segunda-feira, abril 04, 2005

Disco “Emoções 1” de Luís Penedo
Luís Penedo é um guitarrista especial, não muito comum, pois dedica-se a tocar os dois géneros de música para guitarra: a de Coimbra e a de Lisboa embora, neste momento, a sua preferência vá para esta última. Neste CD, acompanhado à viola, e bem, por João Machado, executa doze peças, sendo três com a técnica de Coimbra e as restantes com a de Lisboa. Algumas delas são já de elevado virtuosismo, com interpretações de grande nível, a mostrar que Luís Penedo está perfeitamente enquadrado na técnica global da guitarra. Os temas são de muito bom gosto e de grande beleza, com alguns toques de grande originalidade. A peça de Domingos Camarinha, que tão bem conheço desde jovem, está tocada como sempre a ouvi ao autor, o mesmo acontecendo com a de Armandinho. Estamos, pois, em presença de um grande executante de guitarra de Lisboa, e tratando ainda muito bem o estilo coimbrão. É um disco que deve estar sempre na nossa memória.
Vou transcrever do caderno do CD, o que Luís Penedo diz sobre “As interpretações” .
“A interpretação na Guitarra Portuguesa é, sobretudo, uma interpretação de emoções, uma linguagem de sensações, para a qual as características de efeitos sonoros são base de uma expressão comunicativa neste nível sensorial.
Nesta dúzia de peças instrumentais tenta-se transmitir a emoção do intérprete. Como me salientava o meu mestre Domingos Camarinha, não se imitam emoções. Sente-se o que se sente e não aquilo que os outros sentem. Portanto o Fado das Berlengas e a Guitarra Triste, composições respectivamente de Armando Augusto Freire (Armandinho) e de Domingos Camarinha, são aqui interpretadas como homenagem a esses mestres e não os tentando imitar em rigor. Os especialistas notarão algumas pequenas diferenças que têm a ver com a minha própria interpretação inspirada pela audição de qualquer destas peças. É a minha mensagem emocional que está presente, ainda que o motivo e a base sejam a peça que, no primeiro caso me sensibilizou e no segundo caso foi a primeira variação que Domingos Camarinha me ensinou a interpretar pois era esse o seu ensino.
As outras 10 peças são emoções diversas, essas minhas, que eu próprio assim proponho a quem as queira comigo partilhar. São uma sugestão para que outros se decidam a gravar as suas obras para que todos possamos conhecê-las e partilhá-las, e a Guitarra Portuguesa se torne mais prestigiada.
A maneira de tocar é sempre, ou deve ser sempre, uma forma pessoal de interpretação. Não há padrões restritivos, ao pormenor, na utilização das duas técnicas desde que elas se diferenciem nos aspectos nucleares. Grandes mestres de Lisboa usaram e usam, a par de ornamentos e dedilhados de Lisboa, um balanço herdado da sua origem ou gosto próximos de Coimbra. E as técnicas pessoais, mesmo ao nível dos mestres de Coimbra envolvem, por vezes, aproveitamentos de figuras que são utilizadas também em Lisboa sem se perderem, em qualquer caso, as características identitárias.
Quando aqui se refere Técnica de Coimbra ou Técnica de Lisboa estamos, indubitavelmente, a tentar catalogar a forma pessoal de interpretar essas duas técnicas nas suas diferenças, mas também nas suas várias intersecções”.

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