O Teatro Avenida
Vista geral da frontaria e cúpula do velho Teatro Circo do Príncipe Real D. Luís Filipe, Teatro Circo de Coimbra, ou mais simplesmente Teatro Avenida e ainda "Avenida". Inaugurado em 20 de Janeiro de 1893, veio a ser demolido sem lágrimas nem dó em finais da década de 1980, para dar lugar a um sofisticado centro comercial.
O Avenida, teatro que entre 1893 e 1963 (inauguração do novo Teatro Académico no polivalente da AAC, projecto Alberto Pessoa/Abel Manta) serviu de principal sala de espectáculos à Academia de Coimbra, vegetava quando em Outubro de 1985 me matriculei na UC. Acabou tristemente, projectando sem garbo nem glória filmes pornográficos de refugo. Se não me falha a memória, o derradeiro filme que lá vi terá sido "O Nome da Rosa". Creio que, algures no "Diário de Coimbra", o jornalista Joaquim Reis lhe escreveu o epitáfio, lamentando a decisão de demolição, lembrando os dias grandes, apelando à movimentação cívica. Em vão. Após terem sofrido na pele a hecatombe das demolições da Velha Alta Salatina, levadas a cabo arbitrariamente pelo regime salazarista, as gentes de Coimbra só poderiam encolher os ombros ante o caso Avenida. Afinal o que era um velho teatro, quando comparado com quarteirões e casario derribados, memórias e costumes riscadas do mapa, deportações forçadas de salatinas para bairros económicos situados nas periferias da cidade?
De valia arquitectónica modesta, o Avenida era, a par da Cadeia Penitenciária, um belo exemplo da consagração local oitocentista da arquitectura do ferro. O grande recinto central tinha a forma de um coliseu (relembremos os edifícios mais ou menos contemporâneos de Lisboa e de Ponta Delgada. Exteriormente, o de Ponta Delgada apresenta fachadas muito singelas), com plateia de planta circular cindida por corredores e palco convencional. A toda volta da sala nasciam pilares de sustentação, sobre os quais se apoiavam dois aneis corridos de camarins guarnecidos com gradins metálicos. A estrutura metálica da cúpula veio de um mais antigo Teatro Circo do Arnado (Cf. Gonçalo dos Reis Torgal, "Coimbra. Boémia e saudade", Tomo I, Coimbra, 2003).
O Avenida não era, com efeito, um teatro luxuoso, nem no mobiliário, nem na decoração. Artur Paredes que nele actuou pela derradeira vez em Maio de 1960, nunca gostou da acústica da sala. Além de Artur e de Carlos Paredes, pelo defunto Avenida passaram quase todos os grandes divos da Canção de Coimbra.
Mais um exemplo do triunfo do economicismo.
AMNunes
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