DISCOGRAFIA DE JOSÉ DIAS E RESPECTIVAS LETRAS
Por José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
I – Um esclarecimento
A primeira versão deste texto foi editada no blog “guitarradecoimbra” no dia 21 de Outubro de 2005, apresentando lacunas resultantes das poucas fontes estão disponíveis. Felizmente, mercê de uma prestimosíssima colaboração, foi-nos possível suprir algumas das faltas de que o mesmo enfermava, à excepção de uma que ainda subsiste: “Quem era o cantor José Dias?”
Queremos aqui expressar e realçar os nossos especiais agradecimentos ao Dr. João Caramalho Domingues que voluntária e generosamente nos facultou uma preciosa ajuda, sem a qual não nos teria sido possível melhorar o nosso trabalho.
Aos cultores da Canção de Coimbra solicitamos, caso saibam, que nos digam, pois, quem seria José Dias.
II-Biografia desconhecida
José Dias, ou José(zito) Dias, gravou na década de 20, mais concretamente em Maio de 1927 e em Outubro de 1928, um total de 5 discos de 78 rpm. Quer na 1ª, quer na 2ª sessão, foi acompanhado em Guitarra de Coimbra de 17 pontos pelo Dr. Paulo de Sá (1891-1952). Quanto ao executante de violão de cordas de aço, sem provas definitivas, há fortes probabilidades de ter sido o habitual e anónimo acompanhante de Paulo de Sá, Prof. Doutor José Carlos Martins Moreira (Porto, 1895; Coimbra, 1977), Lente da Faculdade de Direito da UC e durante longíssimos anos Vice-Reitor da Alma Mater Conimbrigencis. Antigo orfeonista, antigo sócio da TAUC e renomado serenateiro, Moreira manteve após a formatura contactos frequentes com Paulo de Sá, em festas particulares e anualmente durante as férias de Verão na Assembleia da Praia da Granja.
Na Internet, (antigo site de José Rabaça aberto entre 1996-2005, http://www.cidadevirtual.pt/fadocoimbra) nas biografias dos “Cantores de Fado de Coimbra”, Dias vinha erradamente identificado como sendo o bispo D. José do Patrocínio Dias “Presunto” (Covilhã, 23-07-1884; Fátima, 24-10-1965). O mesmo lapso ocorre na obra de José Niza, “Fado de Coimbra. Um século de Fado”, Lisboa, EDICLUBE, 1999.
D. José do Patrocínio Dias, o Bispo-Soldado, foi aluno do Colégio S. Fiel dos Padres Jesuítas, da Guarda, depois da Faculdade de Teologia da UC entre 1902 e 1907, ano em que concluiu a formatura e se ordenou presbítero. Cónego em 1915, foi nomeado capelão do CEP na Grande Guerra de 1914-18 e daí o epíteto de Bispo-Soldado. Em 16-12-1920 foi eleito Bispo de Beja pelo Papa Bento XV.
O barítono José do Patrocínio, de alcunha Petrónio Teológico, sabia cantar lindamente e tocar guitarra. Herlander Ribeiro (Lisboa, 1887; Paris?, 1967) refere-o numa crónica de 1906 como destro jogador de cartas, inveterado e bem sucedido namorador, dandi no vestir, serenateiro, leitor voraz, apaixonado pelo teatro, gastador em coletes de fantasia e relógios de bolso. Havia quem lhe chamasse “Presunto”, pois todas as vezes que ia à Covilhã, trazia vistosos carregamentos de presuntos (Cf. Herlander Ribeiro, “Cartas de uma tricana. Coimbra de 1903 a 1908”, 3ª edição, Lisboa, 1936, págs. 15-16).
Numa biografia de D. José do Patrocínio Dias da autoria de C. J. Gonçalves Serpa, com mais de 500 páginas, impressa na União Gráfica, Lisboa, 1959, não há qualquer referência ao assunto, numa atitude de silenciamento idêntica à observada noutras figuras da cultura portuguesa activas na CC em fase juvenil, como o Prof. Doutor António Augusto Ferreira da Cruz (cantor activo entre 1927-1935, com militância no Fado Académico; antigo orfeonista) e o Prof. José Carlos Moreira. Na dita biografia a alcunha «Presunto» também não consta, nem mesmo quando refere os nomes de seus pais que, no caso da mãe, Claudina dos Prazeres, não grafa o apelido.
Pelas informações de que dispomos, o Bispo D. José Dias não gravou quaisquer discos e nada tem a ver com o cantor José Dias que efectuou gravações com Paulo de Sá nos finais da década de 1920. Repare-se que a 2ª grande ofensiva discográfica coimbrã ocorreu na 2ª metade da década de 1920, entre 1926-1929, coincidindo no plano interno com o fim da Primeira República (1910-1926) e com a instauração da Ditadura Militar. A Igreja Católica, severamente disciplinada pelo regime republicano anticlerical, procurava reconquistar prestígio social, não permitindo aos representantes das várias hierarquias atitudes que moral e culturalmente suscitassem ambivalências. O Padre Dr. João Augusto Antunes, de alcunha Padre Boi (1863-1931), afamado boémio e serenateiro nos anos de 1880-1890, homem de comes e de filhos, bem poderia ter gravados discos. Todavia não o fez. Para tanto terá contribuído a apertada vigilância disciplinar do bispo diocesano de Coimbra que via com maus olhos as condutas “excessivas” do lendário Padre Boi. Ora, se o Padre Boi manteve aqueles traços de personalidade e de conduta que um outro seu colega de arte, Raul Moreira Dinis, haveria de cultivar até ao fim da vida, o mesmo não se poderá dizer do Bispo Dr. D. José Dias que fez por esquecer os “pecadilhos de juventude”.
Em “O Notícias Ilustrado”, II Série, Nº 44, de 14 de Abril de 1929, vem um extenso inquérito sobre «Fado», com bastantes depoimentos e várias fotografias, desenhos e caricaturas. Na parte respeitante a gravações para a His Master’s Voice, referem-se os nomes dos cantores José Dias, Elísio de Matos, Armando Goes e Paradela de Oliveira. Traz vários retratos mas, dos cantores aqui referenciados, só figuram os de Armando Goes e de Paradela de Oliveira.
O Bispo Dr. D. José do Patrocínio saberia música, sendo servido por uma boa voz de barítono que na época despertava atenções de raparigas e admiradores masculinos. O José Dias que gravou para a HMV em 1927-1928 era um barítono vulgar, com uma expressividade interpretativa semelhante às de Alexandre Rezende e António Batoque. Era aquilo a que em Coimbra se chamava depreciativamente o “cantor de urinol” ou de “refugo”.
Estaremos em presença de um estudante da década de 1920, de um já então antigo estudante, ou de um desconhecido porventura residente em Coimbra, Lisboa, Praia da Granja, das amizades de Paulo de Sá e seus próximos? A título de achegas, lembre-se que no ano lectivo de 1922 integrou a lista da Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra um José Lopes Dias Júnior, sendo Presidente Lúcio de Almeida. Foi este mesmo José Lopes Dias Júnior que incorporou uma comissão de apoio à equipa de filmagens de “A Fonte dos Amores”, em Agosto/Setembro de 1923, à qual também pertenciam os académicos Manuel Falcão Machado e Osório Machado.
Nome um pouco semelhante era o do estudante José Dias dos Santos Coelho que em Fevereiro de 1923 se deslocou a Espanha, conjuntamente com universitários de Lisboa e do Porto, por incumbência do Ministro da Instrução, com vista a estudar as residências estudantis. O aluno supra-referido, tinha bons conhecimentos musicais, era amigo de Fernando Falcão Machado, e na década de 20 fez as composições “Queixumes” e “Quando a Cabra Toca”. Terminados os estudos, radicou-se no Porto, cidade onde leccionou Português em estreita colaboração com a Mocidade Portuguesa, facto que lhe valeu penoso saneamento em 1974.
Há fortes probabilidades de José DIAS ser o José Lopes Dias Júnior dirigente associativo, acima referido, amigo e protegido de Paulo de Sá, voz muito próxima dos círculos frequentados por Alexandre Rezende, José Parente, José Carlos Moreira e o próprio Paulo de Sá. O arrolamento dos títulos gravados por Dias é significativo quanto aos autores das composições.
José Dias gravou inicialmente 4 discos de 78 rpm, em Maio de 1927, para a His Master’s Voice, acompanhado em Guitarra Toeira de Coimbra, com uso de afinação natural, pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão aço, admitimos que possa ter sido o Prof. Doutor José Carlos Moreira (Cf. «Discografia de Elísio de Mattos e respectivas letras», neste blog). A relação destes primeiros quatro discos e respectivos compositores figura no «Catálogo para Portugal de Discos His Master’s Voice», referente a 1928, edição do Grande Bazar do Porto, impresso nas oficinas de “O Comércio do Porto”, pág. 5/71.
Tais discos foram inicialmente fabricados em Barcelona pela Compañia del Gramófono mas, como já pertencem à série «E.Q.», privativa do Grande Bazar do Porto, isso significa que foram produzidos depois da implementação do acordo de 1928 estabelecido entre a His Master’s Voice e o Grande Bazar do Porto.
José Dias voltou a gravar em Outubro de 1928 mas apenas foi editado mais um disco, embora tenha efectuado outras agravações (Fado de Aveiro e Fado da Enfermeira, pelo menos).
III – Matrizes fonográficas
Gravações efectuadas em Lisboa, no Teatro D. Luís, em Maio de 1927
Disco Gramófono, E.Q. 26
Disco His Master’s Voice, E.Q. 26
2-62567 – Fado da Mentira (Ninguém conhece no rosto)
2-62568– Fado do Luar (E Há no mundo quem afronte)
Disco Gramófono, E.Q. 27
Disco His Master’s Voice, E.Q. 27
2-62569– Fado Patriótico (Meu Portugal que mais queres)
2-62570– Fado Triste (Abri uma cova na areia)
Disco Gramófono, E.Q. 28
Disco His Master’s Voice, E.Q. 28
2-62571– Fado do Mondego (O Choupal anda, coitado)
2-62572– Fado de Coimbra (Deixem-me cantar o fado)
Disco Gramófono, E.Q. 29
Disco His Master’s Voice, E.Q. 29
2-62573 – A Maior Dor (Dizem que as mães querem mais)
2-62574 – Fado da Montanha (Quem por amor se perdeu)
Gravações efectuadas em Lisboa, Teatro de S. Luís, em 31 de Outubro de 1928
Disco His Master’s Voice, E.Q. 150
-Fado da Minha Mãe (Minha mãe é pobrezinha)
-Fado do Mar Largo (Ó mar largo, ó mar largo)
Disco His Master’s Voice (??)
