amavelmente oferecido pelo Dr. Octávio Sérgio.
Na repetição do 2º dístico da 1ª quadra, José Dias altera o último verso e, em vez de repetir «fica a chorar», canta «põe-se a chorar»; na 2 quadra altera versão original de Horácio Menano ao introduzir o pronome pessoal «eu» no 3º verso da referia quadra.

A música é a mesma do Fado Triste (Minha mãe é pobrezinha), gravado por António Menano, e do Fado Mondego (Minha mãe é pobrezinha), gravado pela mezzo soprano D. Luiza Baharém, que já atrás foram referidos.


FADO DO MAR LARGO (Ó mar largo, ó mar largo)
Música: Paulo de Sá, dedicada «Ao José Paradela».
Letra: Popular
Edição musical: Sassetti e C.ª (c/capa de Stuart de Carvalhais)

Ó mar largo, ó mar largo,
Ó mar largo sem ter fundo,
Mais vale andar no mar largo
Que andar nas bocas do mundo.

A sereia quando canta,
Canta no meio do mar;
Quantos navios se perdem
Por causa do seu cantar.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se canta-se o 2º e repete-se.
Gravado também por José Dias, em Outubro de 1928 (Disco His Master’s Voice, EQ 150). Embora não tenha o disco, tenho-o reproduzido num CD que me foi muito amavelmente oferecido em tempos pelo Dr. Octávio Sérgio.

O título, letra, autoria da música e dedicatória constam na edição musical da Sassetti, copyright de 1927 mas a edição da Sassetti é omissa quanto à autoria da letra.
A 1ª quadra encontra-se em vários cancioneiros, no de Leite de Vasconcelos, no de Ataíde de Oliveira e no de Pires de Lima, no da Cova da Beira, nos Tesouros da Literatura Popular Portuguesa e outros.
A 2ª quadra é muito antiga, tem diversas variantes e provém da crença nas sereias, que enganam os navios e desgraçam os navegantes, ideia que já vem da antiguidade clássica. (Cf. José Leite de Vasconcelos, Tradições Populares de Portugal, edição de 1882, a págs. 82, 83, 286 e 287, e Teófilo Braga, Contos Tradicionais do Povo Português, II volume, págs. 36 e 37).

Gravado em 1928 por Elísio de Mattos, acompanhado à guitarra pelo próprio Dr. Paulo de Sá e, à viola, pelo Prof. Dr. José Carlos Moreira, que preferiu que o seu nome não figurasse no disco, nele apenas figurando a indicação «acompanhamento de viola e guitarra por Dr. Paulo de Sá» (Disco His Master’s Voice, E.Q. 259, master 30-2379).

Gravado por António Bernardino, acompanhado á guitarra por Nuno Guimarães e Manuel Borralho e, à viola, por Jorge Rino e Rui Borralho (EP António Bernardino, Ofir, AM 4.101); Bernardino alterou o último verso da 1ª quadra para «Do que nas bocas do mundo» e substituiu a 2ª quadra por uma variante da 1ª quadra do fado Mar Alto (Fosse o meu destino o teu).

Gravado por José Afonso, acompanhado à guitarra por António Portugal e Eduardo de Melo e, à viola, por Manuel Pepe e Paulo Alão (EP José Afonso – Coimbra, Alvorada, MEP 60280, editado em 1971) e canta a mesma letra de António Bernardino.

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