Outro elemento central de todos os trajes usados pelos académicos medievais, desde cedo convertido em insígnia, foi a cobertura de cabeça. No caso da Grã-Bretanha, os especialistas no estudo da origem e evolução do traje académico anterior à Reforma, estão de acordo quanto à ancestralidade do "pileus rotundus", referido no Sínodo de Bérgamo de 1311. Enquanto peça vestimentária ligada à história da Igreja Católica, há conhecimento do solideo pelo menos desde o século XIII. Uma das figurações plásticas mais antigas ocorre num fresco da Igreja de São Francisco de Assis, que retrata S. Francisco ajoelhado perante o Papa Honório III (ano de 1290). As designações variam conforme as línguas: pileus, pileolus, solideo, kalotte, calotta, subbiretum, subbmitrale, scheitelkappchen, tonsurkappchen, kulunsuua.
Usado inicialmente pelos clérigos sujeitos a tonsura, o solideo é praticamente idêntico ao yarmulke judaico e ao phiro clerical da Síria. A partir do século XV, a Igreja Católica definiu cores específicas para o solideo: por influência da cor branca dos dominicanos, o branco ficou reservado aos papas desde o pontificado de Pio V (dominicano), constituindo excepção os dominicanos norbertinos que também podem usar o solideo branco; os cardeais passaram a usar o solideo vermelho escarlate; os bispos e arcebispos em violeta e rosa-seco; os monges, os abades e párocos, em preto.
Admitindo que o solideo é a raiz mais remota dos chapéus doutorais britânicos, o mesmo não se pode congeminar quanto a Portugal e Espanha. Em todo o caso, o solideo ou zuchetto foi usado frequentemente até 1834 pelos docentes da Universidade de Coimbra que pertenciam a congregações religiosas, conforme documentam antigos retratos dispersos pelos edifícios antigos da Alma Mater (provenientes do Colégio de São Bento). Também foi usado até à Revolução de 1910 pelos lentes da Faculdade de Teologia, como bem documenta a designação "subbiretum". Abades conventuais, cónegos, bispos, cardeais e papas, usavam frequentemente o solideo sob as mitras, chapéus, barretes e tiaras.
No caso da Grã-Bretanha, operou-se mesmo um fenómeno raro de fusão do subbiretum e do birretum (século XVI), originando o extravagante barrete britânico.
Fonte: galeria fotográfica "Klericale Kopfbedechungen", http://www.dieter-philippi-de/mydant_1479html.
AMNunes
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