-Fado da Enfermeira (??)
-Fado de Aveiro (??)
IV - Letras Cantadas
FADO DA MENTIRA (Ninguém conhece no rosto)
Música: Alexandre Augusto de Rezende Mendes (1886-1953)
Letra: 1ª e 2ª quadras de autor(es) não identificado(s)
Data: ca. 1907
Edição musical: Sassetti & C.ª, copyright de 1927
Ninguém conhece no rosto
O que a nossa alma inspira…
A vida é gosto e desgosto,
Mentira, tudo mentira.
A jura que me fizeste
De ser minha eternamente,
Por ser feita à beira d’água
Foi levada na corrente.
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica gravada por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão aço, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 26 e His Master’s Voice, E.Q. 26).
A edição musical tem capa de Stuart de Carvalhais e a letra que nela consta é a cantada e gravada por António Menano. Na dita edição vem a indicação de ser música de Alexandre Rezende mas é omissa quanto à autoria da letra que nela consta e que é a seguinte:
Ninguém conhece no rosto
O que a nossa alma inspira…
A vida é gosto e desgosto,
Mentira, tudo mentira.
A minh’alma, coitadita,
Não tem vestes, anda nua:
Ó por Deus dá-lhe um abrigo,
Dá-lhe um cantinho da tua.
Embora a edição musical seja omissa quanto à autoria da letra, a 2ª quadra é garantidamente popular e encontramo-la em Jaime Lopes Dias, “Etnografia da Beira”, Volume II, 1927. Em contrapartida, a dita edição musical traz bem patente a indicação «Célebre fado cantado por António Menano».
António Menano gravou este espécime em Maio de 1927, em Paris (Discos ODEON, 136.811 e A136.811, master Og 583). Gravação disponível em vinil (Álbum de Fados de Coimbra – António Menano, 1º disco, editado em 1985). Disponível também em compact disc:
Heritage HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995;
Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995;
CD António Menano – Fados, Vol. II, editado em Dezembro de 1995, com etiqueta Odeon.
Anota-se que entre o 3º e o 4º versos de cada estrofe António Menano introduz o vocalizo “ai”, no seu jeito habitual.
Vários têm sido os cantores, uns de Coimbra, outros não, que cantaram e gravaram este espécime, atribuindo erradamente a música a António Menano. Alguns alteram-lhe o título e/ou a letra, indo buscar para 2ª estrofe a conhecida quadra popular “Fiz uma cova na areia”, e até uma quadra do Fado dos Beijos: “Se tu quisesses ser minha”.
Gravações de outros cantores:
-CD “Orfeão Académico de Coimbra”, Ovação, OV-CD-012, de 1991: canta António Sutil Roque. Remasterização de um registo efectuado em 1961 com Jorge Tuna/Jorge Godinho (gg) e Durval Moreririnhas (v);
-CD “António Vecchi – Guitarra chora baixinho”, Movieplay, 30.279, editado em 1992;
-CD “Melro – Janita Salomé”, Movieplay, MP 13.001, editado em 1993; outra reedição no CD “Melro. Janita”, Lisboa, Movieplay, MOV 30. 406, ano de 1999, faixa nº 10, com o título estropiado para “Fiz uma cova na areia” e atribuição errada a António Menano. Remasterização de um LP vinil Orfeu, de 1980. Vocalização e fonética não coimbrãs, sendo o cantor acompanhado por Octávio Sérgio (g) e Durval Moreirinhas (v). De destacar o criativo arranjo de Octávio Sérgio;
-CD “Fernando Machado Soares”, Philips, 838 108-2, compilação de gravações de 1986 e 1988, sem data, faixa nº 4. Remasterização a partir do LP “Fernando Machado Soares. Coimbra tem mais encanto”, Polygram/Philips, 830 37-1, ano de 1986, Lado A, faixa nº 4, com atribuição errada de letra e de música a António Menano. Cantor acompanhado pelo executante de guitarra de Fado de Lisboa José Fontes Rocha e por Durval Moreirinhas (v). Arranjo de guitarra banalíssimo, com vocalização implosiva;
-CD “Fados e Guitarradas de Coimbra”, Lisboa, Movieplay, MOV. 30.425/A, editado em 2001, disco 1, faixa nº 2. Canta Adriano Correia de Oliveira. Remasterização do EP “Noite de Coimbra”, Porto, Orfeu, ATEP 6025, ano de 1960, com António Portugal/Eduardo Melo (gg), Durval Moreirinhas/Jorge Moutinho (vv nylon). Disponível também na antologia “Adriano. Obra completa”, Lisboa, Movieplay 35. 003, ano de 1994 (CD “Adriano. Fados e Baladas de Coimbra”, 35. 004, faixa nº 1, com imputação errada de autoria a António Menano). Vocalização bastante incipiente;
-cassete “Praxis Nova. Canções de Coimbra”, Porto, Fortes & Rangel, DCS-017, ano de 1989, face A, faixa nº 4, com atribuição errada a António Menano. Canta Luís Alcoforado, acompanhado por Paulo Soares/José Rabaça (gg) e Luís Carlos Santos/Carlos Costa (vv). Remasterização no CD “Praxis Nova. Percursos”, Porto, Fortes & Rangel, CDM 003, ano de 1998, faixa nº 4;
-CD “Balada das Capas Negras”, ESPACIAL,3200097, ano de 1995, faixa nº 5, estando a música correctamente atribuída a Alexandre Rezende. Canta José Horácio Miranda, acompanhado por Fernando Monteiro/António Lopes (gg) e Nuno Figueiredo/Luís Santos (vv).
FADO DO LUAR (E há no mundo quem afronte)
Música: Paulo de Sá (1891-1952)
Letra: Augusto César Ferreira Gil (1873-1929)
Edição musical: desconhecemos a sua existência
Data: ca. 1911-1912
E há no mundo quem afronte
Uma mulher quando cai!
Corre água limpa na fonte,
Quem a suja é quem lá vai…
O meu amor, por amá-lo,
Pôs-me o peito numa chaga:
Dá-me facadas. Deixá-lo
Mas ao menos não me paga!
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Canção estrófica gravada por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 26 e His Master’s Voice, E.Q. 26).
Ambas as quadras pertencem à poesia “A Canção das Perdidas”, inserta no livro “Luar de Janeiro”, cuja 1ª edição ocorreu em 1909. Na sua versão original, o 3º verso da 1ª quadra é «Nasce água limpa na fonte» e, na 2ª quadra, o 3º verso é «Deu-me facadas. Deixá-lo».
Por José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
I – Um esclarecimento
A primeira versão deste texto foi editada no blog “guitarradecoimbra” no dia 21 de Outubro de 2005, apresentando lacunas resultantes das poucas fontes estão disponíveis. Felizmente, mercê de uma prestimosíssima colaboração, foi-nos possível suprir algumas das faltas de que o mesmo enfermava, à excepção de uma que ainda subsiste: “Quem era o cantor José Dias?”
Queremos aqui expressar e realçar os nossos especiais agradecimentos ao Dr. João Caramalho Domingues que voluntária e generosamente nos facultou uma preciosa ajuda, sem a qual não nos teria sido possível melhorar o nosso trabalho.
Aos cultores da Canção de Coimbra solicitamos, caso saibam, que nos digam, pois, quem seria José Dias.
II-Biografia desconhecida
José Dias, ou José(zito) Dias, gravou na década de 20, mais concretamente em Maio de 1927 e em Outubro de 1928, um total de 5 discos de 78 rpm. Quer na 1ª, quer na 2ª sessão, foi acompanhado em Guitarra de Coimbra de 17 pontos pelo Dr. Paulo de Sá (1891-1952). Quanto ao executante de violão de cordas de aço, sem provas definitivas, há fortes probabilidades de ter sido o habitual e anónimo acompanhante de Paulo de Sá, Prof. Doutor José Carlos Martins Moreira (Porto, 1895; Coimbra, 1977), Lente da Faculdade de Direito da UC e durante longíssimos anos Vice-Reitor da Alma Mater Conimbrigencis. Antigo orfeonista, antigo sócio da TAUC e renomado serenateiro, Moreira manteve após a formatura contactos frequentes com Paulo de Sá, em festas particulares e anualmente durante as férias de Verão na Assembleia da Praia da Granja.
Na Internet, (antigo site de José Rabaça aberto entre 1996-2005, http://www.cidadevirtual.pt/fadocoimbra) nas biografias dos “Cantores de Fado de Coimbra”, Dias vinha erradamente identificado como sendo o bispo D. José do Patrocínio Dias “Presunto” (Covilhã, 23-07-1884; Fátima, 24-10-1965). O mesmo lapso ocorre na obra de José Niza, “Fado de Coimbra. Um século de Fado”, Lisboa, EDICLUBE, 1999.
D. José do Patrocínio Dias, o Bispo-Soldado, foi aluno do Colégio S. Fiel dos Padres Jesuítas, da Guarda, depois da Faculdade de Teologia da UC entre 1902 e 1907, ano em que concluiu a formatura e se ordenou presbítero. Cónego em 1915, foi nomeado capelão do CEP na Grande Guerra de 1914-18 e daí o epíteto de Bispo-Soldado. Em 16-12-1920 foi eleito Bispo de Beja pelo Papa Bento XV.
O barítono José do Patrocínio, de alcunha Petrónio Teológico, sabia cantar lindamente e tocar guitarra. Herlander Ribeiro (Lisboa, 1887; Paris?, 1967) refere-o numa crónica de 1906 como destro jogador de cartas, inveterado e bem sucedido namorador, dandi no vestir, serenateiro, leitor voraz, apaixonado pelo teatro, gastador em coletes de fantasia e relógios de bolso. Havia quem lhe chamasse “Presunto”, pois todas as vezes que ia à Covilhã, trazia vistosos carregamentos de presuntos (Cf. Herlander Ribeiro, “Cartas de uma tricana. Coimbra de 1903 a 1908”, 3ª edição, Lisboa, 1936, págs. 15-16).
Numa biografia de D. José do Patrocínio Dias da autoria de C. J. Gonçalves Serpa, com mais de 500 páginas, impressa na União Gráfica, Lisboa, 1959, não há qualquer referência ao assunto, numa atitude de silenciamento idêntica à observada noutras figuras da cultura portuguesa activas na CC em fase juvenil, como o Prof. Doutor António Augusto Ferreira da Cruz (cantor activo entre 1927-1935, com militância no Fado Académico; antigo orfeonista) e o Prof. José Carlos Moreira. Na dita biografia a alcunha «Presunto» também não consta, nem mesmo quando refere os nomes de seus pais que, no caso da mãe, Claudina dos Prazeres, não grafa o apelido.
