terça-feira, março 27, 2007

No lançamento de «Método de Guitarra Portuguesa»*, de José Santos Paulo**

Armando Luís de Carvalho HOMEM

- Sr. Dr. José Castanheira, em representação da Direcção da Associação Cristã da Mocidade
- Sr. Vereador do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra
- Sr. Presidente da Tuna Académica da Universidade de Coimbra
- Sr. representante do Conservatório de Música desta Cidade
- Sr. representante da Entidade Patrocinadora
- Caro José Santos Paulo
- Caros Alunos e Caros Familiares de José Santos Paulo
- Minhas Senhoras, Meus Senhores, Meus Amigos:

Não são necessários pretextos para visitar a Cidade onde se nasceu (na freguesia de Santa Cruz, no caso vertente), a Cidade onde – ainda que efemeramente – se estudou e onde se tem Família e Amigos. Mas o prazer é redobrado quando nos convidam a vir a Coimbra falar de temas do Universo Musical respectivo, e logo numa Casa a que meu Pai teve alguma ligação nos anos 40 do século passado; e estando em causa uma Obra editada pela Tuna Académica, Organismo a que meu Pai também pertenceu, exercendo inclusivamente, aí por 1942, o cargo de Vice-Presidente de uma Direcção liderada pelo Dr. Aurélio Reis, hoje um dos decanos do universo musical em que todos nos reconhecemos. Daí que as minhas primeiras palavras sejam de agradecimento a José Santos Paulo por se ter lembrado da minha pessoa para hoje aqui usar da palavra. Queira por isso, e desde já, aceitar um sentido «Bem haja !» e um grande abraço.

E começarei por salientar que, para um conjunto de intérpretes do Canto e da Guitarra de Coimbra que, desde o princípio da década de 80, nos habituámos a ver identificados como «Tertúlia do Fado de Coimbra», esta conjuntura que abrange os meses finais de 2006 e os iniciais de 2007 está de facto a decorrer sob os mais brilhantes auspícios:

a) Em primeiro lugar, tivemos há alguns meses o surgimento do Álbum O Meu Lugar, poemas de António Arnaut, 5 dos quais ditos pelo seu Autor e mais 10 interpretados pelos, na circunstância, denominados «Quatro Elementos», i.e.: José Santos Paulo, no seu muito especial registo de tenor de grande extensão nos agudos; Álvaro Aroso, continuadamente inovador na Guitarra de Coimbra; Eduardo Aroso na viola, mas em parâmetros que lhe permitem falar, com toda a propriedade, de «guitarra clássica», tal como consta da ficha técnica do CD; e José Carlos Teixeira, cuja performance no baixo acústico posso dizer que me convenceu em termos das potencialidades deste instrumento em certas áreas da Galáxia Musical Coimbrã. Tive então oportunidade de opinar – em conversas telefónicas com Álvaro Aroso e num breve texto ainda inédito fora da blogosfera [1], que os ditos «Quatro Elementos» se apresentavam como verdadeira formação de câmara, com o canto – fosse de poemas líricos, fosse de poemas de intenção social – a assumir-se como especial forma de lied e com os 3 instrumentistas bem longe dos tradicionais papéis de solo + acompanhamento que tradicionalmente a Guitarra e a Viola (ou as Violas) têm ostentado em Coimbra. E tive a satisfação de, ao pensar assim, me encontrar em sintonia com Alguém muito mais Autorizado que eu, o Doutor Flávio Pinho, no seu excelente texto de abertura ao mini-livro com as partituras dos temas.

b) Em segundo lugar, publicamente se apresenta hoje o Método de Guitarra Portuguesa de José Santos Paulo. Para quem não seja «homem de um só livro», o momento é de júbilo, uma vez que a Bibliografia nesta área fica substancialmente enriquecida depois da realização pioneiramente congénere de Paulo J. Soares (Jó Jó), há cerca de 10 anos (e realização «congénere», disse eu, ainda que seguindo caminhos não necessariamente coincidentes). Mas, prosseguindo, o momento é necessariamente de muita satisfação para todos nós:

i. Porque, se qualquer Método é antes de mais, e daí em diante, material basilar de trabalho para os alunos do seu Autor,

ii. ele é também potencial objecto de consulta para executantes mais maduros, que eventualmente poderão retocar ou corrigir as suas abordagens desta ou daquela peça, confrontando uma prévia versão empírica com uma versão musicalmente estabelecida;

iii. e finalmente, na ainda hoje – e apesar de quanto ultimamente se tem escrito – limitada Bibliografia sobre a Guitarra de Coimbra, a Obra agora apresentada, para além de material de trabalho e fonte, pode converter-se em referência essencial para estudiosos do instrumento e dos seus contextos, históricos e outros; donde, a importância da cuidada indicação das fontes – discográficas e outras – das peças apresentadas.

