Rosto de "Fados e Canções" do repertório Manassés

Belíssima folha de rosto da 1ª Série de "Fados e Canções portuguesas cantadas por Manassés de Lacerda para cilindros e máquinas falantes", Porto, Edição Artur Barbedo, sem data (ca. 1907). As 20 peças contidas nesta brochura reflectem o gosto burguês Belle Époque pululante nos meios citadinos e estudantis de Coimbra, Porto e Lisboa. São obras ecléticas, que vão da serenata estrófica coimbrã a cançonetas sentimentais em voga nos teatros e salões, passando obrigatoriamente pelos fados corridos. Todas as peças estão formatadas para piano, sinal inequívoco da sua reprodução frequente em contexto de casino, clube, ateneu, assembleia e salão familiar burguês. Infelizmente as autorias são omissas em todas as composições, apesar de algumas identificações imediatas como o "Fado Maria"="Fado Manassés".

A popularidade editorial da 1ª, 2ª e 3ª séries foi incomensurável em Portugal e no Brasil, em parte reforçada pela fama que rodeava o cantor e também pelos discos que gravou entre 1904-1906. Em 1914 a Casa Moreira de Sá, do Porto, fez uma 2ª edição completa e em 1916 a empresa de Vinho do Porto Constantino de Almeida lançou em Portugal e no Brasil um "Album Constantino" preenchido com peças de Fernando Moutinho, fados em voga no Porto e praticamente quase todo o repertório Manassés (vinhos Lacrima Christi de Constantino).

Para os eternos queixosos de uma CC ignorada pela publicidade, contida exoticamente nas margens do Mondego, as campanhas de promoção que rodearam a nível regional, nacional e internacional, a obra de Manassés entre 1904-1916 provam exactamente o contrário.

Imagem: brochura da colecção particular do Dr. João Caramalho Domingues

AMNunes