Pelas informações de que dispomos, o Bispo D. José Dias não gravou quaisquer discos e nada tem a ver com o cantor José Dias que efectuou gravações com Paulo de Sá nos finais da década de 1920. Repare-se que a 2ª grande ofensiva discográfica coimbrã ocorreu na 2ª metade da década de 1920, entre 1926-1929, coincidindo no plano interno com o fim da Primeira República (1910-1926) e com a instauração da Ditadura Militar. A Igreja Católica, severamente disciplinada pelo regime republicano anticlerical, procurava reconquistar prestígio social, não permitindo aos representantes das várias hierarquias atitudes que moral e culturalmente suscitassem ambivalências. O Padre Dr. João Augusto Antunes, de alcunha Padre Boi (1863-1931), afamado boémio e serenateiro nos anos de 1880-1890, homem de comes e de filhos, bem poderia ter gravados discos. Todavia não o fez. Para tanto terá contribuído a apertada vigilância disciplinar do bispo diocesano de Coimbra que via com maus olhos as condutas “excessivas” do lendário Padre Boi. Ora, se o Padre Boi manteve aqueles traços de personalidade e de conduta que um outro seu colega de arte, Raul Moreira Dinis, haveria de cultivar até ao fim da vida, o mesmo não se poderá dizer do Bispo Dr. D. José Dias que fez por esquecer os “pecadilhos de juventude”.
Em “O Notícias Ilustrado”, II Série, Nº 44, de 14 de Abril de 1929, vem um extenso inquérito sobre «Fado», com bastantes depoimentos e várias fotografias, desenhos e caricaturas. Na parte respeitante a gravações para a His Master’s Voice, referem-se os nomes dos cantores José Dias, Elísio de Matos, Armando Goes e Paradela de Oliveira. Traz vários retratos mas, dos cantores aqui referenciados, só figuram os de Armando Goes e de Paradela de Oliveira.
O Bispo Dr. D. José do Patrocínio saberia música, sendo servido por uma boa voz de barítono que na época despertava atenções de raparigas e admiradores masculinos. O José Dias que gravou para a HMV em 1927-1928 era um barítono vulgar, com uma expressividade interpretativa semelhante às de Alexandre Rezende e António Batoque. Era aquilo a que em Coimbra se chamava depreciativamente o “cantor de urinol” ou de “refugo”.
Estaremos em presença de um estudante da década de 1920, de um já então antigo estudante, ou de um desconhecido porventura residente em Coimbra, Lisboa, Praia da Granja, das amizades de Paulo de Sá e seus próximos? A título de achegas, lembre-se que no ano lectivo de 1922 integrou a lista da Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra um José Lopes Dias Júnior, sendo Presidente Lúcio de Almeida. Foi este mesmo José Lopes Dias Júnior que incorporou uma comissão de apoio à equipa de filmagens de “A Fonte dos Amores”, em Agosto/Setembro de 1923, à qual também pertenciam os académicos Manuel Falcão Machado e Osório Machado.
Nome um pouco semelhante era o do estudante José Dias dos Santos Coelho que em Fevereiro de 1923 se deslocou a Espanha, conjuntamente com universitários de Lisboa e do Porto, por incumbência do Ministro da Instrução, com vista a estudar as residências estudantis. O aluno supra-referido, tinha bons conhecimentos musicais, era amigo de Fernando Falcão Machado, e na década de 20 fez as composições “Queixumes” e “Quando a Cabra Toca”. Terminados os estudos, radicou-se no Porto, cidade onde leccionou Português em estreita colaboração com a Mocidade Portuguesa, facto que lhe valeu penoso saneamento em 1974.
Há fortes probabilidades de José DIAS ser o José Lopes Dias Júnior dirigente associativo, acima referido, amigo e protegido de Paulo de Sá, voz muito próxima dos círculos frequentados por Alexandre Rezende, José Parente, José Carlos Moreira e o próprio Paulo de Sá. O arrolamento dos títulos gravados por Dias é significativo quanto aos autores das composições.
José Dias gravou inicialmente 4 discos de 78 rpm, em Maio de 1927, para a His Master’s Voice, acompanhado em Guitarra Toeira de Coimbra, com uso de afinação natural, pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão aço, admitimos que possa ter sido o Prof. Doutor José Carlos Moreira (Cf. «Discografia de Elísio de Mattos e respectivas letras», neste blog). A relação destes primeiros quatro discos e respectivos compositores figura no «Catálogo para Portugal de Discos His Master’s Voice», referente a 1928, edição do Grande Bazar do Porto, impresso nas oficinas de “O Comércio do Porto”, pág. 5/71.
Tais discos foram inicialmente fabricados em Barcelona pela Compañia del Gramófono mas, como já pertencem à série «E.Q.», privativa do Grande Bazar do Porto, isso significa que foram produzidos depois da implementação do acordo de 1928 estabelecido entre a His Master’s Voice e o Grande Bazar do Porto.
José Dias voltou a gravar em Outubro de 1928 mas apenas foi editado mais um disco, embora tenha efectuado outras agravações (Fado de Aveiro e Fado da Enfermeira, pelo menos).
III – Matrizes fonográficas
Gravações efectuadas em Lisboa, no Teatro D. Luís, em Maio de 1927
Disco Gramófono, E.Q. 26
Disco His Master’s Voice, E.Q. 26
2-62567 – Fado da Mentira (Ninguém conhece no rosto)
2-62568– Fado do Luar (E Há no mundo quem afronte)
Disco Gramófono, E.Q. 27
Disco His Master’s Voice, E.Q. 27
2-62569– Fado Patriótico (Meu Portugal que mais queres)
2-62570– Fado Triste (Abri uma cova na areia)
Disco Gramófono, E.Q. 28
Disco His Master’s Voice, E.Q. 28
2-62571– Fado do Mondego (O Choupal anda, coitado)
2-62572– Fado de Coimbra (Deixem-me cantar o fado)
Disco Gramófono, E.Q. 29
Disco His Master’s Voice, E.Q. 29
2-62573 – A Maior Dor (Dizem que as mães querem mais)
2-62574 – Fado da Montanha (Quem por amor se perdeu)
Gravações efectuadas em Lisboa, Teatro de S. Luís, em 31 de Outubro de 1928
Disco His Master’s Voice, E.Q. 150
-Fado da Minha Mãe (Minha mãe é pobrezinha)
-Fado do Mar Largo (Ó mar largo, ó mar largo)
Disco His Master’s Voice (??)
-Fado da Enfermeira (??)
-Fado de Aveiro (??)
IV - Letras Cantadas
FADO DA MENTIRA (Ninguém conhece no rosto)
Música: Alexandre Augusto de Rezende Mendes (1886-1953)
Letra: 1ª e 2ª quadras de autor(es) não identificado(s)
Data: ca. 1907
Edição musical: Sassetti & C.ª, copyright de 1927
Ninguém conhece no rosto
O que a nossa alma inspira…
A vida é gosto e desgosto,
Mentira, tudo mentira.
A jura que me fizeste
De ser minha eternamente,
Por ser feita à beira d’água
Foi levada na corrente.
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica gravada por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão aço, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 26 e His Master’s Voice, E.Q. 26).
A edição musical tem capa de Stuart de Carvalhais e a letra que nela consta é a cantada e gravada por António Menano. Na dita edição vem a indicação de ser música de Alexandre Rezende mas é omissa quanto à autoria da letra que nela consta e que é a seguinte:
Ninguém conhece no rosto
O que a nossa alma inspira…
A vida é gosto e desgosto,
Mentira, tudo mentira.
A minh’alma, coitadita,
Não tem vestes, anda nua:
Ó por Deus dá-lhe um abrigo,
Dá-lhe um cantinho da tua.
Embora a edição musical seja omissa quanto à autoria da letra, a 2ª quadra é garantidamente popular e encontramo-la em Jaime Lopes Dias, “Etnografia da Beira”, Volume II, 1927. Em contrapartida, a dita edição musical traz bem patente a indicação «Célebre fado cantado por António Menano».
António Menano gravou este espécime em Maio de 1927, em Paris (Discos ODEON, 136.811 e A136.811, master Og 583). Gravação disponível em vinil (Álbum de Fados de Coimbra – António Menano, 1º disco, editado em 1985). Disponível também em compact disc:
Heritage HT CD 31, da Interstate Music, editado em 1995;
Arquivos do Fado/Tradisom, Vol. V, TRAD 012, cópia do anterior, editado em 1995;
CD António Menano – Fados, Vol. II, editado em Dezembro de 1995, com etiqueta Odeon.
Anota-se que entre o 3º e o 4º versos de cada estrofe António Menano introduz o vocalizo “ai”, no seu jeito habitual.
Vários têm sido os cantores, uns de Coimbra, outros não, que cantaram e gravaram este espécime, atribuindo erradamente a música a António Menano. Alguns alteram-lhe o título e/ou a letra, indo buscar para 2ª estrofe a conhecida quadra popular “Fiz uma cova na areia”, e até uma quadra do Fado dos Beijos: “Se tu quisesses ser minha”.
Gravações de outros cantores:
-CD “Orfeão Académico de Coimbra”, Ovação, OV-CD-012, de 1991: canta António Sutil Roque. Remasterização de um registo efectuado em 1961 com Jorge Tuna/Jorge Godinho (gg) e Durval Moreririnhas (v);
-CD “António Vecchi – Guitarra chora baixinho”, Movieplay, 30.279, editado em 1992;
-CD “Melro – Janita Salomé”, Movieplay, MP 13.001, editado em 1993; outra reedição no CD “Melro. Janita”, Lisboa, Movieplay, MOV 30. 406, ano de 1999, faixa nº 10, com o título estropiado para “Fiz uma cova na areia” e atribuição errada a António Menano. Remasterização de um LP vinil Orfeu, de 1980. Vocalização e fonética não coimbrãs, sendo o cantor acompanhado por Octávio Sérgio (g) e Durval Moreirinhas (v). De destacar o criativo arranjo de Octávio Sérgio;
-CD “Fernando Machado Soares”, Philips, 838 108-2, compilação de gravações de 1986 e 1988, sem data, faixa nº 4. Remasterização a partir do LP “Fernando Machado Soares. Coimbra tem mais encanto”, Polygram/Philips, 830 37-1, ano de 1986, Lado A, faixa nº 4, com atribuição errada de letra e de música a António Menano. Cantor acompanhado pelo executante de guitarra de Fado de Lisboa José Fontes Rocha e por Durval Moreirinhas (v). Arranjo de guitarra banalíssimo, com vocalização implosiva;
-CD “Fados e Guitarradas de Coimbra”, Lisboa, Movieplay, MOV. 30.425/A, editado em 2001, disco 1, faixa nº 2. Canta Adriano Correia de Oliveira. Remasterização do EP “Noite de Coimbra”, Porto, Orfeu, ATEP 6025, ano de 1960, com António Portugal/Eduardo Melo (gg), Durval Moreirinhas/Jorge Moutinho (vv nylon). Disponível também na antologia “Adriano. Obra completa”, Lisboa, Movieplay 35. 003, ano de 1994 (CD “Adriano. Fados e Baladas de Coimbra”, 35. 004, faixa nº 1, com imputação errada de autoria a António Menano). Vocalização bastante incipiente;
-cassete “Praxis Nova. Canções de Coimbra”, Porto, Fortes & Rangel, DCS-017, ano de 1989, face A, faixa nº 4, com atribuição errada a António Menano. Canta Luís Alcoforado, acompanhado por Paulo Soares/José Rabaça (gg) e Luís Carlos Santos/Carlos Costa (vv). Remasterização no CD “Praxis Nova. Percursos”, Porto, Fortes & Rangel, CDM 003, ano de 1998, faixa nº 4;
-CD “Balada das Capas Negras”, ESPACIAL,3200097, ano de 1995, faixa nº 5, estando a música correctamente atribuída a Alexandre Rezende. Canta José Horácio Miranda, acompanhado por Fernando Monteiro/António Lopes (gg) e Nuno Figueiredo/Luís Santos (vv).
