quarta-feira, junho 28, 2006


Registos fonográficos de Carlos Leal e Amândio Marques
Por José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes

Uma Justificação
Uma interrogação sobre o “desconhecido” Carlos Leal, presente na memória descritiva da solfa de “Fado Alentejano” gravado por Armando Goes, motivou um comentário esclarecedor do Dr. João Caramalho (cf. Blog de 20/12/2005), seguido de novas colaborações em 26/12/2005 e 08/01/2006.
De Carlos Leal se navegou para o guitarrista Amândio Marques (1903-1987), cujo nome já havia sido aflorado por Armando Luís de Carvalho Homem em texto de 1999. Os pedidos de ajuda estenderam-se à Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Porto (Dr. António Moniz Palme), Casa da Beira Alta (Dra. Maria Fernanda Braga da Cruz), Ordem dos Médicos e Ordem dos Advogados. Por sugestão da Dra. Maria Fernanda Braga da Cruz (inexcedível na abertura dos arquivos da Casa da Beira Alta) aguardámos entre Janeiro e Junho de 2006 uma hipótese de contacto com o filho do falecido guitarrista Amândio Marques (guarda a guitarra e alguns discos do pai).
Gorada a primeira tentativa de contactos, optámos pela edição do presente artigo, tecido apenas com os dados a que foi possível aceder. Esperamos que num futuro não muito distante consigamos enriquecer as informações agora disponibilizadas.
O acesso ao grosso da obra fonográfica de Carlos Leal fica a dever-se à generosidade do Dr. João Caramalho, estudioso e coleccionador que em meados da década de 1990 obteve antigos documentos sonoros relativos ao Porto académico graças a contactos havidos com Paul Vernon. Tais contactos nasceram da necessidade de introduzir correcções nos textos que Paul Vernon autografou para as reedições Heritage/Tradisom. Infelizmente, nos translados sonoros vindos de Londres, não houve oportunidade de anotar as autorias indicadas nas etiquetas dos discos gravados na década de 1920 e sem este elemento não nos é possível progredir com segurança numa matéria tão espinhosa.

