Nas cerimónias de imposição de insígnias realizadas nas antigas universidades ibéricas de Coimbra e Salamanca, constitui momento alto a entrega do anel doutoral, do Livro da Sapiência e a investidura propriamente dita com a colocação do barrete doutoral na cabeça do laureado. Exaltado e satirizado ao longo dos tempos, o barrete doutoral representa uma transposição da Coroa de Louros de Apolo (por vezes diz-se erradamente "os louros de Minerva", mas a árvore sagrada de Minerva era a oliveira). Daí que nos dias de actos grandes a Via Latina seja profusamente ornamentada com festões de louro, de tal arte que a Sala dos Capelos parece evocar a escadaria do templo de Júpiter Optimus Maximus onde os generais romanos eram consagrados, ofertando depois a coroa de louros ao deus.
Outra honra máxima, com que os estudantes quintanistas distinguiam os novos doutores no seu primeiro dia de aula, após a Tourada ao Lente, era a coroação com a Pasta de Quintanista.
Nos restantes estabelecimentos de ensino superior instituídos em Portugal no século XX, o chapéu doutoral nem sempre é considerado peça importante, podendo mesmo ser facultativo ou inexistente. Nestas situações, de acentuada perda do valor simbólico do chapéu doutoral concentrado nos ritos de cabeça, as cerimónias de imposição de insígnias como que apostam nas mãos e ombros dos investidos*.
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*Idêntica desvalorização se observou ao longo do século XX no mundo judiciário, sobretudo a partir da Revolução de 1910. No caso do trajo profissional dos advogados, o barrete caíu em desuso nas cerimónias de tomada de posse e nos trabalhos de sala de audiências. Relativamente às cerimónias de tomada de posse dos magistrados judiciais e do Ministério Público, bem como Juízes Desembargadores, Juízes Conselheiros e Presidentes dos Tribunais Superiores, também cairam em desuso desde 1910 as coberturas de cabeça e a Vara da Justiça. Já nas investiduras eclesiásticas persiste a imposição do barrete de bispo, arcebispo e cardeal.
Fonte: Luís Reis Torgal, "Quid Petis? Os «doutoramentos» na Universidade de Coimbra", in Revista de História das Ideias, Nº 15, 1993, p. 187.
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