Memórias da Guitarra Portuguesa
Por Pedro Caldeira Cabral
(Tirado da internet)
O instrumento a que damos hoje o nome de Guitarra Portuguesa foi conhecido até ao século XIX em toda a Europa sob os nomes de Cítara (Portugal e Espanha), Cetra (Itália e Córsega), Cistre (França), Cittern (Ilhas Britânicas), Cister e Zittern (Alemanha e Países Baixos).
Tendo como origem directa a Cítara europeia do Renascimento, por sua vez filiada na Cítola Medieval, a actual Guitarra Portuguesa sofreu importantes modificações técnicas no último século (nas dimensões, no sistema mecânico de afinação, etc.), tendo no entanto conservado a afinação peculiar das cítaras, igual número de cordas e a técnica de dedilho própria deste género de instrumentos.
Em Portugal, o seu uso está documentado desde o século XIII (Cítola), nas mãos de Trovadores e Menestréis, e no século XVI (Cítara), estando de início confinado aos círculos da côrte, terá posteriormente sido alargado a outros níveis populares e por isso encontramos referências à utilização da Cítara no Teatro e também nas Tabernas e Barbearias , sobretudo nos séculos XVII/XVIII.
Em 1582, Frei Phillipe de Caverel ao visitar Lisboa e descrevendo os seus costumes, cita a estima dos portugueses pela Cítara a par das Violas e outros instrumentos como o Adufe, a Harpa, etc. No catálogo da Livraria Real de Música de D. João IV (1649), encontramos também vários livros, contendo o reportório erudito mais importante de autores estrangeiros dos séculos XVI e XVII e que pela sua complexidade e dificuldade técnica, pressupõe a existência de executantes altamente qualificados no nosso país.
No início do século XVIII, Ribeiro Sanches (médico famoso e vítima da Inquisição) recebia lições de Cítara na cidade da Guarda, conforme o próprio revela em carta a seu pai, pedindo dinheiro para pagar as lições ao seu mestre.
Mais adiante nesse século, chegam-nos notícias diversas do uso da Cítara, com alusão ao reportório partilhado com outros instrumentos como o Cravo ou a Viola e que incluem Sonatas, Minuetos, etc. É nesta época (ca.1760) que chega a Portugal a chamada Guitarra "Inglesa", um tipo de Cítara europeia cuja estrutura interna foi modificada por construtores ingleses e alemães, a qual é acolhida com grande entusiasmo pela nova sociedade burguesa mercantil instalada na cidade do Porto e praticante da chamada "música de salão" , constituída pelas "lânguidas" modinhas, os "arrastados" minuetos e os "picantes" lunduns, como eram qualificados na época.
Esta Guitarra tem uma difusão limitada aos círculos da alta sociedade, nunca se popularizando e acaba por desaparecer no fim do século XIX com a revitalização da Cítara popular, causada pela associação desta com o Fado de Lisboa.
Em 1858, encontramos a última referência detalhada à Cítara, na obra de Fétis "A Música ao alcance de todos", cuja tradução portuguesa contém um glossário, no qual se descrevem as diferentes características (afinação, inserção social, reportório, etc.) da Cítara e da Guitarra desta época. Concluindo, o programa de hoje revisita a memória de um percurso musical de cinco séculos, com alguns dos exemplos mais representativos do reportório da Guitarra Portuguesa.Pedro Caldeira Cabral 2002
Biografia de Pedro Caldeira Cabral
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Nasceu em Lisboa em 1950. Ainda na infância, inicia o estudo da Guitarra Portuguesa, da Guitarra Clássica e da Flauta doce. Mais tarde estuda solfejo, contraponto e harmonia com o Prof. Artur Santos. A partir de 1970 inicia o estudo do Alaúde, da Viola da Gamba e de outros instrumentos antigos de corda e de sopro, vindo mais tarde a fundar e dirigir os grupos La Batalla e Concerto Atlântico, especializados na interpretação da Música Antiga em instrumentos históricos.
Entre 1967 e 1975, frequentou vários cursos de composição de música contemporânea, tendo trabalhado com Karel Goyvaerts, Constança Capdeville, José Alberto Gil e Jorge Peixinho. Sendo um autodidacta na Guitarra Portuguesa, desenvolveu como compositor, um estilo próprio fundado na tradição solística da Guitarra, com incorporação de técnicas originais e elementos resultantes do estudo dos instrumentos antigos das tradições cultas e populares da Europa Mediterrânica.
Como intérprete tem alargado o reportório solístico da Guitarra, fazendo transcrições de obras de Bach, Weiss, Scarlatti, Seixas, entre outros e apresentado publicamente novas obras originais de autores contemporâneos.
Tem realizado investigação na área da música tradicional (Organologia musical), tendo colaborado com o Dr. Ernesto Veiga de Oliveira na segunda edição de "Os Instrumentos Musicais Populares Portugueses" - Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,1983 e na 3ª edição (capítulo novo) datada de Janeiro 2001.
Fundou e dirige desde 1987, o Centro de Estudos e Difusão de Música Antiga, e no seu âmbito coordena exposições-conferências sobre organologia musical antiga (séc. XIII a XVII), concertos didácticos em escolas e programas musicais para os vários grupos que dirige.