FADO DO LUAR (E há no mundo quem afronte)
Música: Paulo de Sá (1891-1952)
Letra: Augusto César Ferreira Gil (1873-1929)
Edição musical: desconhecemos a sua existência
Data: ca. 1911-1912
E há no mundo quem afronte
Uma mulher quando cai!
Corre água limpa na fonte,
Quem a suja é quem lá vai…
O meu amor, por amá-lo,
Pôs-me o peito numa chaga:
Dá-me facadas. Deixá-lo
Mas ao menos não me paga!
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Canção estrófica gravada por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 26 e His Master’s Voice, E.Q. 26).
Ambas as quadras pertencem à poesia “A Canção das Perdidas”, inserta no livro “Luar de Janeiro”, cuja 1ª edição ocorreu em 1909. Na sua versão original, o 3º verso da 1ª quadra é «Nasce água limpa na fonte» e, na 2ª quadra, o 3º verso é «Deu-me facadas. Deixá-lo».
Não deve confundir-se este tema com outro de Francisco Menano, cujo título é "Sons do Luar".
FADO PATRIÓTICO (Meu Portugal que mais queres)
Música: António Paulo Menano (1895-1969), dedicada «Ao muito amigo Vasco Macieira»
Letra: 1ª e 2ª quadras de autor(es) não identificado(s)
Edição musical: Salão Mozart, de P. Santos & Cª
Data: 1918
Meu Portugal que mais queres,
Que mais hás-de desejar,
Se tens tão lidas mulheres
O teu fado e o teu luar?
Portugal nasce dum rio
E morre junto do mar.
Nascem águas, morrem águas,
O teu destino é chorar.
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica, gravada por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 27 e His Master’s Voice, E.Q. 27).
De notar que José Dias gravou este espécime antes de António Menano, pois este só o gravou pela primeira vez na Primavera de 1928, em Lisboa e, uma segunda vez, em Dezembro de 1928, em Berlim.
A 1ª quadra pertence à "Canção do Ribatejo" (Ó Portugal que mais queres), inserta em “Fados e Canções”, compilação de Veloso e Costa, edição de Empreza Litteraria Universal, de 1917, tendo sido também gravada por Lucas Junot no “Fado Corrido de Coimbra”. A letra gravada por António Menano, que é a que vem edição musical, é de Alfredo Fernandes Martins e é a seguinte:
Já se ouviu de serra em serra
A voz da Pátria, a gritar:
Tomai as armas, meus filhos,
Que temos de batalhar.
Erguei-vos novos e velhos,
A pé todos em geral!
Erguei-vos todos à uma
Para salvar Portugal.
Ninguém me diga que morre
A minha Pátria… ninguém!
Que primeiro que ela morra
Hemos nós morrer também!
Ó Pátria da minha mãe,
Ó minha mãe duas vezes:
São barreiras invencíveis
Os peitos dos portugueses!
A edição musical desta composição faz parte da série “Canções de Coimbra – Portugal”, impressa pela Litografia do Salão Mozart, de P. Santos & Cª., Rua Ivens, 52-54, Lisboa, cerca de 1918. A edição de que dispomos é a 4ª, publicada seguramente depois de 1922. Existe uma outra edição musical com duas composições, ambas para Orfeon, publicada também pelo Salão Mozart, com o “Fado Patriótico” e a “Balada Açoriana”.
António Menano gravou este espécime em Lisboa, na Primavera de 1928, um ano depois de José Dias (Discos Odeon 136.822 e A 136.822, master Og 656) e mais tarde em Berlim, em Dezembro de 1928 (Disco Odeon, LA 187.804, master Og 1024).
No canto, António Menano omitiu a 2ª estrofe, consequência das limitações de tempo impostas pelos discos de 78 rpm e, na última quadra, António Menano alterou o último verso, dizendo “feitos” em vez de “peitos”, julga-se que por lapso.
A gravação de Berlim encontra-se disponível em compact disc: CD “António Menano – Fados”, EMI 7243 8 34618 2 0, editado em Setembro de 1995.
FADO TRISTE (Abri uma cova na areia)
Música: Alexandre Augusto de Rezende Mendes (1886-1953)
Letra: 1ª quadra popular; 2ª quadra de Augusto César Ferreira Gil
Edição musical: desconhecida
Data: ca. 1910
Abri uma cova na areia
Pra enterrar a minha mágoa;
Entrou por ela o mar dentro,
(Ai2) Não encheu a cova d’água.
Nós temos o mesmo fado,
Ó fonte de água cantante:
Quem te quer, pára um bocado,
(Ai2) Quem não quer, passa adiante…
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica gravada por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 27 e His Master’s Voice, E.Q. 27).
A 1ª quadra é popular e encontramo-la na “Colecção das Mais Lindas Quadras Populares”, da Livraria Barateira, da Rua do Duque, bem como no “Cancioneiro Geral dos Açores” e no “Almanaque Ilustrado d’O Século”, do ano de 1917. A 2ª quadra é de Augusto Gil e pertence a “A CANÇÃO DAS PERDIDAS”, dedicada a José Viana da Mota (in “Luar de Janeiro”).
Em 1926-1927, esta mesma melodia, com o mesmo título, foi gravada pelo seu próprio autor, Alexandre Augusto de Rezende Mendes, acompanhado à guitarra por si próprio e por José Parente e, no violão, por Campos Costa (Disco Parlophone, B 33.506), com a seguinte letra:
Tive um só amor na terra
Que de um engano nasceu;
De enganos foi sua vida
(Ai2) E de um engano morreu.
Eu queria e ela queria,
Eu pedi, e ela negava,
Eu chegava, ela fugia,
(Ai2) Eu fugi e ela chorava.
Esta melodia não deve confundir-se com os seguintes títulos:
- Fado Triste (Os sinos daquela torre), gravado na 1ª década de 1920 por Carvalho de Oliveira (disco Pathé, 4050, master 201008);
- Fado Triste (Envolto nos teus cabelos), da 3ª série de “Fados e Canções Portuguezas cantadas por Manassés de Lacerda, para cylindros e discos de machinas fallantes”;
- Fado Triste (Minha mãe é pobrezinha), gravado por António Menano na Primavera de 1928, em Lisboa (discos Odeon, 136.822 e A 136.8223, master Og 689), e depois em Dezembro de 1928, em Berlim (disco Odeon, LA 187.804, master Og 1018);
- Fado Triste (Ó alvor das madrugadas), de Júlio Silva, em homenagem a António Nobre, no estilo Lisboa, feito em 1902;
- Fado Triste (Tristezas e mais tristezas), letra de Vicente Arnoso, música de Alberto Sarti.
FADO PATRIÓTICO (Meu Portugal que mais queres)
Música: António Paulo Menano (1895-1969), dedicada «Ao muito amigo Vasco Macieira»
Letra: 1ª e 2ª quadras de autor(es) não identificado(s)
Edição musical: Salão Mozart, de P. Santos & Cª
Data: 1918
Meu Portugal que mais queres,
Que mais hás-de desejar,
Se tens tão lidas mulheres
O teu fado e o teu luar?
Portugal nasce dum rio
E morre junto do mar.
Nascem águas, morrem águas,
O teu destino é chorar.
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica, gravada por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 27 e His Master’s Voice, E.Q. 27).
De notar que José Dias gravou este espécime antes de António Menano, pois este só o gravou pela primeira vez na Primavera de 1928, em Lisboa e, uma segunda vez, em Dezembro de 1928, em Berlim.
A 1ª quadra pertence à "Canção do Ribatejo" (Ó Portugal que mais queres), inserta em “Fados e Canções”, compilação de Veloso e Costa, edição de Empreza Litteraria Universal, de 1917, tendo sido também gravada por Lucas Junot no “Fado Corrido de Coimbra”. A letra gravada por António Menano, que é a que vem edição musical, é de Alfredo Fernandes Martins e é a seguinte:
Já se ouviu de serra em serra
A voz da Pátria, a gritar:
Tomai as armas, meus filhos,
Que temos de batalhar.
Erguei-vos novos e velhos,
A pé todos em geral!
Erguei-vos todos à uma
Para salvar Portugal.
Ninguém me diga que morre
A minha Pátria… ninguém!
Que primeiro que ela morra
Hemos nós morrer também!
Ó Pátria da minha mãe,
Ó minha mãe duas vezes:
São barreiras invencíveis
Os peitos dos portugueses!
A edição musical desta composição faz parte da série “Canções de Coimbra – Portugal”, impressa pela Litografia do Salão Mozart, de P. Santos & Cª., Rua Ivens, 52-54, Lisboa, cerca de 1918. A edição de que dispomos é a 4ª, publicada seguramente depois de 1922. Existe uma outra edição musical com duas composições, ambas para Orfeon, publicada também pelo Salão Mozart, com o “Fado Patriótico” e a “Balada Açoriana”.
António Menano gravou este espécime em Lisboa, na Primavera de 1928, um ano depois de José Dias (Discos Odeon 136.822 e A 136.822, master Og 656) e mais tarde em Berlim, em Dezembro de 1928 (Disco Odeon, LA 187.804, master Og 1024).
