António Portugal
Faz hoje treze anos que morreu António Portugal, um dos mais representativos guitarristas da galáxia coimbrã. Destacou-se não só como executante de guitarra de Coimbra, mas também na composição de muitos peças bem conhecidas para guitarra e canto, neste segundo aspecto, conjuntamente com Manuel Alegre. Segue a biografia já apresentada neste Blog em 9 de Maio de 2005, por A. L. Carvalho Homem.
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A Guitarra de Coimbra em tempos de fim-de-tempo(ca. 1965-ca. 1973).
Apontamentos e rememorações
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António Portugal (1931-1994)
Manteve-se activo ao longo de todo o período considerado. Para além da colaboração com A. Brojo (v. supra), António Jorge Moreira Portugal esteve no centro do processo inicial do movimento da trova, com Adriano Correia de Oliveira e António Bernardino (e o papel decisivo dos poemas de Manuel Alegre). Com o primeiro gravou múltiplos EP’s, não raro com uma formação instrumental simplificada (AP / Rui Pato, AP / Jorge Moutinho); mas também acompanhou Adriano ou «Berna» com formações mais alargadas (eventualmente em reportório mais tradicional), v.g. AP / Eduardo de Melo / Paulo Alão / Jorge Moutinho ou AP / Eduardo de Melo / J. Moutinho / Durval Moreirinhas (acontece em três EP’s de Adriano, depois reunidos em LP; de realçar a inclusão aqui do instrumental «Chula», em Ré Maior***) ou ainda AP / Octávio Sérgio / Rui Pato (fizeram pelo menos uma actuação na RTP e participaram em múltiplos convívios na AAC), AP / Manuel Borralho / Rui Pato (acontece em dois EP’s de António Bernardino e num EP instrumental; este último inclui duas guitarradas de AP, «Apontamento» [elaborada como fundo para uma peça levada à cena por um dos organismos teatrais da Academia] e «Rapsódia» [interessante tratamento em torno, entre outros, dos temas «Josezito» e «Terra do bravo»], e ainda «Pavana» [ = «Canção de Alcipe», de Afonso Correia Leite (tema da banda sonora do filme Bocage, que entrara no património da Guitarra de Coimbra pelo menos a partir de Artur Paredes. António Portugal faz esta primeira gravação e retoma depois a peça na colectânea de LP’s Tempo(s) de Coimbra (ca.1985) e no CD Variações inacabadas (1994); com o título «Canção de Alcipe» existem versões de Carlos Paredes e Pedro Caldeira Cabral)] e «Balada do Mondego», arr. Artur Paredes [Manuel Borralho corporiza aqui, pela primeira vez depois de Carlos Paredes, o belíssimo jogo de bordões na corda de ré no acompanhamento da frase A desta peça. A versão Artur Paredes / Carlos Paredes / Arménio Silva estava ao tempo fora do mercado e só nele repareceria no final da década de 70. Mas António Portugal possuía um dos raros exemplares do EP que efemeramente estivera à venda]) e AP / Francisco Martins / Jorge Moutinho (acontece em mais um EP de António Bernardino; façam-se ressaltar aqui os magníficos arranjos para «Ao morrer os olhos dizem» e para o «Fado da despedida» de um Curso Médico dos anos 30).
Em 1967/68 AP estava portanto activo e presente: fez uma actuação televisiva (com Francisco Martins e Rui Pato, acompanhando António Bernardino e Fernando Gomes Alves), onde executou «Rapsódia n.º 2» de Artur Paredes [Artur Paredes gravou originariamente esta peça (bem como «Passatempo») em 1957, com 2.ª guitarra de Carlos Paredes e viola de Arménio Silva; descontente com os resultados, fez retirar o disco do circuito comercial, regravando as duas peças, com algumas variantes. As gravações retiradas só voltariam à luz do dia vinte e poucos anos mais tarde); a primeira versão da «Rapsódia» ressurge então com o título «Cantares portugueses»] bem como a Serenata Monumental da «Queima ds Fitas» (creio que com a mesma formação instrumental), acompanhando José Miguel Baptista e, de novo, Fernando Gomes Alves.
No ano seguinte acompanhou António Bernardino (com Francisco Martins e Luís Filipe) no álbum emblemático Flores para Coimbra [o tema que dá título ao álbum tem poema de M. Alegre e música de Joaquim Fernandes (da Conceição); este último, com formação de pianista, prestava ao tempo serviço militar na unidade sediada em Santa-Clara-a-Nova; foi depois jornalista do Jornal de Notícias; ulteriormente licenciou-se em História na FL/UP (1989), Escola onde obteve também o mestrado (1996) e o doutoramento em História Moderna (2005); exerce funções docentes na U. Fernando Pessoa / Porto; em 1988 musicou uma quadras que serviram de «Balada do 4.º ano de História» da FL/UP]. O «modus faciendi» de AP transparece sobretudo em temas como «Canto da nossa tristeza» ou «Eu canto para ti o mês de giestas», enquanto que o ‘estilo’ de Francisco Martins se detecta por exemplo em «Flores para Coimbra», «Trova da planície» ou «Guitarras do meu País».
*** Tema popular trazido para Coimbra nos anos 30 por António Carvalhal. AP (com E. Melo / Durval Moreirinhas / J. Moutinho) fez-lhe um arranjo memorável e que rapidamente entrou no reportório de diversos grupos, mormente no que toca o ‘diálogo’ das duas guitarras na frase das percussões em quaternário [trrrrrraaaan-taan-PUM-tan-PUM-tan-PUM; trran-tan-PUM-tan-PUM-PUM-PUM], que, qual refrão, surge a meio e no final da peça. Poucos anos mais tarde, a formação Ernesto de Melo / António Andias / Durval Moreirinhas gravaria de novo este tema, segunda as coordenadas da versão AP. Note-se que José Amaral (1919-2001) e Armando de Carvalho Homem (1923-1991) conheceram e executaram a versão António Carvalhal (que ostentava diferenças várias, inclusive na ordem das frases). A própria versão incluída por A. Brojo no CD Memórias de uma guitarra (1997, com Carlos de Jesus [g.] / Aurélio Reis / Luís Filipe / Humberto Matias [vv.]) se afigura ‘geneticamente’ anterior à versão paradigmática de AP; e, consequentemente, mais próxima desse OMEGA representado por António Carvalhal.
Armando Luís de Carvalho Homem
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