A Imprensa da Universidade entre 1537 (transferência definitiva para Coimbra) e 1772 (Reforma Pombalina)
Já desde finais do séc. XV, diversas universidades da Europa procuravam possuir tipografias ou, pelo menos, tipógrafos que trabalhassem para elas, mediante o estabelecimento de contratos que definiam direitos e obrigações mútuas: prioridade para as obras académicas, privilégios para os tipógrafos a par da remuneração material pelo seu trabalho.
A tardia introdução da imprensa em Coimbra, em 1530, numa altura em que já se espalhara não só em numerosas cidades europeias mas noutras localidades do país parece fazer parte do processo que conduziu à transferência da Universidade e à fundação do Colégio das Artes.
Coincidindo com esta orientação geral, a Universidade de Coimbra procurou apetrechar-se com os meios tipográficos indispensáveis ao serviço e à difusão da cultura, após a sua instalação definitiva na cidade, em 1537, por decisão de D. João III.
Em 1539, D. João III concedeu aos livreiros que tivessem, em Coimbra, “suas tendas com cópias de livros das ciências que se na dita universidade lêem”, todos os privilégios e liberdades dos estudantes e oficiais da Universidade.
Em 1546, o Conselho da Universidade, presidido pelo Reitor, Fr. Diogo de Murça, dava procuração a João Álvares, impressor, para se deslocar a Lisboa e arrecadar “toda a impressão de que hora el rey noso senhor fez merce a este Estudo, para trazer a ele” e também para “a avalyara e lhe por os preços que justos forem”. Ficava assim a Universidade com um valioso conjunto de instrumentos e materiais de imprensa.
Em 1548, D. João III confirmou, por provisão, o contrato que, por sua comissão, o mesmo Fr. Diogo de Murça tinha celebrado com os impressores João de Barreira e João Álvares, estabelecidos em Coimbra desde 1542 e trabalhando em parceria, “pera averem de ter impressão na [...] universidade”. Aos impressores, em conjunto, seria pago o ordenado anual de 12.000 réis e gozariam do privilégio de serem e se intitularem tipógrafos exclusivos da Universidade. Os instrumentos e materiais de impressão que o rei oferecera estavam guardados numa dependência dos paços reais, onde a Universidade se instalara, e eram fornecidos aos impressores, quando estes os necessitavam, por Fernão Lopes de Castanheda, guarda do cartório e da livraria, a cuja responsabilidade estavam confiados.
O que importa distinguir claramente é entre a propriedade e a administração de um conjunto de materiais e instrumentos tipográficos adequados às necessidades específicas da Universidade – e que, na altura, era de valor apreciável –, e a forma de ligação que ela criava e mantinha com aqueles que lhe forneciam a capacidade técnica para rentabilizar convenientemente o espólio que dispunha, neste último caso – à semelhança do que fazia para a prestação de outros serviços – assegurava o concurso de profissionais especializados por via de instrumento legal que lhe conferia prerrogativas e seguranças específicas. A imprensa era propriedade sua; os impressores eram da Universidade mas não necessitavam de abandonar a sua actividade independente.
Em 1560, após a morte de Fernão Lopes de Castanheda, estes materiais – dois prelos, doze caixas para letras, setecentas e catorze letras de títulos e começos de capítulos, catorze quintais de estanho, “miudanças e guarnições” – a que se juntaram “letras e matrizes” vindas da tipografia do Colégio das Artes, foram entregues aos dois impressores, João de Barreira e João Álvares, como fiéis depositários, obrigando-se estes a restituí-los à Universidade se e quando esta lhos pedisse. O valor da imprensa doada por D. João III à Universidade era de “setecentos e sessenta e tantos mil réis”.
Era importante esta segurança de exclusividade; e não o era menos a honra de poder intitular-se impressor da Universidade, fonte de prestígio e atestado de competência, susceptível de atrair outra clientela: “os livreiros e os impressores orgulhavam-se de trabalhar para a Universidade e sob a sua égide. O título de “Tytpgraphus Universitatis” valia tanto como o de “Typographus Regius”.
A Universidade terá o cuidado de celebrar novos contratos, de modo a dispor do serviço de dois impressores privilegiados (os quais, a partir dos Estatutos de 1591, são enumerados de entre os seus oficiais), por vezes aceitando que as viúvas dos que haviam falecido continuem a sua actividade.
O carácter vitalício do contrato tinha como consequência normal o assumir de responsabilidades – e mesmo das funções exercidas – pelos herdeiros do impressor quando este falecia. Esta disposição genérica não impedia, contudo, que, para obras de maior envergadura, se estabelecessem acordos especiais.
Para além de assegurar, por esta via, em condições de prioridade, a impressão de trabalhos de lentes e estudantes e mais pessoas do seu grémio, a Universidade exerceu, ao longo deste período, uma acção muito importante no fomento de publicações, emprestando dinheiro aos autores que desejavam editar as suas obras.
Desde muito cedo é possível rastrear a figura do corrector da imprensa e dar conta da finalidade da instituição deste cargo: Em 18 de Dezembro de 1554, D.João III, ao nomear para ele ao licenciado Fernão de Oliveira, diz fazê-lo na sequência de uma provisão que passara em 1549, pela qual determinara “que na dita universidade ouvese hum correitor da inpresam della que tevesse cargo de ver, emmendar & prover toda a escritura que se ouvesse de inprimir na dita inprensam de maneira que se inprimisse & acabasse com toda a perfeição que deve ser”. Este cuidado e alta estima em que era cotado o cargo de corretor da imprensa vêm mais uma vez exarados nos Estatutos de 1597.
A tardia introdução da imprensa em Coimbra, em 1530, numa altura em que já se espalhara não só em numerosas cidades europeias mas noutras localidades do país parece fazer parte do processo que conduziu à transferência da Universidade e à fundação do Colégio das Artes.
Coincidindo com esta orientação geral, a Universidade de Coimbra procurou apetrechar-se com os meios tipográficos indispensáveis ao serviço e à difusão da cultura, após a sua instalação definitiva na cidade, em 1537, por decisão de D. João III.
Em 1539, D. João III concedeu aos livreiros que tivessem, em Coimbra, “suas tendas com cópias de livros das ciências que se na dita universidade lêem”, todos os privilégios e liberdades dos estudantes e oficiais da Universidade.
Em 1546, o Conselho da Universidade, presidido pelo Reitor, Fr. Diogo de Murça, dava procuração a João Álvares, impressor, para se deslocar a Lisboa e arrecadar “toda a impressão de que hora el rey noso senhor fez merce a este Estudo, para trazer a ele” e também para “a avalyara e lhe por os preços que justos forem”. Ficava assim a Universidade com um valioso conjunto de instrumentos e materiais de imprensa.
