Comentário de João Caramalho
Passadas as festividades natalícias, volto aos comentários.
1 - Começo por aproveitar para agradecer ao prof. A L Carvalho Homem o ter-me indicado a existência deste blogue!
2 - Impõe-se um pequeno esclarecimento: eu não apontei 1928 como possível data de licenciatura de Amândio Marques, e sim como provável data limite superior de transferência para Coimbra. O episódio referido pelo prof. Carvalho Homem reforça a ideia de que Amândio Marques terá ido para Coimbra por volta de 1926 (ano lectivo de 1925/26 ou 1926/27).
3 - De qualquer forma tenho mais uma rectificação a fazer ao meu primeiro comentário (de facto eu deveria ter esperado um dia, para evitar tanta asneira): disse então que a excursão ao Porto em que Armando Goes participou no carnaval de 1929 (inicialmente tinha falado em 1928) talvez fosse uma "que Amândio Marques organizou ou incentivou quando já estava em Coimbra" (daí a minha suposição no sentido de em 1928 Amândio Marques já estar em Coimbra). Na verdade, a excursão a que se pode associar Amândio Marques foi no sentido contrário! Diz Amândio Marques em "Carlos Leal - o «rouxinol do Ave»" (Porto Académico, n. único de 1962, p. 44 e 46):
"Por iniciativa dos estudantes que do Porto foram para a Universidade de Coimbra, como eu, foram o Orfeão e a Tuna Académica do Porto convidados a ir àquela cidade. Foi uma apoteose! Nada gastaram, foram aboletados nas «Repúblicas» e em casa de cada um. Os recitais constituiram um triunfo de artístico e de camaradagem. Carlos Leal e outros «artistas académicos» tiveram ali a sua consagração, em Coimbra, terra única de cantores e de Orfeão!! A «Canção das Rendilheiras» que Carlos Leal cantou acrescentou-lhe o triunfo!"
4 - Evidentemente é necessário dar os descontos devidos ao exagero retórico, mas estas citações não me dão a impressão de que na década de 20 houvesse já uma tendência para a crispação (em terreno de pura conjectura, eu inclinar-me-ia para os anos 30 ou 40 - para o início do aproveitamento "folclorista" do fado de Coimbra; imagino os estudantes de Coimbra a entenderem a prática do Fado de Coimbra por parte dos estudantes do Porto como uma prática "folclorizada"). Acrescento um apontamento retirado do artigo de Rebelo Bonito "Vida Académica do Porto - Do Orfeão Académico ao Orfeão Universitário (1912-1937)" (O Tripeiro, VI série, ano II (1962), p. 84-87 e 112-115): segundo Rebelo Bonito, no dia 6 de Maio de 1928 a Tuna e Orfeão Académicos do Porto deram uma récita no Teatro de S. João a favor do Hospital de Santa Maria; "colaboraram nos fados e guitarradas Armando Góis, Paradela de Oliveira, Lopes Azevedo, João Duarte e Castanheira Lobo da Academia de Coimbra, ao lado de Carlos Leal e Ferreira da Silva da Academia do Porto" (p. 113-114).
5 - Quanto aos estudos de Amândio Marques. A minha conjectura sobre Amândio Marques ter estudado na Fac. Letras da UP não passava de mera conjectura, com pouco fundamento: se tiver estudado na UP, Letras parece a melhor candidata. Porque é que imaginei que tivesse estudado na UP? Por ter tido intensa actividadade académica no Porto. Mas na verdade, relendo com mais cuidado o seu artigo "Carlos Leal - o «rouxinol do Ave»", fico na dúvida: Amândio Marques refere a Associação Académica, a Tuna, o Orfeão, inúmeras serenatas (no Porto, "Braga, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Espinho, Viseu, Mangualde, etc., etc."), discos gravados, o facto de usar sempre capa e batina ("nunca conheci outro traje"),... mas nunca a Universidade do Porto, a não ser a propósito de Carlos Leal e Canto Moniz (cirurgião com quem mais tarde Carlos Leal trabalhou); refere sim o facto de ter sido (tal como Carlos Leal) aluno do Liceu Rodrigues de Freitas - e a verdade é que nos anos 20 todas as tradições académicas referidas (incluindo a pertença ao Orfeão, Tuna e Assoc. Acad.) estavam abertas aos alunos do liceu.
Por enquanto fica a dúvida.
De qualquer forma, é de notar que os discos gravados por Amândio Marques foram-no com formações portuenses: para além de Carlos Leal, o viola Pais da Silva pertencia à Tuna Acad. do Porto (pelo menos em 1926, segundo a legenda de uma fotografia pertencente à colecção da antiga Associação dos Antigos Alunos da UP) - não tenho informação sobre Francisco Fernandes, a não ser que foi cirurgião em Moçambique. Pais da Silva acompanhou Amândio Marques não só nas gravações de Carlos Leal mas também nas gravações de guitarradas (Parlophon B33016 e B33017); gravou ainda pelos menos dois discos (Parlophon B33004 e B33005) em dueto de viola com José Taveira (que por sua vez, segundo Amândio Marques, também cantava fados). Devo dizer que destes quatro últimos discos só possuo as referências - infelizmente nunca os ouvi.
Tentarei nos próximos dias transcrever todo o artigo referido de Amândio Marques, para o colocar "on-line".
Saudações Académicas,
João Caramalho
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