17 de Abril de 1969
Há 38 anos atrás, Coimbra estava em ebulição, naquela manhã de 17 de Abril de 1969, por ocasião da inauguração do Edifício da Matemática. Vieram a Coimbra os Ministros das Obras Públicas, da Educação (o hoje famoso Prof. Hermano Saraiva) e o então Presidente da República, Almirante Américo Tomás.
Foram recebidos na Reitoria, depois, em conjunto com o então Reitor, Doutor Andrade Gouveia, recentemente falecido já nonagenário, seguiram pela Rua Larga até ao Largo D. Dinis onde se fez barulho e ergueram cartazes contra a Ditadura. Diz-se que Tomás julgando que era uma manifestação de apoio ainda olhou para lá e os saudou sorrindo, enquanto o Saraiva estava incomodado. Depois, foi a benção do edifício em que o Bispo de Coimbra quando lia o texto era constantemente interrompido por gargalhadas e ataques de tosse propositados. Seguidamente, foi a inauguração do edifício, não deixaram entrar mais ninguém, a certo momento o Presidente da AAC, hoje deputado Alberto Martins a quem lhe disseram anteriormente que não podia usar da palavra levanta-se e pede ao Tomás para usar, este não sabe o que fazer, tem uma saída: "Agora fala o Ministro das Obras Públicas" (nisto, Hermano Saraiva, como se pode ver em fotos, dirigia um olhar insistente para a Brigada da Pide que estava na sala). Tudo esperava que após o discurso do Ministro das Obras Públicas, Tomás desse a palavra a Alberto Martins, enquanto cá fora, como existem fotos, o hoje Dr. Celso Cruzeiro às cavalitas de um colega dizia que podiam todos entrar. Acabado o discurso os governandes saíram em debanda, sendo completamente enxovalhados, com gritos de VERGONHA, PALHAÇOS, etc ...
Depois, por causa de um simples pedido de palavra, a cidade viu-se cercada pela Polícia, foi a greve às aulas e exames em que se destinguiram alguns alunos, alguns hoje famosos ...
A Associação Académica foi demitida e os seus dirigentes suspensos da UC, houve assembleia Magna, nela compareceram Professores Sonantes em apoio aos estudantes pondo a sua carreira em perigo, o Doutor Orlando de Carvalho e o Doutor Paulo Quintela que, com a sua voz que mais parecia vozeirão, disse para os estudantes: "Só quem vos elegeu vos poderá demitir".
Foram dias quentes. A Briosa foi à final da Taça, a Academia está de luto académico e quis jogar de branco (côr do luto académico) mas não foi autorizada a tal. Subiram ao campo de capa ao ombro para defrontarem o Benfica. Nas bancadas, o jogo era outro, os estudantes que vieram em autêntica caravana de Coimbra traziam cartazes que clamavam por democracia e liberdade para exibir no jogo, que a PIDE tentava capturar, mas os cartazes sumiam ante a presença da PIDE e surgiam no lado contrário, além disso, pela primeira vez, o jogo da Final da Taça não foi transmitido na TV, pois não convinha ao Regime. Foram tempos dignificantes para os Estudantes de Coimbra e é por causa de tempos como estes que hoje podemos dizer que para a Liberdade e Democracia do País a Capa e a Batina dos estudantes também deu o seu contributo.
Quem quiser aprofundar o tema, pode ler a obra de Celso Cruzeiro sobre a Crise Académica.
Legenda das Fotos:
1- Assembleia Magna no Pátio da Universidade.
2 - A Briosa em Campo, de Capa ao ombro para defrontar o Benfica.
3 - Desfile Militar no Largo D. Dinis, onde se avistam os cartazes com palavras de ordem contra o regime.
4 - Uma Assembleia Magna
5 - A Assistência na Final da Taça de Portugal em 1969.
5 - A Assistência na Final da Taça de Portugal em 1969.
Rui Lopes
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