Em 1548, D. João III confirmou, por provisão, o contrato que, por sua comissão, o mesmo Fr. Diogo de Murça tinha celebrado com os impressores João de Barreira e João Álvares, estabelecidos em Coimbra desde 1542 e trabalhando em parceria, “pera averem de ter impressão na [...] universidade”. Aos impressores, em conjunto, seria pago o ordenado anual de 12.000 réis e gozariam do privilégio de serem e se intitularem tipógrafos exclusivos da Universidade. Os instrumentos e materiais de impressão que o rei oferecera estavam guardados numa dependência dos paços reais, onde a Universidade se instalara, e eram fornecidos aos impressores, quando estes os necessitavam, por Fernão Lopes de Castanheda, guarda do cartório e da livraria, a cuja responsabilidade estavam confiados.
O que importa distinguir claramente é entre a propriedade e a administração de um conjunto de materiais e instrumentos tipográficos adequados às necessidades específicas da Universidade – e que, na altura, era de valor apreciável –, e a forma de ligação que ela criava e mantinha com aqueles que lhe forneciam a capacidade técnica para rentabilizar convenientemente o espólio que dispunha, neste último caso – à semelhança do que fazia para a prestação de outros serviços – assegurava o concurso de profissionais especializados por via de instrumento legal que lhe conferia prerrogativas e seguranças específicas. A imprensa era propriedade sua; os impressores eram da Universidade mas não necessitavam de abandonar a sua actividade independente.
Em 1560, após a morte de Fernão Lopes de Castanheda, estes materiais – dois prelos, doze caixas para letras, setecentas e catorze letras de títulos e começos de capítulos, catorze quintais de estanho, “miudanças e guarnições” – a que se juntaram “letras e matrizes” vindas da tipografia do Colégio das Artes, foram entregues aos dois impressores, João de Barreira e João Álvares, como fiéis depositários, obrigando-se estes a restituí-los à Universidade se e quando esta lhos pedisse. O valor da imprensa doada por D. João III à Universidade era de “setecentos e sessenta e tantos mil réis”.
Era importante esta segurança de exclusividade; e não o era menos a honra de poder intitular-se impressor da Universidade, fonte de prestígio e atestado de competência, susceptível de atrair outra clientela: “os livreiros e os impressores orgulhavam-se de trabalhar para a Universidade e sob a sua égide. O título de “Tytpgraphus Universitatis” valia tanto como o de “Typographus Regius”.
A Universidade terá o cuidado de celebrar novos contratos, de modo a dispor do serviço de dois impressores privilegiados (os quais, a partir dos Estatutos de 1591, são enumerados de entre os seus oficiais), por vezes aceitando que as viúvas dos que haviam falecido continuem a sua actividade.
O carácter vitalício do contrato tinha como consequência normal o assumir de responsabilidades – e mesmo das funções exercidas – pelos herdeiros do impressor quando este falecia. Esta disposição genérica não impedia, contudo, que, para obras de maior envergadura, se estabelecessem acordos especiais.
Para além de assegurar, por esta via, em condições de prioridade, a impressão de trabalhos de lentes e estudantes e mais pessoas do seu grémio, a Universidade exerceu, ao longo deste período, uma acção muito importante no fomento de publicações, emprestando dinheiro aos autores que desejavam editar as suas obras.
Desde muito cedo é possível rastrear a figura do corrector da imprensa e dar conta da finalidade da instituição deste cargo: Em 18 de Dezembro de 1554, D.João III, ao nomear para ele ao licenciado Fernão de Oliveira, diz fazê-lo na sequência de uma provisão que passara em 1549, pela qual determinara “que na dita universidade ouvese hum correitor da inpresam della que tevesse cargo de ver, emmendar & prover toda a escritura que se ouvesse de inprimir na dita inprensam de maneira que se inprimisse & acabasse com toda a perfeição que deve ser”. Este cuidado e alta estima em que era cotado o cargo de corretor da imprensa vêm mais uma vez exarados nos Estatutos de 1597.
O Marquês de Pombal e a Imprensa da Universidade
A Reforma Pombalina
Em 1759, no reinado de D. José, foram extintos os privilégios dos impressores da Universidade. No mesmo ano, foi sequestrada a imprensa do Colégio das Artes, estabelecida em Coimbra desde 1710, acto que antecedeu de alguns meses a expulsão dos jesuítas por “perpetua proscripção e desnaturalização dos denominados jesuítas”.
Com o espólio da imprensa dos jesuítas, o Marquês providenciou a fundação da Real Officina da Universidade, que ficou a ser administrada pelo impressor José Correia da Costa. Em 1767, o espólio da Real Officina da Universidade foi reforçado com tipos oriundos da “nova” imprensa do Mosteiro de Santa Cruz que havia sido confiada aos cónegos regrantes de Santo Agostinho desde 1758, com a finalidade de servir a Academia Litúrgica. Nesse ano de 1767, o Marquês extinguiu a Academia.
A Real Officina da Universidade não dispunha, contudo, de condições adequadas que permitissem imprimir os Novos Estatutos da Universidade, assim como outros livros para o ensino. O Marquês de Pombal teve, por isso, de os mandar imprimir na tipografia régia, em Lisboa. Esta tipografia fora criada em Dezembro de 1768, tendo estado na origem da actual Imprensa Nacional. Por Carta Régia de 7 de Fevereiro de 1769, foi determinado que o cofre da Universidade de Coimbra emprestasse ao da Impressão Régia 40.000$00 “para ajuda [...] do primeiro estabelecimento da ditta officina” tendo em conta que a Universidade beneficiaria com a sua instalação.
Com o espólio da imprensa dos jesuítas, o Marquês providenciou a fundação da Real Officina da Universidade, que ficou a ser administrada pelo impressor José Correia da Costa. Em 1767, o espólio da Real Officina da Universidade foi reforçado com tipos oriundos da “nova” imprensa do Mosteiro de Santa Cruz que havia sido confiada aos cónegos regrantes de Santo Agostinho desde 1758, com a finalidade de servir a Academia Litúrgica. Nesse ano de 1767, o Marquês extinguiu a Academia.
