CD "António Vivaldi em guitarra portuguesa", de António Eustáquio, editado pela Camerata Lusitana, em 2005.
Vou transcrever um texto inserto no caderno que acompanha o CD
Do Alaúde à Guitarra Portuguesa
O alaúde derivou do “ud” (ou al ud) árabe, introduzido na Europa durante a ocupação árabe em Espanha; a partir do século XII, tomou várias formas e dimensões, mas mantendo como características comuns a caixa de ressonância abaulada, sem ilhargas e a pá de cravelhas formando ângulo (quase recto) com um braço sem trastos fixos. Os primeiros alaúdes eram montados com quatro cordas simples; a partir do século XV, o instrumento passou a contar com seis pares de cordas.
O auge da sua popularidade situa-se no século XVI e XVII, até que os instrumentos de tecla, como o cravo, o substituíram no acompanhamento de recitativos; caiu definitivamente em desuso no final do século XVIII.
Outro instrumento aparentado ao alaúde foi o sistro ou “cítara”, periforme, com ilhargas e costas planas, com cordas metálicas (tocadas com plectro) e trastos fixos; conheceu a sua maior popularidade nos séculos XVI e XVII, continuando a produzir-se no século XVIII em Inglaterra, com caixa mais alta e cravelhas de parafuso sem fim. Esta “guitarra inglesa” era um instrumento doméstico, popular ou burguês, contrariamente ao mais aristocrático alaúde; introduzida em Portugal no século XVIII, a partir do Porto, é considerada a origem da guitarra coimbrã. A variante lisboeta, menos volumosa e mais próxima do sistro, possui menor caixa de ressonância e afina um tom acima da coimbrã. Ambas versões reunem características dos dois instrumentos seus predecessores, mas diferem deles na técnica de execução: em vez de pulsar as doze cordas com plectro, o guitarrista “dedilha”, usando unhas artificiais (de tartaruga, metal ou plástico) fixadas ao indicador e ao polegar.
A obra de Vivaldi para alaúde é frequentemente interpretada em guitarra espanhola.
A Camerata Lusitana e António Eustáquio apresentam-nos pela primeira vez uma transcrição para a guitarra portuguesa, que confirma as suas possibilidades expressivas como verdadeiro solista capaz de, à frente de uma orquestra de câmara, enfrentar obras de exigente virtuosismo do repertório da época barroca. Após décadas em que o seu papel se limitou essencialmente ao acompanhamento do fado de Lisboa e da canção coimbrã, e de uma primeira “idade de ouro” que Carlos Paredes personificou como ninguém mais, a guitarra portuguesa pode estar agora no início de um novo ciclo, que uma vez liberta da estreita conotação ao fado, a eleve ao estatuto de solista “erudito” e a um novo reconhecimento internacional.
O alaúde derivou do “ud” (ou al ud) árabe, introduzido na Europa durante a ocupação árabe em Espanha; a partir do século XII, tomou várias formas e dimensões, mas mantendo como características comuns a caixa de ressonância abaulada, sem ilhargas e a pá de cravelhas formando ângulo (quase recto) com um braço sem trastos fixos. Os primeiros alaúdes eram montados com quatro cordas simples; a partir do século XV, o instrumento passou a contar com seis pares de cordas.
O auge da sua popularidade situa-se no século XVI e XVII, até que os instrumentos de tecla, como o cravo, o substituíram no acompanhamento de recitativos; caiu definitivamente em desuso no final do século XVIII.
Outro instrumento aparentado ao alaúde foi o sistro ou “cítara”, periforme, com ilhargas e costas planas, com cordas metálicas (tocadas com plectro) e trastos fixos; conheceu a sua maior popularidade nos séculos XVI e XVII, continuando a produzir-se no século XVIII em Inglaterra, com caixa mais alta e cravelhas de parafuso sem fim. Esta “guitarra inglesa” era um instrumento doméstico, popular ou burguês, contrariamente ao mais aristocrático alaúde; introduzida em Portugal no século XVIII, a partir do Porto, é considerada a origem da guitarra coimbrã. A variante lisboeta, menos volumosa e mais próxima do sistro, possui menor caixa de ressonância e afina um tom acima da coimbrã. Ambas versões reunem características dos dois instrumentos seus predecessores, mas diferem deles na técnica de execução: em vez de pulsar as doze cordas com plectro, o guitarrista “dedilha”, usando unhas artificiais (de tartaruga, metal ou plástico) fixadas ao indicador e ao polegar.
A obra de Vivaldi para alaúde é frequentemente interpretada em guitarra espanhola.
A Camerata Lusitana e António Eustáquio apresentam-nos pela primeira vez uma transcrição para a guitarra portuguesa, que confirma as suas possibilidades expressivas como verdadeiro solista capaz de, à frente de uma orquestra de câmara, enfrentar obras de exigente virtuosismo do repertório da época barroca. Após décadas em que o seu papel se limitou essencialmente ao acompanhamento do fado de Lisboa e da canção coimbrã, e de uma primeira “idade de ouro” que Carlos Paredes personificou como ninguém mais, a guitarra portuguesa pode estar agora no início de um novo ciclo, que uma vez liberta da estreita conotação ao fado, a eleve ao estatuto de solista “erudito” e a um novo reconhecimento internacional.
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