sábado, outubro 14, 2006


Doutora Carolina Michaellis Posted by Picasa
Retrato da Profª Doutora Carolina Wilhelme Michaellis de Vasconcelos (Berlim, 15/03/1851; Porto, 16/11/1925), com Capa Talar preta e Borla e Capelo na cor da Faculdade de Letras da UC, a cujo claustro doutoral pertenceu.
Carolina Michaellis era doutorada honoris causa pelas universidades de Friburgo (1893) e Hamburgo (1923). Em 1916, a Faculdade de Letras da UC concedeu solenemente na Sala do Senado a Carolina Michaellis o grau de Doutora em Letras, com a respectiva entrega da Borla, Capelo e anel doutoral, em conformidade com a Lei Nº 616, de 16 de Junho de 1916, artigo 16º. O mesmo sucedeu em 01 de Julho de 1916 com Eugénio de Castro, e membros do corpo docente da Faculdade de Letras que eram antigos lentes da extinta Faculdade de Teologia: António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, Joaquim Mendes dos Remédios, Porfírio António da Silva, Augusto Joaquim Alves dos Santos e José Joaquim de Oliveira Guimarães.
Como se pode inferir, os "doutoramentos ipso facto" eram uma espécie de doutoramentos administrativos, sem prestação de provas ou defesa de tese perante um júri acreditado, o que no caso de Carolina Michaellis não lhe retira qualquer credibilidade como investigadora e docente.
Os lentes provenientes da antiga Faculdade de Teologia, nomeados membros do corpo docente da nova Faculdade de Letras por Decreto de 17 de Junho de 1911, eram manifestamente insuficientes. Primeiramente colocada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Decreto de 21/07/1911), Carolina Michaellis requereu ao Reitor Mendes dos Remédios a sua incorporação na Faculdade de Letras de Coimbra. O requerimento viria a ser deferido por Decreto de 09 de Novembro de 1911, tendo Carolina Michaellis sido recebida com fartos aplausos de alunos e lentes nas instalações provisórias da Faculdade de Letras, ao Colégio de São Pedro, no dia 19 de Janeiro de 1912.
Carolina Michaellis trabalhou incansavelmente como docente e investigadora. Além dos afazeres profissionais, suportava as penosas e frequentes viagens de combóio entre o Porto e Coimbra, pois no Porto fixara domicílio após o seu casamento com Joaquim de Vasconcelos em 1876.
Profundamente estimada pelos seus alunos e colegas, Michaellis foi a primeira mulher a integrar o corpo docente da UC, a primeira a usar Insígnias Doutorais e a primeira investigadora a denunciar seriamente a inconsistência de alguns trabalhos assinados no campo da literatura medieval por Teófilo Braga.
A herança deixada por Carolina Michaellis foi duradoura. Em 1983, sendo eu aluno de Português do 10º Ano, no velho Liceu Antero de Quental, em Ponta Delgada, tive por docente a Dra. Angelina Belacó, uma das jóias da coroa daquele estabelecimento que fizera o curso na Faculdade de Letras da UC. As aulas de literatura medieval da Dra. Belacó eram absolutamente fascinantes e nelas, a ilustre professora citava ainda as investigações e contributos de Carolina Michaellis.
Quanto ao Hábito Talar, em conversas havidas com o Dr. António José Soares, Doutor Aníbal Pinto de Castro e sobretudo com o Doutor Luís de Albuquerque, foi-me dito que de acordo com a tradição oral que se manteve entre os lentes mais antigos, a Doutora Carolina Michaelis usou Capa Talar preta, mas não Batina. Em vez da Batina de Lente trajava um vestido preto comprido de ornamentação sóbria. Volta pois a levantar-se a questão de saber se o Hábito Talar Feminino só apareceu na UC pela mão da Doutora Maria Helena da Rocha Pereira à data do respectivo doutoramento em 1956. Esta era, com efeito, a versão tradicional mais consensual. Mais recentemente, investigações concretizadas por Armando Luís de Carvalho Homem, mas ainda não divulgadas publicamente, talvez possam trazer novos dados sobre esta matéria.
Fotografia: "História de Portugal. Edição monumental comemorativa do 8º centenário da fundação da nacionalidade", Volume II, Barcelos, Portucalense Editora, 1934, p. 581.
AMNunes

relojes web gratis