”Carlos Paredes – A Guitarra de um Povo“
Este livro de Octávio Fonseca Silva, edição “Biografias M C”, saído no ano 2000, foi-me amavelmente oferecido pelo autor.
Penso ser, até este momento, o livro mais completo a abordar a figura carismática de Carlos Paredes. Começa com uma biografia, com os antecedentes musicais, a música, a importância de Fernando Alvim, o pensamento musical de Carlos Paredes, a guitarra portuguesa, a canção coimbrã e a música popular portuguesa. Uma segunda parte engloba a Carreira e a Obra de Carlos Paredes, os espectáculos e a sua colaboração noutras áreas artísticas, cinema, teatro, ballet, poesia, televisão. Seguem-se abundantes textos de Carlos Paredes e entrevistas. No final, transcritas por Paulo Soares, estão três partituras: “Divertimento”, “Movimento Perpétuo” e “Acção”. Posso garantir que reproduzem fielmente o que o autor criou. A completar todo este cenário, as belíssimas fotografias de Luís Paulo de Moura Cunha.
Biografia de Octávio Fonseca Silva, extraída da capa do referido livro:
“Nasceu no Porto em 1950.
Nos anos de 1970 a 1973, fez crítica musical nas publicações A Memória do Elefante e Mundo da Canção.
De 1987 a 1992, realizou programas radiofónicos de divulgação e crítica, dedicados à música popular portuguesa, no Rádio Clube do Porto, na Rádio Nova e na Rádio Press.
De 1980 a 1990, estudou guitarra com os professores José Pina, Paulo Peres e José Manuel Fortuna.
A partir de 1982, fez parte de diversos agrupamentos de música popular portuguesa. Desde Dezembro de 1994 integra o grupo Chamaste-m’ó?... que, dentro da mesma área, trabalha um repertório de temas originais compostos sob textos de grandes poetas portugueses”.
Biografia de Luís Paulo de Moura Cunha, inserta na capa do mesmo livro:
“Nasceu no Porto em 1953.
Licenciou-se em Medicina em 1980.
Faz fotografia desde 1977.
Em 1993, a convite do encenador Moncho Rodrigues, participa com uma sessão de fotografia de cena (conjuntamente com Luís Ferreira Alves) na Mostra de Teatro Ibérico (CumpliCIDADES) realizada em várias cidades do Nordeste Brasileiro.
A mesma exposição é apresentada em 1994 no Posto de Turismo de S. Tiago em Guimarães, e em 1996 nas Jornadas de Medicina Intensiva da Primavera”.
Na contra-capa do livro pode ler-se:
“A música de Carlos Paredes não existe.
Existe um homem semeado no chão do seu país. E dele nasceu. E nele ficou plantado. Num emaranhado eterno de raízes.
Tanto quanto tem um coração, tanto quanto tem um cérebro, tem uma guitarra. Um órgão – tão só – como os outros órgãos.
A sua música só é a sua música na medida em que o seu sangue é o seu sangue. Um mero fluido orgânico que lhe brota naturalmente das mãos como o amor pela terra e pelo povo lhe brota da alma.
... Segundo Paulo Soares, a música de Paredes é um organum, um somatório não decomponível da sua técnica e do seu talento criador, mas também da sua personalidade e da sua forma de estar no mundo. Uma música visceral que só pode ser feita com o instrumento nas mãos que vão escrevendo, directamente, o que lhes dita a alma.
Esta ideia é partilhada também por José Carlos de Vasconcelos que a exprimiu de outra forma depois de assistir a um concerto de Carlos Paredes: «E foi aí que entrou no palco o Carlos Paredes: enorme, desajeitado, com o seu eterno sorriso tímido de quem pede desculpa de existir. Sentou-se, aconchegou a guitarra a si, agarrou-se à guitarra e a guitarra a ele, passaram a ser um corpo único, um só tronco de música e de raiva, de sonho e de melodia, de angústia e de esperança, exprimindo por sons tanta coisa que nós não tínhamos palavras para dizer. E eu estarrecido, nós todos estarrecidos, enquanto no velho Avenida repleto, pejado de jovens, havia um silêncio total, um silêncio sem mácula, só habitado por aquela guitarra espantosa!»”
Há neste livro referência a uma queda em palco de Carlos Paredes, tendo ficado, a partir daí, com problemas num joelho. Refere que a rótula foi destruída no acidente e nos anos que se seguiram, do esforço sobre ela, pois nunca quis ser operado! Assisti a este estúpido acidente, quando Carlos Paredes entrava em palco no Pavilhão dos Desportos em Lisboa, agora designado Pavilhão Carlos Lopes. Ficou completamente estendido no chão mas com o braço esquerdo no ar, segurando a guitarra como se de um tesouro se tratasse – e que tesouro – tal como Camões a segurar os Lusíadas no naufrágio. Rapidamente se pôs em pé e levou o espectáculo até ao fim como se nada tivesse acontecido! - um grande espectáculo, como eram todos em que participava. É claro que , para não danificar o instrumento na queda, não apoiou os dois braços como seria normal. Assim, o joelho é que lhe aparou o corpo; daí a grave lesão. Até ler este livro, sempre pensei que nada de mal lhe teria acontecido, perante a forma como o espectáculo decorreu.
Como nota final, quero recomendar vivamente a leitura deste trabalho, feito com muita seriedade e critério. Temos que ficar agradecidos a Octávio Fonseca Silva pelos bons momentos de reflexão que nos proporcionou. Não é fácil falar de um Homem como Carlos Paredes, sobre quem já tanto se disse. Que surjam mais trabalhos deste teor, é do que ficamos à espera. E um obrigado pelas fotografias.
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