I – Notas Biográficas
Carlos Alberto Leal, filho de Alberto Hermano Fernandes Leal e de Laura do Patrocínio e Silva nasceu em Vila do Conde a 22 de Agosto de 1905. Fez os seus estudos secundários no Liceu Rodrigues de Freitas, da cidade do Porto. Matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, então instalada no Hospital de Santo António (propriedade da Santa Casa da Misericórdia) no ano lectivo de 1924-1925. Terminou o curso de Medicina em 4 de Novembro de 1933, conforme certidão apresentada à Ordem dos Médicos. Exerceu Medicina, com consultório na Rua Mouzinho da Silveira, nº 72 - 2º -Porto, tendo prestado colaboração à Faculdade de Medicina da UP, instituição onde trabalhou ao lado de um antigo colega de liceu, de curso e de serenatas, Luís Canto Moniz. Faleceu em 11 de Abril de 1960.
Filho de um cantor e músico, Carlos Leal foi solista de relevo em serenatas académicas do Liceu e da Universidade do Porto, com assídua colaboração nos organismos estudantis do seu tempo (Orfeão e Tuna), récitas e eventos musicais.
Era um tenor operático que conhecia e dominava o “estilo de Coimbra” mais em voga na década de 1920. Apresenta uma fonética cuidada que procura ir de encontro à “pronúncia de Coimbra” e, como cantor, supera sem favor os desempenhos de José Dias e António Batoque. Excluindo “Canção das Rendilheiras de Vila do Conde”, uma canção com refrão muito estilo tuna, o repertório gravado por Carlos Leal radica esmagadoramente em espécimes estróficos, ao tempo os mais trauteáveis e apreciados pelo grande público e os mais fáceis de improvisar numa saída nocturna.
As quadras cantadas, à semelhança do que se praticava em Coimbra, são por vezes de fraca qualidade semântico-literária. Algumas eram cantadas em diferentes melodias como a tétrica “A noite é negra”, “Passam-se noites inteiras” e as coplas vulgarizadas em “O Meu Fado” de Armando Goes (“Nunca chores junto à nora”).
Amândio Ferreira Marques nasceu em Mangualde no dia 3 de Julho de 1903. Fez os estudos secundários no Liceu Rodrigues de Freitas, da cidade do Porto, tendo sido colega, amigo e companheiro de serenatas de Carlos Leal, José Pais da Silva, bem como do jovem transmontano Jorge Alcino de Morais “Xabregas”.
Na segunda metade da década de vinte, Amândio Marques frequentou a Faculdade de Direito da UC, com formatura concluída em 21 de Julho de 1930, precisamente no mesmo ano de Afonso de Sousa e Armando Goes. Inscreveu-se na Ordem dos Advogados em 24 de Julho de 1931. Tudo indica que realizou o estágio profissional no Porto, cidade onde teve banca de advogado até falecer em 1987. Distinguiu-se como sócio fundador e animador cultural da Casa da Beira Alta no Porto, instituição que guarda a sua ficha de sócio, um retrato e um busto em bronze.
Nos tempos do liceu e também enquanto estudante de Coimbra, Amândio Marques afirmou-se com executante de guitarra. Todavia o seu nome não consta dos anais da “Década de Oiro” da Canção de Coimbra. Em 1927 promoveu um encontro entre cultores da CC de Coimbra e do Porto. Num “in memoriam” a Carlos Leal, publicado nos inícios da década de 1960 (“Carlos Leal. O Rouxinol do Ave”, Porto Académico, 1962, pp. 44-46), Amândio Marques informa que esteve ligado a um grupo activo no Liceu Rodrigues de Freitas onde apareciam habitualmente Carlos Leal, Luís Canto Moniz, Josué da Silva e o próprio Amândio Marques. Em fase posterior, a formação viu-se enriquecida com os préstimos de candidatos a tocadores, poetas e cantores como Francisco Fernandes (g), Alberto de Serpa, Pereira Leite (g), Carlos Alberto de Carvalho, Alberto do Carmo Machado, o Sargento Cadete, António Abrantes e Jorge Alcino de Morais. Este ciclo artístico liceal deve ter ocorrido entre ca. 1922-1925.
Dos guitarristas mais conhecidos no Liceu do Porto na primeira metade da década de 1920, Amândio Marques cita expressamente Aires Pinto Ribeiro, Ernesto Brandão, Cícero de Azevedo, Manuel Pereira Leite e Amândio Marques. Como cantores brilhavam e disputavam as palmas os divos Carlos Leal e José Taveira, seguindo-se-lhes Mário Delgado Viemonte, Cabral Borges e Carlos Alberto de Carvalho.
Amândio Marques é um guitarrista totalmente esquecido, não obstante ter gravado discos com o cantor Carlos Leal, e ainda matrizes fonográficas de guitarradas de sua própria autoria. Não se sabe se desempenhou alguma influência artística nos meios académicos portuenses após 1930, nem há respostas para o “apagamento” da sua vida e obra em Coimbra. Tudo indica que nos anos de Coimbra Amândio Marques continuou a manter o seu “Trio de Guitarras e Viola”, fruto de deslocações periódicas à cidade do Porto.
Outro guitarrista com passagem liceal pelo Porto, chegado a Coimbra em 1925, foi Jorge Alcino de Morais “Xabregas”. Xabregas manteve os contactos com os antigos colegas de Liceu e em 1929 efectuou gravações com alguns dos instrumentistas referidos no artigo de Amândio Marques em 1962. As matrizes fonográficas da sessão Xabregas nunca chegaram a ser comercializadas e em declarações de 15/04/1989 este guitarrista não conseguiu especificar os nomes dos tocadores seus “amigos da Universidade do Porto” que lhe prestaram colaboração em estúdio.
Em termos de guitarra de acompanhamento, Amândio Marques revela-se um executante superior a Xabregas, claramente posicionado acima da mediocridade reinante na década de 1920. O acompanhamento de “Canção das Rendilheiras”, com as guitarras em segunda voz muito cantada, supera com manifesto sucesso o tradicional toque por acordes de tónica e dominante. O Trio de Guitarras e Viola presente nos diversos discos de Carlos Leal revela assimilações da técnica de Artur Paredes em termos de trabalho de harmonização. Ao tempo, a formação duas guitarras mais um violão não era uma prática vulgar. Inferiores aos desempenhos do trio liderado por Amândio Marques nos discos de Carlos Leal, são os desempenhos rudimentaríssimos audíveis nos discos de José Paradela de Oliveira, José Dias, António Batoque, António Menano e Elísio de Matos. Estamos a falar de nomes habitualmente exaltados como Flávio Rodrigues (voz Menano), Francisco da Silveira Morais (voz Paradela) ou mesmo Paulo de Sá (vozes José Dias e Elísio de Matos).
José Pais da Silva foi aluno da Universidade do Porto, executante de violão de cordas de aço e membro da Tuna Académica do Porto. Parece ser autor de alguns dos temas gravados em disco por Carlos Leal, embora não possamos especificar quais com inteira segurança.
Sobre Francisco Fernandes, executante de segunda guitarra nas gravações de Carlos Leal, não existem informações disponíveis. Pelo “in memoriam” que Amândio Marques dedicou a Carlos Leal, sabe-se que à entrada da década de 1960 Francisco Fernandes exercia Medicina em Moçambique.
O presente levantamento contém avultadas omissões e lacunas. Não foi possível aceder a qualquer dos discos onde Amândio Marques toca a solo as suas guitarradas, pelo que nos limitamos a um arrolamento sumário. No que a Carlos Leal respeita, também nos faltou o acesso às matrizes fonográficas. As cópias facultadas pelo Dr. João Caramalho permitem-nos confrontar as melodias com outras conhecidas e transcrever, com alguma fiabilidade, as letras cantadas. Sem os discos não é possível visualizar as etiquetas e através delas colher os dados relativos às identificações autorais.