No canto, António Menano omitiu a 2ª estrofe, consequência das limitações de tempo impostas pelos discos de 78 rpm e, na última quadra, António Menano alterou o último verso, dizendo “feitos” em vez de “peitos”, julga-se que por lapso.
A gravação de Berlim encontra-se disponível em compact disc: CD “António Menano – Fados”, EMI 7243 8 34618 2 0, editado em Setembro de 1995.
FADO TRISTE (Abri uma cova na areia)
Música: Alexandre Augusto de Rezende Mendes (1886-1953)
Letra: 1ª quadra popular; 2ª quadra de Augusto César Ferreira Gil
Edição musical: desconhecida
Data: ca. 1910
Abri uma cova na areia
Pra enterrar a minha mágoa;
Entrou por ela o mar dentro,
(Ai2) Não encheu a cova d’água.
Nós temos o mesmo fado,
Ó fonte de água cantante:
Quem te quer, pára um bocado,
(Ai2) Quem não quer, passa adiante…
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica gravada por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 27 e His Master’s Voice, E.Q. 27).
A 1ª quadra é popular e encontramo-la na “Colecção das Mais Lindas Quadras Populares”, da Livraria Barateira, da Rua do Duque, bem como no “Cancioneiro Geral dos Açores” e no “Almanaque Ilustrado d’O Século”, do ano de 1917. A 2ª quadra é de Augusto Gil e pertence a “A CANÇÃO DAS PERDIDAS”, dedicada a José Viana da Mota (in “Luar de Janeiro”).
Em 1926-1927, esta mesma melodia, com o mesmo título, foi gravada pelo seu próprio autor, Alexandre Augusto de Rezende Mendes, acompanhado à guitarra por si próprio e por José Parente e, no violão, por Campos Costa (Disco Parlophone, B 33.506), com a seguinte letra:
Tive um só amor na terra
Que de um engano nasceu;
De enganos foi sua vida
(Ai2) E de um engano morreu.
Eu queria e ela queria,
Eu pedi, e ela negava,
Eu chegava, ela fugia,
(Ai2) Eu fugi e ela chorava.
Esta melodia não deve confundir-se com os seguintes títulos:
- Fado Triste (Os sinos daquela torre), gravado na 1ª década de 1920 por Carvalho de Oliveira (disco Pathé, 4050, master 201008);
- Fado Triste (Envolto nos teus cabelos), da 3ª série de “Fados e Canções Portuguezas cantadas por Manassés de Lacerda, para cylindros e discos de machinas fallantes”;
- Fado Triste (Minha mãe é pobrezinha), gravado por António Menano na Primavera de 1928, em Lisboa (discos Odeon, 136.822 e A 136.8223, master Og 689), e depois em Dezembro de 1928, em Berlim (disco Odeon, LA 187.804, master Og 1018);
- Fado Triste (Ó alvor das madrugadas), de Júlio Silva, em homenagem a António Nobre, no estilo Lisboa, feito em 1902;
- Fado Triste (Tristezas e mais tristezas), letra de Vicente Arnoso, música de Alberto Sarti.
Não deve confundir-se este tema com "Triste" (Ai daqueles que só amam), de Fortunato Roma da Fonseca, gravado por Lucas Junot e António Batoque.
FADO DO MONDEGO (O Choupal anda, coitado)
Música: Alexandre Augusto de Rezende Mendes (1886-1953)
Letra: 1ª quadra de João Maria da Silva de Lebre e Lima (1889-1959); 2ª quadra popular
Data. ca. 1912-1915
Edição musical: desconhecida
O Choupal anda, coitado,
Num triste desassossego,
Por ter morrido afogado
Um rouxinol no Mondego.
Igreja de Santa Cruz,
Feita de pedra morena,
Dentro de ti ouvem missa
Dois olhos que me dão pena.
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação disponível:
Composição estrófica gravado por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, no violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 28 e His Master’s Voice, E.Q. 28).
A 1ª quadra, da poesia “Rio Mondego”, de João de Lebre e Lima, encontramo-la na colectânea “Poetas de Coimbra”, compilação de Silvina e João Carlos Celestino Gomes, edição da Comissão Organizadora do Salão dos Estudantes de Coimbra, em Lisboa, na Casa das Beiras, 1939. A 2ª quadra é popular, já como tal referenciada por José Leite de Vasconcelos em “Opúsculos, Volume VI, Dialectologia, Parte II”, 1892.
Não confundir esta composição com as seguintes diversas:
- Fado Mondego (Quisera que tu me amasses), gravado por volta de 1926 por Luiz Macieira, (disco Odeon, 136.270, master Og 533), cuja música é a do Fado dos Passarinhos de António Menano;
- Fado Mondego (Água que passas coleante), música de Jorge Possollo de Leão e Carvalho, letra de Mário Machado, cuja edição musical remonta ao início dos anos 20.
FADO DE COIMBRA (Deixem-me cantar o fado)
Música: Paulo de Sá (1891-1952)
Letra: 1ª quadra de autor desconhecido; 2ª quadra de Augusto César Ferreira Gil
Edição musical: desconhecida
Data: ca. 1912
Deixem-me cantar o fado,
Não faço mal a ninguém.
Eu canto só pra espalhar
Mágoas que me dá o meu Bem.
Amas a Nosso Senhor
Que morreu por toda a gente,
Só a mim não tens amor
Que morro por ti somente.
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica gravado por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 28 e His Master’s Voice, E.Q. 28).
A 2ª quadra está muito popularizada mas é de Augusto Gil e encontramo-la no seu livro “Versos”, cuja 1ª edição é de 1898.
António Menano gravou este mesmo espécime na Primavera de 1928, em Lisboa (discos Odeon, 136.819 e A 136.819, master Og 691, já disponível em CD desde 1995), sob o título “Fado da Mágoa” (Fiz uma cova na areia), com a seguinte letra:
Fiz uma cova na areia
Para enterrar a minha mágoa;
Entrou por ela o mar todo,
Não encheu a cova d’água.
Tu de longe e eu de longe,
Tu sozinha e eu sozinho;
Ó quem pudesse, ai, fazer
Uma prega no caminho.
Cerejas, frescas, vermelhas,
Suspensas pelos caminhos,
Sois os brincos das orelhas
Das filhas dos pobrezinhos.
A música é também a de “Fado de Coimbra” (Nossa Senhora da Graça), gravado em 1929 por Armando Goes, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (disco His Master’s Voice, E.Q. 245), cuja letra é a seguinte:
Nossa Senhora da Graça,
Que tantos milagres fazes,
‘stou de mal com meu amor,
Senhora fazei as pazes.
Falas de amor só as sabem
Os cegos de olhar profundo;
Há palavras que não cabem
Em toda a luz deste mundo.
Com ligeiras diferenças, foi gravado por António Bernardino em 1967, sob o título “Um Fado de Coimbra”, acompanhado à guitarra por António Portugal e Manuel Borralho e, à viola, por Rui Pato (EP Fados de Coimbra, Alvorada, AEP 60817) e, posteriormente, em 1983, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe álbum “Tempo(s) de Coimbra”, editado em 1984, o qual desde 1992 se encontra disponível em CD, com reedição em 1995.
Gravado, em 1960, por João Barros Madeira, acompanhado à guitarra por Jorge Tuna e Jorge Godinho e, à viola, por Durval Moreirinhas e José Tito MacKay (EP “Balada”, Rapsódia, EPF 5.092, de 45 rpm); esta gravação, passados quase 20 anos, foi integrada no LP Coimbra, Rapsódia, LDF 044, editado em 1976); neste LP, além de Francisco Gregório Bandeira Mateus, como autor da letra, figura João Barros Madeira, como autor da música, o que é estranho e não está correcto. A letra que canta é a seguinte:
Teus olhos verdes, gaiatos,
São mais profundos que o mar;
Espelhos de um coração
Que escondes do meu olhar.
Teus olhos da cor do mar
São duas ondas serenas,
Duas velas do altar
Onde rezo as minhas penas.
Gravado, em 1968, com o mesmo título e letra, por Manuel Duarte Branquinho, acompanhado à guitarra por si próprio e por Francisco Dias e, à viola, por Manuel José Dourado (Disco Orfeu, ATEP 6409, de 45 rpm); disponível em long play (LP Orfeu, ST-109) e em compact disc: CD “Clássicos da Renascença – Manuel Branquinho”, Movieplay, MOV. 31.029, editado em 2000;
Nos discos de Manuel Branquinho figura o nome de Paulo de Sá como autor, música e letra, o que também não está correcto.
Gravado sob o título “Olhos Verdes Gaiatos”, por Carlos Costa, cantor activo na Região do Porto, acompanhado à guitarra por Joaquim Martins, Armando Martins e Luis de Sousa e, à viola, por José Martins e Aníbal Ramos (LP Fados de Coimbra, Ofir, AMS 324); neste disco a autoria vem atribuída a João Barros Madeira, que foi quem gravou esta versão pela primeira vez.
A MAIOR DOR (Dizem que as mães querem mais)
Música: Paulo de Sá (1891-1952)
Letra: 1ª quadra de Horácio Menano (1912); 2ª quadra de Alfredo Fernandes Martins (1916)
Edição musical: Livraria Neves, de Coimbra (1916)
Data: 1916
Dizem que as mães querem mais
Ao filho que mais mal faz…
Por isso eu te quero tanto
Que tantas mágoas me dás!
E pra ser mais desgraçado
No mundo do que ninguém,
Basta nunca ter andado
Ao colo da minha mãe!
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica gravada por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 29 e His Master’s Voice, E.Q. 29).
José Dias alterou a 1ª quadra ao introduzir o pronome pessoal «eu» no 3º verso da versão original de Horácio Menano.
A letra original de A MAIOR DOR consta da respectiva edição musical, compreende quatro quadras, todas da autoria de Alfredo Fernandes Martins, que são as seguintes:
Quando me vires passar
D’olhos pregados no chão,
Não me perguntes que trago
Dentro do meu coração.
Que a minha dor é tão grande,
Que, se eu a fosse contar,
Não haveria ninguém
Que não rompesse a chorar.
Pois, mal nasci – Ai de mim!
Leu-me a desgraça o meu fado.
Era negro, só dizia:
Hás-de ser um desgraçado.
E pra eu ser mais desgraçado
No mundo do que ninguém,
Basta nunca ter andado
Ao colo de minha mãe!
António Menano gravou este espécime na Primavera de 1928, em Lisboa, com o mesmo título mas com uma outra letra (discos Odeon, 136.820 e A 136.820, master Og 672). Nestes dois discos vem o nome de Paulo de Sá e a indicação de ser uma “canção”, contrariando o classificativo de “fado” que consta na edição musical editada em 1916. Tal gravação encontra-se disponível em compact disc: CD "António Menano – Fados", Vol. II, editado em Dezembro de 1995.
