sexta-feira, maio 20, 2005

Um contributo inédito para a valorização da guitarra de Coimbra

ANTÓNIO DE PINHO BROJO*

Numa retrospectiva do que foi o meu percurso como cultor e executante da guitarra de Coimbra, claramente o identifico com as dificuldades e limitações sentidas por todos aqueles jovens que, envolvidos no ambiente académico de há 50 anos, eram atraídos pelas suas tradições musicais e desejavam ser delas intérpretes e protagonistas. De facto, não era nada fácil entrar nos meios fadísticos da Academia e neles atingir numa visibilidade artística indutora de vivências culturais mais ricas, dentro e fora do País, ou, pelo menos, propiciadora de previlégios praxísticos...
Se é certo que a condição de cantor estava, à partida, limitada aos detentores de uma boa voz, de um bom ouvido e uma particular sensibilidade musical, não é menos verdade que se tornava relativamente simples e rápido o seu acesso às tertúlias do fado, o qual, muito frequentemente, incluia a sua integração no Orfeão Académico.
A situação era, porém, bem outra para os candidatos a guitarristas, em que a indispensável fase de aprendizagem era muito mais árdua e prolongada, exigindo mais do que dotes naturais de sensibilidade e de ouvido musical.
Não existindo, então, qualquer Escola de formação metodológica na área da guitarra portuguesa, os candidatos a guitarristas eram forçados a um trabalho empírico e de autodidactismo que passava, em regra, pela aproximação a executantes já consagrados, ou, pelo menos, com alguma experiência, e com a generosidade bastante para ensinar as primeiras letras, e por uma assídua presença nas serenatas tradicionais e em saraus dos organismos académicos, em que fosse possível ver e ouvir os intérpretes mais conceituados.
A estas fontes de aprendizado associava–se, ainda, a audição persistente de registos discográficos e de simples gravações, cuja descodificação nem sempre garantia a fidelidade musical do material recolhido.
Adquirida, deste modo, alguma desenvoltura de execução, uma outra exigência se impunha para que o jovem guitarrista entrasse nos meios fadísticos: a sua integração num grupo já consagrado, em regra como 2ª guitarra e quase sempre para substituir um instrumentista que se afastava para constituir, ele próprio, um novo grupo em que se assumia como solista.
Este foi, sem dúvida, o percurso dos guitarristas da minha geração académica e, atrevo–me a afirmá–lo, de todos os que se lhe seguiram até há cerca de 20 anos, quando, na sequência dos "Seminários do Fado " que decorreram nos finais da década de 70, foi criada a Escola do Chiado e, algum tempo depois, a Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra, surgindo, finalmente, um espaço de ensino metodológico, instrumental, que tem contribuido para a formação de sucessivas gerações de executantes e para a constituição de um número significativo de grupos de guitarras.
É neste contexto que se reveste de importância fundamental o "MÉTODO DE GUITARRAS " de Paulo Jorge Soares (Jójó), ele próprio um guitarrista de caixa alta e de corpo inteiro, tanto pelas mãos como pela alma !
Como corolário da sua notável acção não apenas com intérprete e criador de música de guitarra mas também como mestre e formador de novos executantes, Paulo Jorge Soares apresenta–nos, nesta obra, um rigoroso trabalho de cientificação musical que, para além de constituir um precioso manual de referência e consulta para os estudiosos da guitarra, interessa a um público muito mais vasto e contribui, de forma inédita e decisiva, para uma cada vez maior valorização da guitarra de Coimbra, enquanto instrumento de solo a caminho de um estatuto comparável ao da guitarra clássica.

(*) – Presidente do Conselho Social da Universidade de Coimbra
– Professor Catedrático da Faculdade de Farmácia

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