II – Gravações de Amândio Marques
Nos finais da década de 1920, entre 1927 e 1929, Amândio Marques gravou na editora Parlophone quatro faixas sonoras. Contou com a colaboração de Francisco Fernandes (2ª guitarra) e de José Pais da Silva (violão de cordas de aço).
Não conhecemos estas guitarradas, nem tampouco lográmos aceder aos discos.

Disco de 78 rpm Parlophone, B 33.016
98000 - Fado em Ré Menor
98001 - Variações em Lá Maior

Disco de 78 rpm Parlophone, B 33.017
98005 - Fado em Dó Sustenido Menor
98009 - Capricho

De outros colegas de Carlos Leal/Amândio Marques activos no Porto académico na década de 1920, importa escalpelizar:

-Ernesto BRANDÃO, guitarrista, com pelo menos um disco gravado ca. 1927-1929, acompanhado em violão por José TAVEIRA: (78 pm Parlophone, B 33.006) “Fado em Sol Maior” e “Fado em Ré Menor”;

-José PAIS DA SILVA e José TAVEIRA, com pelo menos dois discos gravados na Parlophone, ca. 1927-1929, contendo solos de dois violões: “Pas de Quatre” e “Padre Nuestro” (Parlophone, B 33.004); “Cantares Populares” e “Amanhecendo” (Parlophone, B 33.005).

III – DISCOGRAFIA DE CARLOS LEAL

Disco Parlophone, B 33.300
98028 – FADO ALENTEJANO (Fechei a porta à desgraça)
98029 – FADO DA DESCRENÇA (Eu não creio por não crer)

Disco Parlophone, B 33.301
98030 – UM FADO (Passam-se noites inteiras)
98032 – FADO DA NOSTALGIA (A vida é negra, tão negra)

Disco Parlophone, B 33.302
980…– FADO VISÃO (…?...)
980… – UMA CANÇÃO (…?...)

Disco Parlophone, B 33.303
98020 – MINHA MÃE (Minha mãe é pobrezinha)
98021 – FADO DE DESPEDIDA (A despedida no dia)

Disco Parlophone, B 33.308
98022 – MELANCOLIA (A saudade faz lembrar)
98023 – CANÇÃO DAS RENDILHEIRAS DE VILA DO CONDE (Rendilheiras
que teceis
)

IV – LETRAS GRAVADAS POR CARLOS LEAL

FADO ALENTEJANO (Fechei a porta à desgraça)
Música: Armando do Carmo Goes (1906-1967)
Letra: 1ª quadra popular (séc. XIX); 2ª quadra de João da Silva Tavares (1893-1964)
Edição musical: desconhecemos a sua existência

