terça-feira, janeiro 16, 2007

NOTÍCIA BIOGRÁFICA SOBRE O MATA CAROCHAS, ESQUECIDO CULTOR DA CANÇÃO DE COIMBRA (1842-1915)
===
Texto I
"Henrique António Coelho Antão de Vasconcelos era natural de Macaé, Rio de Janeiro (Brasil), e nasceu em 1842. Antão de Vasconcelos ficou conhecido pela alcunha de "MataCarochas", e dele se sabe que, depois de freqüentar o Colégio de S. Vicente de Paula, em Friburgo, embarcou em Macaé, a 18/08/1858, no vapor Marambaya, com destino ao Rio deJaneiro, donde, passados oito dias, embarcou para Lisboa. Aqui foi internado num Colégio na Calçada do Marquês deTancos, junto ao Castelo de São Jorge, donde, quatro meses volvidos, seguiu para Coimbra. Viveu em Coimbra entre 1858 e 1865, período durante o qual freqüentou as Faculdades de Matemática e Leis, sabendo-se que a data de matrícula nesta última faculdade foi em 02/10/1860. Em 05/07/1864 viria a obter o grau de bacharel em Direito, e, em 1865, a consecutiva Licenciatura. Em Coimbra, residiu, além de outros locais, no Hotel Jacob, situado no Largo da Feira. Após 1865 regressou ao Brasil, para exercer a advocacia, tendo, posteriormente, vindo a ser eleito Deputado à Assembléia Provincial do Rio de Janeiro. Em 1o de janeiro de 1870 fundou um clube literário: a Sociedade Progresso Literário, em Macaé. Foi seu vice-presidente e sendo seu presidente o Dr. Apolinário de Souza Marajó. Em 1906, viria escrever um livro dedicado às suas memórias de Coimbra, intitulado "Memórias do Mata Carochas".
(In - pg 129 - "Histórias da Velha Macaé" - 1980, Antonio Alvarez Parada e Gilson Nazareth)
-/-
Texto 2
"Henrique António Coelho Antão de Vasconcelos, conhecido por Mata-Carochas, nasceu em 1842, em Macaé, Rio de Janeiro.Veio para Portugal em 1858, tendo freqüentado em Coimbra as Faculdades deMatemática, de Medicina e de Leis. Obteve o grau de Bacharel em Direito em 1864. Foi guitarrista. Regressou ao Brasil em 1865, passando a exercer a advocacia. Foi eleito deputado da Assembleia Provincial do Rio de Janeiro. Cerca de 1895, escreveu "Memórias do Mata-Carochas", obra com cerca de 500 pp. de recordações da sua juventude académica, que ainda hoje constitui documento precioso para a reconstituição de alguns eventos e a descrição decertas figuras do seu tempo. No intróito que dedica "À Mocidade Académica do Brazil e Portugal" e "À Coimbra Académica", ele mesmo afirma: "É uma chronica do meu tempo, uma recordação do passado, uma evocação, sem brado d' alma". (...) Antão Coelho (1842-1915) publicou o livro "Revelações de Além Túmulo" em 1907 em Curitiba !!! "
Ricardo Costa de Oliveira
Fonte: os textos 1 e 2 foram retirados do site de Ricardo Costa de Oliveira, "GENEAPORTUGAL. Fórum Genealogia" (edição on line em 2003), http://genealogia.netopia.pt/forum/msg.php.
-/-
COMENTÁRIO: a biografia do Mata Carochas já era conhecida em círculos intelectuais restritos conimbricenses desde a década de 1940, com base em pesquisas efectuadas pelo antigo guitarrista e director da Sala Brasil da Faculdade de Letras da UC Dr. Francisco da Silveira Morais. Morais efectou esse levantamento a partir dos livros de matrículas do Arquivo da UC e deu-os a conhecer em primeira mão ao médico e antigo estudante de Coimbra radicado em São Paulo Divaldo Gaspar de Freitas, seguindo-se notícia impressa em finais da década de 1950 na revista "Rua Larga". A esse tempo, os únicos dados omissos na biografia do Mata Carochas eram a data de óbito (+1915) e a esperança em aceder a uma fotografia do biografado.
Filho de dois portugueses algarvios radicados no Brasil, o Tenente-Coronel António Coelho Antão e Antónia Francisca de Vasconcelos, o antigo estudante assinalado por Ricardo Costa de Oliveira e Gilson Nazareth é efectivamente o famoso boémio e cultor da Canção de Coimbra de alcunha o Mata-Carochas.
Os textos genealógicos 1 e 2 supra transcritos a partir do site brasileiro podem dar azo a pequenas imprecisões.
Assim:
a) onde se diz matriculado ou formado na Faculdade de Leis da UC, deve ler-se Faculdade de Direito;
b) onde se refere a sua actividade como "guitarrista", deve precisar-se que não foi "guitarrista" no sentido de executante de violão de cordas de aço ou de Guitarra de Lisboa ou Porto, mas sim de Viola Toeira, uma violinha de cordas duplas e triplas da família da brasileira Viola Tropeira. Como executante de Toeira, o Mata-Carochas desenvolveu intensa actividade nas Fogueiras de São João da Alta, tocou regularmente em tascas da Alta de Coimbra e foi membro do Grupo do Dr. José Dória;
c) o livro "Memórias do Mata Carochas" deve ser lido com algumas reservas, enfermando de dois vícios de monta: na escrita de estilo corrente pululam termos brasileiros que importa não confundir com aquilo que na década de 1860 constituía a gíria dos Estudantes de Coimbra; muitos dos factos fixados por escrito em 1906 acham-se ficcionados ou mesmo deturpados pela erosão da distância e por uma certa tendência efabuladora que marca a narrativa de Antão de Vasconcelos. O relato da evacuação das Sala dos Capelos na célebre contestação ao Reitor Basílio Alberto de Sousa Pinto é seguramente um dos exemplos onde a deturpação vai mais longe, mas há outros...
O nosso obrigado ao Ricardo Oliveira por este levantamento genealógico. Não seria possível encontrar nas bibliotecas do Rio de Janeiro alguma fotografia do Mata-Carochas? Acreditamos que as revistas ilustradas brasileiras terão publicado o seu retrato, dado ter sido advogado, jornalista e deputado.
António Manuel Nunes

relojes web gratis