sexta-feira, dezembro 29, 2006


Feira Franca dos Estudantes

O Largo da Feira em dia de feira franca, pela década de 1870. Fotografia da colecção particular de Alexandre Ramires, divulgada pelo próprio no catálogo "Passado ao Espelho. Máquinas e Imagens das vésperas e primórdios da Photographia", Coimbra, Museu de Física da UC, 2006, p. 58. A fotografia foi tirada de uma janela do Colégio dos Lóios (sede do Governo Civil), possibilitando uma vista muito abrangente do largo rectangular, das lonas das barracas, arvoredo e casario.

À semelhança da Feira Franca da Universidade de Salamanca, D. João III instituíu na UC uma Feira Franca dos Estudantes, realizável semanalmente às 3ªs, no terreiro fronteiro ao adro da igreja do Colégio de Jesus (futura Sé Nova). Esta feira ocorreu regularmente até 17 de Agosto de 1899, data do seu encerramento definitivo por decisão camarária.

O Largo da Feira foi por séculos o forum académico por excelência. Ali se realizavam serenatas, discursos, assembleias magnas, a Queima das Fitas, provas espontâneas de ginástica, combates de jogadores de varapau e a temível "bicha" que serpenteando entrava e saía de vendas e tabernas.

Sobre a Feira dos Estudantes havia um engenhoso enigma:

Estava uma mulher sentada junto de uma mesa, com trajo e aspecto de regateira. Na mesa tinha coisas de comer como queijo, frutas e bolos. Tinha também à volta muitos pagens e um trinchante que estava trinchando em uma mesa...

(a Mulher era a Feira dos Estudantes; as Coisas de Comer eram os produtos de venda; os Pagens e Moços eram os estudantes compradores; o Trinchante era o Almotacé com a sua vara)

Deste largo dizia o cancioneiro popular:

Adeus, ó Largo da Feira

Cercado de cravos brancos,

Onde o meu amor passeia

Domingos e dias santos.

Também a satírica moda "Francisco Badarra" verrinava:

Senhor Francisco Bandarra,

Na Feira dos Estudantes,

Passeia de noute e dia,

Só para ver as amantes.

(cf. CD "Cantares de Coimbra", Coimbra, GFC-01, 1999, faixa nº 8, pelo Grupo Folclórico de Coimbra numa das suas notáveis reconstituições)

Famoso para todo o sempre ficaria este Largo da Feira no in memoriam que Eça de Queirós escreveu poeticamente sobre Antero de Quental ("Um génio que era um santo"), quando numa noite de Primavera o ouviu a discursar no adro da Sé Nova:

"É o Antero!... (...) Então,... destracei a capa, também me sentei num degrau, quase ao pé de Antero que improvisava, a escutar, num enlevo, como um discípulo. E para sempre assim me conservei na vida".

AMNunes

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