I
Fechei a porta à desgraça,
Entrou-me pela janela;
Quem nasceu para a desgraça
(Ai2) Não pode fugir a ela!
II
Tanto a desgraça me alcança,
Que já me sinto cansado
Da vida que não se cansa
(Ai2) De me fazer desgraçado.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 3º verso, canta-se o 2º dístico e repete-se o 2º dístico.
Espécime gravado por Carlos Leal entre 1928-1929, acompanhado pelo Trio de Guitarras e Viola, constituído por Amândio Marques/Francisco Fernandes (gg) e Pais da Silva (v) no 78 rpm Parlophone B, B 33.300. A autoria da música é de Armando Goes, que a gravou em Outubro de 1928, acompanhado à guitarra por Albano de Noronha e Afonso de Sousa (Disco His Master’s Voice, E.Q. 192).
A 1ª quadra é popular e encontra-se em variadíssimos cancioneiros, tais como “Mil Trovas Populares Portuguesas” e em António Tomás Pires, Leite de Vasconcelos e outros. A 2ª quadra é do poeta João Silva Tavares, e encontra-se no livro “Quem Canta”, editado em 1923.
Este disco de Carlos Leal encontrava-se ainda em catálogo e à venda em 1946.
Tema gravado por António Bernardino em 1966, acompanhado à guitarra por António Portugal e Manuel Borralho e, à viola, por Rui Pato (EP Fados de Coimbra, Alvorada AEP 60817); está disponível em long play (LP Coimbra, Alvorada ALV-04-19 e LP Aquila, AQU 02-49) e em compact disc (CD Nº 45/O Melhor dos Melhores, Movieplay, MM 37.045 e CD Nº 30/Clássicos da Renascença, Movieplay, MOV. 31.030).
Gravado também por Victor Silva, em 1986, do Grupo Académico Serenata, do Porto: LP “Fados de Coimbra”, Orfeu, LPP 44.
Com um outro título e uma outra letra, foi gravado por Raul Dinis, acompanhado à guitarra por Jorge Gomes e António Ralha e, à viola, por Manuel Dourado, intitulado Um Fado (Ó vida, que mais queres), letra da autoria do cantor (CD “Coimbra de Sempre”, Discossete, DDD CD 971000, de 1993).

FADO DA DESCRENÇA (Eu não creio por não crer)
Música: autor não identificado
Letra: autor não identificado
Edição musical: desconhecemos a sua existência

I
Eu não creio por não crer,
Queria crer mas não consigo
E assim eu passo a descrer,
É para crer só contigo.
II
Podem descrente chamar
A quem pensa como eu…
Há estrelas a brilhar
Que não se vêem do céu.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por volta de 1928-1929 por Carlos Leal, acompanhado à guitarra por Amândio Marques e Francisco Fernandes e, no violão, por Pais da Silva (disco Parlophone, B 33.0300, master 98029). Este disco de Carlos Leal encontrava-se ainda em catálogo e à venda em 1946. Desconhecemos se mais alguém teria gravado este fado.

UM FADO (Passam-se noites inteiras)
Música: autor não identificado
Letra: autor não identificado
Edição musical: desconhecemos a sua existência

I
Passam-se noites inteiras
Que me não posso deitar
E a lua já tem olheiras
De tanto me alumiar.
II
Já o luar, de mansinho,
No vento reza de dor,
Anda a pintar de branquinho
Na casa do meu amor.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por volta de 1928-1929 por Carlos Leal, acompanhado à guitarra por Amândio Marques e Francisco Fernandes e, no violão, por Pais da Silva (disco Parlophone, B 33.0301, master 98030). Este disco de Carlos Leal encontrava-se ainda em catálogo e à venda em 1946.
Uma variante (Eu passo noites inteiras) da 1ª quadra é cantada por Fernando Gomes Alves (EP Ofir, AM 4.068) no chamado Fado Antigo (Eu passo noites inteiras), cuja música é a do conhecido Fado Espanhol (Gosto de cantar o fado) gravado por António Menano. No 2º verso da 2ª quadra admitimos que a letra cantada por Carlos Leal não seja exactamente o que nos pareceu continuar a ouvir após múltiplas re-audições de estudo. Admitimos que este UM FADO possa ser o espécime que João Falcato diz ter ouvido Manuel Julião entoar na Sé Velha na Primavera/Verão de 1943 (Cf. “Coimbra dos Doutores”, Coimbra, Coimbra Editora, 1957, pág. 166).
Desconhecemos se mais alguém gravou este espécime.


