sábado, março 31, 2007

RECONSTITUIÇÃO DA FEIRA DOS LÁZAROS
«TRADIÇÃO
Domingo de Lázaros reviveu gestos de outros tempos


Em Celas e no Largo D. Dinis, o Grupo Folclórico de Coimbra e o Grupo Folclórico da Casa do Pessoal da Universidade de Coimbra reconstituíram, mais uma vez, a Feira dos Lázaros. O dia amanheceu claro, com os primeiros raios de sol a fazer lembrar a Primavera. O domingo é de Lázaros e a feira com ecos centenários, o cheiro da doçaria e as cores dos brinquedos de outras meninices encheram o Bairro de Celas e o Largo D. Dinis de gente e memórias antigas. Assim se cumpriu a tradição. O Grupo Folclórico de Coimbra recriou ontem – no penúltimo domingo antes da Páscoa –, no Bairro de Celas, a Feira dos Lázaros, uma iniciativa que se perde no passar dos tempos, mas que está relacionada com o preceito das Obras da Misericórdia, o de visitar os enfermos.
Noutros tempos, a população de Coimbra dedicava este dia – no qual a Igreja recorda a ressurreição de Lázaro –, a visitar os doentes do hospital, especialmente os que sofriam de lepra. Por isso – e como a movimentação era muita junto ao antigo hospital –, começaram a juntar-se nesse dia, ali no largo, os vendedores de doces, de brinquedos e de artesanato.
Os doentes, referiu Nelson Correia Borges, presidente do Grupo Folclórico de Coimbra, também participavam, confeccionando passarinhos feitos com massa de pão e penas de galinha, os “lázaros”, que eram vendidos cá fora.
A Feira dos Lázaros realizou--se até finais da década de 40, altura em que a Alta de Coimbra foi demolida para dar lugar às faculdades. Grande parte dos antigos moradores mudou-se para o Bairro de Celas. “Era uma tradição tão enraizada que trouxeram para aqui a feira e, durante alguns anos, ela ainda foi sendo realizada. Mas depois foi desaparecendo. O nosso grupo veio aqui recuperá-la”, referiu Nelson Correia Borges. E bem. Ontem, o largo encheu-se de cor. O que se comercializava nesta feira, e que ainda hoje se vende, é muito variado. Uma das suas principais componentes é a doçaria tradicional coimbrã, onde se salientam os pastéis de Santa Clara, as arrufadas de Coimbra e o arroz doce. Ou os queijinhos de amêndoa, os palitos de Lorvão, as grades do convento, os suspiros... tudo confeccionado com o saber moldado pelas preciosas mãos das mulheres do grupo. Existem, igualmente, outras tentações, como é o caso dos bananins, das pevides, dos tremoços. Para os mais novos, e não só, estão à venda brinquedos de madeira de outros tempos. E algum artesanato.
No Largo D. Dinis
Também o Grupo Folclórico da Casa de Pessoal da Universidade de Coimbra organizou, como vendo sendo hábito, a sua Feira dos Lázaros, no Largo D. Dinis. A escolha do local tem, naturalmente, a ver com o antigo Largo do Castelo, que ali mesmo acolheu inúmeras feiras até à destruição da Velha Alta, nos anos 40 do século passado. A reconstituição vem-se mantendo desde 1991, ano em que o grupo decidiu promover a iniciativa. Até hoje tem sabido cumprir a sua missão. Ali, entre os produtos vendidos, destacavam-se os doces e as guloseimas, brinquedos antigos, de madeira e lata, sacas feitas com retalhos de pano, cestaria e latoaria. Os mais novos entretiveram-se a jogar a sorte na roleta de rebuçados. Para esta iniciativa, o Grupo Folclórico da Casa de Pessoal da Universidade de Coimbra convidou o Grupo Folclórico e Etnográfico do Brinca (Eiras) – que levou o cheiro da broa acabada de sair do forno de lenha, os bolos de massa sovada e os bolos de mel e noz, além da doce jeropiga –, o Grupo Folclórico das Paliteiras de Chelo – com a doçaria conventual Mosteiro de Lorvão, os palitos e a arte de esculpir pequenos pedaços de madeira –, e o Grupo Folclórico da Vila de Pereira – com as suas célebres queijadas, as raivas ou os papos de anjo... Todavia, o produto mais característico de ambas as feiras, curiosamente confeccionado pelos doentes, eram as galinhas feitas com massa de pão e enfeitadas com penas – que acabaram por ser designadas por Lázaros.
O vereador da Câmara Municipal de Coimbra que tutela o Pelouro Cultura não faltou, marcando presença na iniciativa. Para Mário Nunes, ambos os grupos, ao reconstituírem a Feira dos Lázaros encetam “uma luta contra o tempo e contra a modernidade”.“ É a afirmação de que há coisas na vida do povo que não morrem. E esta é uma delas. Ambos os grupos continuam uma tradição e marcam a verdade da sua essência. São, também por isso, baluartes da cultura popular”, referiu o edil».
[texto de Patrícia Cruz Almeida, jornal AS BEIRAS on line, edição de 25 de Março de 2007, http://www.asbeiras/pt/, AMNunes]

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