sexta-feira, setembro 22, 2006

ESTÓRIAS À LENTE (10)

XXXVI.

Por encargos que eventualmente tivesse ou pura e simplesmente por estar nos antípodas de uma atitude epicurista perante a vida, o facto é que o lente referido na estória anterior ostentou sempre um facies de grande modéstia material: a casa onde vivia, o vestuário que envergava, o deslocar-se a pé ou de eléctrico, etc. Solteiro até tarde, após a morte dos progenitores viveu longamente sozinho.
A estória tem justamente a ver com bilhetes de eléctrico, aqueles velhos papèizinhos que os mais antigos ainda recordarão, vendidos pelo cobrador/ revisor. Ora o Doutor M… guardava sistematicamente os bilhetes e era nas costas dos mesmos que escrevia o enunciado dos exercícios para as provas orais. Ao chegar à sala punha os bilhetes em cima da secretária e depois, ao correr das provas, lá os ia utilizando.
Numa tarde de muito calor foram abertas todas as janelas da sala. E o inevitável aconteceu: quando se abre a porta para dar passagem ao primeiro examinando, a corrente de ar fez voar os bilhetes, atrapalhadamente recolhidos pelo Doutor M… e demais membros do júri…


XXXVI.

Já aqui se falou (estória V.) no Padre G…, lente de Matemática da FC/ UP. Um dia uma oral sua estava a correr pouco bem; num dado momento diz o Padre G… ao examinando:

- Trace aí uma linha recta !

O aluno pegou no giz e lá foi traçando… até chegar ao limite do quadro negro.

- Continue – disse o Mestre.

E lá foi o aluno, parede adiante até chegar à porta.

- Continue – repetiu o Mestre.

Era um inequívoco sinal para sair: o exame teminara com uma reprovação…
Vem a época de Outubro. De novo o aluno se apresenta, de novo é admitido à oral. Ao entrar na sala, pergunta-lhe o Padre G…:

- Então, já acabou de traçar a linha recta ?

- Não, não Sr. Doutor, venho buscar mais giz…


Armando Luís de Carvalho HOMEM

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