Tem também coordenado programas de edição musical e de estudos sobre temas musicais. Desde 1970 tem dado, na qualidade de solista, concertos nas principais salas e festivais da Europa, Estados Unidos da América, Macau e Brasil. Membro do júri do 1º Festival de Música do Mediterrâneo realizado em Antalya, Turquia (1986), Pedro Caldeira Cabral tem efectuado conferências e seminários sobre temas musicais na Europa (França, Inglaterra, Alemanha, Suíça, Suécia e Turquia) e EUA. Fez a pré-produção e a direcção artística do Festival de Guitarra Portuguesa na EXPO'98.
Em 1999 foi editado o livro "A Guitarra Portuguesa" de sua autoria, sendo esta a primeira obra monográfica sobre as origens e evolução histórica, estudo organológico e reportório do instrumento nacional. Comissariou as exposições monográficas "Portuguese Guitar Memories" apresentada no Convento de Santa Agnes de Boémia em Praga, República Checa em Setembro de 2000 e "À descoberta da Guitarra" no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, em Maio de 2001.
Fez programas nas seguintes emissoras de Televisão: RTP (Portugal), WDR, ZDF e NDR (Alemanha), BBC e Granada TV (Inglaterra), ORTF (França), VPRO (Holanda) e TV Globo e TV Cultura de S. Paulo (Brasil).
A sua discografia a solo inclui: Guitarras de Portugal, Tecla (1971); Encontros, Orfeu (1982); A Guitarra nos salões do século XVIII, Orfeu (1983); Pedro Caldeira Cabral, EMI (1985); Duas Faces, EMI (1987); Guitarra Portuguesa, GHA (1991); Momentos da Guitarra, Fenn,(1992); Variações, Mediem/WDR (1993); Música de Guitarra Inglesa, BMG/RCA Classics (1998); Guitarra do Século XVIII, F M, (2000); Memórias da Guitarra Portuguesa, F M (2000); Sons da Terra Quente, FM (2000) e The Enchanting Modinhas and the English Guitar, Radical Media (2001).
Entre 1967 e 1975, frequentou vários cursos de composição de música contemporânea, tendo trabalhado com Karel Goyvaerts, Constança Capdeville, José Alberto Gil e Jorge Peixinho. Sendo um autodidacta na Guitarra Portuguesa, desenvolveu como compositor, um estilo próprio fundado na tradição solística da Guitarra, com incorporação de técnicas originais e elementos resultantes do estudo dos instrumentos antigos das tradições cultas e populares da Europa Mediterrânica.
Como intérprete tem alargado o reportório solístico da Guitarra, fazendo transcrições de obras de Bach, Weiss, Scarlatti, Seixas, entre outros e apresentado publicamente novas obras originais de autores contemporâneos.
Tem realizado investigação na área da música tradicional (Organologia musical), tendo colaborado com o Dr. Ernesto Veiga de Oliveira na segunda edição de "Os Instrumentos Musicais Populares Portugueses" - Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,1983 e na 3ª edição (capítulo novo) datada de Janeiro 2001.
Fundou e dirige desde 1987, o Centro de Estudos e Difusão de Música Antiga, e no seu âmbito coordena exposições-conferências sobre organologia musical antiga (séc. XIII a XVII), concertos didácticos em escolas e programas musicais para os vários grupos que dirige.
Tem também coordenado programas de edição musical e de estudos sobre temas musicais. Desde 1970 tem dado, na qualidade de solista, concertos nas principais salas e festivais da Europa, Estados Unidos da América, Macau e Brasil. Membro do júri do 1º Festival de Música do Mediterrâneo realizado em Antalya, Turquia (1986), Pedro Caldeira Cabral tem efectuado conferências e seminários sobre temas musicais na Europa (França, Inglaterra, Alemanha, Suíça, Suécia e Turquia) e EUA. Fez a pré-produção e a direcção artística do Festival de Guitarra Portuguesa na EXPO'98.
Em 1999 foi editado o livro "A Guitarra Portuguesa" de sua autoria, sendo esta a primeira obra monográfica sobre as origens e evolução histórica, estudo organológico e reportório do instrumento nacional. Comissariou as exposições monográficas "Portuguese Guitar Memories" apresentada no Convento de Santa Agnes de Boémia em Praga, República Checa em Setembro de 2000 e "À descoberta da Guitarra" no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, em Maio de 2001.
Fez programas nas seguintes emissoras de Televisão: RTP (Portugal), WDR, ZDF e NDR (Alemanha), BBC e Granada TV (Inglaterra), ORTF (França), VPRO (Holanda) e TV Globo e TV Cultura de S. Paulo (Brasil).
A sua discografia a solo inclui: Guitarras de Portugal, Tecla (1971); Encontros, Orfeu (1982); A Guitarra nos salões do século XVIII, Orfeu (1983); Pedro Caldeira Cabral, EMI (1985); Duas Faces, EMI (1987); Guitarra Portuguesa, GHA (1991); Momentos da Guitarra, Fenn,(1992); Variações, Mediem/WDR (1993); Música de Guitarra Inglesa, BMG/RCA Classics (1998); Guitarra do Século XVIII, F M, (2000); Memórias da Guitarra Portuguesa, F M (2000); Sons da Terra Quente, FM (2000) e The Enchanting Modinhas and the English Guitar, Radical Media (2001).
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