sexta-feira, dezembro 09, 2005

Retrato de Família: o guitarrista RICCIULI
Por António M. Nunes

Petrónio Ricciuli nasceu na cidade de Viseu em 15 de Março de 1915, tendo falecido nas Caldas da Rainha a 18 de Maio de 2003.
Este beirão veio para Coimbra no ano de 1933, em situação de soldado voluntário. Terminado o serviço militar, Ricciuli domiciliou-se definitivamente em Coimbra, cidade onde trabalhou como bancário. Era funcionário aposentado do Banco Totta e Açores à data do seu falecimento. Na 2ª metade da década de 1940, Ricciulli frequentou regularmente os irmãos barbeiros e ensinantes de Guitarra de Coimbra Flávio e Fernando Rodrigues da Silva com quem aprendeu a "arte" de dedilhar guitarra.
Em 1953 Ricciulli comprou uma Guitarra de Coimbra de 22 trastos ao violeiro Raul Simões, instrumento que inicialmente fora uma encomenda feita por Artur Paredes. Com o referido cordofone participou como guitarrista solista nas primeiras gravações de Augusto Camacho Vieira, tendo como 2º guitarra o estudante de Direito Egas Bérrance Correia de Abreu, e no violão aço Carlos Dinis de Figueiredo Júnior.
Carlos Figueiredo, recentemente formado em Direito, preparava-se para arrancar para Nova Lisboa, Angola, como notário, quando surgiu a hipótese de efectuar um lote de gravações para a COLUMBIA (representada pela Valentim de Carvalho).
Figueiredo optou por 4 temas vocais, um feito em 1950 (Sé Velha), e os restantes três alinhavados no primeiro semestre de 1953 (Sonhando, Mágoa, A Tua Rua). Não houve tempo para ensaios. O quarteto rumou aos estúdios Valentim de Carvalho, à Rua do Almada, Lisboa, num sábado, dia 16 de Maio de 1953. Durante a longa viagem de comboio, Camacho trauteou os temas e Ricciulli improvisou os rudimentos das introduções e dos separadores.
E nunca mais se ouviu falar deste viseense, discreto, retraído, amante do violino e da música clássica. Nem à esposa permitia liberalidades guitarrísticas, fechando-se no escritório para recatadamente ouvir discos de música clássica e discretamente dedilhar a Guitarra. Em vão António Brojo o invectivou a visitar a sua casa para fazerem uns ensaios informais.
No dia 3 de Maio de 1985, o Curso Médico de 1979-1985 apresentou em Coimbra a sua récita de despedida, no palco do Teatro Académico de Gil Vicente, reatando assim uma tradição multissecular, interrompida em 1969. Na mesma altura houve também uma récita geral dos quintanistas de todas as Faculdades, excepto Medicina que fez a sua peça em separado. No final, os quintanistas cantaram “Evocação a Coimbra. Balada da Despedida dos Quintanistas de 1985”, com música e letra de Petrónio Ricciulli (Coimbra, minha Coimbra), tema composto a pedido de seu filho que então se despedia da UC. De acordo com informações prestadas pelo Dr. João Paulo Sousa, o solista convidado para estrear este tema em palco foi Paulo Saraiva. Esta balada veio a ser gravada pela formação TOADA COIMBRÃ, no LP “Baladas de Despedida. Anos 80”, L.P. 1.004, Duplisom, 1990, Face A, Faixa nº 3.
Progressivamente adoentado, Petrónio Ricciulli, beirão de nascimento, filho de pai italiano, faleceu como sempre quis viver. Recatadamente. Em 2004, o Museu Académico lembrou-o, dando notícia da sua fotografia e da sua guitarra, em preito de colaboração com os familiares.
Agradecimentos: Dr. Augusto Camacho Vieira, Dr. Artur Ribeiro (Museu Académico), Coronel José Anjos de Carvalho, José Moças (Tradisom), Sra. Maria Manuela Ricciulli, Dr. João Paulo Sousa

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