A letra cantada por António Menano é a seguinte:
Sou pobre, valha-me Deus,
Mais pobre que Pedro Cem!
Ele perdeu terras e céus
E eu perdi a minha mãe!
Vai-se a noite e vem o dia
E eu não deixo de cismar:
– Mas que mal é que eu faria
Prà minha mãe me deixar?!
Em má hora eu nasci,
Em má hora digo bem!
Porque nunca conheci
A santa da minha mãe!
Por sua vez, estas três quadras constituem também, mas por ordem inversa, a letra com que António Menano gravou, na Primavera de 1928, em Lisboa, o Fado Maria Vitória (Em má hora eu nasci), gravação presentemente disponível no CD António Menano – Fados, EMI-VC 7243 8 34618 2 0, editado em Setembro de 1995, proveniente do master Og 695 (discos Odeon, 136.816 e A 136.816).
FADO DA MONTANHA (Quem por amor se perdeu)
Música: Alexandre Augusto de Rezende Mendes (1886-1953)
Letra: Augusto César Ferreira Gil (1909)
Edição musical: desconhecida
Data: ca. 1920
Quem por amor se perdeu
Não chore, não tenha pena.
Que uma das santas do céu
– É Maria Madalena...
Se aquilo que a gente sente,
Cá dentro, tivesse voz,
Muita gente... toda a gente
Teria pena de nós!
Canta-se o 1º dístico, repete-se; canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica gravada por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 29 e His Master’s Voice, E.Q. 29).
A letra é de Augusto Gil. As duas quadras pertencem a “A CANÇÃO DAS PERDIDAS”, dedicada a José Viana da Mota (Cf. “Luar de Janeiro”, 10ª edição, Lisboa, Portugália, págs. 125 a 132). No dito disco vem a indicação de a música ser de Alexandre de Rezende. Divaldo de Freitas também refere ser a dita música da autoria de Alexandre de Rezende (“Emudecem Rouxinóis do Mondego”, 1ª série, pág. 28).
A 1ª quadra de Augusto Gil andou em moda no primeiro quartel do século XX. Além de “Fado da Montanha”, ocorria em melodias de Francisco Menano. De referir um fado corrido de Lisboa, intitulado “Maria Madalena”, gravado pela fadista Lucília do Carmo, registado na Polygram em 1986, com indicações de música popular e letra de Gabriel de Oliveira. Ora a 1ª quadra (=mote) não pode de forma alguma ser de Gabriel de Oliveira pois é transladada de Augusto Gil. Apenas as quatro quadras que constituem a glosa cantada por Lucília do Carmo é que são garantidamente de Gabriel de Oliveira. Este erro aparece repetido no CD “Um Século de Fado/Lucília do Carmo”, Ediclube, ano de 1999, faixa nº 8, com reiteração em “O Fado do Público. 100 anos de fado. 1904.2004”, Lisboa, 2004: CD nº 1, faixa nº 4.
FADO DA MINHA MÃE (Minha mãe é pobrezinha)
Música: Alexandre Augusto de Rezende Mendes (1886-1953)
Letra: 1ª quadra popular; 2ª quadra: Horácio Menano (1912)
Edição musical: desconhecida
Data. ca. 1912-1915
Minha mãe é pobrezinha,
Não tem nada que me dar;
Dá-me beijos, coitadinha,
E depois fica a chorar.
Dizem que as mães querem mais
Ao filho que mais mal faz...
Por isso eu te quero tanto
Que tantas mágoas as me dás!
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se
Informação complementar:
Fado estrófico, com melodia ao estilo de Lisboa em tom menor, gravado por José Dias em Outubro de 1928, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Disco His Master’s Voice, E.Q. 150).
A música é a mesma do “Fado Triste” (Minha mãe é pobrezinha), gravado por António Menano por duas vezes: primeiro em Lisboa, na Primavera de 1928, e depois, em Berlim, no mês de Dezembro de 1928. Menano sabia perfeitamente que a música era de Rezende, mas optou pela indicação de “popular” na etiqueta dos seus discos. A letra que a seguir se apresenta, toda ela popular, é a da gravação de Lisboa (discos Odeon, 136822 e A136822, master Og 689):
Minha mãe é pobrezinha,
Não tem nada que me dar;
Dá-me beijos, coitadinha,
E depois põe-se a chorar!
Esta noite sonhei eu
Que morrera a minha mãe…
Acordei pedindo a Deus
Que me levasse também!
Ó minha mãe, minha mãe,
Que Deus levou para si,
Ó minha santa mezinha
Eu quero ir prò pé de ti.
Na gravação de Berlim António Menano omite a 3ª quadra e, na 2ª, altera ligeiramente o 3º verso para: Acordei, pedi a Deus (disco Odeon, LA 187804 master Og 1018).
Registo disponível em compac disc (CD António Menano – Fados, Vol. II, EMI-VC 7243 8 36445 2 0, editado em Dezembro de 1995 sob etiqueta Odeon).
Fado gravado igualmente, por volta de 1926, pela mezzo soprano D. Luiza Baharém (Disco Columbia, 1032-X, master P.147, de 78 rpm), sob o título “Fado Mondego” (Minha mãe é pobrezinha), com a seguinte letra:
Minha mãe é pobrezinha,
Não tem nada que me dar;
Dá-me beijos, coitadinha,
E depois fica a chorar.
O xaile da minha mãe,
Tão velhinho e remendado,
Onde eu me sentia tão bem
Quando nele agasalhado.
Bendita seja a pobreza,
Não envergonha ninguém,
A mãe de Deus era pobre
E Jesus pobre também.
Não dispomos de dados biográficos sobre a vida e obra desta cantora activa em Lisboa.
FADO DO MONDEGO (O Choupal anda, coitado)
Música: Alexandre Augusto de Rezende Mendes (1886-1953)
Letra: 1ª quadra de João Maria da Silva de Lebre e Lima (1889-1959); 2ª quadra popular
Data. ca. 1912-1915
Edição musical: desconhecida
O Choupal anda, coitado,
Num triste desassossego,
Por ter morrido afogado
Um rouxinol no Mondego.
Igreja de Santa Cruz,
Feita de pedra morena,
Dentro de ti ouvem missa
Dois olhos que me dão pena.
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação disponível:
Composição estrófica gravado por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, no violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 28 e His Master’s Voice, E.Q. 28).
A 1ª quadra, da poesia “Rio Mondego”, de João de Lebre e Lima, encontramo-la na colectânea “Poetas de Coimbra”, compilação de Silvina e João Carlos Celestino Gomes, edição da Comissão Organizadora do Salão dos Estudantes de Coimbra, em Lisboa, na Casa das Beiras, 1939. A 2ª quadra é popular, já como tal referenciada por José Leite de Vasconcelos em “Opúsculos, Volume VI, Dialectologia, Parte II”, 1892.
Não confundir esta composição com as seguintes diversas:
- Fado Mondego (Quisera que tu me amasses), gravado por volta de 1926 por Luiz Macieira, (disco Odeon, 136.270, master Og 533), cuja música é a do Fado dos Passarinhos de António Menano;
- Fado Mondego (Água que passas coleante), música de Jorge Possollo de Leão e Carvalho, letra de Mário Machado, cuja edição musical remonta ao início dos anos 20.
FADO DE COIMBRA (Deixem-me cantar o fado)
Música: Paulo de Sá (1891-1952)
Letra: 1ª quadra de autor desconhecido; 2ª quadra de Augusto César Ferreira Gil
Edição musical: desconhecida
Data: ca. 1912
Deixem-me cantar o fado,
Não faço mal a ninguém.
Eu canto só pra espalhar
Mágoas que me dá o meu Bem.
Amas a Nosso Senhor
Que morreu por toda a gente,
Só a mim não tens amor
Que morro por ti somente.
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica gravado por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 28 e His Master’s Voice, E.Q. 28).
A 2ª quadra está muito popularizada mas é de Augusto Gil e encontramo-la no seu livro “Versos”, cuja 1ª edição é de 1898.
António Menano gravou este mesmo espécime na Primavera de 1928, em Lisboa (discos Odeon, 136.819 e A 136.819, master Og 691, já disponível em CD desde 1995), sob o título “Fado da Mágoa” (Fiz uma cova na areia), com a seguinte letra:
Fiz uma cova na areia
Para enterrar a minha mágoa;
Entrou por ela o mar todo,
Não encheu a cova d’água.
Tu de longe e eu de longe,
Tu sozinha e eu sozinho;
Ó quem pudesse, ai, fazer
Uma prega no caminho.
Cerejas, frescas, vermelhas,
Suspensas pelos caminhos,
Sois os brincos das orelhas
Das filhas dos pobrezinhos.
A música é também a de “Fado de Coimbra” (Nossa Senhora da Graça), gravado em 1929 por Armando Goes, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (disco His Master’s Voice, E.Q. 245), cuja letra é a seguinte:
Nossa Senhora da Graça,
Que tantos milagres fazes,
‘stou de mal com meu amor,
Senhora fazei as pazes.
Falas de amor só as sabem
Os cegos de olhar profundo;
Há palavras que não cabem
Em toda a luz deste mundo.
Com ligeiras diferenças, foi gravado por António Bernardino em 1967, sob o título “Um Fado de Coimbra”, acompanhado à guitarra por António Portugal e Manuel Borralho e, à viola, por Rui Pato (EP Fados de Coimbra, Alvorada, AEP 60817) e, posteriormente, em 1983, acompanhado à guitarra por António Brojo e António Portugal e, à viola, por Aurélio Reis e Luis Filipe álbum “Tempo(s) de Coimbra”, editado em 1984, o qual desde 1992 se encontra disponível em CD, com reedição em 1995.
Gravado, em 1960, por João Barros Madeira, acompanhado à guitarra por Jorge Tuna e Jorge Godinho e, à viola, por Durval Moreirinhas e José Tito MacKay (EP “Balada”, Rapsódia, EPF 5.092, de 45 rpm); esta gravação, passados quase 20 anos, foi integrada no LP Coimbra, Rapsódia, LDF 044, editado em 1976); neste LP, além de Francisco Gregório Bandeira Mateus, como autor da letra, figura João Barros Madeira, como autor da música, o que é estranho e não está correcto. A letra que canta é a seguinte:
Teus olhos verdes, gaiatos,
São mais profundos que o mar;
Espelhos de um coração
Que escondes do meu olhar.
Teus olhos da cor do mar
São duas ondas serenas,
Duas velas do altar
Onde rezo as minhas penas.
