sexta-feira, março 23, 2007


O Reitor da Crise Académica de 1907 (doc. C)
Retrato a óleo do Reitor António dos Santos Viegas (1837-1914), existente na Galeria dos Reitores da UC. Doutorado em Filosofia (1859), Santos Viegas, fora reitor uma primeira vez entre 1890-1892, cumprindo o seu segundo mandato de 17 de Abril de 1906 a 17 de Abril de 1907.
Santos Viegas não conseguiu resolver internamente os conflitos estudantis em erupção a partir da reprovação do candidato a doutoramento em Direito, José Eugénio Dias Ferreira. Com conhecimento do rei D. Carlos, o Primeiro Ministro João Franco considerou a greve uma perigosa manifestação pró-republicana atiçada pelo Partido Republicano, pelo que mandou encerrar provisoriamente a UC e exigiu ao Reitor e ao Conselho de Decanos (formado pelo Reitor e lentes mais antigos de cada uma das Faculdades) a instauração de rigoroso processo disciplinar aos suspostos culpados.
O Comité Revolucionário Académico, de que faziam parte nomes como António Granjo, Diogo Ramada Curto, Alfredo Pimenta e Fernando Bissaia Barreto, não perdoou ao Reitor aquilo que considerou ser um acto de subserviência da UC perante João Franco e o seu Partido Regenerador Liberal.
Como se pode constatar, a acção disciplinar da UC em situação alguma lograva contentar os estudantes:
a) se o Conselho de Decanos procedia à apreciação de situações disciplinares, como aliás era sua legítima competência, os alunos consideravam a UC arcaica e herdeira do Tribunal da Inquisição. Fazendo crer erradamente que o órgão disciplinar era o Foro Académico medieval (extinto pela letra da Carta Constitucional), os estudantes reclamavam que os processos disciplinares fossem entregues à Polícia Cívica e aos Tribunais Comuns;
b) se o Reitor tomava a iniciativa de pedir ajuda ao Governo ou solicitar a intervenção de um corpo de polícia externo à UC, os mesmos estudantes hostilizavam implacavelmente a reitoria, argumentando que a UC era soberana e autónoma, que era inaceitável a polícia civil ou a tropa entrarem no edifício do Paço das Escolas, que o reitor estava a atraiçoar a Academia, ou numa atitude de preconceito e desprezo, que o polícia estava três furos abaixo da condição de caloiro.
O Conselho de Decanos começou por entender que o movimento nascera de forma espontânea, não havendo lugar à identificação e culpabilização de líderes. Mas o suspeitoso João Franco procedera a averiguações paralelas, tendo apresentado ao reitor um rol de cabecilhas, relativamente aos quais o Conselho de Decanos teria de proceder disciplinar e exemplarmente. O acórdão do Conselho de Decanos seria dado a conhecer no dia 01 de Abril de 1907. Nele se proclamava a expulsão de sete alunos.
Considerado um reitor serventuário das exigências e prepotências do odiado Primeiro Ministro, os estudantes viam em Santos Viegas um ancião em processo de degenerescência. Ante tão encapelado horizonte, o Prelado tomou a iniciativa de se demitir do cargo.
Fonte: pormenor do retrato publicado por Manuel Augusto Rodrigues, "A Universidade de Coimbra e os seus Reitores", Coimbra, AUC, 1990, p. 500.
AMNunes

relojes web gratis