Chapelaria académica
Equipa reitoral da Univerdade de Bona (fundada em 1818). As togas e gorras são oriundas da tradição luterana, pelo que resultaria artificial pretender traçar uma fronteira vestimentária entre os mundos universitário, clerical e judiciário.
Já o traje do reitor, de figurino recente, escuda-se num luxo ostentatório que nos parece entroncar na tradição clerical ortodoxa. A Europa continental, transcorridos mais de 200 anos sobre as experiências simplificadoras, abolicionistas e laicizadoras encetadas pela Revolução de 1789, não está propiamente habituada a estes luxos. Mesmo as universidades católicas vestem comedidamente nas galas solenes, dando pública certidão da sua adesão aos normativos simplificadores instituídos pelo Papa Paulo VI em 1969.
Em todo o caso, valerá a pena espreitar os trajes e lavores a fio de ouro da Universidade Demócrita da Trácia/Grécia (fotos editadas no Blog por Armando Luís de Carvalho Homem, 14/12/2006), bem como trajes judiciários em usança nos supremos tribunais da Turquia e do Iraque.
De resto, haverá que assinalar na Europa insular o sumptuoso traje de Chancellor e Vice-Chancellor das universidades britânicas, uma toga talar quinhentista de mangas tubulares fendidas e cauda roçagante, ricamente agaloada a ouro, usada também pelo Chief Justice, Presidente da Câmara dos Comuns e Lord Mayor de Londres. Nas cerimónias e cortejos da UOxford, o Reitor tem direito a um pagem caudatário, sobrevivência de uma tradição comum aos costumes de corte, universidades como Coimbra, Salamanca e corte papal (pagens caudatários especificamente designados para batinas roçagantes e capas magnas).
Admitindo algum piscar de olhos ao antigo universo greco-bizantino, o novo-riquismo presente no traje reitoral da Universitat Bonn parece configurar uma tentativa de "resposta em grande estilo" ao sumptuoso traje reitoral britânico divulgado a partir de Oxford, Cambridge ou S. Andrews.
A origem do barrete exibido pelos restantes membros da equipa reitoral, de calote interior, rodeado por aba rígida em jeito de cone invertido, suscita dúvidas. Europeu? Oriental? Norte-americano?
Na verdade:
1) trata-se exctamente do mesmo modelo adoptado pelos magistrados do Tribunal Constitucional da Alemanha;
2) modelo semelhante, mas confeccionado em tecido mole e cor branca, encontra-se popularizado como chapéu oficial dos marinheiros norte-americanos (veja-se SAILOR HAT);
3) o «Sailor Hat» vulgarizou-se nas creches dos países ocidentais, nas cores azul-bebé, cor-de-rosa, e outras seleccionadas discricionariamente por jardins de infância;
4) com séculos de existência, e idêntico ao "sailor hat" e ao barrete assinalado na Alemanha, existiu um chapéu de corte, tradicionalmente usado no inverno pelos imperadores chineses (ornamentação de luxo, com aba virada oblíquia em material negro rígido, calote de gomos de cetim, borla superior central e farto franjamento no estilo dos antigos barretes doutorais europeus).
De olhos postos em Portugal, talvez se possa aproximar o traje docente da UAlgarve do costume adoptado pelos reitores da Unversitat Bonn.
AMNunes
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