Gravado, em 1968, com o mesmo título e letra, por Manuel Duarte Branquinho, acompanhado à guitarra por si próprio e por Francisco Dias e, à viola, por Manuel José Dourado (Disco Orfeu, ATEP 6409, de 45 rpm); disponível em long play (LP Orfeu, ST-109) e em compact disc: CD “Clássicos da Renascença – Manuel Branquinho”, Movieplay, MOV. 31.029, editado em 2000;
Nos discos de Manuel Branquinho figura o nome de Paulo de Sá como autor, música e letra, o que também não está correcto.
Gravado sob o título “Olhos Verdes Gaiatos”, por Carlos Costa, cantor activo na Região do Porto, acompanhado à guitarra por Joaquim Martins, Armando Martins e Luis de Sousa e, à viola, por José Martins e Aníbal Ramos (LP Fados de Coimbra, Ofir, AMS 324); neste disco a autoria vem atribuída a João Barros Madeira, que foi quem gravou esta versão pela primeira vez.
A MAIOR DOR (Dizem que as mães querem mais)
Música: Paulo de Sá (1891-1952)
Letra: 1ª quadra de Horácio Menano (1912); 2ª quadra de Alfredo Fernandes Martins (1916)
Edição musical: Livraria Neves, de Coimbra (1916)
Data: 1916
Dizem que as mães querem mais
Ao filho que mais mal faz…
Por isso eu te quero tanto
Que tantas mágoas me dás!
E pra ser mais desgraçado
No mundo do que ninguém,
Basta nunca ter andado
Ao colo da minha mãe!
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica gravada por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 29 e His Master’s Voice, E.Q. 29).
José Dias alterou a 1ª quadra ao introduzir o pronome pessoal «eu» no 3º verso da versão original de Horácio Menano.
A letra original de A MAIOR DOR consta da respectiva edição musical, compreende quatro quadras, todas da autoria de Alfredo Fernandes Martins, que são as seguintes:
Quando me vires passar
D’olhos pregados no chão,
Não me perguntes que trago
Dentro do meu coração.
Que a minha dor é tão grande,
Que, se eu a fosse contar,
Não haveria ninguém
Que não rompesse a chorar.
Pois, mal nasci – Ai de mim!
Leu-me a desgraça o meu fado.
Era negro, só dizia:
Hás-de ser um desgraçado.
E pra eu ser mais desgraçado
No mundo do que ninguém,
Basta nunca ter andado
Ao colo de minha mãe!
António Menano gravou este espécime na Primavera de 1928, em Lisboa, com o mesmo título mas com uma outra letra (discos Odeon, 136.820 e A 136.820, master Og 672). Nestes dois discos vem o nome de Paulo de Sá e a indicação de ser uma “canção”, contrariando o classificativo de “fado” que consta na edição musical editada em 1916. Tal gravação encontra-se disponível em compact disc: CD "António Menano – Fados", Vol. II, editado em Dezembro de 1995.
A letra cantada por António Menano é a seguinte:
Sou pobre, valha-me Deus,
Mais pobre que Pedro Cem!
Ele perdeu terras e céus
E eu perdi a minha mãe!
Vai-se a noite e vem o dia
E eu não deixo de cismar:
– Mas que mal é que eu faria
Prà minha mãe me deixar?!
Em má hora eu nasci,
Em má hora digo bem!
Porque nunca conheci
A santa da minha mãe!
Por sua vez, estas três quadras constituem também, mas por ordem inversa, a letra com que António Menano gravou, na Primavera de 1928, em Lisboa, o Fado Maria Vitória (Em má hora eu nasci), gravação presentemente disponível no CD António Menano – Fados, EMI-VC 7243 8 34618 2 0, editado em Setembro de 1995, proveniente do master Og 695 (discos Odeon, 136.816 e A 136.816).
FADO DA MONTANHA (Quem por amor se perdeu)
Música: Alexandre Augusto de Rezende Mendes (1886-1953)
Letra: Augusto César Ferreira Gil (1909)
Edição musical: desconhecida
Data: ca. 1920
Quem por amor se perdeu
Não chore, não tenha pena.
Que uma das santas do céu
– É Maria Madalena...
Se aquilo que a gente sente,
Cá dentro, tivesse voz,
Muita gente... toda a gente
Teria pena de nós!
Canta-se o 1º dístico, repete-se; canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica gravada por José Dias em Maio de 1927, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Discos Gramófono, E.Q. 29 e His Master’s Voice, E.Q. 29).
A letra é de Augusto Gil. As duas quadras pertencem a “A CANÇÃO DAS PERDIDAS”, dedicada a José Viana da Mota (Cf. “Luar de Janeiro”, 10ª edição, Lisboa, Portugália, págs. 125 a 132). No dito disco vem a indicação de a música ser de Alexandre de Rezende. Divaldo de Freitas também refere ser a dita música da autoria de Alexandre de Rezende (“Emudecem Rouxinóis do Mondego”, 1ª série, pág. 28).
A 1ª quadra de Augusto Gil andou em moda no primeiro quartel do século XX. Além de “Fado da Montanha”, ocorria em melodias de Francisco Menano. De referir um fado corrido de Lisboa, intitulado “Maria Madalena”, gravado pela fadista Lucília do Carmo, registado na Polygram em 1986, com indicações de música popular e letra de Gabriel de Oliveira. Ora a 1ª quadra (=mote) não pode de forma alguma ser de Gabriel de Oliveira pois é transladada de Augusto Gil. Apenas as quatro quadras que constituem a glosa cantada por Lucília do Carmo é que são garantidamente de Gabriel de Oliveira. Este erro aparece repetido no CD “Um Século de Fado/Lucília do Carmo”, Ediclube, ano de 1999, faixa nº 8, com reiteração em “O Fado do Público. 100 anos de fado. 1904.2004”, Lisboa, 2004: CD nº 1, faixa nº 4.
FADO DA MINHA MÃE (Minha mãe é pobrezinha)
Música: Alexandre Augusto de Rezende Mendes (1886-1953)
Letra: 1ª quadra popular; 2ª quadra: Horácio Menano (1912)
Edição musical: desconhecida
Data. ca. 1912-1915
Minha mãe é pobrezinha,
Não tem nada que me dar;
Dá-me beijos, coitadinha,
E depois fica a chorar.
Dizem que as mães querem mais
Ao filho que mais mal faz...
Por isso eu te quero tanto
Que tantas mágoas as me dás!
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se
Informação complementar:
Fado estrófico, com melodia ao estilo de Lisboa em tom menor, gravado por José Dias em Outubro de 1928, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Disco His Master’s Voice, E.Q. 150).
A música é a mesma do “Fado Triste” (Minha mãe é pobrezinha), gravado por António Menano por duas vezes: primeiro em Lisboa, na Primavera de 1928, e depois, em Berlim, no mês de Dezembro de 1928. Menano sabia perfeitamente que a música era de Rezende, mas optou pela indicação de “popular” na etiqueta dos seus discos. A letra que a seguir se apresenta, toda ela popular, é a da gravação de Lisboa (discos Odeon, 136822 e A136822, master Og 689):
Minha mãe é pobrezinha,
Não tem nada que me dar;
Dá-me beijos, coitadinha,
E depois põe-se a chorar!
Esta noite sonhei eu
Que morrera a minha mãe…
Acordei pedindo a Deus
Que me levasse também!
Ó minha mãe, minha mãe,
Que Deus levou para si,
Ó minha santa mezinha
Eu quero ir prò pé de ti.
Na gravação de Berlim António Menano omite a 3ª quadra e, na 2ª, altera ligeiramente o 3º verso para: Acordei, pedi a Deus (disco Odeon, LA 187804 master Og 1018).
Registo disponível em compac disc (CD António Menano – Fados, Vol. II, EMI-VC 7243 8 36445 2 0, editado em Dezembro de 1995 sob etiqueta Odeon).
Fado gravado igualmente, por volta de 1926, pela mezzo soprano D. Luiza Baharém (Disco Columbia, 1032-X, master P.147, de 78 rpm), sob o título “Fado Mondego” (Minha mãe é pobrezinha), com a seguinte letra:
Minha mãe é pobrezinha,
Não tem nada que me dar;
Dá-me beijos, coitadinha,
E depois fica a chorar.
O xaile da minha mãe,
Tão velhinho e remendado,
Onde eu me sentia tão bem
Quando nele agasalhado.
Bendita seja a pobreza,
Não envergonha ninguém,
A mãe de Deus era pobre
E Jesus pobre também.
Não dispomos de dados biográficos sobre a vida e obra desta cantora activa em Lisboa.
Não confundir esta melodia com outra diferente, "Minha Mãe" (Minha mãe é pobrezinha), com a qual partilha quadras idênticas, gravada por Carlos Leal no final da década de 1920.
FADO DO MAR LARGO (Ó mar largo, ó mar largo)
Música: Paulo de Sá (1891-1953), dedicada «Ao José Paradela».
Letra: 1ª e 2ª quadras populares
Edição musical: Sassetti e C.ª (c/capa de Stuart de Carvalhais)
Data: ca. 1926-1927
Ó mar largo, ó mar largo,
Ó mar largo sem ter fundo,
Mais vale andar no mar largo
Que andar nas bocas do mundo.
A sereia quando canta,
Canta no meio do mar;
Quantos navios se perdem
Por causa do seu cantar.
Canta-se o 1º dístico, repete-se canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica com dissonâncias, gravada por José Dias, em Outubro de 1928, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Disco His Master’s Voice, EQ 150).
O título, letra, autoria da música e dedicatória constam na edição musical da Sassetti, copyright de 1927, mas a edição é omissa quanto à autoria da letra. Tudo indica que a composição foi feita no rescaldo da digressão em que o autor acompanhou a TAUC ao Brasil no Verão de 1925.
A 1ª quadra encontra-se em vários cancioneiros, no de Leite de Vasconcelos, no de Ataíde de Oliveira e no de Pires de Lima, no da Cova da Beira, nos “Tesouros da Literatura Popular Portuguesa” e noutros. A 2ª quadra é muito antiga, tem diversas variantes e provém da crença nas sereias, que enganavam os navios e desgraçavam os navegantes, ideia que já vem da antiguidade clássica. Sobre este assunto, cf. José Leite de Vasconcelos, “Tradições Populares de Portugal”, edição de 1882, a págs. 82, 83, 286 e 287; Teófilo Braga, “Contos Tradicionais do Povo Português”, II volume, págs. 36 e 37; Fernando de Castro Pires de Lima, “A sereia da história e na lenda”, Porto, 1952.
