terça-feira, junho 19, 2007

A NOITE
Música: Luís Eloy da Silva (…?...)
Letra: Luís Eloy da Silva
Incipit: Pela noite silenciosa
Origem: Porto
Data: década de 1920

Pela noite silenciosa
Passam as almas errantes
Em busca d’uma saudade
D’uns sonhos que vão distantes.

À noite, choram contigo
Essas almas em tristura
Junto a ti deixam os ais
Da sua triste ventura.

Em cada quadra os dísticos cantam-se repetem-se.
Esquema do acompanhamento:
1º Dístico: Dó m, 2ª Dó/// 2ª Dó, Dó m;
2º Dístico: Dó m, 2ª Dó/// 2ª Dó, Dó m.

Informação complementar:
Composição musical estrófica em compasso quaternário e tom de Dó Menor, de estrutura monódica convencional, secundando o paradigma conimbricense mais apreciado na época pelos cultores amadores e respectivo público.
Este tema foi gravado no disco de 78 rpm Columbia J 840, P 342, no Porto, no mês de Fevereiro de 1928, por Luís Eloy da Silva. Na etiqueta do disco especifica-se a autoria e o título “A Noite (Fado)”. Na outra face deste disco, Eloy vocaliza a canção “São João do Porto”, acompanhado por coro, guitarra e violão de cordas de aço não especificados. A voz é servida por executantes de guitarra e violão de cordas de aço não identificados na etiqueta do fonograma. Não dispomos de quaisquer dados biográficos sobre Luís Eloy da Silva, intérprete com tessitura de tenor que pode ter frequentado a Universidade do Porto, algum dos estabelecimentos de ensino técnico da referida cidade, ou ser figura ligada aos meios artísticos e teatrais locais.
Eloy segue a escola vocal Ultra-Romântica conimbricense, parecendo conhecer e estimar o estilo Paradela de Oliveira, a tal ponto que por vezes se confunde com o cantor consagrado na Academia de Coimbra. A noite como tema poético e estado anímico afigura-se-nos uma construção do Período Romântico, exacerbada pelos derivados e persistências do Ultra-Romantismo decadentista.
A guitarra de acompanhamento não se afasta dos padrões estéticos ultra-românticos herdados da Belle-Époque assinalados em gravações de António Menano ou José Paradela de Oliveira, corroborando a opção pela singeleza da tónica e dominante (ainda com forte afloração da afinação natural), solução muito apreciada pelos serenateiros espontâneos.
Eloy gravou na mesma altura outras composições, sendo-nos possível reportar as seguintes matrizes de 78 rpm (com interrogações à frente dos temas cujas autorias e conteúdos desconhecemos):

Disco Columbia, J 839
São João das Fontaínhas (?)
A Capa do Estudante, música e letra de Luís Eloy da Silva

Disco Columbia, J 840
São João do Porto (?), reeditado nos EUA (Columbia, 1126-X)
A Noite, música e letra de Luís Eloy da Silva

Disco Columbia, J 841
Granada de Mão (?), canção, reeditado nos EUA (Columbia, 1056-X)
Fado Português (?)

Disco Columbia, J 842
Ribeiro Cantante (“Fado-Canção”)
S. António do Bonfim (?), reeditado nos EUA (Columbia, 1063-X)

Estas gravações tiveram lugar num estúdio improvisado numa das salas do edifício Palácio dos Carrancas (actual Museu Nacional Soares dos Reis). Cotejando a ordem dos master’s presente nos catálogos Columbia e em estiquetas de fonogramas, é-nos possível concluir que Luís Eloy da Silva gravou alguns temas no estilo de Coimbra após a entrada em estúdio de Francisco Caetano e Edmundo Alberto Bettencourt.

Transcrição: Octávio Sérgio (2007)
Textos: José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes
Agradecimentos: Dr. Aurélio dos Reis, José Moças (Tradisom), Alexandre Bateiras, João Gomes

relojes web gratis