Prosseguindo. Esta realização era esperada – ou, pelo menos, esperável – desde que, há alguns anos, em 2000, no ensaio A Guitarra Portuguesa. Aproximações Histórico-Musicais à sua Génese e Fixação em Portugal, Eduardo Aroso abordou e ilustrou a prática didáctica de José Paulo no domínio da Guitarra, instrumento que há pouco fizera a sua entrada no Conservatório da Cidade. José Paulo seria entretanto co-Autor de um livro sobre Flávio Rodrigues. Anunciada algum tempo depois, a saída deste Método concretiza-se agora e vem sem dúvida marcar um momento muito especial de alguém muito especial. Porque digo isto ?
Nascido em Moçambique, JOSÉ AUGUSTO SOBRAL DOS SANTOS PAULO veio para Portugal em meados dos anos 70 e viveu inicialmente em Miranda do Corvo – onde possui raízes familiares –, radicando-se em Coimbra na década subsequente; e nesta Cidade – bem como no Conservatório de Vila Nova de Gaia, na Universidade de Aveiro e no Teatro Nacional de S. Carlos – fez o essencial da sua formação. Mas com uma particularidade, que o torna uma figura não propriamente única, mas de perfil muito pouco vulgar no Canto e na Guitarra de Coimbra: é que em termos de Ensino Superior essa formação é estritamente musical (Canto, Acústica, História da Música, Composição, Guitarra “Clássica”…); a sua ALMA MATER está pois essencialmente nos Conservatórios ou Instituições congéneres, e os “lentes” que teve como Mestres chamam-se Mário Mateus, José Carlos Travassos Cortez, Isabel Maia, José de Oliveira Lopes ou Amador Cortez Medina. No panorama dos estudos musicais no nosso País dir-se-á que é um trajecto como tantos outros: o Ensino Superior da Música está muito mais nos Conservatórios ou em Escolas Superiores Politécnicas (v.g. a ESM/IPL ou a ESMAE/IPP) do que nas Universidades, constituindo o Mestrado em Ciências Musicais da FL/UC ou o Departamento de Ciências Musicais da FCSH/UNL, por exemplo, as tais excepções-que-confirmam-a-regra. Mas no Universo do Canto e da Guitarra esta formação e este percurso são coisa pouco comum: convocando as recordações e lembrando o perfil de cantores ou instrumentistas que eu conheça ou tenha conhecido, apenas me ocorre um nome com pontos de contacto no seu currículo – o de Luís Filipe Roxo Ferreira, de quem aliás José Paulo foi aluno em Guitarra Clássica; como aluno igualmente foi, jovem adolescente, em meados da década de 70, do pioneiro do ensino formal da Guitarra de Coimbra, Jorge Gomes.

O presente Método espraia-se por 4 centenas de páginas e duas características de fundo nele logo me impressionaram:

1) O Método enuncia como programa de trabalho – depois rigorosamente cumprido – um ensino-aprendizagem da Guitarra em termos de progressividade, em termos de avanço dos estudiosos segundo procedimentos de dificuldade crescente; ou, como nas próprias palavras do Autor, segundo uma «progressão ordenada de exercícios» (fim de citação).

2) Sendo José Santos Paulo uma poderosa personalidade – percebi-o logo no dia em que tive o prazer do o conhecer pessoalmente (Viseu, Maio de 1994, por ocasião de um Encontro de Grupos de Guitarra e Canto de Coimbra, organizado por Hermínio Menino no pólo regional da Universidade Católica) –, a verdade é que o seu Método se revela a Obra de um Mestre cuja postura não será propriamente a do «magister dixit», bem pelo contrário.

Nestas duas características centrarei o remanescente das minhas palavras.

O Método como Obra inculcante de uma aprendizagem por passos de complexidade crescente, antes de mais. Serei breve neste ponto: para salientar essencialmente que, para um aluno de José Paulo, dominar a primeira metade (mais ou menos…) do volume exigirá trabalho árduo e talvez até algo ascético, trabalho que o fará contactar com sons e realidades bem diferentes – e porventura bem menos interessantes – do que os sons e os temas que, sedutoramente, o tenham conduzido ao estudo da Guitarra. Mas também me quer parecer que de um estudioso que saiba “dobrar” com êxito o “cabo da Boa Esperança” dessas primeiras 180 páginas de «estudos» e «exercícios» muito se poderá esperar no que toca a execução do repertório, não raro bem exigente, que depois lhe é proposto, e onde se inclui um tema tão complexo – e ao mesmo tempo tão coimbrão – como as «Variações em mi menor» de Jorge Tuna e uma virtuose como o «Capricho em Lá Maior» de Octávio Sérgio.

