Comentário de ALCH
Algumas notas sobre o «Post» de João Caramalho e a resposta de António M. Nunes:
1) Escreveu António Nunes: «As comunidades de cultores e de consumidores da Canção de Coimbra das duas cidades (Coimbra e Porto) não se pautam propriamente por amistoso convívio», abonando-se no período subsequente em textos que fui deixando neste blog. Ora a verdade é que eu escrevi sobre os anos 40 e subsequentes (antes e depois das interrupções post-1969 em Coimbra e post-1971 no Porto). É um facto que muitos cantores e executantes que também passaram pelo Porto propendem a omiti-lo das ss. biografias... Dúvidas ? Consulte-se o vol. II de "Um século de Fado. Fado de Coimbra" de José Niza, Alfragide, ediclube, 1999 (e António Nunes também refere alguns nomes que exemplificam o que deixo escrito). Quer-me parecer que na década de 20 as coisas, propendendo já para isso, não estariam ainda na 'crispação' que depois tendeu a instalar-se. Mas é assunto que requer indagação, ainda que não venha por certo a ser fácil o encontro de dados com abundância.
2) Amândio Marques: conheci-o pessoalmente, como advogado, presidente da Casa da Beira Alta (por longos anos) e guitarrista (em finais dos anos 70, quando o também advogado e outrossim guitarrista Eduardo Teixeira Portela o convenceu a relembrar peças que criara e tocara). Conheço também gravações suas em 78 RPM (particularmente interessantes umas "Variações em ré m"). Nada sei sobre eventuais estudos na 1.ª Fac. Letras/UP. Em Coimbra ter-se-á licenciado porventura um pouco depois da data apontada (1928). Porque opino assim ? É que recordo uma conversa havida por volta de 1977, em que Amândio Marques evocou um episódio ocorrido no ano lectivo de 1927/28, sendo ele aluno de Salazar e sendo ministro da Justiça (desde o 28 de Maio) o também lente de Direito da UC Manuel Rodrigues. Como é sabido, em Abr.28, com a constituição do Executivo Vicente de Freitas, vai Salazar para as Finanças e sai Manuel Rodrigues da Justiça (a que regressará, já com Salazar na Presidência do Ministério, depois Presidência do Conselho de Ministros, no período 1932-1940). Ora Salazar regia "Economia Política" (2.º ano) e "Finanças" (3.º); a menos que se desse alguma situação de 'repetência' - que não me parece provável - Amândio Marques não seria portanto um finalista em 1928. Mas a consulta dos "Anuários" da UC poderá esclarecer a questão.
3) António Nunes refere «o guitarrista Paupério». Tratar-se-á de Lauro de Oliveira (m. 1970), estudante do então Instituto Industrial do Porto, depois casado com uma Senhora (algo matriarcal...) de apelido Paupério e pai do ainda meu contemporâneo no OUP Lauro Mário Paupério de Oliveira (1946-1986; mais conhecido como "Paupério" do que como "Oliveira") ? Lauro de Oliveira tocou (e gravou) com o já aqui mencionado Alexandre Brandão (1909-2004), e manteve em sua casa uma tertúlia até muito pouco tempo antes de nos deixar. Legou-nos temas vocais originais (com interesse) e um arranjo (que não desmerece) para «Estrelinha do Norte».
4) João Caramalho refere a «mobilidade dos estudantes nos inícios do século XX». É bem verdade. Por alguma razão o lente de Medicina Legal (e Reitor da UC em 1926-1927) Fernando Duarte Silva de Almeida Ribeiro (1881-1956) pôde referir «A frequência da vinda de Lisboa e do Porto para Coimbra ou a Coimbra, de estudantes peripatéticos, a que chamam 'paraquedistas' em linguagem académica...», e mais adiante: «Esses estudantes, que procuram, com as suas deslocações, os pontos de menor pressão, além da dita utilidade têm a de fornecer uma demonstração nova do cabimento daquele prolóquio velho: "As viagens 'formam' a juventude"» (Fernando de Almeida RIBEIRO, «Doutoramentos em Coimbra: impugnação de cinco teses», Coimbra, Por Ordem da Universidade, 1951, p. 30).
Com um grande abraço
Armando Luís de Carvalho Homem
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