A Real Officina da Universidade não dispunha, contudo, de condições adequadas que permitissem imprimir os Novos Estatutos da Universidade, assim como outros livros para o ensino. O Marquês de Pombal teve, por isso, de os mandar imprimir na tipografia régia, em Lisboa. Esta tipografia fora criada em Dezembro de 1768, tendo estado na origem da actual Imprensa Nacional. Por Carta Régia de 7 de Fevereiro de 1769, foi determinado que o cofre da Universidade de Coimbra emprestasse ao da Impressão Régia 40.000$00 “para ajuda [...] do primeiro estabelecimento da ditta officina” tendo em conta que a Universidade beneficiaria com a sua instalação.
O panorama tipográfico em Coimbra
A acção do Marquês de Pombal, ao concentrar todo o trabalho tipográfico na Imprensa da Universidade fez vibrar um duro golpe nas imprensas particulares que, aliás, acabaram por desaparecer em Coimbra.
Só em 1823 apareceu de novo uma imprensa particular em Coimbra, na Rua dos Coutinhos, fundada pelo Reitor da Sé Catedral, o Padre Manuel Nunes da Fonseca. Nos anos subsequentes, o número de tipografias foi aumentando, até atingir um total de 15, registado no ano de 1893.
A nova ImprensaA Real Officina da Universidade durou até 1772. Não estando à altura da Universidade reformada, tornou-se necessário fundar uma nova e mais grandiosa Imprensa. Para isso, era urgente encontrar um vasto edifício onde se pudesse instalar, vindo as condições a ocorrer com a mudança da antiga Sé Catedral para a Igreja dos Jesuítas – a actual Sé Nova. Tendo ficado devoluto o claustro da Sé Velha, foi ordenado pelo Marquês, por provisão de 15 de Outubro de 1772, que para aí fosse transferido todo o material da Real Officina da Universidade. Para tornar mais amplo o espaço e possibilitar uma perfeita instalação das oficina tipográficas, foram ainda expropriadas e anexadas as casas e quintais vizinhos da Sé Velha. Solucionado o problema do espaço, foi dado início às obras de adaptação às novas funções.
Para a construção do edifício da Imprensa, o Reitor D. Francisco de Lemos julgou conveniente mandar demolir a torre e a escadaria existentes em frente à porta principal da antiga Sé, bem como mandar suprimir uma pequena rua que ia da Rua do Norte em direcção ao Colégio de Santa Rita. As Instalações da Imprensa ficaram concluídas em Junho de 1773, tendo a oficina sido apetrechada com prelos e outro material tipográfico.
Nos inícios de 1773, foram nomeados Bernardo Correia de Azevedo Morato como administrador e Joaquim José da Silva Nogueira como primeiro abridor de buril das estampas. Joaquim Nogueira veio a revelar-se também como pintor. O retrato do Marquês de Pombal, então presente na grande sala de conferências da Imprensa da Universidade, foi disso testemunho.Apesar de todos os esforços feitos, a nova Imprensa ainda não tinha, em Outubro de 1773, o desenvolvimento suficiente para imprimir os livros que deviam servir no ano lectivo de 1773/1774. Por isso, foi necessário fazê-los imprimir em Lisboa na Tipografia Régia e enviá-los para Coimbra através do Porto da Figueira da Foz, dado o volume e o enorme peso que representavam as centenas de livros.
Outras medidas foram tomadas para fomentar a actividade da Imprensa, ou Tipografia Académica, como também a designava o Marquês. Por alvará de 16 de Dezembro de 1773, foi-lhe concedido o exclusivo da impressão dos “livros clássicos dos estudos mathematicos, por haver cessado o fim com que antes fora concedido ao Collegio Real dos Nobres”. Ficou ainda com o privilégio exclusivo para a impressão das Ordenações do Reino, que antes havia sido concedido ao Real Mosteiro de S. Vicente de Fora.Finalmente, em 12 de Abril de 1774, o Reitor da Universidade, D. Francisco de Lemos, enviou ao Marquês de Pombal exemplares dos primeiros livros que se imprimiriam na Imprensa: “dous volumes de Bezout, hum de Lógica e Metaphysica de Genuense, e o quarto de Van-Espen”.
Só em 1823 apareceu de novo uma imprensa particular em Coimbra, na Rua dos Coutinhos, fundada pelo Reitor da Sé Catedral, o Padre Manuel Nunes da Fonseca. Nos anos subsequentes, o número de tipografias foi aumentando, até atingir um total de 15, registado no ano de 1893.
A nova ImprensaA Real Officina da Universidade durou até 1772. Não estando à altura da Universidade reformada, tornou-se necessário fundar uma nova e mais grandiosa Imprensa. Para isso, era urgente encontrar um vasto edifício onde se pudesse instalar, vindo as condições a ocorrer com a mudança da antiga Sé Catedral para a Igreja dos Jesuítas – a actual Sé Nova. Tendo ficado devoluto o claustro da Sé Velha, foi ordenado pelo Marquês, por provisão de 15 de Outubro de 1772, que para aí fosse transferido todo o material da Real Officina da Universidade. Para tornar mais amplo o espaço e possibilitar uma perfeita instalação das oficina tipográficas, foram ainda expropriadas e anexadas as casas e quintais vizinhos da Sé Velha. Solucionado o problema do espaço, foi dado início às obras de adaptação às novas funções.
Para a construção do edifício da Imprensa, o Reitor D. Francisco de Lemos julgou conveniente mandar demolir a torre e a escadaria existentes em frente à porta principal da antiga Sé, bem como mandar suprimir uma pequena rua que ia da Rua do Norte em direcção ao Colégio de Santa Rita. As Instalações da Imprensa ficaram concluídas em Junho de 1773, tendo a oficina sido apetrechada com prelos e outro material tipográfico.
Nos inícios de 1773, foram nomeados Bernardo Correia de Azevedo Morato como administrador e Joaquim José da Silva Nogueira como primeiro abridor de buril das estampas. Joaquim Nogueira veio a revelar-se também como pintor. O retrato do Marquês de Pombal, então presente na grande sala de conferências da Imprensa da Universidade, foi disso testemunho.Apesar de todos os esforços feitos, a nova Imprensa ainda não tinha, em Outubro de 1773, o desenvolvimento suficiente para imprimir os livros que deviam servir no ano lectivo de 1773/1774. Por isso, foi necessário fazê-los imprimir em Lisboa na Tipografia Régia e enviá-los para Coimbra através do Porto da Figueira da Foz, dado o volume e o enorme peso que representavam as centenas de livros.