FADO DA NOSTALGIA (A vida é negra, tão negra)
Música: autor não identificado
Letra: 1ª quadra popular; 2ª quadra de autor não identificado
Edição musical: desconhecemos a sua existência

I
A vida é negra, tão negra,
Como a noite nos pinhais
Mas é nas noites mais negras
(Ai2) Que as estrelas brilham mais.

II
Nesta vida de amargura,
Há tanta contradição…
Fumo negro sobe ao ar
(Ai2) Água pura cai no chão.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por volta de 1928-1929 por Carlos Leal, acompanhado à guitarra por Amândio Marques e Francisco Fernandes e, no violão, por Pais da Silva (disco Parlophone, B 33.0301, master 98032). Este disco de Carlos Leal encontrava-se ainda em catálogo e à venda em 1946.
A 1ª quadra (A vida é negra, tão negra) veio a ser incorporada em 1930 no Fado da Noite (A vida é negra, tão negra), música de Jorge de Morais (Xabregas), que veio a ser gravado por Machado Soares em 1956 (EP Alvorada, MEP 60111).
Desconhecemos se mais alguém gravou este espécime.

FADO VISÃO (…?...)
Música: autor não identificado
Letra: dados desconhecidos
Edição musical: desconhecemos a sua existência

Informação complementar:
Apenas conhecemos a existência do respectivo disco, o disco Parlophone, B 33.302, que ainda se encontrava em catálogo e à venda em 1946.

UMA CANÇÃO (…?...)
Música: autor não identificado
Letra: desconhecemos a letra e respectiva autoria
Edição musical: desconhecemos a sua existência

Informação complementar:
Apenas conhecemos a existência do respectivo disco, o disco Parlophone, B 33.302, que ainda se encontrava em catálogo e à venda em 1946.

MINHA MÃE (Minha mãe é pobrezinha)
Música: José Pais da Silva
Letra: 1ª quadra popular; 2ª quadra de autor não identificado
Edição musical: desconhecemos a sua existência

I
Minha mãe é pobrezinha,
Não tem nada que me dar.
Dá-me beijos, coitadinha,
(Ai2) E depois põe-se a chorar!
II
Quem me dera minha mãe,
A santa que eu vi sofrer,
Dizem as santas no céu
(Ai2) Que morreu pra eu viver.

Informação complementar:
Composição musical estrófica. Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Gravado por volta de 1928-1929 por Carlos Leal, acompanhado à guitarra por Amândio Marques e Francisco Fernandes e, no violão, por Pais da Silva (disco Parlophone, B 33.0303, master 98020). Este disco de Carlos Leal encontrava-se ainda em catálogo e à venda em 1946.
A 1ª quadra ocorre também noutras melodias:
Fado Triste (Minha mãe é pobrezinha), gravado por António Menano, primeiro em Lisboa e depois em Berlim (discos Odeon, 136.822 e A 136.822 e LA 187.804), cuja música é de Alexandre Rezende e também mereceu uma gravação na voz do barítono José Dias;
Fado Mondego (Minha mãe é pobrezinha), gravado pelo mezzo soprano D. Luísa Baharem, em finais de 1926 (disco Columbia, 1032-X, edição americana);
D’Um Olhar (As meninas dos meus olhos), música de Alexandre de Rezende dedicada a António Menano, de que foi feita edição musical em 1915, fado mais conhecido por «As Meninas dos Meus Olhos», gravado por António Menano (discos Odeon, 136.821 e A 136.821). A referida quadra consta da edição musical impressa, mas não nas matrizes gravadas por António Menano.
Desconhecemos se mais alguém gravou este fado.

FADO DE DESPEDIDA (A despedida, no dia)
Música: D. José Pais de Almeida e Silva (1899-1968)
Letra: autor não identificado
Edição musical: desconhecemos a sua existência

I
A despedida, no dia
Em que se faz de verdade,
É choro duma alegria
Que se transforma em saudade.
II
Que tristeza, que tormento
Sinto no meu coração!
Mocidade és qual o vento
Fugindo sem ter razão.

Informação complementar:
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Composição musical estrófica gravada por volta de 1928-1929 por Carlos Leal, acompanhado à guitarra por Amândio Marques e Francisco Fernandes e, no violão, por Pais da Silva (disco Parlophone, B 33.303, master 98021). Este disco de Carlos Leal encontrava-se ainda em catálogo e à venda em 1946.
A melodia é rigorosamente a mesma de FADO DO MAR (As ilusões que me perseguem), gravado em 1929 por Artur Almeida d’Eça, acompanhado por Albano de Noronha/Afonso de Sousa (gg) no 78 rpm Polydor , P 42.127.

