Livro "Canção de Coimbra - Testemunhos vivos (Antologia de textos)", saído em 2003, editado pela Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra, uma edição da responsabilidade do Pelouro da Cultura.
São dezassete testemunhos de outras tantas personalidades ligadas ao "Fado de Coimbra". Vou só dar uma pequena achega sobre cada um dos intervenientes, por ordem avançada no livro:
António M. Nunes, um historiador meticuloso, pesquisador até à exaustão, da cultura musical coimbrã e do que lhe está associado. Autor de livros sobre grandes figuras ligadas ao "Fado de Coimbra".
Almeida Santos, autor de umas belíssimas "Variações em Ré menor" e um cantor de voz doce, agradável, e com boa articulação das palavras.
Ângelo de Araujo, autor de fados famosos como "Contos Velhinhos", "Santa Clara", "A Carta", "Feiticeira", "Maria se Fores ao Baile", etc.
Augusto Camacho, cantor de voz potente e de grande amplitude, com uma discografia invejável, teve o privilégio de ser acompanhado por Carlos Paredes num extraordinário EP "Fado de Coimbra", da Columbia, em 1958.
Fernando Rolim, cantor com uma voz de timbre invulgar, capaz de apaixonar o ouvinte com os seus famosos pianíssimos.
José Niza, um compositor já consagrado, de quem Adriano Correia de Oliveira se socorreu para obter alguns dos seus êxitos. Tocador de viola de acompanhamento e autor de livros sobre o "Fado de Coimbra".
Luiz Goes, cantor por excelência, com uma amplitude de voz notável, um barítono surpreendente - foi um digno sucessor do tio Armando Goes, um extraordinário cantor dos anos vinte. É ainda poeta e compositor de alguns dos seus maiores êxitos.
António Ralha, um guitarrista com belíssimas peças em agenda, à espera de verem a luz do dia. Em assuntos do foro coimbrão e da sua música, está perfeitamente documentado. Fomos companheiros nestas andanças enquanto estudantes.
Fernando Gomes Alves, dono de uma voz de oiro, anda perdido pelo Norte, sem ver o seu dia chegar. Espero que esse dia esteja para breve - já há rumores que a isso nos levam a crer.. Tive o privilégio de o acompanhar por esse país fora, quando ainda estudante, nas deslocações do Coro Misto.
Jorge Gomes, guitarrista e o grande responsável por haver, neste momento, uma plêiade de guitarristas de renome. É um pedagogo de reconhecido mérito. Compositor de uma peça lindíssima, "Maio de 78", que se tornou num hino para todos que lhe passaram pelas mãos. Foi meu contemporâneo em Coimbra, com quem confraternizei nas andanças do Coro Misto.
José Miguel Baptista, uma boa voz de barítono, sem uma falha de afinação, deu corpo a um grande disco - infelizmente caído no esquecimento - com os irmãos Melo, Eduardo e Ernesto. Foi também meu contemporâneo em Coimbra e agora colega nos Antigos Orfeonistas.
Manuel Borralho, guitarrista com alguns trabalhos de grande valor, como prova o último disco de Jorge Cravo, "Folha a Folha". Estamos à espera de mais, como já consta por aí.
Rui Pato, nome grande da música de Coimbra, a quem José Afonso recorreu para alguns dos seus primeiros trabalhos que não tiveram continuidade, por razões políticas, já que o regime vigente o proibiu de sair do país. Faz actualmente, com Francisco Martins, uma dupla admirável.
João Moura, guitarrista de nomeada, com trabalhos de sucesso, agora virado para a política, mas sem descurar a guitarra. Estará para breve o seu reaparecimento.
Jorge Cravo, uma bela voz, insatisfeita, com laivos de amargura, com alguns discos de nível elevado, e de quem muito se espera ainda. É poeta e compositor de praticamente todas as peças que canta.
Luís Alcoforado, uma voz que se projecta no espaço, sem necessidade de microfone, tem gravações interessantes com o grupo Praxis Nova. É compositor, também, de alguns "Fados".
José Manuel Beato, uma das melhores vozes das últimas gerações, com uma clareza e timbre significativos, tem agora uns riquíssimos originais que brevemente nos chegarão às mãos, assim se espera. Poeta e compositor, para este ideólogo da música de Coimbra, pode dizer-se que pôs a filosofia ao serviço daquela arte.
Vou transcrever o que o Presidente da DG da AAC, Victor Hugo Salgado escreveu neste livro, como "Nota Introdutória":
«A Associação Académica de Coimbra comemora neste momento os seus 115 Anos de existência. A propósito desta Comemoração a Direcção Geral da AAC propôs-se à realização de alguns projectos marcando o seio da vida Académica. Como tal, não poderíamos deixar passar em branco aquele que é um dos emblemas mais importantes da Cidade e da Academia de Coimbra e que faz chegar o seu nome além fronteiras - a Canção de Coimbra.
A ideia deste projecto passou por várias fases, culminando nesta forma: a de uma Antologia de Textos, que retrata as várias fases da Canção Coimbrã. Contamos assim com o depoimento de várias pessoas relacionadas com o "Fado" e a Academia de Coimbra desde a década de 40 até à década de 90, sendo que, tendo em conta as especificidades históricas relacionadas com a Crise de 69 e a abolição da Praxe e das Tradições Académicas, não contamos com nenhum testemunho da década de 70.
Este livro apresenta-nos, desta forma, a perspectiva pessoal e única de cada um destes (antigos) estudantes desta Academia, tentando, de certa forma, focar apenas o seu contibuto para o "Fado de Coimbra" no tempo em que passaram pela Universidade.
Não se trata de um livro de carácter historicamente rigoroso, visto que estamos na presença de testemunhos narrados na primeira pessoa, marcadamente subjectivos. Em contrapartida, a diversidade e riqueza destes depoimentos singulares, fazem deste livro um "objecto" precioso e digno da atenção de todos aqueles que por Coimbra passaram e continuam a passar. Histórias caricatas, aventuras, serões, grupos de "fado", cantores, guitarradas e guitarristas, violistas, capas negras ... Saudosismo, empolgamento, rivalidades musicais, dedicação e luta pela Canção de Coimbra ... Tudo isto se sente, se transmite, se respira nesta Antologia.
Recordações captadas de forma espantosa, que a partir deste momento estão ao dispor de todos que têm Coimbra na Alma. Um contributo válido e enriquecedor para a Academia.
Finalmente, resta-nos uma palavra de agradecimento àqueles que tornaram possível a elaboração desta obra: "Canção de Coimbra - Testemunhos Vivos"».
<< Home