Outras medidas foram tomadas para fomentar a actividade da Imprensa, ou Tipografia Académica, como também a designava o Marquês. Por alvará de 16 de Dezembro de 1773, foi-lhe concedido o exclusivo da impressão dos “livros clássicos dos estudos mathematicos, por haver cessado o fim com que antes fora concedido ao Collegio Real dos Nobres”. Ficou ainda com o privilégio exclusivo para a impressão das Ordenações do Reino, que antes havia sido concedido ao Real Mosteiro de S. Vicente de Fora.Finalmente, em 12 de Abril de 1774, o Reitor da Universidade, D. Francisco de Lemos, enviou ao Marquês de Pombal exemplares dos primeiros livros que se imprimiriam na Imprensa: “dous volumes de Bezout, hum de Lógica e Metaphysica de Genuense, e o quarto de Van-Espen”.
Entre a Reforma Pombalina e a República
O primeiro Regimento da Imprensa
Pode dizer-se que a Imprensa se deve ao esclarecimento e à determinação do Marquês de Pombal e de D. Francisco de Lemos. Nem a morte de D. José I, em 24 de Fevereiro de 1777, nem o consequente afastamento do Marquês de Pombal, como seu fundador, abalaram os alicerces da Imprensa. A rainha D. Maria I continuou a olhar a Imprensa com o entusiasmo que anteriormente lhe era votado, facultando poderes ao director para desenvolver o aperfeiçoamento da arte tipográfica.
Em 9 de Janeiro de 1790, por alvará régio, foi publicado o seu primeiro Regimento. Passou a denominar-se Real Imprensa da Universidade ou Imprensa da Universidade.No Regimento constavam:
-as atribuições de todos os seus funcionários e a isenção de direitos para o papel, durante dez anos;
-o dever de serem entregues à Biblioteca da Universidade, bem encadernados, dois exemplares de todos os títulos publicados;
-a forma de governo da Imprensa da Universidade, que seria provido pelo Conselho de Decanos e constituído por:
Em 9 de Janeiro de 1790, por alvará régio, foi publicado o seu primeiro Regimento. Passou a denominar-se Real Imprensa da Universidade ou Imprensa da Universidade.No Regimento constavam:
-as atribuições de todos os seus funcionários e a isenção de direitos para o papel, durante dez anos;
-o dever de serem entregues à Biblioteca da Universidade, bem encadernados, dois exemplares de todos os títulos publicados;
-a forma de governo da Imprensa da Universidade, que seria provido pelo Conselho de Decanos e constituído por:
*“Um Director, pessoa dotada de instrução competente de bibliografia e de arte tipográfica;
Um Revisor, o qual deveria ter a inteligência necessária das línguas e das matérias;
*Um Administrador – para o qual se deveria eleger um mestre impressor ou mercador de livros”.
O Governo da Imprensa da Universidade tinha a obrigação de se reunir semanalmente em conferência. Em cada reunião eram abordados os assuntos correntes e examinada toda a actividade da Imprensa, desde a conferência antecedente, designadamente o trabalho dos oficiais nas obras, a saída das produções da Oficina, os provimentos necessários e meios económicos para as obras, a impressão ou reimpressão e outros trabalhos em cursos. A todas as reuniões deveria assistir igualmente o escriturário ou guarda livros, que tinha a seu cargo o livro de registos, onde eram lançados os despachos e as resoluções. O primeiro Governo da Imprensa da Universidade teve como revisor, José Fernandes Álvares Fortuna, professor de Grego, como director João António Bezerra de Lima, professor de Gramática Latina e como administrador António Barneoud, mercador de livros, em Coimbra.
Os privilégios dos funcionários da Imprensa
À semelhança do que já acontecia com os demais funcionários qualificados da Universidade, foram também dados privilégios aos da Imprensa. Data de 1796, o registo da carta de privilégios passada em favor de Joaquim José nogueira, abridor de buril: “Os privilégios são os seguintes: o conservador da Universidade ou quem o seu cargo servir he somente o juízo privativo e competente do suplicante [...] he mais priveligiado e libertado de servir cargos do concelho (não procurador, almotacé, sacador, recebedor) nada pagara para fintas de pontes, portas, caminhos, muros, calçadas, pedidos de palha, empréstimos que para bolsa de morada de presos [...] libertado pêra se lhe tomarem suas casas de morada, adegas, estrabarias, roupas, camas, pão, cevada, palha, carneiro [...]”.
A actividade da Imprensa
Dos prelos da Imprensa saíam então os manuais da Reforma Pombalina, obras relativas a cada faculdade e outras publicações, como periódicos de estudantes e folhetos. Aí eram igualmente produzidos os livros de utilização interna: livros de matrículas e de exames, cartas de curso e bem assim teses e outras provas académicas.Para além disso, como o trabalho pedido pela Universidade não preenchia a capacidade plena de funcionamento da oficina, e não houve em Coimbra imprensas particulares até 1823, imprimia ainda trabalhos externos à Universidade. A partir de 1800, a Imprensa da Universidade iniciou a publicação de um importante repertório da relação de alunos nela inscritos sob a designação “Relação e índice alphabetico dos estudantes matriculados na Universidade de Coimbra”. Esta publicação passou a designar-se, a partir de 1865-66, por Anuário, e a partir de 1866-67, por Anuário da Universidade. A estrutura da obra foi-se alterando, alargando-se a informação a diversos aspectos da vida da Universidade, a partir de 1869-70.
O âmbito das obras publicadas pela Imprensa da Universidade
Os autores e as obras preferidas pela Imprensa da Universidade para serem impressas e as que eram difundidas são reveladoras de uma época, mas também do espírito que presidiu principalmente à Reforma delineada pelo Marquês de Pombal. Algumas encontravam-se inclusive no Índex. Além disso, as obras eram também a expressão fiel do cumprimento do espírito do Regimento que determinava que a conferência devia deliberar sobre a “impressão ou reimpressão das obras com tanto que não fossem obras fúteis, nas quais não devia trabalhar a Imprensa da Universidade, ainda que por outra parte se visse que haveriam de ter grande consumo”. Através das obras impressas ou difundidas ressaltam nomes de grandes personalidades em quase todos os campos das ciências – Direito, Botânica, Filosofia, Matemática, História, Teologia, Oratória, Medicina, Química, História Natural, Astronomia, Física Experimental – e foram veiculadas as grandes correntes culturais, ideológicas, políticas, religiosas, económicas e científicas que cruzavam a Europa de lés a lés. Na base das obras difundidas e de quase todos os autores publicados estava o iluminismo a expressar, de certo modo, a mundividência seguida na Reforma Pombalina. Já no século XVIII, a Imprensa da Universidade possuía uma loja de vendas, no edifício da própria Imprensa Nela se comercializavam os livros aí impressos, mas também muitos outros títulos importados do estrangeiro.
