Caldeira Cabral: Pedro Caldeira Cabral a dedilhar uma Guitarra Inglesa, com escala de 12 pontos, boca redonda ornada de rosácea, chapa de latão com chavinha e voluta em flor (típica da Guitarra do Porto e dos primitivos modelos de Coimbra). Esta guitarra foi fabricada em 1812 pelo violeiro bracarense Domingos Araújo e pertence ao núcleo museológico do Conservatório Nacional de Lisboa. A foto constitui um pormenor do motivo de capa do inédito e esgotado LP "Pedro Caldeira Cabral. A Guitarra Portuguesa nos salões do século XVIII", Orfeu/Rádio Triunfo, 1983. O Lado 1 contém reconstituições de paças do mestre capela da Sé do Porto, António da Silva Leite e do coompositor e guitarrista activo em Lisboa Manuel José Vidigal. O Lado 2 é preenchido com obras de Rudolf Straub e Geminiani. Ouvi este disco pela primeira em Coimbra no ano de 1989, na casa de Eduardo Mamede, sobrinho do violonista Augusto da Silva Louro. Lamentavelmente o projecto passou despercebido nos meios conimbricenses da "Galáxia Sonora", facto estranho se tivermos em consideração que o formador Dr. Jorge Gomes já então sabia que a guitarra fora conhecida e profusamente tocada em Coimbra na 2ª metade do século XVIII. Relativamente a este disco (preciosidade para coleccionadores), gostaria de expressar os seguintes considerandos:
a) como trabalho de reconstituição que é bem poderia ter sido utilizado como material pedagógico nas escolas activas na cidade de Coimbra, dado que ilustra caminhos tangenciais à Proto-História da Canção de Coimbra;
b) a propósito pode e deve questionar-se o rigor científico e a pertinência cronológica do título do projecto fonográfico. Querer ver uma "guitarra portuguesa" no século XVIII é ser mais papista do que o próprio papa. Caldeira Cabral poderia ter meditado prudentemente nas distantes palavras de Silva Leite, coevo que não teve pejo em escrever "guitarra inglesa". Atendendo ao repertório, à sonoridade, à dedilhação, à afinação, bem se pode dizer que de portuguesa esta guitarra tinha a construção;
c) todas as peças da autoria de Vidigal foram recolhidas pelo Prof. Manuel Morais (hoje ilustre lente de Música na Universidade de Évora) e cedidas a Caldeira Cabral, com a particularidade de o manuscrito ter sido encontrado nos fundos de manuscritos musicais da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, ali figurando a data de 1808. Tencionamos vir a publicar essas peças neste bolg, caso o Dr. Octávio Sérgio proceda à respectiva transcrição;
d) seja-me igualmente permitido sugerir aos apreciadores do trabalho desenvolvido por Caldeira Cabral que tentem colmatar a inacessibilidade desde LP com a audição do duplo CD "Pedro Caldeira Cabral. Memórias da Guitarra Portuguesa (nº 1). A Guitarra do século XVIII (nº 2), Vila Verde, Tradisom, 2003. Neste trabalho, Cabral revisita Silva Leite e Vidigal.
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