Tema gravado em 1928 com esta mesma letra e título, por Elísio de Matos, acompanhado à guitarra pelo próprio Dr. Paulo de Sá e, em violão aço, pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira, que preferiu que o seu nome não figurasse no disco, nele apenas constando a indicação «acompanhamento de viola e guitarra por Dr. Paulo de Sá» (Disco His Master’s Voice, E.Q. 259, master 30-2379).
Gravado em 1956 por José Afonso, acompanhado por António Portugal/Jorge Godinho (gg) e Manuel Pepe/Levy Baptista (violões aço): EP “José Afonso – Coimbra”, Alvorada, MEP 60280, editado em 1971. José Afonso alterou o último verso da 1ª quadra para «Do que nas bocas do mundo» e substituiu a 2ª quadra por uma variante da 1ª quadra de Mar Alto (Fosse o meu destino o teu) que foi repescar a um disco de Edmundo Bettencourt.
Gravado também por António Bernardino, em 1967, acompanhado à guitarra por Nuno Guimarães e Manuel Borralho e, à viola, por Jorge Rino e Rui Borralho: EP “António Bernardino. Fado Corrido de Coimbra”, Porto, Ofir, AM 4.101), ano de 1967. Bernardino canta a mesma letra de José Afonso. Remasterização no CD “Recordando Nuno Guimarães. Fados e Baladas de Coimbra”, Porto, Ofir, DSA-CD-401, ano de 1997, faixa nº 9. O arranjo de Nuno Guimarães é de fino quilate, ressentindo-se a vocalização de um certo “acançonetamento” que lhe sonega as tão reclamadas dissonâncias à Paulo de Sá.
Desta melodia corre uma versão vulgar, primeiramente gravada por Augusto Camacho Vieira, com a designação de “A Água da Fonte”.
FADO DA ENFERMEIRA (?)
Música: autor não identificado
Letra: autor não identificado
Não possuímos dados sobre esta composição, cuja matriz fonográfica se encontra inacessível. Seria uma obra da autoria de Paulo de Sá, ou talvez de Alexandre Rezende. Título idêntico foi gravado por Felisberto Ferreirinha (Parlophone B 33504), por volta de 1927, acompanhado pelo guitarrista José Parente, tocador que estava em contacto com Paulo de Sá, Alexandre Rezende e José Dias.
FADO DE AVEIRO (?)
Música: Paulo de Sá (1891-1952)
Letra: ?
Data: ca. 1912
A matriz fonográfica gravada por José Dias encontra-se inacessível. A única gravação conhecida desta composição é a realizada em Lisboa por António Menano, no ano de 1928, no disco ODEON 136. 821, Og 696. Indisponível a matriz, não sabemos qual a letra cantada por José Dias. O mais certo é não serem as mesmas quadras fixadas por António Menano. Sabemos, outrossim, que “Fado de Aveiro” é um dos temas da juventude académica de Paulo de Sá, composto à roda de 1912, em homenagem ao seu cantor de serviço Agostinho Fontes Pereira de Melo. Música e letra (quadras populares) encontram-se remasterizadas no CD “António Menano. Fados”, EMI-Valentim de Carvalho, 7243 8 34618 2 0, ano de 1995, faixa nº 5, com texto de apresentação de José Anjos de Carvalho:
Se julgas que eu perco muito,
Perdes mais em me deixar
Eu perco quem me não ama,
Tu perdes quem sabe amar.
Vou-me embora, até um dia,
Desprezas meu peito amigo,
Pois olha, bem mais valia
Que fosses franca comigo.
Oh meu amor, não receies,
Eu amo-te loucamente,
Hei-de amar-te eternamente
Ainda que tu me odeies.
Desconhecemos qualquer edição musical impressa deste espécime estrófico, salvo a solfa manuscrita de Carlos Manuel Simões Caiado, “Antologia do Fado de Coimbra”, Coimbra, 1986, págs. 150-151, onde ocorre como composição de pretensa inspiração popular. O chamado “Fado de Aveiro”, verdadeiramente de Aveiro só tem o título, pois trata-se de uma obra feita em homenagem ao grande cantor académico natural de Aveiro Agostinho Fontes Pereira de Melo que se formou em direito em 1914/1915.
Agradecimentos: José Moças (Tradisom), Dr. João Caramalho Domingues, José Archer de Carvalho, Dr. Aurélio dos Reis, Dr. Artur Ribeiro (Museu Académico)
FADO DO MAR LARGO (Ó mar largo, ó mar largo)
Música: Paulo de Sá (1891-1953), dedicada «Ao José Paradela».
Letra: 1ª e 2ª quadras populares
Edição musical: Sassetti e C.ª (c/capa de Stuart de Carvalhais)
Data: ca. 1926-1927
Ó mar largo, ó mar largo,
Ó mar largo sem ter fundo,
Mais vale andar no mar largo
Que andar nas bocas do mundo.
A sereia quando canta,
Canta no meio do mar;
Quantos navios se perdem
Por causa do seu cantar.
Canta-se o 1º dístico, repete-se canta-se o 2º e repete-se.
Informação complementar:
Composição estrófica com dissonâncias, gravada por José Dias, em Outubro de 1928, acompanhado à guitarra pelo Dr. Paulo de Sá e, em violão, possivelmente pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira (Disco His Master’s Voice, EQ 150).
O título, letra, autoria da música e dedicatória constam na edição musical da Sassetti, copyright de 1927, mas a edição é omissa quanto à autoria da letra. Tudo indica que a composição foi feita no rescaldo da digressão em que o autor acompanhou a TAUC ao Brasil no Verão de 1925.
A 1ª quadra encontra-se em vários cancioneiros, no de Leite de Vasconcelos, no de Ataíde de Oliveira e no de Pires de Lima, no da Cova da Beira, nos “Tesouros da Literatura Popular Portuguesa” e noutros. A 2ª quadra é muito antiga, tem diversas variantes e provém da crença nas sereias, que enganavam os navios e desgraçavam os navegantes, ideia que já vem da antiguidade clássica. Sobre este assunto, cf. José Leite de Vasconcelos, “Tradições Populares de Portugal”, edição de 1882, a págs. 82, 83, 286 e 287; Teófilo Braga, “Contos Tradicionais do Povo Português”, II volume, págs. 36 e 37; Fernando de Castro Pires de Lima, “A sereia da história e na lenda”, Porto, 1952.
Tema gravado em 1928 com esta mesma letra e título, por Elísio de Matos, acompanhado à guitarra pelo próprio Dr. Paulo de Sá e, em violão aço, pelo Prof. Doutor José Carlos Moreira, que preferiu que o seu nome não figurasse no disco, nele apenas constando a indicação «acompanhamento de viola e guitarra por Dr. Paulo de Sá» (Disco His Master’s Voice, E.Q. 259, master 30-2379).
Gravado em 1956 por José Afonso, acompanhado por António Portugal/Jorge Godinho (gg) e Manuel Pepe/Levy Baptista (violões aço): EP “José Afonso – Coimbra”, Alvorada, MEP 60280, editado em 1971. José Afonso alterou o último verso da 1ª quadra para «Do que nas bocas do mundo» e substituiu a 2ª quadra por uma variante da 1ª quadra de Mar Alto (Fosse o meu destino o teu) que foi repescar a um disco de Edmundo Bettencourt.
Gravado também por António Bernardino, em 1967, acompanhado à guitarra por Nuno Guimarães e Manuel Borralho e, à viola, por Jorge Rino e Rui Borralho: EP “António Bernardino. Fado Corrido de Coimbra”, Porto, Ofir, AM 4.101), ano de 1967. Bernardino canta a mesma letra de José Afonso. Remasterização no CD “Recordando Nuno Guimarães. Fados e Baladas de Coimbra”, Porto, Ofir, DSA-CD-401, ano de 1997, faixa nº 9. O arranjo de Nuno Guimarães é de fino quilate, ressentindo-se a vocalização de um certo “acançonetamento” que lhe sonega as tão reclamadas dissonâncias à Paulo de Sá.
Desta melodia corre uma versão vulgar, primeiramente gravada por Augusto Camacho Vieira, com a designação de “A Água da Fonte”.
FADO DA ENFERMEIRA (?)
Música: autor não identificado
Letra: autor não identificado
Não possuímos dados sobre esta composição, cuja matriz fonográfica se encontra inacessível. Seria uma obra da autoria de Paulo de Sá, ou talvez de Alexandre Rezende. Título idêntico foi gravado por Felisberto Ferreirinha (Parlophone B 33504), por volta de 1927, acompanhado pelo guitarrista José Parente, tocador que estava em contacto com Paulo de Sá, Alexandre Rezende e José Dias.
FADO DE AVEIRO (?)
Música: Paulo de Sá (1891-1952)
Letra: ?
Data: ca. 1912
A matriz fonográfica gravada por José Dias encontra-se inacessível. A única gravação conhecida desta composição é a realizada em Lisboa por António Menano, no ano de 1928, no disco ODEON 136. 821, Og 696. Indisponível a matriz, não sabemos qual a letra cantada por José Dias. O mais certo é não serem as mesmas quadras fixadas por António Menano. Sabemos, outrossim, que “Fado de Aveiro” é um dos temas da juventude académica de Paulo de Sá, composto à roda de 1912, em homenagem ao seu cantor de serviço Agostinho Fontes Pereira de Melo. Música e letra (quadras populares) encontram-se remasterizadas no CD “António Menano. Fados”, EMI-Valentim de Carvalho, 7243 8 34618 2 0, ano de 1995, faixa nº 5, com texto de apresentação de José Anjos de Carvalho:
Se julgas que eu perco muito,
Perdes mais em me deixar
Eu perco quem me não ama,
Tu perdes quem sabe amar.
Vou-me embora, até um dia,
Desprezas meu peito amigo,
Pois olha, bem mais valia
Que fosses franca comigo.
Oh meu amor, não receies,
Eu amo-te loucamente,
Hei-de amar-te eternamente
Ainda que tu me odeies.
Desconhecemos qualquer edição musical impressa deste espécime estrófico, salvo a solfa manuscrita de Carlos Manuel Simões Caiado, “Antologia do Fado de Coimbra”, Coimbra, 1986, págs. 150-151, onde ocorre como composição de pretensa inspiração popular. O chamado “Fado de Aveiro”, verdadeiramente de Aveiro só tem o título, pois trata-se de uma obra feita em homenagem ao grande cantor académico natural de Aveiro Agostinho Fontes Pereira de Melo que se formou em direito em 1914/1915.
Agradecimentos: José Moças (Tradisom), Dr. João Caramalho Domingues, José Archer de Carvalho, Dr. Aurélio dos Reis, Dr. Artur Ribeiro (Museu Académico)
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