Os “livros obrigatórios”
No século XIX, os editais do reitor afixados no início do ano lectivo publicavam a lista dos livros de que o aluno se deveria munir para frequentar as aulas. De forma ainda mais peremptória, chegaram a determinar que não seria admitido à matrícula académica nenhum estudante que não apresentasse uma declaração da Imprensa da Universidade em como tinha comprado os compêndios do ano que pretendia frequentar, bem como os demais livros necessários para ouvir com proveito as respectivas lições.
As Invasões Francesas e a Imprensa da Universidade
Durante as invasões, os prejuízos foram enormes para a Imprensa, tendo-se traduzido em estragos em todo o edifício, em saque dos armazéns com roubo ou inutilização de quase todo o papel existente, e em destruição de prelos, de tipos e de livros. Em 1808, por despacho do vice-reitor, foi publicado pela Imprensa da Universidade o jornal Minerva Lusitana, o primeiro periódico conimbricense. Nele foi dado conhecimento público do valor e patriotismo da nação, e do estado das operações militares e da insurreição contra o exército de Junot, à qual Coimbra aderiu em 23 de Junho de 1808. O lente de Medicina, Joaquim Navarro de Andrade, bem como Luís do Coração de Maria foram quem mais contribuiu para a publicação de diversos números deste periódico.
A Imprensa da Universidade e a revolução liberal de 1820
No período da revolução liberal, a Universidade viveu um período conturbado. Foram grandes as polémicas e as críticas à Universidade e à sua Imprensa.
A Academia, em demonstração de júbilo pela revolução liberal, resolveu celebrar na Sala dos Capelos um outeiro, ou sarau poético, que se realizou em Novembro, com a participação, entre outros, de Almeida Garrett e de António Feliciano de Castilho. Alguns jornais estudantis de então, de crítica à Universidade, foram publicados pela Imprensa, como é o caso do Censor Provinciano. Era seu director um estudante de Medicina, José Pinto Rebelo de Carvalho, que viria a ser expulso da Universidade, na sequência da reacção absolutista.A Collecção de Poesias recitadas na sala dos actos grandes, em 1821, em louvor da nova ordem constitucional, e que incluiu algumas críticas ao vice-reitor, também foi publicada pela Imprensa.
Dos prelos da Imprensa, saiu também, no ano de 1821, "O Regimento da Proscripta Inquisição de Portugal", ordenado pelo inquisidor geral o Cardeal da Cunha e publicado por José Maria de Andrade. Na introdução desta obra, compara-se a Inquisição a “uma devastadora peste”, acrescentando ainda que terão sido mais de 32.000 as vítimas da Inquisição, sendo que mais de um milhar terá sido “lançado em labaredas”.
A Inquisição foi extinta em 1821, na sequência da revolução liberal. É ainda de 1821, a publicação pela Imprensa da Universidade do poema Retrato de Vénus, da autoria de Almeida Garrett. Este livro viria a ter a sua venda proibida, sob pena de excomunhão maior, muito por obra dos protestos do padre José Agostinho de Macedo.
A Academia, em demonstração de júbilo pela revolução liberal, resolveu celebrar na Sala dos Capelos um outeiro, ou sarau poético, que se realizou em Novembro, com a participação, entre outros, de Almeida Garrett e de António Feliciano de Castilho. Alguns jornais estudantis de então, de crítica à Universidade, foram publicados pela Imprensa, como é o caso do Censor Provinciano. Era seu director um estudante de Medicina, José Pinto Rebelo de Carvalho, que viria a ser expulso da Universidade, na sequência da reacção absolutista.A Collecção de Poesias recitadas na sala dos actos grandes, em 1821, em louvor da nova ordem constitucional, e que incluiu algumas críticas ao vice-reitor, também foi publicada pela Imprensa.
Dos prelos da Imprensa, saiu também, no ano de 1821, "O Regimento da Proscripta Inquisição de Portugal", ordenado pelo inquisidor geral o Cardeal da Cunha e publicado por José Maria de Andrade. Na introdução desta obra, compara-se a Inquisição a “uma devastadora peste”, acrescentando ainda que terão sido mais de 32.000 as vítimas da Inquisição, sendo que mais de um milhar terá sido “lançado em labaredas”.
A Inquisição foi extinta em 1821, na sequência da revolução liberal. É ainda de 1821, a publicação pela Imprensa da Universidade do poema Retrato de Vénus, da autoria de Almeida Garrett. Este livro viria a ter a sua venda proibida, sob pena de excomunhão maior, muito por obra dos protestos do padre José Agostinho de Macedo.
Requisição de equipamentos e tipógrafos por D. Miguel
Em 1833, foram requisitados à Imprensa da Universidade, pelo exército de D. Miguel, dois prelos e alguns tipógrafos, para imprimirem as "Ordens do Dia" e o "Boletim do Exército", na sequência da retirada do Porto com o seu exército a fim de ir sitiar Lisboa.
O objectivo foi a impressão de um jornal no seu quartel, onde especialmente se publicassem as ordens do dia à força armada, quer durante as marchas, quer nos diversos pontos onde tivesse de acantonar. Esta pequena tipografia de campanha denominada Typographia da Intendência Geral da Policia do Exercito, acompanhou o exército realista durante toda a sua luta política e assistiu à convenção de Évora Monte, em 26 de Maio de 1834. O Boletim do Exercito, que teve como redactor o bacharel António Pimentel Soares, natural de Coimbra, foi publicado em diversas localidades: Coimbra, Leiria, Caldas da Rainha, Óbidos, Mafra, Cabeço de Monchique, Lumiar e Santarém.
O objectivo foi a impressão de um jornal no seu quartel, onde especialmente se publicassem as ordens do dia à força armada, quer durante as marchas, quer nos diversos pontos onde tivesse de acantonar. Esta pequena tipografia de campanha denominada Typographia da Intendência Geral da Policia do Exercito, acompanhou o exército realista durante toda a sua luta política e assistiu à convenção de Évora Monte, em 26 de Maio de 1834. O Boletim do Exercito, que teve como redactor o bacharel António Pimentel Soares, natural de Coimbra, foi publicado em diversas localidades: Coimbra, Leiria, Caldas da Rainha, Óbidos, Mafra, Cabeço de Monchique, Lumiar e Santarém.
