José Parente
Retrato do executante de Guitarra de Coimbra e compositor José Parente, publicado em "O Notícias Ilustrado", Nº 44, Série II, de 14 de Abril de 1929, em publicidade à editora His Master's Voice. Durante muito tempo interroguei-me sobre quem seria este compositor e executante de bom nível, presente em gravações de Felisberto Ferreirinha, Alexandre Rezende e nos discos em que é solista de inúmeras "guitarradas".
Para se ter uma pequena ideia, Parente gravou por volta de 1927, com Felisberto Ferreirinha (cantor) e Campos Costa (violão), na Parlophone, os temas Fado da Praia, Fado da Sugestão, Fado Antigo de Coimbra, Fado da Graça, Fado da Enfermeira, Fado das Perdidas, Fado da Beira Mar, Fado do Queixume, Fado Maria (=Manassés) e Pálidas Madrugadas (=Fado das Ruas); mais ou menos pela mesma altura, também na Parlophone, gravou com Alexandre Rezende (voz) e Campos Costa (violão) uns 8 temas nos estilos Coimbra e Lisboa; ao longo de 1928 fez pelo menos 4 sessões de gravações em Lisboa (com Abel Negrão) onde tocou instrumentalmente peças de sua autoria e umas 7 a 8 composições de Paulo de Sá (melodias de temas cantáveis).
Ele há estranhas coincidências. Tendo em conta a passagem dos 10 anos do falecimento do antigo estudante da Faculdade de Letras da UC, 1º violino da TAUC e executante "envergonhado" de Guitarra Toeira de Coimbra Vergílio Ferreira (28/01/1916; 01/03/1996) telefonei à Dra. Mariberta Carvalhal a pedir-lhe que me ajudasse a encontrar a referência que o escritor deixou no diário à famosa Serenata Monumental de 1989 transmitida pela RTP. Conversa puxa conversa, lá clarificámos que Vergílio visionou emocionadíssimo a transmissão em directo da Serenata Monumental da Queima das Fitas de 5 de Maio de 1989, conforme regista no "Conta Corrente", 2ª Série, 1989, pág. 79, com alusões à sua querida colega de curso Mariberta Carvalhal. Daqui saltámos para um longo artigo de Jorge Costa Lopes, "A paixão da música segundo Vergílio Ferreira", Suplemento Das Artes Das Letras, O Primeiro de Janeiro, de 27 de Fevereiro de 2006, págs. 6-12. Pois não é que os Parentes foram importantes figuras dos meios musicais de Gouveia/Manteigas, activos nas décadas de 1920/1930 (tuna, Orfeão de Gouveia, serões musicais)?
O Padre António de Jesus Hipólito Parente, pároco de Melo a partir de 1925, professor de violino de Vergílio Ferreira, sabia música, fundou uma tuna local, e tocava diversos instrumentos. Um outro irmão, o Padre Joaquim Dias Parente, pároco em Manteigas, tocava magistralmente Guitarra de Coimbra. Era autor de peças como "Fado do Pastor" e "As Sardinheiras". Considerado bom artista na execução da guitarra, mas inferior a Joaquim Parente, era o mano José Parente. José Parente tinha uma filha, Maria Natália da Fonseca Parente, com nomeada na região serrana pelas suas execuções pianísticas. O periódico local, "Notícias de Gouveia", de 17 de Fevereiro de 1933, descreve o programa de um sarau de homenagem ao Padre António Parente (já então padre em Gouveia), organizado pelo Orfeon de Gouveia, onde além dos trechos de piano e de violino, brilharam na 4ª parte nas "guitarradas" os manos Padre Joaquim Dias Parente e José Parente. Além de inveterados melómanos, os manos Parentes eram musicalmente ilustrados.
A identificação de executantes de guitarra em Gouveia no 1º quartel do século XX é um dado importante, como que a confirmar as vendas de cordofones construídos nas oficinas de Coimbra pelos diversos povoados da Beira Litoral e região serrana, corroborando ainda as suspeitas de José Alberto Sardinha quanto a uma mais ancestral implantação da Guitarra nos meios rurais (Cf. "Tradições muisicais da Estremadura", 2000). Afinal não era só em Anadia, Mealhada e Arganil que nos tempos da juventude de Antero da Veiga se tocava guitarra.
AMNunes
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