sexta-feira, maio 06, 2005


Capa do CD "Carlos Paredes - Guitarra Portuguesa", reedição do 1º LP deste autor, saído no ano de 1987, com a etiqueta Columbia - EMI. Este disco mostra Carlos Paredes quase a atingir o apogeu da sua discografia. Destaco "Variações em Ré maior", ao estilo coimbrão evoluído, com mudanças de ritmo surpreendentes, temas originalíssimos e, claro está, com uma execução inultrapassável, a meu ver. Foi esta peça, com outras do mesmo jaez, que levou os actuais guitarristas de Coimbra a adoptá-lo como se aqui tivesse frequentado a Universidade e feito serenatas por essas ruelas da alta - não podemos esquecer, também, que nasceu nesta cidade, além de que toca em guitarras de Coimbra.
Depois de ouvir a Serenata Monumental de ontem, transmitida pela "Rádio Universidade", constatei, mais uma vez, que os estudantes actuais se agarraram a três ídolos da música coimbrã: Carlos Paredes, Artur Paredes e Luiz Goes; eventualmente, José Afonso. Não apareceu nada de novo, nem sequer a "Balada de Despedida" final. Que se passa com a veia criadora dos novos valores? quero destacar aqui a execução bastante avançada de Bruno Costa e Henrique Fraga - da escola dirigida por Jorge Gomes - nas guitarras.
Vou transcrever o que Alain Oulman escreveu no LP atrás exposto:
"A música de Carlos Paredes exprime, a meu ver, mais do que nenhuma outra, a terra e as gentes de Portugal. É intemporal, como a de Theodorakis quando canta a Grécia, como, aliás, deve ser a verdadeira música. Não se pode catalogar a música de Carlos Paredes, nem determinar as suas origens - uma possível influência de música barroca que não esconde a voz pessoal de um homem que ama o seu país profundamente, que se não envergonha de o confessar e que o faz com delicadeza e força viril.
Para empregar uma expressão portuguesa que significa que alguém não tem parceiro, Carlos Paredes é um "caso". A primeira vez que o ouvi tocar foi em casa de Amália Rodrigues que também nunca o ouvira anteriormente. Ficámos todos desfeitos. Amália chorava e dizia que só lhe apetecia bater-lhe - reacção muito frequente nela quando se sente comovida pelo virtuosismo de alguém; nenhum de nós compreendia por que não era ele mais conhecido, pelo menos em Portugal. Paredes pedia desculpa pela forma como tocara - o que faz muitas vezes, pois é o seu pior crítico - e, para acreditar em tanta modéstia, é necessário vê-lo e ouvi-lo. Tínhamos perante nós uma "voz" electrizante em música portuguesa, auxiliada por um extraordinário virtuosismo - e todos sentíamos que tal "voz" tinha de ser conhecida em Portugal e além fronteiras.
A nossa reacção de então é partilhada por milhares de pessoas que o têm ouvido tocar em Portugal, incluindo artistas de concerto da União Soviética que convidaram Paredes a dar uma série de concertos na Rússia. Carlos Paredes criou um novo estilo para as guitarras de Coimbra, um instrumento maior do que a guitarra de 12 cordas de Lisboa que, no entanto se lhe assemelha em todos os outros aspectos. Paredes alterou a posição original a fim de obter mais amplas possibilidades e maior amplitude da sucessão de acordes; nunca até agora se ouviram tão variadas modulações tocadas neste instrumento. O seu domínio da guitarra de Coimbra é extraordinário - basta escutar as Variações em Ré. Nenhum outro guitarrista é capaz de tocar a música de Paredes como ele o faz - e isto nada tem de surpreendente pois em Paredes não se pode separar o músico do guitarrista. Na sua música, porém, a sua técnica, sempre brilhante, esconde-se para dar lugar à precisão e clareza da melodia - os temas melódicos, plenos de sensibilidade e força de "Fantasia", "Porto Santo", "Verdes Anos".
Com este primeiro LP, possa a "voz" de Carlos Paredes ir longe, bem longe, pois ele canta Portugal com sinceridade absoluta, sem peias, com amor e compreensão que dele fazem um grande e raro artista onde a mediocridade não encontra abrigo". Posted by Hello

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