domingo, março 25, 2007


Antero de Quental
Retrato do jovem Antero Tarquínio de Quental. Natural de Ponta Delgada (18/04/1842), Antero suicidou-ne no Campo de São Francisco, frente ao Convento da Esperança, na sua cidade natal, a 11 de Setembro de 1891. O seu túmulo, à entrada do Cemitério de São Joaquim (Ponta Delgada), ostenta um comovente epitáfio de João de Deus e uma coroa de ferro forjado da autoria do artista conimbricense Daniel Rodrigues.
Antero era um sério candidato a um curso de Filosofia ou ao currículo do Curso Superior de Letras. Nem um nem outro existiam em Coimbra nas décadas de 1850-1860, lacuna que conjugada com pressões familiares conduziu muitos jovens à vacilante opção pelo Direito.
Chegado a Coimbra em 1855, Antero seria acolhido por seu tio, o lente de Medicina Filipe de Quental, um republicano muito activo nas causas cívicas da urbe mondeguina. Antero rapidamente se ambientou no meio estudantil, tendo prosseguido com sucesso os estudos liceais no Colégio de São Bento. A farta cabeleira e o penteado bizarro valeram-lhe a alcunha de "O Marrafa". A 02 de Outubro de 1858 Antero matriculou-se no primeiro ano de Direito, curso que viria a concluir em 1864.
À semelhança de grande parte dos estudantes do seu tempo, Antero começou por ser católico e adepto das praxes académicas, rituais que caso atingissem determinado grau de violência poderiam ser alvo de sindicância disciplinar por parte da Polícia Académica e Conselho de Decanos. Na noite de 20 de Abril de 1859, Antero e outros colegas como Alberto Sampaio, organizaram uma trupe e embuçados e armados de mocas, palmatórias e tesouras, tosquiaram caloiros (alunos do Liceu de Coimbra).
Conforme noticiou "O Conimbricense", de 26 de Julho de 1959, um acórdão do Conselho de Decanos, com data de 13/06/1859, expulsava da UC por um ano os novatos José Sampaio e António Barranca. Alberto Sampaio, Antero de Quental e Martinho Raposo teriam de cumprir oito dias na Cadeia de São Boaventura.
Virá desta altura a aversão de Antero ao Reitor Basílio, cuja assinatura figurava à testa do acórdão do Conselho de Decanos. Dada a proximidade das férias de Verão, Antero solicitou o adiamento do cumprimento da pena. Com efeito, o Conselho de Decanos consentiu na prorrogação do prazo, tendo Antero tomado o vapor para Ponta Delgada. Regressado de férias, Antero deu entrada na Cadeia de São Boaventura no dia 15 de Outubro de 1859, em cuja enxovia permaneceu oito dias (Ana Maria Almeida Martins, "Antero de Quental. Fotobiografia", Lisboa, INCM, 1986, p. 69, Doc. 56, mostra erradamente a Cadeia da Biblioteca Joanina).
Antero faz a sua viragem intelectual nos inícios da década de 1860. São os anos da veia libertária e dos inflamados discursos que faziam correr "discípulos" ao seu quarto e às escadarias da Sé Nova no Largo da Feira dos Estudantes.
Ficariam na memória:
-Abril de 1861: funda a Sociedade do Raio;
-21/10/1862: Felicitação Académica ao Príncipe Humberto de Itália, publicada no jornal "O Conimbricense", de 25/10/1862, onde se exalta a figura heróica de Garibaldi;
-08/12/1862: evacuação da Sala dos Capelos em protesto contra as medidas de controlo disciplinar do Reitor Basílio de Sousa Pinto;
-Dezembro de 1862: Manifesto dos Estudantes da Universidade de Coimbra à Opinião Ilustrada do País;
-25/04/1864 a 13/05/1864: Rolinada. Não tendo o Governo concedido aos estudantes dispensa de exames (ou seja, passagem administrativa) por ocasião do nascimento do Príncipe D. Carlos, Antero liderou um protesto incendiário que levou a Academia quase em peso à cidade do Porto (30/04/1862). Regressados os manifestantes a Coimbra, no dia 13/05/1863, os cabecilhas da Rolinada seriam amnistiados por Decreto de 13 de Maio de 1864, publicado no "Diário de Lisboa, de 23/05/1864;
-Novembro de 1865: Questão Coimbrã.
Antero ficaria para sempre ligado a imaginário mítico coimbrão, relembrado nas palavras de Eça de Queirós ("Um génio que era um santo") e na poesia de Manuel Alegre ("Tempo que não passa").
O "Príncipe da Mocidade" - assim falava Eça -, guardou de Coimbra uma imagem marcada pelo romantismo e pela emoção, a ela se referindo no prefácio de "Primaveras Românticas" (1872): «Fomos todos assim, naquela encantada e quase fantástica Coimbra de há dez anos».
Na óptica dos "46 Incondicionais" da Greve de 1892 e dos "160 Intransigentes" da Crise Académica de 1907, Antero de Quental era um capital simbólico precioso. Na sua "História da Greve Académica de 1907", Alberto Xavier dedicou-lhe 27 páginas.
Fotografia: "Antero Tarquínio de Quental", http://pt.wikipedia.org/wiki/Antero_de_Quental.
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