A Imprensa da Universidade e a “Lei das Rolhas”
Em 1850 foi apresentado ao Parlamento um projecto de lei destinado a limitar a liberdade de imprensa, mais conhecido por “Lei das Rolhas”. A Universidade reagiu energicamente contra este projecto, cujas disposições afectavam os seus próprios professores. Vicente Ferrer Neto Paiva escreveu um opúsculo intitulado Defesa da Representação dos Lentes da Universidade de Coimbra contra o referido projecto, dedicando-o à memória do Marquês de Pombal, na sua qualidade de Reformador da Universidade.
Regulamento Provisório de 1854
Em 1853, uma portaria ministerial nomeou uma Comissão para elaborar o Regulamento de Funcionamento da Imprensa. No Regulamento Provisório para a Imprensa da Universidade de Coimbra, publicado em 1854, ficaram estabelecidas, em pormenor, as penas pelas faltas de serviço e infracções do Regulamento, bem como as funções dos seus trabalhadores: fiel de armazém, alçador, fiel da loja de livros, director das oficinas de composição, compositores, aprendizes de compositor, mestre dos impressores, impressores e ajudantes, porteiro, polícia interna do estabelecimento. Nas disposições gerais ficou clara a proibição de ingerência directa ou indirecta nos negócios de qualquer outra oficina tipográfica ou de trabalhar simultaneamente noutra oficina.
Manifesto contra as Portarias do Sr. Reitor
No interior do operariado da Imprensa da Universidade, a luta por direitos adquiridos contra as determinações do reitor, consideradas ilegais, tiveram expressão pela pena de Delfim Gomes, em 1896. O manifesto deste tipógrafo foi naturalmente publicado fora da Imprensa, na tipografia França Amado também de Coimbra. As determinações do reitor estariam em relação com as crises periódicas verificadas na Imprensa por “desequilíbrio sempre progressivo entre o quantum de trabalho e o número de produtores”, já que o número de operários ia aumentando (naquele ano, contabilizavam-se 37 elementos entre dirigente e operários) e o trabalho ia decrescendo, devido à concorrência vantajosa das imprensas particulares ( 3 anos antes, tinham sido contadas 15 imprensas particulares em Coimbra). No entanto, o procedimento adoptado não foi julgado consentâneo com as posturas legais nem com o respeito por direitos adquiridos, o que levou à divulgação pública da posição do operariado e a um apelo ao Ministro do Reino.
A vigilância das publicações pelo Governo do Reino e a demissão do director
Na estrutura de Governo da Imprensa havia em 1871, a figura do director. Tratava-se de um lugar intermediário entre o administrador e o reitor, ocupado então pelo Dr. Bernardo da Serpa Pimentel. Com autorização do director, foi publicado pela Imprensa da Universidade o “célebre e ruidoso” manifesto do Dr. José Falcão – A communa de Paris e o governo de Versailles. A publicação originou, como consequência, uma Portaria do Ministério do Reino, com data de 20 de Junho de 1871, a demitir o director. Subsequentemente, o lugar de director foi extinto por decreto regulamentar de 12 de Julho do mesmo ano, ficando apenas o cargo de administrador.
“A direcção da Imprensa da Universidade de Coimbra incumbe ao administrador, sob a imediata inspecção do reitor. Na falta ou impedimento do administrador da Imprensa, o reitor da Universidade provê interinamente a substituição”.
Pelo mesmo Regulamento também era alterada a forma de acesso aos lugares de administrador e de revisor, uma vez que passavam a ser providos por concurso público.
“A direcção da Imprensa da Universidade de Coimbra incumbe ao administrador, sob a imediata inspecção do reitor. Na falta ou impedimento do administrador da Imprensa, o reitor da Universidade provê interinamente a substituição”.
Pelo mesmo Regulamento também era alterada a forma de acesso aos lugares de administrador e de revisor, uma vez que passavam a ser providos por concurso público.
A homenagem ao Marquês pelos funcionários da Imprensa
Em 1882, quando do centenário da morte do Marquês de Pombal, a sua memória ainda se encontrava bem viva nos funcionários da Imprensa. Em homenagem ao Marquês, foi editada uma pagela subscrita pelos seus “Empregados e Artistas”.
Da Implantação da República à extinção da Imprensa
A proclamação da República abriu o espaço intelectual português a inovações, tanto no campo da docência, como no progresso técnico e científico. A revitalização da Universidade proporcionada pelo novo regime traduziu-se, entre outros aspectos, na publicação de novas revistas científicas e no apoio às actividades editoriais. Em 1919, foi inaugurada a Universidade Popular Portuguesa, com uma conferência de Leonardo Coimbra. Em Fevereiro de 1925, foi criada a Universidade Livre de Coimbra, da qual Joaquim de Carvalho foi um dos promotores.
Joaquim de Carvalho, administrador da Imprensa da Universidade
Joaquim de Carvalho, professor de Filosofia da Faculdade de Letras, foi um intelectual republicano e liberal. Tinha 29 anos quando foi nomeado administrador da Imprensa da Universidade, a 30 de Julho de 1921. Sob a sua administração, a Imprensa assumiu, de forma evidente, o papel de editora, a par do trabalho tipográfico.
A Imprensa da Universidade como estabelecimento modelar
Durante os cento e sessenta e dois anos de existência, a obra empreendida pela Imprensa da Universidade na cultura portuguesa foi notável, pois além da impressão de livros didácticos dirigidos para o ensino universitário, a sua bibliografia inclui muitas outras obras de carácter literário e artístico.
A Imprensa como escola tipográfica
Os recursos humanos da Imprensa da Universidade eram altamente qualificados. Para além das diversas categorias profissionais inerentes à arte tipográfica havia o mestre da escola tipográfica. O mestre ensinava a “arte de bem imprimir” a um grupo de aprendizes, que iriam garantir a continuidade. Há exemplos de funcionários que começavam por aprendizes e percorriam as diversas categorias profissionais, a par de estudos universitários. Para Joaquim de Carvalho, as preocupações de formação também estiveram presentes. Este aspecto é óbvio em carta de Salazar a Joaquim de Carvalho, quando escreve em 25 de Janeiro de 1922: “Recebi a sua prezada carta de ontem acêrca dos aprendizes que V. necessita na sua Escola da Imprensa e que V. preferia saídos do colégio dos Órfãos[...]”.
A Imprensa como espaço de solidariedade
Os funcionários da Imprensa da Universidade como forma de providenciarem a sua assistência social e a dos seus familiares criaram um Monte-Pio de Beneficência. Foi fundado em 8 de Setembro de 1849, por dezasseis artistas da Imprensa. É o Monte-Pio mais antigo de Coimbra. Tinha por fim socorrer os associados, nas suas doenças e incapacidades e prestar-lhes honras fúnebres.