MELANCOLIA (A saudade faz lembrar)
Música: autor não identificado
Letra: 1ª quadra de Domingos Garcia Pulido; 2ª quadra de José Marques da Cruz
Edição musical: desconhecemos a sua existência

I
A saudade faz lembrar
A melopeia da nora,
Se a uns parece cantar,
Parece a outros que chora

II
Nunca chores junto à nora
Que a corrente faz girar,
Quem chora ao pé de quem chora
Fica-se sempre a chorar.

Informação complementar:
Canta-se o 1º dístico, repete-se, canta-se o 2º e repete-se.
Composição musical estrófica gravada por volta de 1928-1929 por Carlos Leal, acompanhado à guitarra por Amândio Marques e Francisco Fernandes e, no violão, por Pais da Silva (disco Parlophone, B 33.0308, master 98022).
Ambas as quadras se cantam também, mas por ordem inversa, com o chamado Fado da Nora (Nunca chores junto à nora), de Armando Goes, cuja música é diferente.
Desconhecemos se mais alguém teria gravado este fado.

CANÇÃO DAS RENDILHEIRAS DE VILA DO CONDE (Rendilheiras que teceis)
Música: autor não identificado
Letra: autor não identificado
Edição musical: desconhecemos a sua existência

Rendilheiras que teceis
As finas rendas à mão,
Eu dou-vos, se vós quereis,
Pra almofada o coração.

Ó vem à janela
Como a noite é bela,
Vem ver o luar;
Linda rendilheira
Deixa a travesseira,
Vem-me ouvir cantar.

Quem me dera, rendilheira,
Ser essa tua almofada
E passar a vida inteira
Em teu regaço, deitada.

Ó vem à janela…etc.

Informação complementar:
Canção musical com refrão gravada entre 1928-1929 por Carlos Leal, acompanhado à guitarra por Amândio Marques e Francisco Fernandes e, no violão, por Pais da Silva (disco Parlophone, B 33.308, de 78 rpm).
Esta canção foi popularíssima em todo o Portugal, tendo conhecido assinalada difusão nos anos dourados da Emissora Nacional. Carlos Leal remata o refrão com um crescendo apoteótico, efeito que na época arrancaria frenéticos aplausos. A forma e a letra parecem abrir o caminho a uma outra obra de meados da década de 1930, também ela nada e criada no Porto, À MEIA NOITE AO LUAR.
Na década de 1960 foi gravada pelo tenor radiofónico Américo Silva, acompanhado à guitarra por Armandino Maia e António Parreira e, à viola, por J. M. de Carvalho e José Vilela (EP “Américo Silva canta Fados de Coimbra”, Estúdio, EEP 50.228, com a errada indicação de ser música de Ângelo Vieira Araújo).
Também foi gravada por João Queiroz sob o título Canção das Rendilheiras (EP “The Old Coimbra Fado III”, RCA Victor, TP-313 (ca. 1967), cantor que após fugaz passagem pelo grupo dos irmãos Plácidos se radicou em Lisboa; LP “Fados de Coimbra por João Queiroz”, RCA Camden, CL-40220, editado em 1981 e LP “Estrelas de Portugal”, RCA Victor LPV-7649, editado na Venezuela).
Nestes três discos figuram como autores os nomes de Manuel Tino e Hugo Rocha, afigurando-se ser letra de Manuel Tino e música de Hugo Rocha. Num outro disco de João Queiroz figuram os nomes de Manuel Pino e Ugo Rocha (sic): LP “João Queiroz – Samaritana”, Interfase, IF 144, editado em 1987. As autorias fornecidas por João Queiroz não se nos asseveram fiáveis. Tanto poderão ter sido indicadas por Loubet Bravo (que estaria familiarizado com o tema desde a sua juventude portuense), como por frequentadores das casas de fados de Lisboa onde o cantor se movimentava.

Agradecimentos: Dr. João Caramalho Domingues e José Moças (Tradisom), Dra. Isabel Cambezes (Ordem dos Advogados), Ordem dos Médicos (Arquivo Central), Casa da Beira Alta no Porto, Rosa Soares (ordem dos Médicos)

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