quinta-feira, outubro 12, 2006


Estátua togada de Oliveira Salazar Posted by Picasa
Comparando o esboceto para o projecto da estátua togada de Oliveira Salazar, existente no Museu Henrique e Francisco Franco (Funchal), com a estátua em tamanho definitivo inaugurada no dia 10 de Junho de 1937 no Pavilhão de Portugal (Paris), bem como na Exposição do Duplo Centenário de 1940, rapidamente se constata que Franco aperfeiçoou substancialmente a maqueta primitiva.
Franco começara a trabalhar a imagem de Oliveira Salazar em Maio de 1934, a convite oficial de António Ferro. Entre 1934 e 1936 produziu vários bustos de Salazar, inventando o cânone do estadista "salvador da pátria", em pose introspectiva e sapiente. Em Agosto de 1936, Franco trabalhou um outro busto de Salazar, em capelo doutoral, encomendado pela Câmara Municipal de Lisboa, e inaugurado em 25 de Outubro de 1936. Muito semelhante a este, existe uma variante depositada no Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha.
Pode colher-se uma visão da estátua inaugurada em Paris no ano de 1937, na obra de Joaquim Saial, já citada. A maquete original, conforme figurou no recinto da Exposição de 1940, em Lisboa, encontra-se reproduzida no álbum "Mundo Português. Imagens de uma exposição histórica. 1940", Lisboa, Edições SNI, 1956, mas em dimensões que aqui impossibilitam a sua reprodução.
A maqueta de 1937 seria alvo de reproduções em pedra e em bronze. João Medina cita uma cópia tardia, mandada instalar no pátio do Liceu Salazar em Lourenço Marques, Moçambique. Outra réplica em bronze, seria inaugurada por 1959 no pátio interior do Palácio Foz, sede oficial do SNI. É essa versão que aqui reproduzimos, extraída da obra de Joaquim Saial (Cf. "Estatutária Portuguesa", 1991, p. 157). De acordo com Medina, a estátua existente em Moçambique foi dinamitada logo após a independência daquele país. A réplica do Palácio Foz foi ocultada numa primeira fase. Apeada, desapareceu até hoje sem deixar rasto (João Medina, "Salazar, Hitler e Franco. Estudos sobre Salazar e a Ditadura", Lisboa, Livros Horizonte, 2000, pp. 195-196).
A referida estátua não se destinava à UC, nem a qualquer das suas dependências, embora não deixe de traduzir o estreitamento de relações entre o regime e a instituição (Luís Reis Torgal, "A Universidade e o Estado Novo", Coimbra, Minerva, 1999). Muito distante da candura do Brotero de Soares dos Reis, Francisco Franco apresenta um Salazar-lente de Coimbra hierático e fechado sobre si-próprio, onde se destacam as mãos de "timoneiro" e a cabeça em meditação. No contexto internacional de 1937, as insígnias doutorais coimbrãs apresentadas na Exposição Internacional de Paris, marcavam a singularidade de Portugal, do seu regime e do seu ditador, em contraste com o espavento militarista dos regimes de Hitler e Mussolini.
Depois do paradigma fixado por Francisco Franco na década de 1930, raras foram as estátuas de outros estadistas, docentes ou homens de cultura, trabalhadas à imagem e semelhança de Oliveira Salazar. Ainda assim, existem pelo menos duas estátuas revestidas com Hábito Talar e insígnias, uma dum lente de Coimbra, outra de um jurista, de que contamos dar nota. Quanto ao mais, os escultores como que se limitaram a trabalhar bustos com capelo lançado pelos ombros, como aconteceu que José Alberto dos Reis, Guilherme Moreira, Antunes Varela e Manuel Rodrigues.
AMNunes

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