José Paulo como a antítese perfeita do «magister dixit», em segundo lugar. Comecemos por ter em atenção as figuras 7., 8. e 11. (pp. 14-15). Está em causa a posição da Guitarra. José Paulo revela-se adepto da colocação apenas na coxa direita por executantes adultos. Mas, ao fazê-lo, propõe, aconselha, diz justificadamente o que acha melhor; não impõe ! A prova é que apresenta também a hipótese alternativa do apoio nas duas coxas. E ilustra devidamente: faz-se fotografar com a Guitarra sucessivamente em cada uma das posições; opinando que se o apoio na coxa direita será preferível para estudantes adultos (a partir dos 13 anos), acrescenta que o apoio sobre as duas coxas será por seu turno aconselhável a estudantes mais juvenis, «de iniciação», que pela dimensão do seu corpo utilizem preferencialmente uma Guitarra de três quartos; para ilustrar esta última situação, de novo se faz fotografar, mas agora acompanhado de seu Filho – criança ou quando muito pré-adolescente à data. Ou seja: ao enunciar um preceito metodológico – coisa muito diferente de uma lei científica –, José Paulo expõe-se: a Si e a um dos seus Entes mais Queridos; uma atitude de abertura, suscitante, quanto a mim, da simpatia dos leitores.
Mas há mais, no que respeita a José Santos Paulo enquanto Mestre não praticante do «magister dixit» e enquanto Homem que o não é «de um só livro». Que autores são propostos aos estudiosos que doravante utilizem o seu Método ? Esta interrogação tem a ver com o seguinte: os entusiastas da Obra de Thomas Kuhn sobre a estrutura das revoluções científicas poderão, aportando os seus conceitos para o domínio da criação e da prática musical, detectar vários «paradigmas» – sete, mais concretamente – na prática dos actuais guitarristas de Coimbra (e uma prevenção farei neste momento: o que se segue é muito mais interrogação, reflexão ensaística, do que afirmação peremptória):

1) Uns haverá que optem predominante ou exclusivamente pela Obra de Artur Paredes (1899-1980).

2) Outros farão outro tanto relativamente a Carlos Paredes (1925-2004). Alguns poderá ainda haver que conciliem os dois Mestres, eventualmente acrescidos de outros membros da Família, como Gonçalo ou Manuel Paredes. Este paradigma Paredes – ou, talvez melhor dizendo, estas várias faces de um eventual paradigma Paredes – creio enformar(em) uma parte muito significativa – eventualmente maioritária – do repertório hoje escutável em Coimbra.

3) Uma terceira tendência, radicante, porventura, em meios da Velha Alta, em executantes que sempre viveram em Coimbra ou proximidades, terá o seu máximo referencial em Flávio Rodrigues e naquilo que ele possa ter representado de uma modernidade ‘arcaizante’ (um aparente paradoxo) e alternativa à «modernidade presencista» de Artur Paredes; alguns executantes poderão aliar essa – porventura – maior sintonia com a herança oitocentista à execução de peças de sua autoria, construídas segundo coordenadas sintonizadas com os referenciais.

4) Ainda uma outra tendência passará pela execução de peças de Mestres como João Bagão (1921-1995) ou José Maria Amaral (1920-2001), e/ou pelo repertório gravado na primeira metade dos anos 50 pela formação António Brojo (1927-1999) / António Portugal (1931-1994) / Aurélio Reis / Mário de Castro ou, na fase imediatamente subsequente, por António Portugal / Jorge Godinho (1937-1972) / Manuel Pepe / Levi Baptista (e ainda, mais tardiamente, Eduardo de Melo e Paulo Alão). Esta tendência talvez já tenha sido mais forte; mas creio manter-se e ostentar ainda peso significativo.

5) Teremos depois os mais sintonizados com a modernidade da década de 60, com as Obras de Jorge Tuna, Eduardo e Ernesto de Melo, Nuno Guimarães (1942-1973), Francisco Filipe Martins, António Andias, Manuel Borralho; tendência esta, creio, hoje relativamente circunscrita.

6) A vivência e/ou assimilação da modernidade dos sixties poderá nos nossos dias prolongar-se nos que executam essencialmente repertório próprio: e aqui teremos um como que sexto «paradigma», onde a continuidade de situações (Jorge Tuna, Francisco Martins) se pode fazer complementar na afirmação de verdadeiros criadores, ainda que como tal revelados em diferenciados momentos de vida e carreira – penso essencialmente em Álvaro Aroso (e na fase da «Tertúlia» que se iniciará pelos finais da década de 70), em Paulo J. Soares e em mais dois casos, tão «sui generis» como contrastantes entre si: o Grupo «Presença de Coimbra» (Manuel Borralho / José Ferraz de Oliveira / Manuel Gouveia Ferreira), tal como o conhecemos no 2.º e no 3.º CD’s de Jorge Cravo, onde a herança dos loucos anos 60 se traduz hoje numa criação de temas instrumentais onde a dita modernidade se casa às vezes com sons de Velha Coimbra e, contrastantemente, o Grupo «Canção de Coimbra», vencedor, há-de haver uns três anos, do «Prémio Edmundo Bettencourt» e emissor de um discurso musical porventura qualificável de post-moderno. Escusado será dizer que estamos aqui de novo em terrenos minoritários na (actual) Galáxia coimbrã.

