Texto de Armando Luís de Carvalho Homem, inserto na forma de comentário no Post do dia 5 de Maio (“Serenata regressa à Sé Velha”), a propósito da não inclusão de uma “Balada de Despedida” inédita, na Serenata Monumental da Queima das Fitas deste ano.
Penso que merece outro relevo, pelo que a transcrevo aqui.
Penso que merece outro relevo, pelo que a transcrevo aqui.
Os «Fados»/«Baladas da despedida» estiveram durante muito tempo ligados aos saraus dos finalistas de MEDICINA (5.º ano médico até um dado momento, depois 6.º, em função da duração da licenciatura), uma especificidade da Faculdade em causa, com antecedentes, creio, desde o séc. XIX. E no século XX não faltam exemplos de temas que chegaram a atingir a discografia, dizendo respeito a Cursos desde os anos 30 aí até alvores dos anos 60, e implicando autores/ compositores como Manuel Raposo Marques, Gonçalves Jardim, Machado Soares, Durval Moreirinhas, João Barros Madeira e outros. É claro que, consumado o sarau dos finalistas médicos, das duas uma: ou a peça entrava rapidamente no esquecimento ou, pelo contrário, passava a integrar o «cancioneiro coimbrão» e a chegar, eventualmente, ao disco. Executada em actuações públicas, poderia hipoteticamente surgir em último lugar, mas sem que tal fosse obrigatório. Aliás, o alinhamento das peças em saraus ou «serenatas» formais de ar livre (como a da «Queima») comportava em princípio a actuação de UM SÓ GRUPO (os instrumentistas e 2 cantores) e uma sequência de números fazendo alternar uma guitarrada com cada 2 temas cantados. «Fados e guitarradas» num sarau poderiam pois ter esta sequência:
- Indicativo (coisa ultimamente caída em desuso ou quase);
- Fado 1;
- Fado 2;
- Guitarrada;
- Fado 3;
- Fado 4;
- «Balada de Coimbra»
.Eventualmente poderia haver duas guitarradas, entre o fados 1 e o 2 e entre o 3 e o 4.
Uma «serenata monumental» na Sé Velha já se alongaria um pouco mais:
- Indicativo;
- Fado 1;
- Fado 2;
- Guitarrada 1;
- Fado 3;
- Fado 4;
- Guitarrada 2;
- Fado 5;
- Fado 6;
- «Balada de Coimbra».
Julgo que será na segunda metade da década de 60 que alguns Organismos Académicos, actuando fora do País - ou, pelo menos, fora de Portugal Continental -, começarão a incluir temas «de despedida» (particularmente o de Machado Soares/1958) no último sarau no território visitado ou em cada uma das cidades: o Orfeon Académico e o Coro Misto tê-lo-ão feito aí a partir de ca. 1968:
- o segundo destes organismos fê-lo pelo menos numa deslocação aos Açores, na Páscoa de 1969 (grupo José Bárrio / Manuel Antunes Guimarães (gg.) / Nilton Bárrio (v.));- o Orfeon tê-lo-á feito «n» vezes, a dado momento também no País (v.g. num Sarau que presenciei no Teatro S. João, Porto, em Abr.72; grupo: António Andias (g.) / António José Rocha (v.); cantores José Horácio Miranda (solista na peça em causa) e Pedro Natal da Luz).
- o segundo destes organismos fê-lo pelo menos numa deslocação aos Açores, na Páscoa de 1969 (grupo José Bárrio / Manuel Antunes Guimarães (gg.) / Nilton Bárrio (v.));- o Orfeon tê-lo-á feito «n» vezes, a dado momento também no País (v.g. num Sarau que presenciei no Teatro S. João, Porto, em Abr.72; grupo: António Andias (g.) / António José Rocha (v.); cantores José Horácio Miranda (solista na peça em causa) e Pedro Natal da Luz).
Note-se que estas soluções não punham em causa o lugar da «Balada de Coimbra», que surgia antes ou depois do «tema para dizer ADEUS».
Mas depois são os anos de paragem.
Em Maio de 1978, Fernando Machado Soares e outros participantes na célebre Serenata do re-lançamento terão pretendido puxar ao máximo pelos sons da escadaria (por alguma razão, nos inúmeros participantes só um grupo - o de Álvaro Aroso / José Carlos Teixeira / Eduardo Aroso - 'ousou'um tema instrumental, as «Variações em Ré M» do primeiro), para abafar os contra-sons da contestação (que passaram em parte pelo canto permanente, em dados momentos, da «Trova do Vento que Passa» - que no entanto António Bernardino interpretou lá de cima...):
- Daí a força que Machado Soares colocou na interpretação do «Fado dos Passarinhos», maxime no prolongamento das notas mais agudas;
- daí a inclusão de uma peça que, por ter coro, faria participar a assistência não-hostil.
A dupla estratégia resultou, mas como consequência porventura inesperada eis que de um dia para o outro «Coimbra tem mais encanto» se tornou um hit à escala nacional, que todos queriam interpretar / todos queriam gravar.
E agora já com a exclusão da «Balada de Coimbra», que de facto não se executou na serenata re-fundacional de Mai.78.
Creio que uma reacção à situação descrita apenas surgirá nos anos 80, sendo Jorge Carvo e o grupo que o acompanhou no álbum «Canções D'Aqui» pioneiros ou quase em tal atitude (o próprio e António M. Nunes poderão escrever com muito mais autoridade e conhecimento de causa que eu), numa altura em que surgiam novos temas «de despedida» para as mais diversas licenciaturas e se pugnava pela re-introdução do emblemático tema instrumental de José Eliseu / Artur Paredes (que nunca deveria ter saído de cena).
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