Conselheiro Toscano
Retrato de Família: o Conselheiro Toscano, por António M. Nunes
Alberto Toscano (AT) nasceu em Oliveira do Hospital no ano de 1896. Nos anos imediatos a família Toscano instalou-se em Santa Maria da Feira, terra de adopção do nosso biografado. AT cursou Direito na UC entre 1913-1916, tendo sido aluno do temível lente António de Oliveira Salazar. Dissabores com as raposas conduziram-no à Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (1916-1918), instituição onde terminou o curso.
AT tocava guitarra em afinação natural, conhecendo e praticando igualmente outras afinações complementares, destinadas à interpretação de determinadas peças neste ou naquele tom. Também dominava razoavelmente a escala do piano. Relacionou-se com o guitarrista e compositor amador Paulo de Sá e com Horácio Paulo Menano (guitarrista, compositor e apreciado cantor). Em Coimbra, AT terá interpretado o repertório guitarrístico mais em voga, especialmente as peças de Manuel Mansilha, Ricardo Borges de Sousa, João de Deus Ramos Júnior, Francisco Paulo Menano, e Manuel Rodrigues Paredes, conhecendo também as variações no tom de ré que o barbeiro António Rodrigues da Silva utilizaria para iniciar os seus jovens aprendizes (à luz de novos dados, sou levado a crer que a maioria das peças juvenis atribuídas a seu filho Flávio Rodrigues, são na realidade do progenitor falecido em 1918).
Nos dois últimos anos de curso, AT conviveu e acompanhou o popular guitarrista lisboeta Júlio Adolfo César Silva (ao que consta inventor da guitarra de duas bocas), com ele tendo actuado em serões no Palácio Foz.
AT trabalhou durante anos como Delegado do Ministério Público, primeiro nos Açores, e posteriormente na Madeira e continente. Na Comarca das Velhas, Ilha de São Jorge, conheceu e conviveu com o famoso maestro e compositor Lacerda Machado. Após peregrinação por diversas comarcas continentais, AT ascendeu a Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça em 1961 (Cf. António M. Nunes, "Sob o Olhar de Témis. Quadros da História do Supremo Tribunal de Justiça", Lisboa, STJ, 2000, pág. 154).
As amizades encetadas com Lacerda Machado, músico erudito que em 1899 recolheu e harmonizou diversas canções populares na Ilha de São Jorge, conduzem-nos de novo à questão do nacionalismo/regionalismo na CC e ao respectivo processo de folclorização que entrará em velocidade de cruzeiro no Estado Novo, podendo o convívio invocado comparar-se à relação Antero da Veiga/Alexandre Rey Colaço.
Daquilo que conheço do folclore da Ilha de São Jorge, ocorre-me dizer que ali foram detectados espécimes lindíssimos, tradicionalmente acompanhados ao som da Viola da Terra. Citemos "Magericão" e "Saudade", a última capaz de rivalizar com os mais chorados fados, choros e mornas. Creio que AT tocaria na sua guitarra a parte melódica de temas como "Saudade", "As Praias" e "Olhos Castanhos", recordando que o etnólogo José Alberto Sardinha na década de 1980 se interrogava se estes e outros "estranhos" espécimes como "Meu Bem", "Lira" e "Olhos Negros" não teriam ligação com a música de Coimbra (Ouvir Cd Cantos Jorgenses. Grupo Etnográfico da Beira. Ilha de São Jorge, Açor/Emiliano Toste, CD 053/02, ano de 2002, faixas 5, 8 e 9). Todas estas peças estão transcritas em partitura na obra do Tenente Francisco José Dias, Cantigas do Povo dos Açores, Angra, 1981.
Na década de 1930 AT pagaria na melhor moeda a hospitalidade jorgense, tendo albergado na sua casa de Santa Maria da Feira (Arrifana) o maestro Lacerda Machado durante seis meses de agradáveis convívios. Muitos foram os momentos informais em que AT tocou guitarra, acompanhado no violão aço por Lacerda Machado.
Nos finais da década de 1950 e anos iniciais de 60, AT compôs pelo menos três peças instrumentais, mais tarde recolhidas por Octávio Sérgio, sem que o autor e intérprete lhes tenha dado título:
-"Fado em Mi Menor"
-"Variações em Si"
-"Variações Sobre o Fado em Si"
O Conselheiro AT viria a falecer na cidade do Porto em 1989.
