domingo, dezembro 25, 2005

Bloco de Notas (23)

1985 ... Fui a Paris de 24 a 27 de Novembro, à inauguração do “Novotel”, em Galieni, com Carlos Couceiro, António José Rocha, Marcelino e José Henrique Dias. Toquei o “Ré menor” de Artur Paredes. A viagem não correu da melhor maneira, pois António José Rocha ficou sem o dinheiro que levava. Colocou-o numa bolsa lateral da mala e, quando aterrou, encontrou a bolsa vazia. A nossa actuação não correu mal mas, francamente, levar um grupo daqui para actuar uns minutos num átrio de um hotel, sem condições nenhumas, sem a dignidade que se deve atribuir a qualquer participação da Canção de Coimbra, é caricato. Salvou-se o passeio turístico.
A 20 de Dezembro fui à Aula Magna com Luiz Goes, António Bernardino António Sérgio e Durval Moreirinhas, tocar num espectáculo organizado por alunos de Direito. Toquei “Dor na Planície”. Curiosamente foi a peça mais aplaudida.

1986 ... As actuações no Faia terminaram no final de Março. Já vinham desde Agosto do ano anterior.
A 7 de Março fui ao Coliseu de Lisboa, tocar numa homenagem a José Afonso. Foram António Sérgio, Durval Moreirinhas, Machado Soares, Armando Marta e António Bernardino. O espectáculo foi um êxito. A abrir, toquei uma peça de Carlos Paredes (?), seguindo-se a “Aguarela Portuguesa” de António Portugal. Armando Marta cantou “Amigo” de José Afonso, Machado Soares, “Saudades de Coimbra” e António Bernardino, “Balada Açoreana”, acabando com “Meu Pensamento”. Foi um sucesso. Na peça “Amigo”, acenderam-se os isqueiros. Não nos queriam deixar sair do palco. Seguidamente actuaram Vitorino, Janita Salomé e José Mário Branco. As opiniões que nos chegaram, deram a nossa actuação como a melhor parte do espectáculo. Fiquei todo babado a ouvir uma senhora dizer que eu era um grande guitarrista! Ouvir isto de uma senhora - normalmente as senhoras só dão atenção às canções, não é de deitar fora! Enfim, como não dei fífias e o som era bastante bom, saí de lá satisfeito. Já não posso dizer o mesmo sobre um espectáculo que dei para o BESCL, com a mesma equipa, Pelo menos é o que consta no bloco de notas. Diz lá que comecei com “Balada do Mondego” e a seguir com a de Carlos Paredes, já referida atrás.
A esta distância no tempo faz-me alguma confusão não incluir o nome da peça de Carlos Paredes. Mas, bem vistas as coisas, ainda agora ouço peças dele sem saber o nome que têm. Talvez devido ao facto da sua produção ser bastante grande. É uma falha que nunca procurei colmatar. Não é menosprezo pelo artista pois, para mim, continua a ser o expoente máximo na galáxia Coimbrã e não só. Todas as suas peças são “monumentos ao bom gosto”, a sua música é como que emanada por harpas celestiais, que só o autor consegue executar com total autenticidade. Penso que muito dificilmente aparecerá um dia outro guitarrista que o supere.
Mais algumas actuações e uma, em especial, por encontrar Jorge Tuna que também executou duas peças com o inseparável Durval Moreirinhas. Notou-se que esteve muito tempo parado e, por isso, houve ligeiríssimos enganos. Mas o som e a execução estão incólumes. Temos novamente Tuna, em breve, em todo o seu esplendor.
A 29 de Julho, estive nos claustros do Hospital de Santa Marta, com Arménio Santos, Sutil Roque, Durval Moreirinhas e António Sérgio. Tocámos “Bailados do Minho”, “Aguarela Portuguesa” e “Fado Hilário”. Dias depois começou a digressão que já vai sendo habitual a terras algarvias: Portimão, Tavira e Olhão.
Entre 4 e 16 de Novembro, percorri terras brasileiras, como Porto Alegre, Curitiba, Maringá, Rio de Janeiro, S. Paulo e Belo Horizonte.. No Rio de Janeiro actuámos para a Televisão. A única indicação que tenho no bloco de notas sobre esta viagem foi a de que a vida lá estava baratíssima. Mas lembro-me que fui com Durval Moreirinhas na viola, e a cantar, Armando Marta e António Bernardino. Fomos com Manuela Aguiar, na altura Secretária de Estado para a Emigração. Vim de lá maravilhado com as belezas daquele país, assim como com a deliciosa comida brasileira.
Comecei, a 1 de Outubro, a gravar um disco com José Mesquita e António Sérgio, nos estúdios Musicorde, em Campo de Ourique, Lisboa. Durval Moreirinhas também participou em três números, que ajudou a melhorar. Gravaram-se 12 peças, com música da autoria de José Mesquita e letras de autores consagrados no panorama literário português. Os arranjos de guitarra são de minha autoria e a viola de António Sérgio. Como já atrás referi, Durval Moreirinhas que se agregou ao grupo já depois de quase tudo feito, veio, com a sua arte de acompanhador, melhorar bastante as três peças em que entrou. Gravou-se tudo com voz à parte para, posteriormente, ser posta novamente por cima, caso o cantor não gostasse do que fez. Assim aconteceu. Todos os números foram pelo menos bisados na voz. Isso deu origem a que, por vezes, pareça que os instrumentos estão fora de tempo ou que o tocador se enganou, porque a voz foi mal colocada posteriormente. É bastante difícil cantar por cima do que está feito. Eu tenho alguma experiência disso e sei o quanto custa. Se for no próprio dia em que se gravou, ainda será relativamente fácil, se se deixarem passar uns dias, quando se lá volta já levamos outro ritmo na cabeça e torna-se dificílimo encaixar correctamente.
Em Setembro, um espectáculo em Pinhel, Outubro no Teatro S. Luís, em Lisboa, Novembro em Queluz, Dezembro em Algés e Dafundo, com Lopes de Almeida na guitarra, Durval Moreirinhas e Levy Baptista nas violas, Arménio Santos, Sutil Roque, António Bernardino e Armando Marta a cantar. Foi uma homenagem a Adriano Correia de Oliveira. Na segunda parte, cantou Carlos do Carmo. Estava Rogério Paulo, actor, na assistência.
Acabo o ano com uma ida à Costa da Caparica, com António Bernardino a cozinhar o almoço. Havia marisco à discrição. Compareceu o Vice-Reitor da Universidade de Coimbra, Jorge Veiga. O almoço foi todo gravado em vídeo, acabando com a Canção de Coimbra, como sempre foi hábito, nestas comezainas.

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