Violão de cordas de aço que pertenceu a Álvaro Carvalhal. Na etiqueta pode ler-se: "Chapelaria Gran Chic de Ferreira e Fonseca, Rua Visconde da Luz, nº 33, Coimbra. Depósito de instrumentos de corda. Rabecas, guitarras, bandolins, flautas, etc.." Este violão, com atadilho metálico muito pronunciado sobre o tampo, e ainda visível num violão que Eduardo Tavares de Melo levou ao Brasil no Verão de 1951, foi comprado em 1933. Bastante estragado na caixa de ressonância, apresenta a ilharga muito baixa, como era moda na época. Contariamente ao que se possa pensar, estes violões (o "bacalhau") eram dotados de grande potência sonora, conhecendo-se modelos idênticos fabricados por violeiros rurais até à década de 1980.
Álvaro Carvalhal, neto do escritor homónimo (autor de "Contos", de onde o cineasta Manuel de Oliveira extraíu "Os Canibais"), filho de Álvaro da Silva Carvalhal (1868-1935) e de Eugénia Abreu, nasceu em Esposende no ano de 1911. Após transito por Esposende, Viana do Castelo e Braga, a família Carvalhal estabeleceu-se em Coimbra no ano de 1931, primeiro em Montes Claros, depois na Ladeira do Seminário, e por fim numa casa do Largo da Matemática onde veio a instalar-se a República dos Inkas.
Álvaro estudou no Liceu D. João III, tendo feito o Curso de Professores do Ensino Primário. Após a conclusão da sua formação académica, trabalhou como Professor Primário, tendo fundado em Esposende o Colégio Infante de Sagres.
Faleceu gravemente doente em 1950, contando 39 anos.
Álvaro tocava violão de ouvido, guitarrava e cantava. Tinha voz de tenor, e uma das peças mais cantadas era precisamente Samaritana. Embora não tenha estudado na UC, nem pertencido aos organismos culturais estudantis, acompanhou regularmente seus irmãos Joaquim (violão), Luís, António (o guitarrista António Carvalhal), Mariberta (piano) e seu pai (flauta), nas animadas noitadas de Coimbra e nos veraneios em Esposende. Por vezes, Álvaro acompanhava seu irmão António em 2ª guitarra, embora não fosse um tocador de primeira água, posição que José Maria Amaral ocuparia a partir de 1937.
A discreta presença de Álvaro Carvalhal na Canção de Coimbra pela década de 1930 (ca. 1931-1937), pautou-se essencialmente pela participação em serões domésticos e "assaltos", essa curiosíssima tradição conimbricense das visitas aos amigos com licores, pastéis e tocatas.Esta fotografia foi realizada em 05 de Agosto de 1998, em casa da Dra. Mariberta Carvalhal, na cidade do Porto, quando fazia recolhas de campo para uma monografia de Edmundo Bettencourt.
Texto e Foto de António M Nunes
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