Agradecimentos: esta nota biográfica foi elaborada com base em elementos fornecidos por Octávio Sérgio e António Toscano
Retrato de Família: o Conselheiro Toscano, por António M. Nunes
Alberto Toscano (AT) nasceu em Oliveira do Hospital no ano de 1896. Nos anos imediatos a família Toscano instalou-se em Santa Maria da Feira, terra de adopção do nosso biografado. AT cursou Direito na UC entre 1913-1916, tendo sido aluno do temível lente António de Oliveira Salazar. Dissabores com as raposas conduziram-no à Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (1916-1918), instituição onde terminou o curso.
AT tocava guitarra em afinação natural, conhecendo e praticando igualmente outras afinações complementares, destinadas à interpretação de determinadas peças neste ou naquele tom. Também dominava razoavelmente a escala do piano. Relacionou-se com o guitarrista e compositor amador Paulo de Sá e com Horácio Paulo Menano (guitarrista, compositor e apreciado cantor). Em Coimbra, AT terá interpretado o repertório guitarrístico mais em voga, especialmente as peças de Manuel Mansilha, Ricardo Borges de Sousa, João de Deus Ramos Júnior, Francisco Paulo Menano, e Manuel Rodrigues Paredes, conhecendo também as variações no tom de ré que o barbeiro António Rodrigues da Silva utilizaria para iniciar os seus jovens aprendizes (à luz de novos dados, sou levado a crer que a maioria das peças juvenis atribuídas a seu filho Flávio Rodrigues, são na realidade do progenitor falecido em 1918).
Nos dois últimos anos de curso, AT conviveu e acompanhou o popular guitarrista lisboeta Júlio Adolfo César Silva (ao que consta inventor da guitarra de duas bocas), com ele tendo actuado em serões no Palácio Foz.
AT trabalhou durante anos como Delegado do Ministério Público, primeiro nos Açores, e posteriormente na Madeira e continente. Na Comarca das Velhas, Ilha de São Jorge, conheceu e conviveu com o famoso maestro e compositor Lacerda Machado. Após peregrinação por diversas comarcas continentais, AT ascendeu a Juiz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça em 1961 (Cf. António M. Nunes, "Sob o Olhar de Témis. Quadros da História do Supremo Tribunal de Justiça", Lisboa, STJ, 2000, pág. 154).
As amizades encetadas com Lacerda Machado, músico erudito que em 1899 recolheu e harmonizou diversas canções populares na Ilha de São Jorge, conduzem-nos de novo à questão do nacionalismo/regionalismo na CC e ao respectivo processo de folclorização que entrará em velocidade de cruzeiro no Estado Novo, podendo o convívio invocado comparar-se à relação Antero da Veiga/Alexandre Rey Colaço.
Daquilo que conheço do folclore da Ilha de São Jorge, ocorre-me dizer que ali foram detectados espécimes lindíssimos, tradicionalmente acompanhados ao som da Viola da Terra. Citemos "Magericão" e "Saudade", a última capaz de rivalizar com os mais chorados fados, choros e mornas. Creio que AT tocaria na sua guitarra a parte melódica de temas como "Saudade", "As Praias" e "Olhos Castanhos", recordando que o etnólogo José Alberto Sardinha na década de 1980 se interrogava se estes e outros "estranhos" espécimes como "Meu Bem", "Lira" e "Olhos Negros" não teriam ligação com a música de Coimbra (Ouvir Cd Cantos Jorgenses. Grupo Etnográfico da Beira. Ilha de São Jorge, Açor/Emiliano Toste, CD 053/02, ano de 2002, faixas 5, 8 e 9). Todas estas peças estão transcritas em partitura na obra do Tenente Francisco José Dias, Cantigas do Povo dos Açores, Angra, 1981.
Na década de 1930 AT pagaria na melhor moeda a hospitalidade jorgense, tendo albergado na sua casa de Santa Maria da Feira (Arrifana) o maestro Lacerda Machado durante seis meses de agradáveis convívios. Muitos foram os momentos informais em que AT tocou guitarra, acompanhado no violão aço por Lacerda Machado.
Nos finais da década de 1950 e anos iniciais de 60, AT compôs pelo menos três peças instrumentais, mais tarde recolhidas por Octávio Sérgio, sem que o autor e intérprete lhes tenha dado título:
-"Fado em Mi Menor"
-"Variações em Si"
-"Variações Sobre o Fado em Si"
O Conselheiro AT viria a falecer na cidade do Porto em 1989.
Agradecimentos: esta nota biográfica foi elaborada com base em elementos fornecidos por Octávio Sérgio e António Toscano
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