“Quando mal precavidos, somos assaltados das doenças e enfermidades que nos embaraçam o exercício da nossa profissão, impedindo-nos de adquirir os meios necessários para a subsistência, abrigamo-nos sob o manto d’esta Sociedade, e n’ella encontramos o allivio para o soffrimento e o subsidio para a privação. Desta maneira achamos remédio e socorro na associação de nossas pequenas forças, as quaes, pequenas e insufficientes de per si, reunidas formam no seu complexo um asilo seguro para a desgraça, um escudo poderoso contra a adversidade (…). Da nossa parte filhos do povo contribuímos também como podemos para esta nobre missão social. Se os antigos acudiam ás desgraças alheias com os sobejos das suas riquezas, nós pretendemos atalhar ou attenuar as nossas desgraças com módicas contribuições, devidas aos suores do nosso trabalho (…)”.
“Quando mal precavidos, somos assaltados das doenças e enfermidades que nos embaraçam o exercício da nossa profissão, impedindo-nos de adquirir os meios necessários para a subsistência, abrigamo-nos sob o manto d’esta Sociedade, e n’ella encontramos o allivio para o soffrimento e o subsidio para a privação. Desta maneira achamos remédio e socorro na associação de nossas pequenas forças, as quaes, pequenas e insufficientes de per si, reunidas formam no seu complexo um asilo seguro para a desgraça, um escudo poderoso contra a adversidade (…). Da nossa parte filhos do povo contribuímos também como podemos para esta nobre missão social. Se os antigos acudiam ás desgraças alheias com os sobejos das suas riquezas, nós pretendemos atalhar ou attenuar as nossas desgraças com módicas contribuições, devidas aos suores do nosso trabalho (…)”.
A Imprensa como espaço de acolhimento da Associação dos Artistas de Coimbra
A Imprensa da Universidade acolheu a Associação dos Artistas de Coimbra fundada em 1862, sob a presidência de Olímpio Nicolau Rui Fernandes, então seu administrador.
A superior qualidade dos trabalhos da Imprensa
São famosos os trabalhos dos tipógrafos da Imprensa. A excepcional qualidade tipográfica esteve bem patente nos seus livros que figuraram nas exposições de Florença e de Madrid realizadas no ano de 1928.
O reconhecimento da excelência da Imprensa
Também Salazar explicitou a valia que tinha a Imprensa da Universidade quando, em 1922, na carta já anteriormente referida comparou o benefício que os “pequenos que se destinam a tipógrafos” teriam de frequentar a escola tipográfica da Imprensa, ao afirmar sem rodeios, dirigindo-se a Joaquim de carvalho: “A sua Imprensa tinha a vantagem do estabelecimento modelar que é [...]”.
A extinção da Imprensa da Universidade
Pelo decreto-lei de 30 de Junho de 1934, sendo Oliveira Salazar Primeiro Ministro saído da Universidade de Coimbra, a Imprensa foi extinta. Tratou-se de um acto político, inserido numa prática mais vasta de tendência autoritária, destinada a controlar ou neutralizar instituições e pessoas com possibilidades de quebrar a lógica unitária do regime. A Imprensa da Universidade, com operariado progressista e com uma direcção também democrática constituía na época uma poderosa arma política. Após a extinção, parte do seu material foi dado à guarda da Imprensa Nacional de Lisboa, outra parte ficou dispersa, como os prelos. As 37 obras em curso de que dá conta o rol feito no momento da extinção, os múltiplos títulos incluídos nas 11 colecções em aberto e as palavras dos notáveis que expressaram a sua voz, com o insuspeito Alfredo Pimenta a referir no Diário de Notícias a “gloriosa folha de serviços” da Imprensa, mostram a superior actividade e valia da acção desenvolvida por Joaquim de Carvalho como administrador.
Reacções à extinção da Imprensa da Universidade
Por parte do Senado e da Assembleia da Universidade não houve nenhuma reacção firme. Apenas foi produzida uma inócua afirmação de apreço pelo papel desempenhado por Joaquim de Carvalho e de perplexidade por o Reitor João Duarte de Oliveira não ter tido conhecimento prévio da referida medida.
“Falar da extinção da Imprensa da Universidade, secular instituição de criação pombalina, cujo último administrador (de 1921 a 1934/35) foi o republicano histórico, assumidamente demoliberal, Joaquim de Carvalho, é falar de todo o movimento de controlo do Estado Novo sobre as várias instituições e sobre as várias correntes de opinião. O objectivo era criar uma só ideologia, no âmbito do que se chamou, de forma eufemística, a “União Nacional”. Daí que terá de se entender a extinção da Imprensa como uma forma de neutralizar uma instituição com grande produção editorial e impressora, que eventualmente poderia fugir da fiscalização do Estado. Joaquim de Carvalho como bom republicano, pertenceu a organizações características do movimento, nomeadamente a Universidade Livre, criada em 1925, e a Maçonaria [...], defensor de uma moral arreligiosa e sem sanções, baseada no princípio da solidariedade [...]. A Universidade perdera a sua autonomia desde que o reitor não só passara a ser livremente nomeado pelo Governo, mas principalmente na medida em que passara a ser considerado, desde a legislação de 1930, o “representante do Ministro da Instrução Pública perante a Universidade”.
Em 1936 por “ordem de serviço” do Ministro da Educação, de 6 de Novembro, foi suspensa a representação dos estudantes no Senado e na Assembleia Geral da Universidade e, no mesmo mês, foram suspensas as eleições na Associação Académica de Coimbra, tendo sido nomeada a primeira Comissão Administrativa.O maior cuidado consistiu em assegurara que o edifício da Imprensa se mantivesse na posse da Universidade e que não se extinguisse a acção editorial que a Imprensa vinha assegurando.
“Falar da extinção da Imprensa da Universidade, secular instituição de criação pombalina, cujo último administrador (de 1921 a 1934/35) foi o republicano histórico, assumidamente demoliberal, Joaquim de Carvalho, é falar de todo o movimento de controlo do Estado Novo sobre as várias instituições e sobre as várias correntes de opinião. O objectivo era criar uma só ideologia, no âmbito do que se chamou, de forma eufemística, a “União Nacional”. Daí que terá de se entender a extinção da Imprensa como uma forma de neutralizar uma instituição com grande produção editorial e impressora, que eventualmente poderia fugir da fiscalização do Estado. Joaquim de Carvalho como bom republicano, pertenceu a organizações características do movimento, nomeadamente a Universidade Livre, criada em 1925, e a Maçonaria [...], defensor de uma moral arreligiosa e sem sanções, baseada no princípio da solidariedade [...]. A Universidade perdera a sua autonomia desde que o reitor não só passara a ser livremente nomeado pelo Governo, mas principalmente na medida em que passara a ser considerado, desde a legislação de 1930, o “representante do Ministro da Instrução Pública perante a Universidade”.