7) Sétimo e último «paradigma»: a abrangência, o eclectismo, o enciclopedismo, a erudição. A postura dos que, abertos que estejam ao máximo vanguardismo na execução e/ou na criação em Guitarra, não deixem de conhecer e executar remotas heranças de Oitocentos e a Obra das sucessivas gerações de Novecentos. Expoentes desta última atitude poderão ser um Octávio Sérgio, «mutatis mutandis» um Fernando Frias Gonçalves, um Paulo J. Soares, um José Paulo… E provavelmente não muitos mais…

Porquê José Paulo protagonista do último dos sete «paradigmas» ? Atentemos no «corpus» de peças proposto aos estudiosos segundo o seu Método.
A obra contempla antes de mais 11 «Exercícios» originais de arranque (em cordas soltas), duas séries de «Estudos» também originais (num total de 18), 12 outros «Estudos (em arpejos)», tudo isto alternando com a apresentação de escalas, tons e intervalos. Uma primeira série de peças populares, em número de 12, com arranjos de autores vários (Duarte Costa, José Paulo, João Machado…) dera entretanto imediata sequência aos exercícios preliminares. Mas só já perto do meio do volume, dobrada a página 180, começamos por sistema a deparar-nos com temas ostentando autores sonantes. Temos a partir de então um total de 42 peças / arranjos / harmonizações, de autoria ou responsabilidade dos nomes que seguem (e esclareço que se contabilizaram as duplicações, nos casos de re-apresentação da peça em versão para Guitarra e orquestra):

Ø Assim, o nome mais representado é o de Octávio Sérgio, com 5 peças, seguido do de Eduardo Aroso, com 4; Artur e Carlos Paredes ostentam 3 temas cada; Carlos Seixas, Duarte Costa e Gonçalo Paredes 2 cada; e entre os nomes com uma peça neste Método, e citando apenas os minimamente conhecidos, teremos (por ordem alfabética) Afonso Correia Leite, Álvaro Aroso, Anthero da Veiga, António Ralha, António Rodrigues (vulgo António das Águas), Flávio Pinho, Francisco Filipe Martins, Jorge Morais «Xabregas», Jorge Tuna, José Amaral, José Eliseu e o próprio José Paulo, nomes acrescidos de mais dois do firmamento clássico (António Silva Leite, Franz Schubert).

Querer-se-ia, Senhoras, Senhores, Amigos, maior abrangência ? Por isso eu creio que a Obra hoje trazida a público bem pode ser um livro gerador de consensos, consensos que nos façam tocar e continuadamente ouvir tocar a Guitarra de Coimbra com uma racionalidade emocionada, sentimento porventura simbolizável no «remate em lágrima» da parte frontal da cabeça do instrumento, sentimento que a todos faça esquecer a «maldição dos deuses pequeninos», poéticas palavras de Luiz Goes na sua belíssima Canção Pagã, sentimento que a todos lembre, sempre, as palavras com que, na Sala dos Capelos, em Outubro de 1993, Vergílio Ferreira (1916-1996) fechou a solene petição do grau de dr. h.c. pela Faculdade de Letras:

- Coimbra está para mim nas cordas de uma Guitarra.

Mesmo para terminar, direi algo que afinal todos já sabem: José Santos Paulo é senhor de uma pouco vulgar capacidade de trabalho. Projectos não lhe faltam. E talvez em 2008 aqui possamos voltar para a pública apresentação do trabalho que se segue: um CD com a interpretação de uma série de valsas, mazurkas e outras danças do Maestro João Anjo, com transcrições para Guitarra do próprio José Paulo. Pois que venha breve ! – é o voto que formulo.

Muito Obrigado.

Coimbra e ACM, 24 de Março de 2007
* Ed. Comemorativa dos 115 Anos da Tuna Académica da Universidade de Coimbra, Coimbra, TAUC, 2006, 400 pp.
** Intervenção na sessão pública de apresentação da Obra (Coimbra, Associação Cristã da Mocidade [ACM], 2007/03/24).
[1] Cf. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – «Herança [A] (possível) d’ “os Melos” na Guitarra de Coimbra: três temas de Álvaro Aroso (anos 70 / anos 80). Nótulas sobre práticas de uma certa Arte de navegar» [aguardando publicação, 2007; disponível em http:// guitarradecoimbra.blogspot.com/ (post de 2005/03/08, reed. com retoques e aditamentos em 2007/01/03)].

relojes web gratis