Valsas e Rondó
Quero felicitar de viva voz o nosso colega de blog e ilustre colaborador Prof. Flávio Pinho pelo enriquecimento posto na divulgação de 3 inéditos da Secção de Manuscritos Musicais da BGUC. Os temas em apreço podem considerar-se integrantes até agora desconhecidos da Canção de Coimbra na sua vertente de salão. Pelo teor dos manuscritos e respectivos títulos, a data (1820) reflecte a lenta transição regional da embrionária CC e das práticas musicais locais do repertório Barroco (rondós, jigas, gavotas, minuetos, marchas, cotilhões, serenatas) para o repertório Romântico ( valsas, polcas, mazurcas, fados). Embora as solfas mencionem apenas a "guitarra barroca", não fere o espírito de época a inclusão de uma Viola Toeira ou de uma Guitarra Inglesa em desejável trabalho de reconstituição.
A minha dúvida ocorre apenas quanto à inclusão da expressão "guitarra clássica" nos cabeçalhos das peças 1 (valsa 3/4 de 1820), 2 (valsa 3/8 de 1820) e 3 (rondó 2/4 de 1820). É que a chamada "guitarra clássica", como hodiernamente a entendemos, só passou a existir desde meados do século XIX, com as alterações introduzidas pelo violeiro Antonio de Torres (escala longa, caixa grande, travessas de escoramento em leque). A "guitarra clássica" mencionada no cabeçalho das três solfas é, salvo melhor opinião, o Violão Barroco de 6 ordens singelas, boca redonda aberta, escala de 12 pontos, pá de madeira com 6 carrapetas, corpo em 8, tampos planos, com eventual decoração de luxo. Corresponde a modelos guardados em Portugal no Museu da Música (Lisboa) e aos exemplares do Museu Nacional de Praga fotografados na obra de Bohuslav Cízek, "Encyclopédie ilustrée. Instruments de musique", Paris, Éditions Grund, 2003, fotos 15 e 16 (pág. 33), e mais vincadamente foto 20 (pág. 35). Foi evidentemente a partir destas matrizes que se desenvolveu em Espanha e em França o Violão Romântico, Violão Francês (cordas de aço) ou "Guitarra Clássica", com exemplar no Museu de Cordofones de Domingos Machado (Tebosa, Braga) e reconstituições em Jorge Ulisses (Braga).
Caso estas observações estejam feridas de alguma incorrecção, agradeço que Flávio Pinho nos venha prestar bons e úteis esclarecimentos.
António M Nunes
A minha dúvida ocorre apenas quanto à inclusão da expressão "guitarra clássica" nos cabeçalhos das peças 1 (valsa 3/4 de 1820), 2 (valsa 3/8 de 1820) e 3 (rondó 2/4 de 1820). É que a chamada "guitarra clássica", como hodiernamente a entendemos, só passou a existir desde meados do século XIX, com as alterações introduzidas pelo violeiro Antonio de Torres (escala longa, caixa grande, travessas de escoramento em leque). A "guitarra clássica" mencionada no cabeçalho das três solfas é, salvo melhor opinião, o Violão Barroco de 6 ordens singelas, boca redonda aberta, escala de 12 pontos, pá de madeira com 6 carrapetas, corpo em 8, tampos planos, com eventual decoração de luxo. Corresponde a modelos guardados em Portugal no Museu da Música (Lisboa) e aos exemplares do Museu Nacional de Praga fotografados na obra de Bohuslav Cízek, "Encyclopédie ilustrée. Instruments de musique", Paris, Éditions Grund, 2003, fotos 15 e 16 (pág. 33), e mais vincadamente foto 20 (pág. 35). Foi evidentemente a partir destas matrizes que se desenvolveu em Espanha e em França o Violão Romântico, Violão Francês (cordas de aço) ou "Guitarra Clássica", com exemplar no Museu de Cordofones de Domingos Machado (Tebosa, Braga) e reconstituições em Jorge Ulisses (Braga).
Caso estas observações estejam feridas de alguma incorrecção, agradeço que Flávio Pinho nos venha prestar bons e úteis esclarecimentos.
António M Nunes
<< Home