domingo, outubro 09, 2005


Luís Penedo organizador do espectáculo com António Chaínho e Fernando Alvim, ontem, no Palácio Fronteira, em Lisboa. Aqui está a fazer comentários às peças que vão ser executadas. Contribuiu para um melhor enquadramento entre os artistas e o público. Segue-se o texto de sua autoria inserto no caderno do programa:

"A referência a Guitarra Portuguesa Tradicional de Lisboa requer uma definição prévia para que não se perca o objectivo fundamental que é caracterizar um tipo de som que se ouve, que se ouviu e que se espera continuar a ouvir.

Para esta definição contribuem três dimensões:

1. Instrumento – a Guitarra Portuguesa de Lisboa
2. Técnica – a Técnica Tradicional de Lisboa
3. Temas – as Composições ou Improvisos que, utilizando a técnica tradicional de Lisboa, estejam no contexto do Fado Tradicional de Lisboa

No que respeita ao instrumento ele deve ser bem claramente uma Guitarra Portuguesa de Lisboa, sendo os seus elementos identificadores:
a. Voluta ou Caracol na forma base da cabeça (sendo aceite a chamada Guitarra do Porto, em que a voluta é substituída por uma escultura de madeira, sem voluta)
b. Comprimento de escala de 44 cm, embora sejam aceitáveis alterações limitadas sobre este valor
c. Forma redonda, aproximada de uma maçã
d. Decorações sob a forma de embutidos de madeira ou madrepérola
e. Afinação pelo Lá natural (440 c/s)
f. Afinação do Fado (si-la-mi-si-la-re)

No que respeita à técnica, deve utilizar-se
a. a ornamentação tradicional constituída por notas bem claras e nítidas a partir da nota base (dedilhação completa da mão direita)
b. a sonoridade instrumental característica dada pelas notas soltas utilizadas em dedilhados complexos, em simultâneo com as notas normalmente dedilhadas

No que respeita aos temas eles devem:
a. Ter uma expressão que têm a ver com as Guitarradas feitas, como o Fado Tradicional de Lisboa, numa base tonal e não uma base melódica.
b. Incluir Variações em tom base, Variações sobre um ou mais Fados Tradicionais, ou sequências de Fados Tradicionais,
c. e/ou Variantes ou Sequências de músicas Populares Portuguesas cuja estrutura continua ser um bloco harmónico, simples, repetitivo, com especial aceitação num compasso 4/4 ou 2/4.

Estas condições tendem a proteger uma forma e um contexto de tocar a Guitarra Portuguesa Tradicional de Lisboa e, por isso, devem ter um rigor que só é aceite por quem o quer fazer. Não se está a exigir que se toque sempre desta forma e há outras definições para tocar Guitarra Portuguesa: Tradicional de Coimbra, Guitarra Portuguesa em geral (ou Guitarra Portuguesa de Concerto, e ainda, como foi feito pelo compositor Nuno Rebelo em 1998, a Guitarra Portuguesa Mutante, nestes casos sem inclusão de frases que sejam tradicionais e mais do que apontamentos,

É importante que o acompanhamento pela viola seja feito de forma apropriada, dentro do mesmo estilo tonal, sem exageros de acordes semi-tonais, forma moderna de acompanhamento que destrói a simplicidade dos temas e a capacidade de improvisação permanente do guitarrista.


Luís Penedo
Versão 2.03, 7 de Outubro de 2005

Nota: a Guitarra Portuguesa Tradicional de Lisboa, aqui mais aprofundada na definição, baseia-se nos conceitos definidos para os Concursos de Guitarra Portuguesa Tradicional de Lisboa (1º, 2º e 3º) efectuados em 1995, 1996 e 1997 pela Academia da Guitarra Portuguesa e do Fado, com o patrocínio da Câmara Municipal de Lisboa.

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