segunda-feira, setembro 26, 2005

Inovação no fado de Coimbra
(Texto enviado por Eduardo Aroso mas só agora publicado devido à minha ausência do país)
Notícia do Jornal AS BEIRAS, referente a um recital realizado no dia anterior.

20-09-2005
António Rosado
Inovação no fado de Coimbra
Pode vir a ser uma autêntica revolução no Fado de Coimbra. Um grupo de músicos com pergaminhos firmados propõe–se criar “um estilo novo”.
A partir das raízes tradicionais do Fado de Coimbra, o grupo “Quatro elementos” está a gravar, “numa estética própria”, um trabalho discográfico em que são musicados poemas de advogado/poema António Arnault. Oriundos da Tertúlia do Fado de Coimbra, os irmãos Aroso, juntamente com José Carlos Teixeira e José Santos Paulo, estão empenhados em procurar “a grande poesia, ou seja os poetas mais representativos da nossa língua”. Num serão dos Rotários de Coimbra–Olivais, que teve lugar na passada segunda–feira, Eduardo Aroso (guitarra clássica) lamentou que a busca de bons poemas, “não tem, de um modo geral acontecido em Coimbra, ao invés do que há várias décadas se fez no chamado Fado de Lisboa”.
Alertando para o facto de que “um bom letrista pode ou não ser um bom poeta”, o músico defende a abordagem da “musicalidade intrínseca de bons poemas”, o que “pressupõe uma composição autónoma, sem simetrias básicas”. Nesta perspectiva, os “Quatro elementos” questionam os “fados onde se pode enxertar qualquer agradável redondilha”.
Contra o esquema repetitivo
Recuando às origens do Fado de Coimbra, Eduardo Aroso não tem dúvidas em afirmar que os estudantes de antanho, na sua “juventude irrequieta à mistura com algum talento”, pouco mais faziam do que “escrever um poema, um fado, mesmo que fosse de ouvido, que para tal bastava os acordes da guitarra ou da viola”. A repetição destes hábitos instituiu um esquema repetitivo - que está presente em todos os fados - de introdução, primeira quadra, um pequeno interlúdio e depois um fim com uma segunda quadra, sempre com repetição a cada dois versos.
Na perspectiva destes artistas que embarcaram “à aventura para ilhas desconhecidas”, como eles próprios reconhecem, actualmente “o modo de compor e estruturar não pode ser no velho molde e sobretudo, no velho espírito de uma simetria simplista, que agora requer outros acompanhamentos musicais mais elaborados, o que também pressupõe conhecimento musical de harmonia e composição”.
Registando algumas excepções, como por exemplo Luiz Goes e José Afonso - que musicou Luís de Camões e Jorge de Sena, poucos grandes autores da literatura portuguesa estão presentes no fado de Coimbra. É este estado de coisas que os “Quatro elementos” querem alterar. Por isso na reunião dos Rotários de Coimbra–Olivais interpretaram poemas de Fernando Pessoa, Miguel Torga e António Arnault. José Carlos Teixeira, também professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra explicou, no final, que “o público não pode estar à espera que interpretemos Fado de Coimbra. Nós fazemos uma composição para um poema específico, numa evolução a que chamamos Lied de Coimbra”.

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