Em 1936 por “ordem de serviço” do Ministro da Educação, de 6 de Novembro, foi suspensa a representação dos estudantes no Senado e na Assembleia Geral da Universidade e, no mesmo mês, foram suspensas as eleições na Associação Académica de Coimbra, tendo sido nomeada a primeira Comissão Administrativa.O maior cuidado consistiu em assegurara que o edifício da Imprensa se mantivesse na posse da Universidade e que não se extinguisse a acção editorial que a Imprensa vinha assegurando.
A actividade editorial na Universidade após a extinção
Após a extinção da Imprensa da Universidade, a actividade editorial de carácter científico manteve-se na Universidade de Coimbra. As Revistas Científicas da Universidade impressas na Imprensa até 1934 continuaram a ser publicadas, após a extinção, pelas Faculdades de Direito, Medicina, Ciências e pela Biblioteca Geral. As Revistas Científicas da Universidade que surgiram na década seguinte à sua extinção foram publicadas pelas Faculdade de Letras, Direito, Medicina, Ciências e Farmácia.
A Imprensa da Universidade no tempo presente
A história recente
Mediaram 64 anos entre a data da extinção da Imprensa da Universidade em 1934, e a sua reactivação em finais de 1998. Entretanto, foi criado o Serviço de Documentação e Publicações da Universidade por legislação de 1979, cabendo-lhe “programar, coordenar e orientar as publicações de carácter pedagógico, científico e cultural da Universidade”. Em 1986, Luís Reis Torgal, com a colaboração de Maria Antónia Amaral, em estudo solicitado pelo Reitor Rui Alarcão, defendeu, “a reactivação da Imprensa da Universidade de Coimbra, como tarefa prioritária”.
Em 1989, nos Estatutos da Universidade de Coimbra, foi contemplada a criação da Imprensa da Universidade. Ficou estabelecido que:
-“A Imprensa da Universidade de Coimbra tem por missão específica a definição da política editorial da Universidade, competindo-lhe igualmente programar, coordenar e orientar a publicação de obras de interesse cultural, científico e pedagógico;
-Incumbe-lhe ainda gerir a distribuição, a venda e o intercâmbio de publicações”.
Em 1989, nos Estatutos da Universidade de Coimbra, foi contemplada a criação da Imprensa da Universidade. Ficou estabelecido que:
-“A Imprensa da Universidade de Coimbra tem por missão específica a definição da política editorial da Universidade, competindo-lhe igualmente programar, coordenar e orientar a publicação de obras de interesse cultural, científico e pedagógico;
-Incumbe-lhe ainda gerir a distribuição, a venda e o intercâmbio de publicações”.
O início de actividade da Imprensa da Universidade de Coimbra
Em Dezembro de 1998, o Reitor, Fernando Rebelo, propôs ao Senado a eleição do Professor Fernando Regateiro, oriundo da Faculdade de Medicina, para o cargo de Director da Imprensa da Universidade. Com a sua eleição, foi iniciada a actividade da Imprensa.
Em Maio de 1999, entrou em funções o conselho editorial e em Julho o Senado aprovou o Regulamento da Imprensa.
Ainda em 1999, a Imprensa passou a dispor da Livraria da Imprensa da Universidade, dando continuidade a uma tradição que já vem do século XVIII.
Um ganho significativo, em termos de capacidade de resposta, decorreu da ancoragem da Imprensa no espaço físico e no quadro de pessoal do Serviço de Documentação e Publicações.A primeira obra editada pela Imprensa da Universidade, nesta nova fase , intitula-se Reitorando 1, da autoria de Rui Alarcão e foi lançada em 23 de Junho de 1999. Até ao presente (2001) foram publicadas obras nas séries Documentos, Investigação e Ensino. A colecção “O Estado da Arte” também foi aberta aos autores.
Procurando diversificar os suportes em função dos conteúdos e do público alvo, a Imprensa já editou em CD-ROM uma das suas obras da série Investigação.
Em Maio de 1999, entrou em funções o conselho editorial e em Julho o Senado aprovou o Regulamento da Imprensa.
Ainda em 1999, a Imprensa passou a dispor da Livraria da Imprensa da Universidade, dando continuidade a uma tradição que já vem do século XVIII.
Um ganho significativo, em termos de capacidade de resposta, decorreu da ancoragem da Imprensa no espaço físico e no quadro de pessoal do Serviço de Documentação e Publicações.A primeira obra editada pela Imprensa da Universidade, nesta nova fase , intitula-se Reitorando 1, da autoria de Rui Alarcão e foi lançada em 23 de Junho de 1999. Até ao presente (2001) foram publicadas obras nas séries Documentos, Investigação e Ensino. A colecção “O Estado da Arte” também foi aberta aos autores.
Procurando diversificar os suportes em função dos conteúdos e do público alvo, a Imprensa já editou em CD-ROM uma das suas obras da série Investigação.
O regresso do espólio da Imprensa à Universidade de Coimbra
A Imprensa da Universidade, desde o reinício de actividades, teve como intenção recuperar o que fosse possível do seu passado. Para isso, estabeleceu os necessários entendimentos com a Imprensa Nacional, na pessoa do seu Presidente Brás Teixeira, o que permitiu, em 2001, o regresso à Universidade de Coimbra de parte do seu antigo espólio, que se encontrava, desde 1934, à guarda daquela instituição. Nesse espólio, para além de documentos diversos, encontram-se nomeadamente, gravuras em cobre, tipos em madeira, tipos em metal e vinhetas, sendo que, algumas destas são, presumivelmente, restos do material oriundo da antiga imprensa dos Jesuítas.
A catalogação das obras impressas e editadas pela Imprensa da Universidade
A Imprensa da Universidade tema actualmente em curso o trabalho de catalogação das obras por si impressas ou editadas, desde a sua fundação até à actualidade. Pelo número de títulos já lançados, na primeira fase do trabalho, o catálogo deverá vir a comportar cerca de uma dezena de milhares de títulos.
[texto elaborado por Miguel Ângelo Pardal, João Carlos Marques e Manuel Augusto Graça, extraído do endereço «http://www.imp.uc.pt/», HISTÓRIA, o qual constitui uma síntese do colectivo "Imprensa da Universidade de Coimbra. Uma História dentro da História", 2001. AMNunes]
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