«O Carlos Paredes é um grandalhão»
Em carta dirigida a seus pais, datada de Faro a 23 de Maio de1964, Zeca Afonso refere-se nestes termos à sua passagem pela colectividade grandolense:
Eu e a Zélia estivemos em Grândola numa sociedade operária. Aí actuámos, eu e o Paredes (o filho é ainda melhor que o pai) no meio de uma assistência atenta e compenetrada, toda ela de operários e mulheres de xaile e lenço. Ofereci-lhes uma canção feita na véspera (16-5-64), uma espécie de evocação da terra alentejana e do seu símbolo ainda vivo na lembrança do homem do povo: a Catarina Eufémia, uma ceifeira de Baleizão morta pela Guarda Republicana em circunstâncias, que forneceriam matéria para uma cançâo de gesta. É claro, que não é isto que interessa manter nestes contactos efémeros com os «mujiks» do nosso tempo. Se alguma vez tiver de deixar esta terra é a lembrança dos homens que conheci em Grândola e noutros lugares semelhantes que me fará voltar. A sociedade grandolense é um casinhoto antigo com meia dúzia de divisões, uma orquestra, um grupo cénico e uma bibloteca. A direcçâo, toda ela constituida por operários, já promoveu a realização de palestras e concertos em que colaboraram o Alves Redol, o Romeu Correia, o Lopes Graça e o Rogério Paulo. As autoridades não só lhes têm recusado o mínimo apoío com têm entravado outras tantas iniciativas deste género. Em compensação os grupos puramente destínados a actividades recreativas (e são os que existem em maior número) funcionam permanentemente e com carta branca para realizar bailes e biscas lambidas. O Carlos Paredes é um grandalhão com aspecto simplório, mas o que esse bicho faz da guitarra é inacreditável! Nas mãos dele, este instrumento assume uma altura comparável à dos instrumentos para música de concerto. Nada de trinadinhos à maneira do Armandinho. O exemplo do pai, o Artur Paredes, foi continuado pelo filho mas de uma forma diferente: só ouvido! O fulano consegue abranger duas séries de escalas exactamente como fazem os tocadores do flamengo e os grandes concertistas de guitarra espanhola.
Enviado por Miguel Gouveia
Eu e a Zélia estivemos em Grândola numa sociedade operária. Aí actuámos, eu e o Paredes (o filho é ainda melhor que o pai) no meio de uma assistência atenta e compenetrada, toda ela de operários e mulheres de xaile e lenço. Ofereci-lhes uma canção feita na véspera (16-5-64), uma espécie de evocação da terra alentejana e do seu símbolo ainda vivo na lembrança do homem do povo: a Catarina Eufémia, uma ceifeira de Baleizão morta pela Guarda Republicana em circunstâncias, que forneceriam matéria para uma cançâo de gesta. É claro, que não é isto que interessa manter nestes contactos efémeros com os «mujiks» do nosso tempo. Se alguma vez tiver de deixar esta terra é a lembrança dos homens que conheci em Grândola e noutros lugares semelhantes que me fará voltar. A sociedade grandolense é um casinhoto antigo com meia dúzia de divisões, uma orquestra, um grupo cénico e uma bibloteca. A direcçâo, toda ela constituida por operários, já promoveu a realização de palestras e concertos em que colaboraram o Alves Redol, o Romeu Correia, o Lopes Graça e o Rogério Paulo. As autoridades não só lhes têm recusado o mínimo apoío com têm entravado outras tantas iniciativas deste género. Em compensação os grupos puramente destínados a actividades recreativas (e são os que existem em maior número) funcionam permanentemente e com carta branca para realizar bailes e biscas lambidas. O Carlos Paredes é um grandalhão com aspecto simplório, mas o que esse bicho faz da guitarra é inacreditável! Nas mãos dele, este instrumento assume uma altura comparável à dos instrumentos para música de concerto. Nada de trinadinhos à maneira do Armandinho. O exemplo do pai, o Artur Paredes, foi continuado pelo filho mas de uma forma diferente: só ouvido! O fulano consegue abranger duas séries de escalas exactamente como fazem os tocadores do flamengo e os grandes concertistas de guitarra espanhola.
Enviado por Miguel Gouveia
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